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As lições políticas da traição do Syriza na Grécia

Publicado originalmente em 13 de novembro de 2015

1. Uma enorme experiência estratégica para a classe trabalhadora

A eleição de setembro de 2015 na Grécia, que renovou o mandato do governo do Syriza (“Coalizão da Esquerda Radical”), liderado pelo Primeiro-Ministro Alexis Tsipras, conclui um estágio definitivo no que provou ser uma enorme experiência estratégica para a classe trabalhadora.

Assim que assumiu o poder em janeiro, o Syriza prometeu acabar com as medidas de austeridade da União Europeia (UE). Os ferozes ataques da UE aos direitos sociais colocaram a Grécia no centro do implacável assalto global aos padrões de vida e aos direitos básicos dos trabalhadores que se seguiu à crise de 2008, e milhões de trabalhadores e jovens ao redor do mundo voltaram-se para as lutas da classe trabalhadora grega. A cobertura da mídia, as críticas ao Syriza feitas por políticos reacionários europeus e as declarações do próprio Syriza levaram as massas a acreditar que Tsipras e seu Ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, eram militantes que estavam prestes a enfrentar o capitalismo grego e internacional.

Dentro e fora da Grécia, muitos partidos, apresentando-se como “anticapitalistas” ou de “esquerda”, saudaram a chegada do Syriza ao poder como um triunfo para a esquerda e um modelo para a luta contra a austeridade na Europa e em todo o mundo.

Nos oito meses seguintes, entretanto, o Syriza traiu completamente suas promessas eleitorais. Depois de fechar um acordo com a UE prorrogando as medidas de austeridade em fevereiro, semanas depois de chegar ao poder, passou por cima da maioria dos votos para o “não” no referendo sobre a austeridade que ele próprio organizou em julho e forçou através do parlamento um novo resgate financeiro atrelado a medidas de austeridade.

A violação flagrante da votação popular deixou as massas chocadas e atordoadas. Por uma pequena diferença de votos, Tsipras ganhou a reeleição em setembro contra o partido de direita Nova Democracia (ND) em meio a uma grande abstenção eleitoral, depois do Syriza ter se tornado o partido preferido da UE e dos bancos. Com o início do segundo mandato, o Syriza está aumentando as medidas de austeridade que já levaram milhões ao desemprego, à pobreza e à fome.

As massas estão sendo levadas a encarar a corrupção e a traição de partidos políticos que lideraram os movimentos de protesto e o que se passou por política de esquerda durante um período histórico inteiro. Seguindo as teorias pós-modernas de acadêmicos como Ernesto Laclau, essas organizações declararam que estávamos vivendo uma época “pós-marxista”. Baseadas em setores privilegiados da classe média, insistiram que a classe trabalhadora não era mais uma força revolucionária, mas tinha sido substituída por um grande número de setores da sociedade definidos através de identidades nacionais, étnicas, de gênero e de estilo de vida.

Ao longo de décadas, esses partidos declararam-se radicais e anticapitalistas, quando, na verdade, não eram. Sua primeira experiência no governo expôs suas pretensões como uma fraude, encobrindo políticas pró-capitalistas com o objetivo de satisfazer os interesses dos 10% do topo da pirâmide social à custa dos trabalhadores.

Em uma viagem depois das eleições aos EUA, em setembro, Tsipras revelou abertamente sua agenda pró-negócios de longo prazo. Questionado pelo ex-presidente dos EUA Bill Clinton na Iniciativa Global Clinton, em Nova Iorque, Tsipras disse: “Investidores estrangeiros são bem-vindos, e encontrarão um governo com mandato claro para mudar o país. ... Em alguns anos, a Grécia se tornará um destino privilegiado para o investimento estrangeiro, essa é minha opinião e meu desejo.”

Como Tsipras atrairá investimentos para a Grécia? Como os governos por toda a Europa atacam ferozmente salários e direitos, o Syriza espera que seus cortes permitirão que ele ofereça aos investidores gregos e internacionais as maiores condições de super-exploração do trabalho e portanto de lucro na Europa.

O programa de Tsipras está baseado na destruição de direitos sociais fundamentais que os trabalhadores da Europa Ocidental têm há gerações. Os empregadores na Grécia foram dispensados de custear a saúde para toda a população. Os cortes nas aposentadorias realizados pelo Syriza fazem parte de um plano mais amplo discutidos na mídia para fazer os trabalhadores arcarem com planos de aposentadoria suplementares, acabando com o direito de uma aposentadoria financiada pelo Estado. A redução do salário-mínimo na Grécia para €638 o aproxima muito mais dos níveis salariais na China, ou nos países mais pobres na Europa do Leste, do que em países mais ricos na zona do euro, como Holanda ou França.

A experiência do Syriza traz a necessidade de uma reorientação política fundamental da classe trabalhadora, da juventude e dos intelectuais socialistas. Diante de uma crise econômica global sem precedentes desde os anos de 1930 e um ataque violento de toda a classe capitalista, a classe trabalhadora não pode se defender elegendo novos governos capitalistas de “esquerda”.

O único caminho é através de uma autêntica política revolucionária, mobilizando a classe trabalhadora na Grécia e internacionalmente em luta. É necessário o ataque direto à classe capitalista, o confisco de sua riqueza, a expropriação dos maiores bancos e forças produtivas, com o objetivo de colocá-los sob o controle democrático dos trabalhadores e a criação de Estados Operários pela Europa e o mundo. Essas lutas necessitam da criação de partidos marxistas para liderar a classe trabalhadora, combatendo de maneira implacável partidos como o Syriza.

Esse é o significado histórico da defesa empreendida pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) da continuidade histórica do trotskismo contra partidos como o Syriza, os quais o CIQI passou a chamar de “pseudoesquerda”. Apenas o CIQI advertiu os trabalhadores ao redor do mundo que o Syriza não era um partido “radical de esquerda”, mas um partido pró-capitalista, hostil aos trabalhadores, que trairia suas promessas de acabar com a austeridade. As críticas levantadas pelo CIQI foram completamente confirmadas.

O que Tsipras fez mostrou que a luta do CIQI contra a pseudoesquerda não era uma disputa entre frações, mas a luta entre duas tendências de classe irreconciliáveis e opostas. Enquanto o Syriza procurou subordinar a classe trabalhadora às necessidades da classe capitalista grega, o CIQI lutou para desenvolver uma perspectiva revolucionária para a classe trabalhadora.

2. Encobrimentos e justificativas para a traição do Syriza

A primeira etapa na contínua luta contra a austeridade é a rejeição das racionalizações para o que foi realizado por Tsipras buscadas pelo Syriza e seus aliados. As mesmas forças políticas que, oito meses antes, impulsionaram a eleição do Syriza na luta contra a austeridade, agora estão a todo o custo encobrindo o significado de tudo o que aconteceu.

Alguns ainda saúdam o Syriza, mesmo depois de suas ações, como um partido de “esquerda radical”. O partido A Esquerda na Alemanha parabenizou o Syriza por sua reeleição, declarando que o eleitorado grego decidiu que, “numa crise, um governo de esquerda é melhor do que o retorno dos velhos partidos corruptos”.

Outros levantaram o argumento desacreditado de que a capitulação do Syriza para a UE foi a única resposta possível para a crise grega e, portanto, de forma alguma trata-se de uma traição. Essa é a posição de Stathis Kouvelakis, professor de filosofia no King’s College em Londres e um importante membro da Plataforma de Esquerda do Syriza (agora do partido Unidade Popular). Em um encontro do Socialist Workers Party (SWP) no Reino Unido, ele declarou:

Eu acredito que a palavra ‘traição’ é inapropriada se queremos entender o que está acontecendo. Claro que, objetivamente, podemos dizer que existiu uma traição da vontade popular, que as pessoas se sentiram traídas legitimamente.

