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Entrevista com Bryan Palmer, biógrafo de James P. Cannon, o fundador do trotskismo na América

Publicado originalmente em inglês em 28 de Setembro de 2007.

Esta é a entrevista conduzida por Fred Mazelis do Socialist Equality Party (Partido da Igualdade Socialista, SEP, na sigla em inglês) com Bryan Palmer, autor de James P. Cannon and the Origins of the American Revolutionary Left, 1890-1928 [James Cannon e as Origens da Esquerda Revolucionária Americana, 1890-1928], o primeiro volume da nova biografia do pioneiro do comunismo na América e posteriormente fundador e líder do movimento trotskista americano.

FM: Você poderia dizer aos nossos leitores porque resolveu escrever esse livro?

BP: Sou acadêmico, ao menos no sentido como levo minha vida, todavia, sempre fui um tanto fora da estrutura convencional da vida universitária. Em certo sentido, que penso ser bastante interessante, estou um bocado à margem devido ao meu interesse pessoal, que é a história do trabalho. Particularmente, eu me tornei um acadêmico na década de 70, pensei que isso me ofereceria a oportunidade de me tornar um marxista. Eu me tornei um historiador exatamente porque isso me permitiria olhar o que aconteceu no passado e aprender com respeito ao meu interesse na esquerda e na perspectiva de uma revolução da classe trabalhadora. Eu tenho, inclusive, escrito sempre sobre as lutas dos trabalhadores.

O que, de fato, me colocou fora do estilo acadêmico convencional, entretanto, foi o meu próprio histórico, que tem sido não somente de simpatia, mas de compromisso com o movimento trotskista e sua interpretação da história nos termos revolucionários desde o movimento de 1917 e a Revolução Russa. Assim, como também fui professor, ensinando os estudantes sobre o trabalho e a história social, também senti a necessidade de estudar as contribuições fundamentais do trotskismo nas lutas da América do Norte.

Eu sabia da existência de Cannon desde que comecei a estudar a história do trabalho nos anos 1970. Seus escritos foram familiares para mim, como também foi o fato dele representar uma espécie de continuidade viva, um fio vermelho que correu do período de Primeira Guerra Mundial nos anos 1940, passando pelos anos 50 e 60. Eu quis dialogar com essa história. Desejava fazer um trabalho sobre ele durante algum tempo, mas sabia que seria muito difícil. Em vários sentidos, foi uma tarefa intimidante. Lembro-me pegando meu carro e dirigindo até Wisconsin para ver a coleção maciça de escritos de James P. Cannon; sentando no Wisconsin State Historical Society, abrindo pasta de arquivo após pasta de arquivo e, depois, quando consegui obter algumas gravações em microfilme, virando seus carretéis quadro a quadro — teve dias em que pensei que não teriam mais fim. Não somente pela imensa abundância de fontes que havia para consulta. Havia ainda os labirintos intermináveis das diferentes perspectivas políticas.

O projeto, em seguida, ficou adormecido por algum tempo, em parte por causa do desafio que ele levantava. Mas, tornei-me cada vez mais descontente com a leitura que Partido Comunista fazia da história, bem como com a forma como ela havia se desenvolvido até o início dos anos 90, o que aprofundou minha convicção de que essa leitura da história deveria ser atacada.

FM: Você poderia falar sobre as diferentes abordagens feitas pelo Partido Comunista Americano e sua própria concepção a esse respeito?

BP: Nos anos 80, a historiografia tinha se desenvolvido em dois campos antagônicos, mais ou menos. De um lado temos os trabalhos de Theodore Draper, em particular. Seus dois volumes datados de 1957 e 1960 — The Roots of American Communism [As Raízes do Comunismo Americano] e American Communism and Soviet Russia [Comunismo Americano e a Rússia Soviética] — foram, na minha visão, incrivelmente ricos em informação, mas também deturpados por sua visão liberal da guerra fria, como se fosse possível resumir o movimento comunista americano enquanto uma mera criação de Moscou e de sua dominação.

O interessante em relação a Draper é que ele sabia muito sobre comunismo. Ele teve um "feeling" de quem estava dentro, porque ele próprio se envolveu no movimento comunista até o final da década de 30. Ele, certamente, conheceu o terreno de modo que somente aqueles que se envolveram eram capazes. Eu fiquei impressionado pela proximidade com o tema, apesar de sua interpretação se direcionar numa avaliação puramente negativa. Draper também foi cuidadoso em fazer uma pesquisa meticulosa. Claro que cometeu erros, mas, em geral, fez coisas certas e foi bastante compromissado com a pesquisa e o registro do passado comunista. Ele trabalhou muito próximo a Cannon e tinha um grande respeito para com ele, por sua integridade e autenticidade.

