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Perspectivas

Cresce onda de apoio ao editor do WikiLeaks, Julian Assange

Publicado originalmente em 30 de novembro de 2019

Na última semana, uma crescente onda de oposição à perseguição liderada pelos EUA a Julian Assange veio à tona na vida política ao redor do mundo.

Figuras públicas de destaque na Reino Unido, Europa e Austrália, incluindo médicos, jornalistas, políticos e representantes das Nações Unidas, condenaram a detenção do fundador do WikiLeaks na prisão de segurança máxima de Belmarsh, no Reino Unido. Eles exigiram o fim da tentativa de extraditá-lo para os Estados Unidos, onde ele enfrenta acusações de espionagem e pode ser condenado a prisão perpétua por publicar a verdade.

Essas declarações e vários eventos significativos em defesa de Assange são um golpe bem-vindo à conspiração de silêncio que cercou sua perseguição, que é imposta por governos, partidos políticos oficiais ao redor do mundo e pela mídia corporativa.

O fundador do Wilileaks, Julian Assange, saúda apoiadores da varanda da embaixada do Equador, em Londres (AP Photo/Frank Augstein, arquivo)

As manifestações de hostilidade à vingança liderada pelos EUA contra Assange estão acontecendo antes das audiências de extradição de fevereiro do próximo ano no Reino Unido. As autoridades britânicas passaram por cima dos direitos legais e democráticos de Assange, incluindo sua capacidade de preparar uma defesa, além de rejeitarem alertas de especialistas médicos de que sua saúde se deteriorou a ponto de ele poder morrer na prisão.

A onda de apoio a Assange também acontece depois do infame colapso das tentativas de enquadrá-lo como um “estuprador”, com promotores suecos finalmente abandonando na semana passada uma “investigação preliminar” de nove anos sobre alegações de abuso sexual.

A forjada investigação sueca, caracterizada por abusos processuais e violações ao devido processo legal, desempenhou um papel central em minar o massivo apoio que Assange desfrutava em 2010. Uma série de organizações da pseudo-esquerda, comentaristas na mídia e organizações autodenominadas de liberdades civis se juntaram para atacar Assange ou justificar sua recusa em defendê-lo.

Agora, no entanto, está claro para milhões que Assange é, e sempre foi, um prisioneiro político. Seu “crime”, segundo o governo dos EUA e seus aliados, foi publicar documentos de importância histórica, revelando seus crimes de guerra, conspirações diplomáticas globais e operações de vigilância que afetam bilhões de pessoas.

A tentativa dos EUA de processá-lo abriu as comportas para um ataque à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão, com o “precedente de Assange” estimulando ataques de governos a jornalistas na França, na Austrália e nos EUA.

Esses fatores contribuíram para os seguintes acontecimentos importantes:

· No fim de semana passado, mais de 60 eminentes médicos assinaram uma carta aberta ao secretário do Interior britânico alertando que, a menos que sejam tomadas medidas urgentes, Assange pode morrer na prisão de Belmarsh. Os médicos condenaram o fato de o Reino Unido ter negado atendimento médico adequado a Assange e pediram que ele fosse imediatamente transferido para um hospital universitário. Essa iniciativa foi noticiada em dezenas de publicações em todo o mundo.

· Na segunda-feira, a reunião inaugural de um grupo interparlamentar de onze deputados federais australianos resolveu, por unanimidade, pressionar para que o pedido de extradição dos EUA seja retirado e para que “seja permitido o retorno de Assange à Austrália”. A declaração quebrou anos de silêncio sobre Assange de todos os partidos políticos australianos oficiais, incluindo aqueles representados no grupo. O ex-primeiro ministro australiano Kevin Rudd também alertou que uma extradição de Assange para os EUA seria “inaceitável”.

· Na quarta-feira, o sindicato dos jornalistas franceses publicou um apelo ao governo de Emmanuel Macron para se opor à perseguição a Assange.

· No mesmo dia, foram inauguradas, do lado de fora do Portão de Brandemburgo em Berlim, estátuas de Assange e dos corajosos denunciantes Chelsea Manning e Edward Snowden. O relator especial da ONU sobre tortura, Nils Melzer, os descreveu como “nossos dissidentes”, cujos casos foram “o teste mais significativo de nosso tempo para a credibilidade do Estado de direito e da democracia ocidental”. Melzer, juntamente com o pai de Assange, John Shipton, e o editor do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, falaram em um evento no Parlamento alemão, onde foram calorosamente recebidos por vários parlamentares.