Porém, a noção de traição geralmente significa que em algum momento você realiza uma decisão consciente de renegar seus próprios compromissos. O que eu acredito que de fato aconteceu foi que Tsipras honestamente acreditou que poderia ter sido bem-sucedido centrando suas medidas em negociações e mostrando boa vontade, e é por isso também que ele constantemente disse que não tinha um plano alternativo.

Que cobertura desprezível do Syriza! Kouvelakis substitui a análise de classe por uma especulação psicológica barata. Ele pede que seus ouvintes acreditem que, apesar dos líderes da UE declararem constantemente que não tolerariam que a austeridade não fosse levada adiante, Tsipras realmente acreditou que poderia convencê-los a acabar com suas medidas de austeridade anunciando que não tinha opção a não ser aceitar o acordo que a UE lhe ofereceu.

Essa explicação não explica nada. Primeiramente, Tsipras tinha passado mais de duas décadas na política quando assumiu o poder, e estava, naquele momento, em contato próximo com chefes de estado e importantes financistas em todo o mundo; não é possível acreditar que ele era um político inocente tal como apresentado por Kouvelakis. Porém, mesmo se alguém acreditasse que Tsipras fosse a pessoa mais inocente possível, a defesa de Kouvelakis do Syriza não explica por que, uma vez que a UE insistia em seu plano de austeridade, Tsipras não desenvolveu uma alternativa para se contrapor à total capitulação.

As considerações de classe por trás das decisões de Tsipras não são difíceis de se compreenderem. Ele agiu para preservar os interesses dos 10% no topo da pirâmide social grega, mantendo o euro como moeda, os bancos e aliança da Grécia com a UE e a OTAN. Qualquer tentativa de mobilizar a enorme oposição à austeridade através de greves ou protestos teria atrapalhado a agenda pró-capitalista revelada de maneira clara depois das eleições de setembro.

Acima de tudo, as intenções de Tsipras assim que assumiu o poder em janeiro são, em última análise, irrelevantes. Suas principais decisões – assinar um protocolo de austeridade da UE em fevereiro, passar por cima do voto ao “não” no referendo de julho e, pelo contrário, assinar um resgate financeiro com novas medidas de austeridade, e finalmente apresentar um orçamento de austeridade em outubro – demonstraram sua firme determinação em impor as medidas de austeridade da UE. Essas ações constituíram um flagrante traição das promessas eleitorais do Syriza para acabar com a austeridade.

A tentativa desajeitada de Kouvelakis de apagar o que Tsipras fez está indissociavelmente ligado à sua preocupação mais geral: impedir o surgimento de uma alternativa à esquerda do Syriza.

No mesmo encontro do SWP, Kouvelakis disse, “eu quero acrescentar uma reflexão mais geral sobre qual é o significado de ter sua perspectiva confirmada ou ser derrotado em uma luta política. Eu acho que, para um marxista, o que é necessário é uma compreensão historicizada desses termos. Você pode dizer, por um lado, que o que está dizendo é confirmado porque é provado ser verdade. Trata-se da comum estratégia eu-lhe-disse. Mas, se você é incapaz de oferecer uma ação concreta para essa posição, politicamente você é derrotado.”

A mensagem de Kouvelakis é absolutamente cínica. Para os opositores à esquerda do Syriza, ele diz, com efeito: “Apesar de suas críticas ao Syriza, vocês foram incapazes de nos prevenir de implementar nossa traição. Nós, que ocupamos o poder de Estado, levamos adiante políticas reacionárias. Mas você, crítico de nós, não pode fazer nada a não ser dizer: ‘eu lhe avisei.’”

Mas a experiência com a traição do Syriza terá consequências políticas, mesmo que defensores do Syriza, como Kouvelakis, tentem negá-las. A classe trabalhadora recebeu uma dolorosa e inesquecível lição do caráter de classe da pseudoesquerda.

O Comitê Internacional da Quarta Internacional não hesita em declarar que entendeu a situação política e disse a verdade aos trabalhadores. Essa é a maneira como uma tendência proletária revolucionária estabelece sua autoridade na classe trabalhadora e prepara-se para liderá-la em uma revolução socialista. É através desse processo, e não outro, que a classe trabalhadora acertará suas contas “concretamente” com o Syriza e outros governos reacionários ao redor do mundo.

3. Como o Comitê Internacional advertiu a classe trabalhadora sobre o Syriza

O WSWS, publicado na internet pelo CIQI, cobriu de maneira intensiva a crise da dívida grega que surgiu em 2009 depois da eleição de George Papandreou do partido socialdemocrata grego Pasok. Desde o começo, advertiu os trabalhadores para não confiarem no Syriza, no Partido Comunista Grego (KKE), Antarsya, e agrupamentos parecidos orientados pelo Pasok e pela burocracia sindical dominada por ele.

Em maio de 2010, quando o Pasok adotou o primeiro pacote de austeridade grego, o WSWS advertiu: “Uma estratégia política independente da classe trabalhadora entra em conflito imediato com os sindicatos e as organizações de classe média que trabalham para desmobilizar a oposição. Na Grécia, os sindicatos e seus aliados, incluindo o Partido Comunista Grego e o Syriza, estão determinados a continuar sua aliança com Papandreou e seu papel na ordem política. ... Promovendo a perspectiva de influenciar o partido socialdemocrata Pasok de Papandreou, essas camadas – como suas contrapartes em outros lugares – intencionalmente buscam subordinar os trabalhadores ao Estado, à política nacionalista, e aos programas de austeridade dos bancos.”

O Pasok então levou adiante a mais devastadora ofensiva social contra a classe trabalhadora na Europa desde a Segunda Guerra Mundial – primeiro com Papandreou, depois através de um governo “tecnocrata” imposto pela UE, que incluiu a ND e o partido de extrema-direita Laos. O padrão de vida da população rapidamente caiu, empobrecendo milhões. Isso despedaçou o Pasok, que, junto com a ND, tinha sido o principal partido no governo da Grécia desde o colapso da junta militar apoiada pela CIA em 1974.

Com o colapso do Pasok na campanha eleitoral de maio de 2012, e com o segundo lugar do Syriza, atrás apenas da ND, o WSWS advertiu sobre o programa reacionário do Syriza: “O ‘Pacto de Crescimento’ atualmente discutido na UE, sobre o qual Tsipras coloca suas esperanças, consiste em providenciar fundos adicionais para ajudar os bancos com problemas e realizar ‘reformas estruturais’ para aumentar a competitividade, isto é, flexibilizar as condições de trabalho e diminuir os salários. Cortes nos gastos públicos continuarão acontecendo. Se o Syriza de fato ganhar as eleições gregas, cumprirá um importante papel reforçando esses ataques.”

Depois que a ND ganhou as eleições de 2012, os maiores governos imperialistas começaram a cortejar Tsipras, que visitou importantes capitais europeias e depois, em 2013, Washington e Nova Iorque. Analisando o apoio do Syriza pelas potências imperialistas, pela mídia e por partidos da pseudoesquerda, o WSWS concluiu: “Nas lutas de classe que virão, o Syriza enfrentará os trabalhadores como inimigos. Seu objetivo, dentro ou fora do poder, é conter a oposição popular contra as políticas de austeridade e manter a dominação política do capital financeiro sobre a classe trabalhadora.”