Draper fez o famoso comentário — fluindo das correspondências trocadas por eles nos vários anos, bem como das reuniões regulares que tiveram em Nova York — de que Cannon "queria ser lembrado" precisamente por seu passado de contínuo engajamento político. Se você olhar os escritos de Earl Browder [1], que estão arquivados na Universidade de Siracusa, as coisas parecem bastante diferentes, ao menos para mim. Browder não está preocupado em pegar as informações "certas"; pelo contrário, está sempre tentando colocar a si mesmo como certo. Browder possui um extenso manuscrito não publicado, que eu li, e é extremamente egoísta. Tem essa capacidade de colocar a si próprio em tudo, no centro de tudo, como alguém que faz sempre a melhor coisa. Mas, quando você checa essa memória, comparada com outros documentos, percebe que é factualmente incorreto. E ele faz isso por um largo período histórico — do movimento anti-guerra de 1917, passando pela clandestinidade do movimento comunista americano e por todo o período em que foi a figura principal, se tornando o dirigente do Partido Comunista Americano.

Não há dúvida de que Browder influenciou Draper, uma vez que ele também foi extensivamente entrevistado para os dois volumes de Draper. Mas Draper, como disse, tem muito que contar para nós. O defeito em seu trabalho, que o torna definitivamente não confiável, é o do stalinismo enquanto um desenvolvimento particular da experiência dos sovietes, o que ele jamais conseguiu explicar. Infelizmente, Draper nos oferece um terreno escorregadio, que se estende da revolução russa de 1917 às atrocidades do stalinismo. Isso foi se tornando algo de conhecimento convencional de nosso tempo. Sem realmente provar a história da imensa diferença, Draper diz que Lenin é igual a Stalin e igual à dominação de Moscou. Tal é uma concepção que eu rejeito.

O que se seguiu ao trabalho de Draper foram aqueles de Harvey Klehr e John Earl Haynes, que começaram a trabalhar sua abordagem, mas fizeram uma fria reflexão a seu respeito. Não quero dizer que não trouxeram nada para o nosso conhecimento do comunismo. Haynes, em particular, tem feito uma compilação bibliográfica perfeita, e posso certificar a extensão com que ajuda os estudiosos do comunismo com isso, mesmo sendo bastante atento a que possam ter visões muito diferentes da sua. Mas eu penso que se você ler Klehr e Haynes, de um ponto de vista superior, de alguém simpático ao bolchevismo original na Russia e na America, será perceptível que eles não possuem empatia com o projeto revolucionário do período. E ainda, como conseqüência, seu conhecimento não possui a densidade das pesquisas de Draper, não possui a capacidade do mesmo de localizar as pessoas nas lutas de seu tempo e em formas que dão vida ao que estava acontecendo.

De qualquer forma, Draper e seus seguidores estão em um lado nos textos sobre o comunismo Americano. Do outro estão os historiadores da Nova Esquerda cuja pesquisa data apenas dos anos após 1960. Essa "escola" historiográfica desafiou Draper, mas, em certo sentido, sofreu de uma inabilidade em lutar contra o stalinismo. Se Draper simplesmente ignorou o stalinismo porque pareceu não importar para dominação última de Moscou sobre o comunismo Americano, os escritores da Nova Esquerda, cujas obras começaram a aparecer nos anos 70 e 80, também o ignoraram, mas por motivos diferentes. A Nova Esquerda tendia a procurar no comunismo americano um radicalismo nativo, americano, uma alternativa à hegemonia capitalista em que se poderia apoiar. Isso muitas vezes é revelado no período de frente popular pós-1935 na América. Deve ser lembrado que, como escreveram esses historiadores, as manifestações da década de 60 — em que muitos deles participaram — se perderam... E eles ficam procurando exemplos de radicalizações das massas em suas pesquisas históricas. Eles poderiam falar "esse foi um momento", a década de 30, "em que tivemos movimento de massas". Entretanto, não conseguem criticar o movimento de massas e o celebram em um sentido muito limitado.

Então, para Draper, o comunismo Americano era uma caricatura de Moscou, enquanto que para a Nova Esquerda era um radicalismo nativo que poderíamos celebrar. Ambos os campos perderam a oportunidade de interrogar a história de modo a nos dar lições para a atualidade. Eles não analisam a história através de seus pontos fortes e fracos, nem do que podemos aprender dela. Draper insistiu que o comunismo americano foi feito na Rússia e que o comunismo é inevitavelmente uma importação de um regime ditatorial. Ele não conseguiu compreender o stalinismo enquanto uma variante da derrota política do comunismo dentro da revolução soviética e da destruição das conquistas de 1917. Já a Nova Esquerda insistia que a maioria das coisas realizadas pelos comunistas americanos eram de seu único crédito, no intuito de andar separado do Comintern stalinizado da década de 30 e jogar no campo do radicalismo, o que fizeram enredando por vias políticas bastante problemáticas.