· Na quinta-feira, uma multidão participou de um comício em Londres para reunir apoio a Assange. Falaram no ato o renomado jornalista investigativo John Pilger, o ex-diplomata britânico Craig Murray e outros defensores de Assange, incluindo o popular rapper Lowkey.

· Naquela noite, o proeminente jornalista australiano Kerry O’Brien falou de maneira enérgica sobre a necessidade de defender Assange em seu discurso ao Prêmio Walkley, o principal evento de mídia da Austrália.

O’Brien alertou para a guinada em direção ao “fascismo” revelada nos ataques à liberdade de imprensa. Ele disse à plateia: “Enquanto nos sentamos aqui hoje à noite, Julian Assange está em uma prisão britânica aguardando extradição para os Estados Unidos. Este governo pode demonstrar seu compromisso com a livre imprensa, usando sua influência significativa com seu aliado mais próximo para garantir seu retorno à Austrália”.

O’Brien lembrou que Assange recebeu o Prêmio Gold Walkley de 2011 pelas mesmas publicações sobra as quais agora os EUA estão tentando processá-lo – o que representou uma condenação implícita às organizações de mídia que se voltaram contra o fundador do WikiLeaks. Paul Murphy, presidente do sindicato dos trabalhadores de mídia, entretenimento e artes da Austrália, que ainda não realizou nenhuma campanha significativa em defesa de Assange, membro do sindicato, também condenou a ameaça de extradição.

Por trás dessas significativas declarações estão o amplo apoio a Assange entre as pessoas comuns, a raiva popular generalizada e a preocupação com a ameaça de extradição, que foram revelados pelas centenas de milhares de pessoas que assinaram petições exigindo sua liberdade.

Os partidos políticos em posição de intervir para garantir a libertação de Assange, no entanto, permaneceram calados ou rejeitaram os chamados para o defenderem. Isso inclui o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn, que nem sequer mencionou o fundador do WikiLeaks em meio a uma campanha eleitoral geral, e o governo australiano, que está participando da campanha contra Assange, apesar de ele ser um cidadão australiano.

Por sua vez, as organizações da pseudo-esquerda, assumindo a liderança das autoridades de estado e representando as camadas mais abastadas da classe média alta, não disseram nada.

Nos bastidores, as agências de inteligência e os governos que lideraram a campanha contra Assange estão fazendo de tudo para garantir que nada impeça sua extradição e seu julgamento. Para as elites dominantes, o ataque a Assange é visto como um precedente crucial para silenciar os críticos do governo, suprimir o sentimento anti-guerra e intimidar a oposição social e política de massas.

Nos últimos 18 meses, o World Socialist Web Site e os Partidos Socialistas pela Igualdade intensificaram sua campanha de uma década em defesa de Assange. Os acontecimentos da semana passada comprovaram os principais fundamentos políticos dessa luta.

Eles demonstraram que a luta para defender Assange, cuja perseguição é a ponta de lança de um impulso internacional ao autoritarismo, deve ser de alcance global. Essa luta requer a mobilização de defensores de princípios dos direitos democráticos, incluindo jornalistas, médicos, artistas e intelectuais.

Acima de tudo, a campanha deve ser baseada na classe trabalhadora internacional, a esmagadora maioria da população e a força social mais poderosa, cujos interesses são inseparáveis da ofensiva mais determinada para defender todos os direitos sociais e democráticos. Somente com o apoio em massa a Assange é que as autoridades britânicas e australianas serão forçadas a defender seus direitos democráticos, impedir a extradição para os EUA e garantir sua liberdade.

É crucial que essa luta seja intensificada antes do julgamento de extradição em fevereiro. O WSWS chama todos os trabalhadores e defensores dos direitos democráticos para:

· Realizar reuniões nos locais de trabalho, faculdades, universidades ou escolas para discutir a ameaça iminente à vida de Assange e os perigos que isso representa para os direitos democráticos de toda a classe trabalhadora.

· Aprovar resoluções exigindo sua liberdade imediata e o fim da tentativa de extraditá-lo para os EUA.

· Organizar delegações para as manifestações globais convocadas em fevereiro. É necessário realizar um chamado especial às seções de trabalhadores atualmente em luta, incluindo os ferroviários e carteiros no Reino Unido, trabalhadores automotivos nos EUA, Alemanha e em outros países, além dos milhões de trabalhadores de outras categorias que estão entrando em luta ao redor do mundo.

Entre em contato conosco hoje para participar dessa luta crucial para defender Julian Assange e todos os direitos democráticos.

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