Quando o Syriza chegou ao poder, em janeiro de 2015, depois de um ano de greves e protestos contra as medidas de austeridade da ND, o WSWS disse: “Para os trabalhadores, um governo do Syriza não representará uma solução para superar a crise; pelo contrário, representará um enorme perigo. Apesar de sua fachada de esquerda, o Syriza é um partido burguês que se apoia em camadas abastadas da classe média. Suas políticas são determinadas por burocratas sindicais, acadêmicos, profissionais liberais e parlamentares, que buscam defender seus privilégios preservando a ordem social. Enquanto seu líder, Alexis Tsipras, promete diminuir (muito pouco) a terrível austeridade na Grécia, ele não se cansa de prometer aos representantes de bancos e governos no exterior que eles não têm ‘nada a temer’ de um governo do Syriza.”

Essas advertências foram confirmadas pelas ações do Syriza no governo. Desde o início, ele temeu e se opôs aos desejos de milhões de pessoas que o elegeram. Ao invés de apelar para protestos internacionais e outras formas das massas se oporem ao programa de austeridade da UE, o Syriza procurou seduzir as classes dominantes europeias. Sua perspectiva era enfraquecer as políticas de austeridade da UE através de um limitado alívio da dívida e outras concessões asseguradas apelando para a generosidade dos bancos europeus.

O primeiro Ministro das Finanças de Tsipras, Yanis Varoufakis, disse mais tarde ao Observer que ele foi às negociações iniciais com a UE propondo políticas econômicas do “padrão de Thatcher ou Reagan”, que tinham sido elaboradas por ele e um ‘Conselho Internacional de Consultores’, incluindo o thatcherista Lorde Norman Lamont, Secretário do Tesouro no governo britânico conservador de John Major, e o ex-Secretário do Tesouro dos EUA Lawrence Summers.

Os líderes do Syriza curvaram-se diante da UE, encorajando Berlim, os bancos, e outras potências europeias a intensificar suas exigências e ameaças contra a Grécia. Na visita do dia 11 de fevereiro a Berlim, Varoufakis declarou que a Chanceler Alemã “Angela Merkel é de longe a política mais astuta na Europa. Não há dúvida quanto a isso. E Wolgang Schäuble, seu Ministro das Finanças, é talvez o único político europeu com solidez intelectual.”

O Syriza não tomou nenhuma medida para defender a classe trabalhadora contra os ataques da burguesia grega, cujos interesses foram colocados em primeiro lugar nas negociações com os credores gregos. Isso permitiu que a elite financeira grega saqueasse sem restrição a economia, enviando dezenas de bilhões de euros para fora do país nos meses seguintes da eleição do Syriza. Nada foi feito para controlar a saída de capitais do país, muito menos para nacionalizar os bancos ou afetar a riqueza, o poder e o privilégio da classe dominante grega.

Assim que o Syriza se sentiu seguro de que o entusiasmo popular e as expectativas de mudança tinham diminuído, e que a situação política tinha se estabilizado, logo cedeu à UE. No dia 20 de fevereiro, concordou em estender o Memorando de austeridade e levar adiante um pacote com novas medidas de austeridade, deixando de lado as limitadas reformas prometidas do Programa de Thessalônica, a base de sua campanha eleitoral. Quatro dias depois, comprometeu-se a cortar gastos na saúde, educação, no transporte coletivo, dos governos locais, e em outros serviços sociais essenciais. Depois disso, quaisquer que tenham sido as manobras políticas que Tsipras usou para impor esses cortes, não poderia haver dúvida sobre o caráter de classe reacionário do Syriza.

Ao longo da primavera, na medida em que a UE recusou-se a realizar as menores concessões, Tsipras procurou de maneira ainda mais desesperada encontrar uma justificativa para a população grega dos cortes que tinha aceitado realizar.

No dia 30 de abril, quando Tsipras demonstrou os primeiros esboços para realizar um referendo sobre as medidas de austeridade da UE, o WSWS advertiu: “Para fechar um acordo com a UE, o Syriza está preparando aplicar profundos cortes sociais que claramente violam suas promessas eleitorais para acabar com a austeridade da UE. Tsipras mostrou que o Syriza então consideraria organizar um referendo para tentar obter legitimidade democrática para as políticas ditadas pela UE que foram esmagadoramente rejeitadas pelos gregos.”

Finalmente, em junho, Tsipras anunciou o referendo sobre a austeridade, previsto para 5 de julho, e chamou voto no “não”. Mesmo os apoiadores do Syriza agora admitem que se tratou de uma cínica fraude política, como o WSWS advertira. Tsipras pensava que perderia o referendo e usaria o voto no “sim” como pretexto para renunciar, deixando o caminho aberto para um partido de direita assumir o poder e impor os cortes.

Um apoiador e admirador do Syriza, o antigo pablista Tariq Ali, escreveu no London Review of Books: “Não é mais segredo que Tsipras e as pessoas mais próximas a ele esperavam um ‘sim’ ou um ‘não’ com uma pequena diferença. ... Por que Tsipras realizou o referendo mesmo assim? ‘Ele é tão difícil e ideológico,’ Merkel reclamou a seus assessores. Antes fosse. Tratou-se de um risco calculado. Ele pensou que os partidários do ‘sim’ ganhariam, e planejou renunciar e deixar as marionetes da UE governarem o país.”

Essa avaliação confirma ainda mais as considerações iniciais dos cálculos cínicos pressupostos no referendo. Varoufakis, o ex-ministro das Finanças do Syriza, disse ao Guardian após o referendo e a capitulação do Syriza: “Eu tinha assumido, assim como eu acredito que o primeiro-ministro, que nosso apoio e o voto no não diminuiriam exponencialmente.”

Um perfil de Varoufakis publicado na revista New Yorker descreve o ex-ministro das finanças às vésperas do referendo tendo “a serenidade de alguém que está certo do resultado da eleição e desde já saboreando o que viria. Seu governo, do partido de esquerda Syriza, perderia. As pessoas votariam no ‘sim’ – isto é, a favor de mais concessões do que Varoufakis e Alexis Tsipras ... disseram que poderiam engolir. Varoufakis renunciaria como ministro, e nunca mais teria que suportar as reuniões de um dia todo em Bruxelas ou Luxemburgo ...”

O único resultado possível para a jogada do referendo de Tsipras e sua subsequente derrota, Varoufakis disse ao Guardian, era “o posterior fortalecimento da Aurora Dourada,” um partido grego fascista.

Mesmo assim, os aliados do Syriza saudaram o referendo como uma etapa decisiva, dizendo até mesmo que se tratava de um florescer da democracia burguesa. A Organização Socialista Internacional nos EUA publicou uma declaração da Rede Vermelha, grupo da Plataforma de Esquerda do Syriza. Eles alegaram que a “decisão de Tsipras em rejeitar o ultimato dos credores, em recusar-se a assinar um novo Memorando impondo uma super-austeridade, e perguntar sobre a vontade do povo no referendo de 5 de julho é uma decisão que transforma a política grega.”

“O SYRIZA”, ela declarou memoravelmente, “não pode ser facilmente transformado em um partido de austeridade.”