Eu procurei traçar um novo caminho de interpretação da situação, partindo de James P. Cannon e seu desenvolvimento enquanto um Bolchevique. Pensei que isso poderia nos dizer muito sobre como foi realmente a experiência do comunismo na América. Procurei descobrir o que foi verdadeiramente revolucionário na origem do comunismo americano e como essa experiência foi transformada pelo stalinismo. Cannon viveu essa história, aprendeu dela e lutou para traduzir as lições para as gerações futuras dos revolucionários comunistas americanos, construindo um partido compromissado com a emancipação e o poder para os trabalhadores.

O que me impressionou é que ninguém antes tinha escrito seriamente sobre Cannon. Ele escreveu sobre a política de seu tempo em livros como A História do Trotskismo Americano e, claro, Os Primeiros Dez Anos do Comunismo Americano, que consiste principalmente em sua correspondência com Theodore Draper. Pessoas do movimento trotskista têm falado sobre esses escritos, mas estes dificilmente têm sido tratados com a seriedade necessária. A Nova Esquerda mostrou pouco interesse em superar esse desinteresse. Os líderes do comunismo americano foram muito estudados após a década de 90, foram duas biografias de Willian Z. Foster, bem como tratados sobre Jay Lovestone, Max Shachtman e Earl Browder. Mas Cannon não possui biografia

Senti que você não pode lutar contra o stalinismo olhando somente para os líderes comunistas americanos que nunca romperam com ele. Outros, como Shachtman, nada fizeram perto das figuras mencionadas acima. Você precisou de um Cannon, alguém que esteve dentro do stalinismo, que por anos não o criticou, mas passou por um mal-estar crescente até que fora feita a luz, por assim dizer, no momento em que leu a crítica de Trotsky a Moscou em 1928.

FM: O que preparou Cannon para sua decisão de apoiar Trotsky e a Oposição de Esquerda em 1928? O que, em seu histórico e experiência, o predispôs a fazer essa decisão, contrastando com Foster e Browder?

BP: Essa é uma questão muito interessante. É realmente dúbia. Eu penso que o que levou Cannon ao trotskismo foi o mesmo que, de diversas formas, também o inibiu de aproximar-se do trotskismo nas proximidades da década de 20. Em certo sentido, a força de Cannon também é sua fraqueza.

Por um lado, Cannon representou o melhor que a classe trabalhadora americana foi capaz de produzir num momento particular de seu desenvolvimento. Quando jovem, abraçou os princípios fundamentais do movimento da classe trabalhadora revolucionária, na forma como se expressavam no Industrial Workers of the World, os "Wobblies" ["apelido" da organização sindical IWW]. Ele acreditou na emancipação do trabalho e acreditou que seria cumprida pela classe trabalhadora, embora reconhecesse a existência de poderosos interesses capitalistas dentro dos Estados Unidos, que fariam de tudo em seu poder para bloquear tal emancipação.

O que motivou o jovem Cannon, acima de tudo, eu penso, foi a concepção de que uma injustiça para um é uma injustiça para todos. Ele tratou essa questão da injustiça de um modo político mais amplo, não apenas do ponto de vista da produção. Ele evidenciou como o estado e o sistema legal podem se mover contra dissidentes e colocá-los na cadeia. No caso Haywood-Moyer-Pettibone, em 1906, quando os lideres trabalhadores foram ameaçados de serem enviados à prisão, a classe trabalhadora americana se mobilizou para defender esses homens. O grande líder socialista Eugene Debs fazia pronunciamentos através do país e publicizou, de várias formas, a injustiça fundamental perpetrada contra os trabalhadores. Cannon possuía 16 anos e seu envolvimento nesse movimento de protesto de massa foi fundamental para seu desenvolvimento político.

Cannon nunca perdeu sua revolta profunda contra isto — o uso de todo o peso do estado contra a classe trabalhadora. Tratou de ambos os lados da subordinação do trabalho: a exploração na produção, como também a repressão política. Relacionou política e economia ainda muito jovem. Ele nunca se tornou um puro e simples sindicalista como Gompers, somente interessado em sindicatos e instituições para dar aos trabalhadores aumentos nos salários. Cannon percebeu que poderia haver algo maior do que isso para a classe trabalhadora. Foi muito próximo dela, um grande defensor dos sindicatos, mas também uma figura bastante política, que entendeu que algo mais deveria ser feito, além do que era capaz qualquer sindicato.