Por sua vez, o WSWS advertiu: “Se fosse para Tsipras explicar para os trabalhadores de maneira concisa o conteúdo de seu referendo, ele diria: cara a UE ganha, coroa você perde. Apenas cinco meses depois da vitória do Syriza nas eleições comprometendo-se a acabar com cinco anos de austeridade, o referendo foi chamado para encobrir politicamente a rendição para a UE. Tivesse o Syriza a intenção de lutar, não precisaria ter chamado um referendo sobre a austeridade da UE já rejeitada pelos gregos.”

Entretanto, o referendo produziu o resultado oposto ao desejado por Tsipras, uma vez que 61% dos gregos votaram “não” para o plano de austeridade da UE, numa votação claramente polarizada entre classes sociais. Eles desafiaram a enorme quantidade de ameaças da UE e da mídia grega, que dizia que a UE reagiria ao voto no “não” expulsando a Grécia da zona do euro, trazendo uma crise financeira nunca antes vista. A clara implicação do voto no “não” era que a classe trabalhadora grega estava preparada para um confronto com o capitalismo.

O Syriza estava espantado e apavorado pela vitória do “não”, o qual tinha chamado para enganar as massas. “Surpreendidos,” Ali escreveu no London Review of Books, “eles entraram em pânico. Uma reunião de emergência do gabinete mostrou que tinham recuado totalmente. Eles se recusaram a se livrar do representando do BCE [Banco Central Europeu] responsável pelo banco estatal da Grécia e rejeitaram a ideia de nacionalizar os bancos. Ao invés de assumir o resultado do referendo, Tsipras capitulou.”

Depois de duas semanas frenéticas de conversas com os chefes de estado da UE, Tsipras aceitou um pacote de austeridade de €13 bilhões (US$14,34 bilhões), o pacote com os maiores cortes realizados de uma só vez jamais exigido pela UE.

As advertências do WSWS sobre o caráter do referendo foram confirmadas pelo o que se seguiu. O voto no “não” deixou claro a disposição de luta da classe trabalhadora e ilegitimidade das políticas do Syriza, mas não fez nada para mobilizar a classe trabalhadora numa luta de massas. O referendo deixou a iniciativa política nas mãos de Tsipras – isto é, com as forças da austeridade.

A classe trabalhadora e a grande maioria dos gregos que votaram no “não” no referendo de julho alienaram-se das eleições de setembro de 2015. Os dois principais candidatos, Tsipras e Maimarakis, da ND, realizaram campanhas pró-austeridade. Em meio a uma abstenção em massa, Tsipras se reelegeu diante da falta de opções, tendo em vista a ausência de uma alternativa eleitoral à austeridade, beneficiando-se imerecidamente da profunda hostilidade popular à ND.

Desde que foi reeleito, Tsipras liderou o Syriza num amplo ataque aos direitos sociais da classe trabalhadora grega em colaboração com a UE. Seu orçamento de austeridade incluiu um corte de 20% nos níveis mínimos de aposentadoria, e o Syriza está tentando cortar a proteção estatal contra o despejo de proprietários com hipotecas atrasadas, possibilitando um despejo em massa de centenas de milhares de famílias. Esses ataques cruéis são a confirmação, se mais alguma é necessária, de que a classe trabalhadora pode apenas defender-se lutando de maneira determinada contra o Syriza.

4. As origens e a evolução do Syriza

A traição do Syriza não caiu do céu. Apesar de ter se promovido como um partido da “Esquerda Radical”, a política que levou adiante é uma consequência inevitável de sua história: ele foi, desde sua concepção, um partido hostil à classe trabalhadora e ao marxismo.

O Syriza surgiu em 2004 com o agrupamento de vários partidos pequeno-burgueses em torno da organização Synaspismos (Coalizão, ou SYN). Naquela época, Tsipras era um jovem líder do SYN, que foi, junto com o KKE, o principal remanescente do colapso do stalinismo grego. Os grupos que atraiu, como o DEA (Esquerda dos Trabalhadores Internacionalista, um partido anti-trotskista que denunciou a URSS como uma sociedade “capitalista de estado”), surgiram do movimento estudantil que se desenvolveu depois do colapso da junta militar de 1974.

Esse movimento estudantil se desenvolveu num ambiente de descrédito do capitalismo para amplas camadas da população grega por causa dos crimes do fascismo, da Guerra Civil grega e das sucessivas ditaduras militares gregas. Prontamente, os estudantes juntaram-se aos protestos ou apoiaram greves chamadas pelos sindicatos controlados pelo Pasok, que os fizeram ganhar notoriedade e uma certa influência política. Entretanto, isso não quer dizer que esses estudantes apoiavam a perspectiva de uma revolução proletária.

Ao invés disso, acompanharam uma ampla virada à direita dos intelectuais da pequena-burguesia em nível internacional depois de 1968. Naquele ano, o exército Soviético reprimiu o levante da Primavera de Praga, e o Partido Comunista Francês impediu que a classe trabalhadora chegasse ao poder depois da greve geral de maio-junho de 1968. Partidos stalinistas foram denunciados por defenderem a ordem estabelecida em meio a uma ampla radicalização da classe trabalhadora e da juventude. Eles não poderiam mais cumprir o papel que tinham se dispostos a cumprir antes, aliando-se com a política externa contrarrevolucionária da burocracia soviética para controlar protestos sociais e bloquear lutas revolucionárias da classe trabalhadora.

Entretanto, as camadas da classe média representadas no movimento estudantil não reagiram à experiência com o stalinismo tentando construir partidos genuinamente revolucionários na classe trabalhadora. Ao invés disso, usaram uma fraseologia de esquerda ou socialista para justificar o repúdio da classe trabalhadora como a força revolucionária na sociedade e rejeitar a luta para construir partidos revolucionários como o Partido Bolchevique, que, sob a liderança de Lenin e Trotsky, derrubou o capitalismo na Rússia em 1917.

Como observou Panagiotis Sotiris – um líder do Antarsya, um dos principais rivais do Syriza na política pequeno-burguesa grega – eles procuraram, pelo contrário, construir o partido na classe média. Naquela época, ele disse à revista Jacobin, “acreditávamos que experiências de unidade, como os reagrupamentos de esquerda nas universidades, possuíam um caráter mais estratégico. Eles poderiam ajudar na recomposição da esquerda radical, opondo-se às formas tradicionais na construção de organização ou de partido.”

Os fundamentos teóricos e políticos dessa política pequeno-burguesa foram fornecidos por pós-modernistas e “pós-marxistas” como Ernesto Laclau, um professor argentino da Universidade de Essex, no Reino Unido, onde educaram-se muitos dos atuais líderes do Syriza. Seu famoso livro Hegemonia e Estratégia Socialista, de 1985, co-escrito com a acadêmica belga Chantal Mouffe, lançou um ataque aberto à classe trabalhadora e ao marxismo.

Laclau e Mouffe chamaram seus leitores “a descartar a ideia de um agente perfeitamente unificado e homogêneo, como a ‘classe trabalhadora’ do clássico discurso.” Rejeitando a existência da classe trabalhadora e da base socioeconômica objetiva para o socialismo ou para a revolução socialista, eles escreveram: “A procura pela ‘verdadeira’ classe trabalhadora e seus limites é um problema falso e, como tal, não possui qualquer relevância teórica ou política. Evidentemente, isso implica ... que os interesses fundamentais no socialismo não podem ser logicamente deduzidos de determinadas posições no processo econômico.”

Com o passar do tempo, Laclau desenvolveu sua rejeição ao papel revolucionário da classe trabalhadora numa hostilidade irracional explícita cada vez maior a qualquer tentativa de compreender a sociedade capitalista.

Denunciando o “imperialismo da ‘razão’” em um ensaio com o título “Só Deus sabe”, de 1991, Laclau escreveu: “Vamos considerar o debate se a classe trabalhadora é ainda o principal sujeito histórico ou se sua antiga missão passou para os novos movimentos sociais. Eu concordaria que essa maneira de formular o problema está ainda aprisionada na velha abordagem que ela tenta suplantar, pois mantem a ideia de que deve haver um único agente privilegiado da transformação histórica, definido por uma totalidade histórica e social que pode ser racionalmente apreendida. Mas é exatamente essa última consideração que deve ser questionada.”

Essas foram as concepções enormemente irracionalistas que prevaleciam na classe média no memento em que o SYN estava sendo formado, em fevereiro de 1989, junto com a crise e o colapso do governo do Pasok de Andreas Papandreou. O SYN foi uma coalizão eleitoral formada pelo KKE e o Partido de Esquerda Grego. Esse último foi dominado por “eurocomunistas,” uma tendência stalinista que saiu do KKE, mas que também incluiu políticos burgueses como o ex-membro do Pasok Nikos Konstantopoulos.

As críticas dos eurocomunistas ao stalinismo não tinham nada em comum com a oposição Marxista à burocracia do Kremlin que foi desenvolvida por Trotsky e a Quarta Internacional. Enquanto Trotsky defendeu uma revolução política da classe trabalhadora soviética para derrubar a burocracia parasitária, reestabelecer a democracia operária e defender as conquistas essenciais da Revolução de Outubro, o eurocomunismo foi um desenvolvimento do stalinismo pela direita.

Os eurocomunistas expressaram a crescente influência de concepções antimarxistas articuladas por Laclau dentro dos próprios partidos stalinistas. Renunciando explicitamente a revolução, o Marxismo e a Revolução de Outubro, eles procuraram distanciarem-se de Moscou para colaborar de maneira mais próxima com suas próprias classes dominantes. Essa tendência, que predominou nos partidos Comunistas Italiano e Espanhol, foi uma precursora na guinada da burocracia stalinista de Moscou, sob a liderança de Mikhail Gorbachev, para restaurar o capitalismo e acabar com a União Soviética.

A formação do SYN foi o prelúdio de uma época cheia de traições da classe trabalhadora realizadas por todo o espectro do stalinismo grego. Quando o governo de Andreas Papandreou colapsou, ao mesmo tempo que a ND fracassou em obter a maioria dos votos nas eleições seguintes, a ND formou um governo de coalizão com o SYN. Isso levou os stalinistas a uma aliança com a direita grega, que afogou a oposição da classe trabalhadora em sangue, tanto durante a Guerra Civil entre 1946 e 1949, quanto sob a junta militar entre 1967 e 1974. Essa coalizão foi mais tarde ampliada para incluir também o Pasok, até ser desfeita em 1990.

O KKE e os precursores do Syriza haviam sinalizado para a burguesia que estavam firmes no campo da ordem capitalista. Durante seu governo de coalizão com a ND, representantes do SYN ocuparam os ministérios do Interior e da Justiça. Assim, eles controlaram os arquivos do assassinato em massa e da tortura dos trabalhadores, membros do movimento trotskista e do próprio KKE durante a Guerra Civil Grega, depois da Segunda Guerra Mundial, e da junta militar. Não apenas o SYN deixou de investigar esses crimes, como permitiu a destruição de muitos arquivos que teria permitido processar os responsáveis.

Um ano depois, os aliados do SYN na burocracia soviética dissolveram a URSS e restauraram o capitalismo, saqueando a classe trabalhadora soviética e lançando abertamente a ex-União Soviética para a intervenção imperialista. Diante de tais crimes, o KKE e os precursores do Syriza mostraram que tinham rompido os laços que os ligaram às lutas da classe trabalhadora no século XX. Entretanto, o KKE rompeu com o SYN em 1991, deixando o SYN como o reduto dos antigos “eurocomunistas”.

Tanto o SYN quanto o KKE tinham completado suas transformações de partidos ligados às políticas contrarrevolucionárias da burocracia soviética para partidos abertamente burgueses.

As outras tendências no Syriza – o DEA, os maoístas e os grupos ecológicos, além de rachas do KKE – viriam a se juntar ao Syriza sob a base dessa evolução pró-capitalista. No começo de 2000, Panos Petrou, do DEA, escreve num artigo sobre a fundação do Syriza, o SYN “estava em declínio eleitoral, podendo inclusive não conseguir votos suficientes para superar o limite mínimo de votos para conseguir ser representado no parlamento. Isso aconteceu por causa de sua política de centro-esquerda durante os anos anteriores, que fez o partido parecer um satélite do Pasok.”

A formação do Syriza em 2004 foi uma manobra com o objetivo de oferecer uma aparência mais à “esquerda” e manter o SYN vivo com a absorção de outros partidos que participaram dos protestos contra a guerra do Iraque. Como observou Petrou, “para a liderança do SYN, o Syriza era predominantemente uma aliança eleitoral para conseguir ultrapassar a barreira nacional de 3% dos votos para entrar no parlamento.”

O papel deles reflete a riqueza e o conservadorismo cada vez maiores dos estratos sociais que compõem o Syriza. Como a cobertura de imprensa sobre as grandes contas bancárias e as inúmeras residências dos ministros do Syriza deixou claro, os antigos estudantes formaram-se para assumir carreiras na classe média abastada. Tendo-se beneficiado da financeirização da economia europeia, do crescimento do mercado imobiliário e da introdução do euro, sua leitura de Laclau e autores parecidos os convenceu firmemente dos méritos do capitalismo.

Suas disposições encontraram uma expressão acabada na rejeição de Laclau da luta de classes e na própria noção de classe social. Em seu trabalho Ideologia e Pós-Marxismo, de 2007, ele declarou que “as questões de uma luta anti-capitalista são muitas e não podem ser reduzidas a uma categoria tão simples como ‘classe’. Teremos uma pluralidade de lutas. As lutas na nossa sociedade tendem a se proliferar na medida em que nos movemos em direção a uma era globalizada, mas elas tendem a ser cada vez menos lutas de ‘classe’.”

O papel do governo do Syriza ao fazer retroceder enormemente os padrões de vida dos trabalhadores gregos atesta as implicações reacionárias de tal irracionalidade e concepções antimarxistas. A insistência obscurantista de que a realidade não pode ser racionalmente compreendida e a rejeição do papel da classe trabalhadora providenciaram combustível teórico para partidos pequeno-burgueses que são de “esquerda” apenas no nome. O Syriza impõe suas políticas irracionais de austeridade, o mesmo que o suicídio econômico da Grécia, com total desconsideração pela ampla massa da população trabalhadora.

5. Os cúmplices de “esquerda” do Syriza

A condição essencial para a luta da classe trabalhadora contra a austeridade é o rompimento com tais políticas corruptas da pseudoesquerda. A falência desses partidos, que se apresentaram como críticos à “esquerda” do primeiro governo de Tsipras, ficou clara no fracasso em conseguir uma votação significativa nas eleições de setembro.

O partido Unidade Popular (Laiki Enótita) – que trouxe grupos maoístas da coalizão Antarsya para apoiar a Plataforma de Esquerda depois que essa deixou o Syriza – não conseguiu os 3% mínimo de votos necessários para poder eleger um candidato no parlamento.

Uma coalizão formada por frações remanescentes do Antarsya, incluindo vários grupos pablistas e maoístas, e o EEK (Partido Revolucionário dos Trabalhadores) de Michael-Matsas, obteve 0,85% dos votos.