Cannon gravitou em torno da IWW como sua primeira entrada no movimento porque viu o Partido Socialista enquanto algo hesitante e comprometedor. A determinação revolucionária dos Wobblies influenciou-o, em contraste, mas, no fundo de sua mente, sentia que alguma coisa ainda faltava. Sentiu a necessidade de uma luta política, mesmo que, por um tempo, não tenha se envolvido como deveria. Nesse ínterim, Cannon esteve nos palanques e nas linhas de frente dos conflitos de classe como um Wobblie. Foi a Revolução Russa que o acordou para a necessidade de um partido político da classe trabalhadora, um partido leninista capaz de enfrentar politicamente o capitalismo. Unindo a militância nos Wobblies e a teoria marxista como explicação da realidade e guia de como lutar, entre 1917 e 1920, Cannon começou a ver um caminho possível. Os bolcheviques representaram uma espécie de combinação imbatível desses pontos fortes e o potencial para o avanço da classe trabalhadora, o que os Wobblies nunca conseguiram entender.

Cannon, então, entrou no Partido Socialista, dentro de sua ala esquerda, e com ele fundou o Partido dos Trabalhadores (Workers Party), o partido comunista legal, em 1921. Seu projeto era construir um partido revolucionário nos Estados Unidos — o que ele aprendeu da revolução russa.

Essa era uma tarefa incrivelmente difícil, como ele sabia muito bem. O movimento inicial era uma formação muito ímpar, mesmo para seus quadros dirigentes. Eles vieram de tantas origens diferentes. Foram às federações de língua estrangeira, constituída de uma abundância de imigrantes do antigo mundo para a América: finlandeses e judeus, ucranianos e polacos, alemães e russos. Mesmo os radicais nativos, que falavam a mesma língua, mas eram, de fato, indivíduos de diferentes histórias de vida: Nova Iorque e Kansas eram mundos a parte. Mineiros em seções semi-rurais do meio-oeste e artesões no comércio de Filadélfia, Cleveland e Chicago. Trabalhadores brancos, trabalhadores negros e trabalhadores que não eram negros, mas dificilmente seriam percebidos como "brancos"... Os radicais eram aqueles cuja instrução no pensamento dissidente incluía Kautsky, bem como Henry George. Todos esses trabalhadores precisavam ser reunidos numa única organização da luta de classes e educados no programa revolucionário do comunismo.

O que Cannon trouxe a esse projeto foi uma espécie de intuição política, aquela mistura das abordagens política e econômica a que me referi, mas o que lhe faltava era um embasamento mais profundo na teoria marxista. Nesse sentido, muitos dos Marxistas europeus tiveram uma facilidade muito maior.

Como ele lutou entre 1921 e 1928, muitas vezes confiou nas habilidades que desenvolveu fora da experiência americana, como orador e sintetizador. Ele muitas vezes foi denegrido como uma espécie de político de Tammany Hall [2]. Benjamin Gitlow, um apoiador eventual de Lovestone, disse isso sobre ele, mas foi sempre algo injusto. Em uma memória não publicada de Alexander Bittelman — maior figura na Federação Socialista Judia e, posteriormente, conselheiro teórico de Willian Z. Foster — falava de Cannon se movendo entre as várias camadas de organização do partido na década de 20, como se fosse um mecânico. Disse como complemento: um artesão construindo uma organização, usando as habilidades necessárias para construir um movimento revolucionário, fundindo diferentes camadas e cuidando para que funcionassem como deveriam.

Cannon despendeu tanto tempo nisso, que foi difícil para ele parar, ponderar e se educar muito mais. Ele não tinha a mesma habilidade na língua ou faro para conceituação que seu colega mais novo, Max Shachtman — que também caracterizava o canadense Maurice Spector. Mas Cannon sempre percebeu que essas habilidades individuais poderiam ser utilizadas para interesse do partido revolucionário. A força de Cannon na construção do partido residia no fato de perceber que suas limitações como líder sempre poderiam ser complementadas pelas habilidades de outros, superando coletivamente o que pudesse faltar em um indivíduo.

Ele pode ser e foi ganho para o trotskismo, em seguida, mas demorou porque não tinha certeza dessas suas qualidades, que possivelmente o levaram a ver ainda cedo e mais claramente como o stalinismo estava minando o programa revolucionário dos Bolcheviques Russos e como, por sua vez, com o Comintern, o stalinismo esmagava processos revolucionários ao redor do mundo, inclusive no interior do Partido Americano. Cannon não estava sozinho nesse momento. Outros líderes comunistas dos Estados Unidos, como o jovem Jay Lovestone ou o líder do partido até sua morte na década de 20, C. E. Ruthenberg, foram marcados pelas suas forças e suas fraquezas, como também um dos aliados íntimos de Cannon por volta da metade da década de 20, Willian F. Dunne.