Sob as atuais condições de crise extrema na Grécia, esses resultados insignificantes são uma sentença sobre o papel que essas tendências tiveram de janeiro a setembro de 2015. Elas não conseguiram um apoio expressivo, pois não lutaram para se diferenciar fundamentalmente do Syriza ou para ganhar as massas para uma perspectiva revolucionária.

A Plataforma de Esquerda serviu lealmente o governo do Syriza de janeiro a julho, bloqueando a oposição à esquerda do Syriza. Ela promoveu a mentira de que, apesar de ter se comprometido impor medidas de austeridade em fevereiro, o Syriza poderia ainda assim levar adiante políticas de esquerda. Uma resolução que enviaram para a liderança do Syriza afirmava que, “apesar da gravidade de seu acordo inicial, você ainda tem tempo para se recuperar mudando a direção e assumindo as necessárias políticas radicais e socialistas.”

As tentativas da Plataforma de Esquerda de se colocar em oposição às medidas de austeridade da UE são uma fraude política. No fim de julho, ela liderou a pressão para evitar que acontecesse uma votação nominal no comitê central do Syriza sobre as medidas de austeridade que Tsipras tinha negociado. Com isso, a Plataforma de Esquerda deixou que as medidas de austeridade passassem, ao mesmo tempo que evitavam se colocar contra essas medidas.

Depois de o Syriza ter assinado as medidas de austeridade de julho, quando as críticas inofensivas da Plataforma de Esquerda passaram a atrapalhar Tsipras em suas tentativas de acordo com a UE, ele dissolveu seu governo e tirou os candidatos da Plataforma de Esquerda da lista dos candidatos legislativos do Syriza. Foi então que a Plataforma de Esquerda decidiu deixar o Syriza e formar o partido Unidade Popular, tentando continuar vendendo ilusões no Syriza e bloquear uma luta política independente da classe trabalhadora contra o governo de Tsipras.

Panagiotis Lafazanis, o líder da Plataforma de Esquerda e ex-ministro da Energia de Tsipras, declarou: “A Unidade Popular quer continuar as melhores tradições programáticas do Syriza. Queremos nos apoiar em compromissos mais radicais.”

Não foi uma surpresa, portanto, quando o apelo de Lafazanis em defender tudo de reacionário que o Syriza realizou convenceu muitas frações do Antarsya que era época para se aliar com a Plataforma de Esquerda dentro do Partido da Unidade Popular.

Já Michael-Matsas e o EEK viram na Unidade Popular uma oportunidade de se “reagrupar” com outras frações do Antarsya, formando uma nova cobertura de esquerda para o Syriza e a classe dominante grega.

A orientação dessas tendências não aconteceu em função dos interesses da classe trabalhadora, mas do Syriza. No final, os trabalhadores corretamente os consideraram como parte do esquema político que os tinha traído.

É importante comparar como essas tendências se colocaram nos oito meses depois da eleição do Syriza, de janeiro a setembro, com como Lenin e o Partido Bolchevique utilizaram os oito meses desde a formação do Governo Provisório, em fevereiro de 1917, até a Revolução de Outubro. Lenin e os bolcheviques implacavelmente contestaram as ilusões das massas no Governo Provisório, lutando para romper as amarras dos partidos burgueses e de seus apologistas da classe trabalhadora. Diante de condições políticas muito mais complexas, eles conseguiram ganhar uma influência cada vez maior sobre a classe trabalhadora para preparar a Revolução de Outubro.

Não existiu um traço sequer dessa intransigência revolucionária entre as forças supostamente à esquerda do Syriza. Todas elas prepararam a chegada do Syriza ao poder promovendo ilusões de que seu governo levaria adiante uma luta contra as medidas de austeridade da UE, depois passaram os oito meses entre janeiro e setembro adaptando-se ao governo do Syriza, espalhando mentiras sobre suas políticas, e certificando-se de que ele completaria sua traição.

6. Os “partidos de esquerda amplos” e a preparação para novas traições

O governo do Syriza não foi apenas uma experiência amarga para a classe trabalhadora grega. Ele também expôs partidos da pseudoesquerda parecidos na Europa e redor do mundo, que apoiaram e estimularam sua chegada ao poder, e agora carregam a responsabilidade política dos ataques do Syriza aos trabalhadores gregos. Os trabalhadores ao redor do mundo devem ser advertidos: assim que a classe dominante deixar que esses partidos cheguem ao poder, eles se mostrarão tão reacionários quanto o Syriza na Grécia.

Esses partidos já estão bem estabelecidos por toda a Europa como o Podemos na Espanha e o partido A Esquerda na Alemanha. Como o Syriza, surgiram depois do fim da União Soviética com acordos de alianças entre várias tendências pequeno-burguesas e forças stalinistas. Eles propõem uma agenda política de retórica anti-austeridade vazia, combinada com políticas pró-imperialistas ajustadas aos interesses de seções privilegiadas da classe média.

Antes do Syriza, a Refundação Comunista (Partito dela Rifondazione Comunista, PRC) na Itália ofereceu o exemplo mais importante das consequências políticas dessa orientação. A Rifondazione surgiu da dissolução do Partido Comunista Italiano (PCI) em meio à restauração do capitalismo na União Soviética e na Europa do Leste. Além de uma fração do PCI, o partido possuía revisionistas pablistas anti-trotskistas, liderados por Livio Maitan, maoístas e tendências anarquistas. Desde 1991, juntou-se a uma série de governos italianos que implementaram medidas de austeridade, ao mesmo tempo em que participavam de guerras imperialistas da Iugoslávia ao Afeganistão.

Com as repetidas participações da Rifondazione em governos reacionários, seus defensores tinham consciência de que estavam alavancando partidos burgueses que levariam adiante políticas reacionárias e ataques à classe trabalhadora.

Numa discussão pública sobre o papel de partidos como o Syriza e o Rifondazione, na qual os chamou de “partidos de esquerda amplos”, o jornal pablista International Viewpoint admitiu “que a relação com o estado e a compreensão do partido de seu papel na sociedade” tornara-se uma questão urgente. Ele observou que esses partidos realizaram, “em determinados momentos, uma travessia do Rubicão, que os levou aos mais altos níveis de administração institucional do estado ou ao apoio explícito a governos sociais-liberais [i.e., pró-austeridade].”

Essa discussão, que aconteceu dois anos antes do Syriza chegar ao poder, ressalta a má-fé política de seus promotores da pseudoesquerda. Ao mesmo tempo que saudaram o Syriza como um avanço para a esquerda, eles sabiam que continuavam uma longa série de traições políticas. A sustentação dessas políticas completamente cínicas aconteceu por causa de sua abordagem desdenhosa e crassamente pragmática da história.

De acordo com o Alain Krivine, o líder do pablista Novo Partido Anticapitalista (NPA) na França, o NPA “não resolve algumas questões, ele deixa aberto para conferências futuras. Por exemplo, todos os debates estratégicos sobre a tomada do poder, as reivindicações transitórias, a dualidade do poder, etc. O partido não reivindica ser trotskista como tal, mas considera o trotskismo um dos contribuidores, entre outros, para o movimento revolucionário. Recusando-se a chegar a uma política pelo espelho retrovisor, como tivemos que fazer sob o stalinismo, o NPA não possui uma posição sobre o que foi a União Soviética, o stalinismo, etc. A política é baseada em um acordo sobre a análise do período e sobre suas tarefas.”

O NPA não quis saber sobre as experiências históricas-chave do século XX, o movimento marxista e as questões centrais da estratégia revolucionária da classe trabalhadora. As políticas do NPA formuladas nessa análise ahistórica só podem ter um caráter limitado e reacionário, ditadas por suas impressões superficiais da cobertura da mídia e pelo que seus líderes aprenderam de suas conversas com políticos do governo.

Entretanto, como as observações de Krivine deixam claro, a liderança do NPA viu isso como uma vantagem. Isso permitiu que eles, ao mesmo tempo que posavam de “esquerda”, se engajassem em manobras táticas sem princípios, como em seu apoio a “partidos amplos de esquerda” como o Syriza na esperança de levar adiante uma luta contra a austeridade, mesmo sabendo se tratar de partidos a favor da austeridade e da guerra.

Na Grécia, o NPA juntou-se à fraternidade da pseudoesquerda internacional ao saudar a chegada do Syriza ao poder como uma vitória. O NPA declarou que “a eleição vitoriosa do Syriza é uma notícia excelente. Ela enche todos que lutam contra a austeridade na Europa com esperanças,” enquanto o partido A Esquerda da Alemanha lançou uma declaração dizendo: “A eleição na Grécia não apenas é uma virada para a Grécia como para toda a Europa. Ela abre oportunidades para uma renovação democrática e uma mudança de direção fundamental da União Europeia”.

Outro exemplo disso foi o que aconteceu com o Xekinima (OSI - Organização Socialista Internacionalista), um partido grego afiliado à tendência internacional liderada pelo Partido Socialista (Inglaterra e País de Gales). Tendo entrado e depois deixado o Syriza, ele apoiou sua eleição de janeiro de 2015.

Em uma entrevista anterior à eleição, o líder do Xekinima, Andros Payiatsos, disse que apesar do claro indício de que o Syriza estava “fazendo tudo o que fosse possível para chegar a um acordo com as forças do mercado,” as massas “terão que lutar e irão lutar, levando o governo do Syriza para a esquerda.”

Mais categórico ainda foi o DEA, o afiliado grego da Organização Internacional Socialista (OIS) dos EUA. Fazendo parte da Plataforma de Esquerda do Syriza, ele escreveu: “Nessas novas circunstâncias, o papel do Syriza como partido político é insubstituível. O funcionamento de sua estrutura organizacional e seus membros, com participação coletiva e democracia por todo o partido, não é algo a mais, mas a pré-condição para a vitória final do Syriza, da esquerda e do povo.”

No Brasil, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), um dos principais partidos que surgiram do rompimento do movimento revisionista latino-americano liderado por Nahuel Moreno, chamou o voto no Syriza, descrevendo-o como “a principal ferramenta dos trabalhadores para derrubar os partidos do Memorando e da pilhagem da Grécia”.

Quaisquer que tenham sido as críticas dessas tendências ao programa pró-capitalista do Syriza, eles todos as fizeram exigindo que os trabalhadores se subordinassem ao Syriza em seu caminho eleitoral, e encararam suas lutas como meios de pressionar o Syriza à esquerda.

Nenhum deles realizou uma análise de classe do Syriza. Enquanto saudaram a sua vitória como produto das lutas sociais, eles deixaram de lado o fato de o Syriza ser um partido burguês que surgiu como uma maneira de suprimir as lutas dos trabalhadores e impor medidas de austeridade que a direita grega tinha sido incapaz de realizar.

A promoção do Syriza realizada por esses partidos não foi um erro ou uma falha teórica de análise. Eles apoiaram o Syriza e suas políticas porque representavam, em seus países, as mesmas camadas abastadas de acadêmicos de “esquerda”, sindicalistas, parlamentares e profissionais liberais, que procuram levar adiante seus interesses de classe através de políticas parecidas. Quando a classe dominante permitiu que o Syriza chegasse ao poder, todos eles o viram como um modelo e esperaram que a eles seria dada a oportunidade de cumprir um papel parecido em seus próprios países.

Mesmo tendo sido obrigados, em público, a moderar seu entusiasmo pelo Syriza, depois dele ter imposto um multibilionário pacote de austeridade em julho, eles continuaram a apoiá-lo.

Assim, Jean-Luc Mélenchon, da Frente de Esquerda da França, saudou Tsipras depois de impor o pacote de austeridade da UE, passando por cima do voto no “não” no referendo de 5 de julho, declarando: “Nós apoiamos Alexis Tsipras e sua luta a favor da resistência do povo grego.” O comunicado oficial da Frente de Esquerda, do mesmo modo, virou a realidade de cabeça para baixo, dizendo: “O governo de Alexis Tsipras resistiu como nenhum outro na Europa. Portanto, está aceitando uma trégua na guerra contra ele. Nós condenamos essa guerra, aqueles travando essa guerra e seus objetivos.”

Pablo Iglesias, que repetidamente fez campanha para Tsipras na condição de secretário-geral do partido espanhol Podemos, que pretende seguir o mesmo caminho do Syriza ao poder, justificou as políticas de austeridade alegando que as alternativas eram “o acordo ou a saída da zona do euro”. Ele ainda acrescentou, “os princípios de Alexis são muito claros, mas o mundo e a política têm a ver com correlação de forças. O que o governo grego fez, infelizmente, foi o que poderia ter feito.”

Mais uma vez, as maiores advertências são apropriadas: os partidos que fazem declarações como essas sobre o acordo de austeridade do Syriza seguirão os seus passos.

O abismo político e de classe que separa o CIQI dessas tendências é evidente. Enquanto o CIQI procurou alertar os trabalhadores para o que o Syriza estava preparando, a pseudoesquerda ofereceu uma cobertura política para suas políticas reacionárias.

7. O papel de Michael-Matsas do EEK

O Comitê Internacional lutou com todas as forças à sua disposição para expor suas perspectivas e análises para os trabalhadores gregos, tendo-os advertido sobre o papel a que o Syriza se prestaria. Porém, o CIQI não possui uma sessão na Grécia.

A responsabilidade política dessa ausência repousa sobre Savas Michael-Matsas, o secretário geral do Partido Revolucionário dos Trabalhadores Grego (EEK). Ele liderava a única seção do CIQI que apoio Gerry Healy no racha do CIQI com o Workers Revolutionary Party (WRP), então liderado por Healy no Reino Unido. Michael-Matsas rompeu com o CIQI sobre uma base sem princípios, recusando toda discussão com outras seções dizendo que não tinham autoridade até mesmo para se reunir sem a permissão de Healy, que ele descrevia como o “líder histórico” do CIQI. O apoio político para tal atitude foi seu acordo com a orientação oportunista e nacionalista de Healy, que Michael-Matsas compartilhava.

Depois de seu racha com o CIQI, Michael-Matsas proclamou uma “Nova Era para a Quarta Internacional”, que liberaria o trotskismo de “propagandismo abstrato” e “das práticas de derrotas e isolamento do trotskismo.” Na prática, sua “Nova Era” consistiu em apoiar o Pasok na Grécia e saudar a Perestroika de Mikhail Gorbachev como o início da “revolução política” na União Soviética. Nas duas décadas desde então, ele trabalhou na periferia do Syriza.

O EEK entusiasticamente impulsionou o Syriza nos meses anteriores a sua vitória eleitoral. Ele alegou que poderia ajudar a população a empurrar o Syriza para a esquerda a partir de uma aliança política com ele, uma “poderosa Frente Única de todos os trabalhadores e organizações populares ... do KKE, Syriza, Antarsya até o EEK, as outras organizações de esquerda, anarquistas e movimentos antiautoritários.” O EEK chamou todos que possuíam esperanças no Syriza “a exigir de seus líderes o rompimento com a burguesia, os quadros políticos, os oportunistas e os pretendentes ao poder do capital.”