Se Cannon, então, no meio dos anos 20, não assumiu as críticas de Trotsky contra o stalinismo, o que possivelmente o fez assumir, depois, a posição de Trotsky? Eu argumentaria que a força de Cannon possivelmente prevaleceu sobre sua fraqueza. Sua força, em última instância, era a incapacidade de fechar os olhos, ao contrário de outros, diante do que ocorria de errado dentro do partido. Ele poderia ter se retirado da International Labor Defense com uma espécie de fração, mas ao final ele não fez. Como um revolucionário, não estava satisfeito com aquela espécie de vida política constrangida. Foi capaz de ver que existia um problema e, se não pudesse intervir de forma programática nele imediatamente, seria, quando confrontado por um argumento bem desenvolvido e crítico, incapaz de confrontá-lo. Trotsky abriu seus olhos à natureza do problema, à sua fonte, mostrou que o que estava errado na Internacional Comunista, e em muitas de suas seções ao redor do mundo não era simplesmente uma pequena disputa de poder individual. Muito mais, o que estava em jogo era um largo desvio do programa e dos princípios essenciais do comunismo.

Fred Mazelis: Qual sua resposta para a acusação de que a ação de Cannon em 1928 era uma espécie de jogada carreirista? Que sua facção havia chegado a um beco sem saída dentro do PC e que ele era motivado por uma procura de poder pessoal?

Bryan Palmer: Eu ouvi essa acusação e ela me deixa estupefato. Parece-me uma das avaliações mais idiotas que já escutei porque assume que, para uma pessoa com as habilidades de Cannon, que eram muitas e variadas, a vida como um revolucionário profissional era uma "carreira". Era um compromisso, e um compromisso nada bem remunerado. Além disso, sugerir que se tornar um trotskista da esquerda revolucionária no final da década de 1920 era um movimento calculado na direção do ascenso de carreira é realmente algo difícil de explicar. Se era uma jogada de carreira, era uma jogada de carreira em direção ao inferno.

A vida era muito difícil para Cannon depois que foi expulso do Partido Comunista. Estou convencido de que Rose Karsner, a companheira de Cannon, teve uma crise imediatamente após a expulsão deles do PC. Eram ambos revolucionários profissionais, empregados pelo partido, e não recebiam mais seu pagamento. Perderam o contato com a maior parte de seus amigos, e eram escorraçados por seus velhos camaradas. Viviam em condições espartanas, com quase nenhum conforto ou possessões materiais; Rose e Jim tinham três filhos para sustentar e mal conseguiam ganhar o suficiente. Seu tempo, seu dinheiro, sua energia — tudo ia para a construção do trotskismo: publicar um jornal, imprimir traduções do trabalho de Trotsky, trocar correspondências com potenciais militantes.

Cannon passou de figura importante em uma organização razoavelmente grande a líder de 100 apoiadores que precisaram implorar que uma velha impressora Wobbly fizesse sair a primeira edição de seu jornal, o Militant. Eles viviam atrás de centavos. Dizer que isso era uma jogada de carreira é ridículo. Os primeiros anos do movimento trotskista foram, como Cannon descreveu, dias de cão.

FM: Cannon esperava uma resposta melhor das fileiras do PC quando foi expulso?

BP: Penso que ele definitivamente esperava. É por isso que, por vários anos, os trotskistas americanos se chamavam Liga Comunista da América (Oposição) [Communist League of America (Opposition)]. Eles continuaram a fazer seus apelos quase exclusivamente às fileiras do comunismo americano. Tentavam vender suas publicações aos membros do PC. Cannon acreditava que haveria uma resposta das fileiras e mesmo de alguns dos líderes, que eram revolucionários e poderiam ser ganhos para o renascimento do programa revolucionário. Ele achava que os olhos deles estavam fechados, mas não completamente.

Boa parte da crítica programática de Trotsky simplesmente não era conhecida pelas fileiras do PC. Os membros também nada sabiam sobre o número crescente de revolucionários dentro da União Soviética que já havia sido objeto de agressão física ou algo pior. Cannon tinha convicção de que a verdade sobre a crítica de Trotsky, assim como outros desenvolvimentos que seriam conhecidos, encontrariam um público dentro das fileiras do comunismo americano.

E, de fato, num primeiro momento, parecia que isso poderia ser verdade. Quando Cannon e um punhado de outros foram expulsos foi possível por um breve período vender o Militant às fileiras do Partido Comunista. A liderança de Lovestone não sabia como responder.

Então começaram as expulsões adicionais. Cannon e seus co-pensadores mais próximos ganharam politicamente um punhado de militantes. Outros foram expulsos do PC porque se recusavam a denunciar Cannon. Eles não compreenderam as questões envolvidas, mas a expulsão os jogou na Oposição. Os stalinistas não usaram de táticas mafiosas imediatamente. Primeiro expulsaram os que não se alinhavam a eles, mas não tentaram espancá-los ou intimidá-los fisicamente. Isso só durou um tempo.

Então a liderança do Partido Comunista recorreu aos socos ingleses e facas. Em Chicago e Minneapolis gangues de capangas foram enviadas para desmontar fisicamente os encontros da Oposição. Cannon e outros então perceberam que seria uma luta muito mais dura do que se pensava. Você não poderia culpá-lo, já que tudo isso era novo território nos Estados Unidos e nada se tornou claro imediatamente.