Como toda a periferia política do Syriza, o EEK deixou de lado um ponto estratégico: o Syriza é um partido burguês. Michael-Matsas estava propondo que a classe trabalhadora se unisse a partir de uma série de organizações que passaram definitivamente a apoiar o capitalismo, opondo-se à classe trabalhadora e ao socialismo.

Incitar os trabalhadores a exigir que a liderança do Syriza “rompesse com a burguesia” serviu apenas para semear ilusões nesse partido e ocultar a inevitabilidade de sua guinada violenta contra a classe trabalhadora. O apelo à “liderança” do Syriza – isto é, a criminosos políticos abastados como Tsipras e Varoufakis – para romper com “todos os oportunistas e pretendentes do poder do capital” é um apelo a que saiam de suas próprias peles.

Defendendo sua atuação política na Grécia, Michael-Matsas atacou o CIQI dizendo que era “sectário” por expor o caráter burguês do Syriza e por suas advertências da inevitável traição de suas promessas para a classe trabalhadora. Escrevendo depois da eleição que deu a vitória ao Syriza, ele argumentou que, apesar do CIQI “dizer algumas coisas corretas sobre a natureza burguesa da liderança do Syriza, eles desconsideram o significado da vitória do Syriza ... Os grupos sectários são cegos às oportunidades porque são indiferentes ao movimento de massa.”

Nove meses depois, não é difícil chegar a uma conclusão sobre as “oportunidades” e o “movimento de massa” que estimulou o entusiasmo de Michael-Matsas pelo Syriza. O Syriza ofereceu à burguesia europeia a oportunidade de continuar suas políticas de austeridade e tirar dezenas de bilhões de euros de milhões de trabalhadores empobrecidos.

Quanto ao “movimento de massa”, o Syriza não construiu nada na classe trabalhadora, nem ao menos tentou. O Syriza ainda continua uma máquina eleitoral para um grupo de políticos burgueses e seus apoiadores. Ele manipulou e explorou a poderosa oposição à austeridade na classe trabalhadora para assegurar a aliança do capitalismo grego com a UE e a OTAN e, como consequência intencional, as carreiras e fortunas pessoais dos principais políticos do Syriza.

Michael-Matsas acusou o CIQI de ser sectário porque não louvou o Syriza, assim como o EEK. O CIQI não apenas advertiu que o Syriza possuía uma liderança burguesa – uma coisa que Michael-Matsas aceita complacentemente – mas que também se tratava de um partido burguês e que os trabalhadores tinham que se opor ao Syriza por essa razão.

Ou seja, o CIQI manteve-se sob uma clara orientação marxista: chamando para as lutas da classe trabalhadora contra a classe capitalista. Entretanto, para o EEK, cujo racha com o CIQI em 1985 marcou seu rompimento com o marxismo, isso era inaceitável.

O EEK elogiou o Syriza, escreveu de maneira vaga, mas destacada sobre o “significado” de sua vitória, e saudou-o como uma admirável e instrutiva experiência que os trabalhadores tiveram que passar. Assim que a classe dominante entregou aos trabalhadores gregos o veneno do Syriza, o EEK fez tudo o que pode para desacreditar as advertências do CIQI sobre o que estava por vir. O EEK atou como um aliado fiel do Syriza e um instrumento reacionário do capitalismo grego.

8. Construir o CIQI!

É preciso dizer claramente que a experiência com o governo do Syriza foi uma grande derrota para a classe trabalhadora. A tarefa crucial agora é tirar as lições políticas dessa derrota e rearmar a classe trabalhadora politicamente – seja na Grécia, em toda a UE e no mundo inteiro – para as lutas que travará daqui para a frente.

Os eventos têm provado que a classe trabalhadora não pode defender nem ao menos seus interesses mínimos confiando em governos burgueses, mesmo aqueles formados por assim chamados partidos “radicais de esquerda”, ou tentando pressionar tais governos para adotar políticas a seu favor. As políticas do Syriza mostram que os trabalhadores não têm opção a não ser o caminho revolucionário.

A classe dominante está lembrando à classe trabalhadora por que o proletariado russo foi compelido a derrubar o capitalismo em 1917. Sua estratégia é acabar com todos os direitos sociais cedidos à classe trabalhadora nos países capitalistas europeus no século XX, como resposta ao desafio político e ideológico colocado pela Revolução de Outubro e a existência da URSS. Os trabalhadores europeus devem ser jogados décadas para trás, até serem reduzidos aos níveis de pobreza dos trabalhadores na Europa do Leste e Ásia.

A culpa pela derrota na Grécia não repousa sobre a classe trabalhadora. O proletariado grego mostrou determinação para lutar e repetidamente demonstrar seus instintos revolucionários. Ele desfrutou a solidariedade das massas de trabalhadores por toda a Europa, eles mesmo sob um ataque cada vez maior da UE, reagindo aos ataques do Syriza sobre os trabalhadores gregos com raiva e descrença.

Apesar da cada vez maior opressão sobre a classe trabalhadora e de sua ira, ela, entretanto, não conseguiu articular espontaneamente seus interesses políticos e levantar-se ao nível de suas tarefas históricas. A classe trabalhadora não conseguiu improvisar de repente uma liderança política capaz de liderá-la na luta contra a cruel ofensiva da UE e dos bancos.

Ao invés disso, a oposição social dos trabalhadores foi repetidamente canalizada por trás do Syriza – um partido que cinicamente apelou para o descontentamento das massas a partir de mentiras, enquanto intencionalmente se preparava para romper com suas promessas. O Syriza contou com uma série de tendências políticas que construíram ilusões que resistiria aos mandos do capital financeiro grego e internacional. Essa ampla série de partidos da pseudoesquerda se mostrou instrumentos reacionários do capital financeiro.

A tarefa central é rearmar a classe trabalhadora politicamente e construir uma nova liderança revolucionária baseada em uma crítica sem piedade dos partidos, pessoas e concepções políticas que foram responsáveis por sua derrota. Esse tem sido o significado do trabalho realizado pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional diante dos acontecimentos na Grécia.

Na Grécia, na Europa e em todo o mundo, a classe trabalhadora pode se defender apenas através da construção de novos partidos da classe trabalhadora baseados em um programa revolucionário internacionalista, que levem ao estabelecimento do poder dos trabalhadores, a abolição do capitalismo e o estabelecimento de uma sociedade mundial socialista.

O Comitê Internacional da Quarta Internacional é a única organização política que procura organizar e unificar a classe trabalhadora internacionalmente na luta contra a exploração capitalista, a pobreza e a guerra. Suas décadas de luta na defesa dos princípios marxistas e trotskistas encarnam uma experiência política colossal e uma perspectiva já desenvolvida para armar a classe trabalhadora para a nova época revolucionária que se abre. Os problemas políticos e históricos no centro de suas seis décadas de luta para defender a continuidade do trotskismo agora tornaram-se questões urgentes das massas.

A questão estratégica decisiva hoje é a construção do CIQI. Chamamos os trabalhadores, intelectuais e a juventude politicamente consciente dessa questão na Grécia e ao redor do mundo para lutar pela perspectiva apresentada nesta declaração e unir-se ao CIQI, o Partido Mundial da Revolução Socialista.

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