A Oposição fez recrutas importantes durante esses primeiros dias, especialmente em Minneapolis e Chicago. Chicago viu o desenvolvimento de quadros oposicionistas nos círculos sindicais, onde os irmãos Dunne (não Bill, infelizmente, que continuou com os stalinistas) e outros se reuniram a Cannon. Em Chicago, militantes importantes no setor da juventude incluíam Albert Glotzer.

FM: Como o stalinismo controlou os lados mais fracos do radicalismo americano?

BP: Não há qualquer dúvida em minha mente — nem havia na de Cannon após ter passado por aquela experiência — que um dos modos de operação do stalinismo em meados da década de 1920 era trabalhar no enfraquecimento das lideranças de PCs nacionais. Era realmente benéfico para Stalin e o stalinismo que houvesse uma direção do Partido Comunista Americano fragmentada em facções, sempre fora de equilíbrio, e onde nenhuma liderança poderia emergir como dominante. Mesmo quando uma das facções indicava que seguiria a linha do Comintern, Stalin mantinha a outra como reserva, uma carta na manga para a caso de alguém sair dos trilhos.

Foi o caso de Foster, Lovestone e Browder. Browder acabou como o maior beneficiário, do ponto de vista pessoal. Se você se perguntasse sobre quem deveria estar liderando, Foster tinha a maior proeminência pública entre os líderes e a maior autoridade em diversos círculos. Ele foi, porém, basicamente destruído pelo Comintern stalinista no final da década de 1920 e no começo da de 1930. Entre todos os líderes de 20, Browder era provavelmente o mais fraco, e foi precisamente por isso que Stalin e o Comintern eventualmente o promoveram. No final, porém, Browder também teve de ser disciplinado.

Quaisquer que fossem os problemas de Foster, e eram muitos, ele foi capaz de desafiar Moscou algumas vezes no final da segunda metade da década de 20 — por exemplo no caso de seu repúdio a Pepper, que funcionava em parte como um emissário de Moscou. Mas se opor a Stalin não era mais possível para os comunistas dos Estados Unidos na época da expulsão de Cannon em 1928. Você era obrigado a assumir as posições do Comintern e, se não assumisse, pagava um preço alto. Foster é um claro exemplo, já que, enquanto não pôde romper em definitivo com o stalinismo, também achava difícil viver sob seu peso. Acabou tendo um colapso nervoso no início dos anos 30.

FM: Você pode comentar essa questão discutindo as próprias tradições do radicalismo e do trabalhismo americanos, suas fraquezas em termos de provincianismo e nacionalismo?

BP: Essa é uma ótima e também difícil questão. Acho que ela pede muito mais pesquisa e sondagem sobre os bolcheviques americanos e seus pontos fracos. Certamente, tais pontos fracos existiam. Uma área onde isso é evidente, por exemplo, diz respeito aos primeiros comunistas americanos e a importância dos afro-americanos em termos de trabalho negro e opressão racial nos Estados Unidos. Essa não era, é claro, uma questão nova. Esteve presente por gerações e o próprio Marx entendia bem, na véspera da Guerra Civil Americana, que o trabalho dos brancos jamais seria livre enquanto o trabalho dos negros fosse marcado a ferro. Ainda assim, a esquerda americana de antes da formação do movimento comunista nos anos 20 tinha um péssimo histórico em termos de suas posições sobre afro-americanos — a "questão negra," na terminologia da época. O Partido Socialista abrigava racistas, por exemplo, e mesmo uma figura reconhecida como Debs tinha visões atrasadas sobre raça. Sindicatos dentro dos quais muitos socialistas trabalhavam freqüentemente tinham cláusulas de exclusão de negros. A noção de que os afro-americanos não eram meramente mais uma seção da classe trabalhadora explorada, de que os revolucionários marxistas precisavam apontar as questões específicas e especiais da América negra oprimida, era raramente colocada no início do movimento socialista do século XX.

Aqui, precisa ser dito, foi onde o Comintern, em seus saudáveis primeiros dias, guiou os comunistas americanos ao entendimento da importância de se dirigirem aos afro-americanos em geral e à força de trabalho negra em particular. Eles convenceram Cannon e outros comunistas dos Estados Unidos de que essa era uma área crítica onde revolucionários precisavam dispensar esforços teóricos e práticos. E algumas medidas nesse sentido foram tomadas do início até meados da década de 20, mas os ganhos que poderiam ter se consolidado logo se dissipavam conforme o trabalho comunista entre os negros era convertido em um jogo entre facções, com a pressão do stalinismo que empurrava para certas direções. Isso foi bem evidente em termos de lapsos programáticos enquanto o stalinismo promoveu a tese da "nação do cinturão negro" que fez a aproximação do comunismo americano com os afro-americanos colapsar num cul-de-sac nacionalista. Cannon e outros trotskistas, educados sobre o ponto cego racial das tradições do socialismo e do IWW, foram lentos em criticar a tese da nação do cinturão negro, mas, por fim, em 1933, desenvolveram um argumento afiado contra ela.

Havia, é claro, outras limitações. Um motivo da demora de Cannon em desenvolver uma critica ao stalinismo era que, em boa parte da década de 20, ele esteve condicionado a ver os problemas do comunismo americano como pura e simplesmente problemas americanos. Havia uma explicação para isso. Como Cannon gostava de dizer ao relembrar esse período, seus oponentes faccionais eram filhos da puta difíceis. Esses oponentes freqüentemente recorriam ao liso verbalismo pseudo-revolucionário cosmopolita de agentes do Comintern como John Pepper. Quando você juntava as capacidades de Pepper com as manobras por baixo dos panos e as negociações duplas de Lovestone, você tinha um problema. Cannon acabou imerso nesses problemas e provavelmente prestou pouca atenção no que pareciam dificuldades distantes do trabalho do Comintern na Alemanha de 1923 e na China de 1926. Assimilar as lições dessas derrotas teria sido central para a compreensão de como o Comintern estava dando errado, mas Cannon, como tantos outros no movimento dos Estados Unidos, simplesmente não captou isso.

Isso, então, era um provincianismo. Se era ou não nacionalismo eu não tenho certeza. Quando você considera, por exemplo, o trabalho de agitação que Cannon e seus aliados fizeram na organização Internacional Labor Defense (Defesa Internacional do Trabalho, ILD na sigla em inglês), é difícil ver algum tipo de nacionalismo retrógrado em movimento. A ILD foi a mais bem sucedida organização de frente única do movimento comunista e defendeu todos os prisioneiros políticos vitimados pelo Estado. Muito do seu maior trabalho foi feito em prol dos operários imigrantes, muitos dos quais ameaçados de serem deportados de volta aos estados europeus onde o governo da reação teria ditado suas mortes.

Alguns comunistas dos primeiros tempos, especialmente aqueles atraídos pela clandestinidade dos anos pré-1921, achavam que Cannon era chauvinista em sua crítica aos líderes estrangeiros nas federações, especialmente o contingente russo. Mas, na minha opinião, Cannon estava absolutamente correto em tentar afastar esses "oportunistas" das federações com suas posições de que não havia necessidade de construir um partido e um movimento comunista legal na América. Esses líderes eram de fato bem versados na teoria marxista e tinham um papel fundamental para desempenhar na construção do comunismo americano, mas cultivavam um "clandestinismo" isolador que era avesso à construção do comunismo na América. Cannon sabia bem disso e, certamente, os cabeças do Comintern, incluindo Lênin e Trotsky, concordavam.

FM: Você pode dizer algo sobre a situação política e econômica dos Estados Unidos nessa época, na década em que o Partido Comunista estava passando por esses tempos dificílimos?

BP: Absolutamente, isso foi crucial. De certa maneira, meu próprio estudo sobre Cannon compreensivelmente acentua a dimensão subjetiva da luta para a criação de um partido comunista. Era o que Cannon estava fazendo, afinal de contas. E por isso considero ele uma figura importante. Sabemos que erros foram cometidos, que Cannon tinha pontos fortes, mas também pontos fracos.

Não devemos esquecer como foram bastante difíceis os tempos em que Cannon viveu. Apenas considere os negativos: 1) o clima de guerra e intensa hostilidade perante a Revolução Russa nos anos de antes da formação do Partido dos Trabalhadores (Workers Party) em 1921 desencadearam uma viciosa xenofobia que atacava estrangeiros de países inimigos e bolcheviques; 2) isso culminou no Red Scare de 1919-1920, que viu deportações de revolucionários e imigrantes; brutal supressão de greves, algumas delas Greves Gerais; organizações radicais como a IWW; uma campanha judicial de terror contra a esquerda, mirando especialmente o movimento comunista clandestino; 3) quando o Red Scare original acalmou, o período pós-guerra até a década de 1920 produziu uma década de desequilíbrio econômico que causou o declínio dos sindicatos e a hegemonia do capital nos EUA se fortaleceu consideravelmente. O comunismo cresceu na década de 20 num clima de retirada geral da esquerda americana. A ampla cultura de radicalismo — associada com o Partido Socialista no campo eleitoral e com a IWW nas greves de massa, campanhas pela liberdade de expressão e outras iniciativas dos anos entre 1905 e 1915 — havia desvanecido e, se parte dessas experiências produziu uma clareza de compromisso programático com a luta de classes, também criou dificuldades para os comunistas. De um lado, a própria criação do partido comunista e sua identificação programática com a Revolução Russa era um imenso passo adiante para a classe trabalhadora dos Estados Unidos. De outro, a década de 1920 na qual isso ocorreu era, em termos gerais, caracterizada pela hegemonia capitalista em avanço, o que se expressava em lucros ascendentes, intensificação da exploração e consolidação da autoridade política nas mãos de oponentes da Revolução. O Klan estava em marcha novamente, linchamentos racistas estavam em alta, e Sacco e Vanzetti, apesar das mobilizações de protesto lideradas por Cannon e muitos outros, foram para a cadeira elétrica a mando do Estado. Nas eleições viu-se a conta de votos para candidatos dissidentes de todas as estirpes cair e, até 1929, quando a economia quebrou, a noção ideológica era que a América estava num passeio de montanha-russa que terminava na riqueza para todos.

Portanto os ganhos que Cannon e outros acumularam, eu penso, foram monumentais. E eles provaram que, mesmo no mais reacionário dos climas políticos, revolucionários guiados por um programa político podem nadar com sucesso contra a corrente. Indubitavelmente, o mais importante evento que mostrou o caminho a ser seguido nesse período foi a Revolução Bolchevique de 1917.

FM: Com que tipo de dificuldades você se deparou no decurso de seu projeto?

BP: Como eu disse, foi uma tarefa gigante e intimidadora. Passar pelo material não foi fácil. Analisar contextos complicados, nos quais as posições de Cannon e do movimento comunista eram sempre equilibradas sobre complexos jogos de interações que incluíam a influência do Comintern, relações do Partido Comunista americano, o estado político da luta sindical e outras questões, nunca foi simples. Além do mais, escrever tudo isso, quando eu sabia que as editoras relutariam em incluir todo o detalhe que eu pensava ser necessário, não foi uma tarefa fácil.

Eu realizei muitas entrevistas e elas serão de maior utilidade no segundo volume que no primeiro. É claro que as lembranças de pessoas com 70, 80 e 90 anos estão longe de serem perfeitas. Eu sempre usei o registro documental para retornar ao passado e checar por incongruências e, desse modo, conduzir entrevistas depende de conhecer o contexto. As entrevistas eram muitas vezes úteis e suplementares ao registro documental, mas foi o registro documental que eu achei mais importante considerar. Apesar disso, devo dizer que fazer as entrevistas também foi um ponto alto. Encontrei-me com muitos trotskistas experientes que eram pessoas maravilhosas e a maioria foi muito generosa em me deixar usar o material em seus sótãos e porões. Não posso expressar adequadamente minha gratidão a essas pessoas.

Um problema é que há uma enorme quantidade de material arquivado espalhado pelos Estados Unidos e nos arquivos do Comintern. Num certo ponto você precisa sentar e escrever, ou a pesquisa pode continuar indefinidamente e nem sempre com resultados que valham a pena. Uma dificuldade que tive foi em determinar quando finalizar a pesquisa nos arquivos. Depois de um tempo se tornou evidente para mim que, na busca por mais material de arquivo, eu estava simplesmente vendo os mesmos documentos de novo e de novo. Cannon e seus aliados não viveram em uma era de fotocópias e emails. Mas eles de fato usaram cópias de carbono digitadas, e me impressionou como tantas dessas cópias foram parar nas mãos de vários camaradas.

Eu comecei a pesquisa para o livro em 1993. Gastei sólidos sete anos em pesquisa, que completei para ambos os volumes. Então comecei a escrever. O primeiro rascunho do primeiro volume foi escrito em 2002-2003. A imprensa da Universidade de Illinois, uma grande imprensa universitária no campo dos estudos do trabalho, expressou interesse, mas havia um problema, que eu sempre soube que teria, quanto ao tamanho do manuscrito. Tive de cortar cerca de 60 ou 70 mil palavras, talvez 20 por cento do livro, incluindo muitas notas de rodapé. Negociar esses cortes foi, eu penso, a parte mais difícil do projeto.

FM: Quais são os seus projetos futuros?

BP: Minha posição na Universidade de Trent é de Cátedra de Pesquisa do Canadá. Esperam, portanto, que eu faça alguma pesquisa sobre o Canadá! Não que eu seja resistente a isso. Estou trabalhando num livro sobre o Canadá da década de 1960. Lida com muitos apsectos, mas incluirá discussões sobre a Nova Esquerda de Quebe,c o emergir do nacionalismo radical, e o nascimento do Poder Vermelho e da militância aborígine. Quero publicar esse livro e, depois, sentar e escrever o segundo volume sobre Cannon, que provisoriamente tem o título Soldier of the Revolution: James P. Cannon and American Trotskyism [Soldado da Revolução: James P. Cannon e o Trotskismo na América, 1928-1974]".

Notas:
[1] Earl Browder - Secretário Geral do Partido Comunista dos EUA de 1934 até 1945
[2] Referência à politicagem existente em Nova Iorque, vinculada ao Partido Democrata.

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