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Perspectivas

Por uma resposta de emergência globalmente coordenada à pandemia de coronavírus!

Publicado originalmente em 28 de fevereiro de 2020

O Comitê Internacional da Quarta Internacional faz um chamado para que haja uma resposta de emergência globalmente coordenada à propagação da pandemia do novo coronavírus. A classe trabalhadora deve exigir que os governos disponibilizem os recursos necessários para conter a propagação da doença, tratar e cuidar das pessoas infectadas e garantir a subsistência de centenas de milhões de pessoas que serão afetadas pelas consequências econômicas.

Pessoas usando máscaras atravessam uma faixa de pedestres em Tóquio na última quarta-feira (AP Photo / Jae C. Hong)

O perigo não pode ser subestimado. O número de casos relatados está se aproximando de 100.000 em todo o mundo, com quase 3.000 mortes. A maioria dos infectados está na China, mas o vírus está se espalhando por todo o mundo. Indivíduos infectados foram identificados em 47 países, incluindo centenas de casos na Itália (14 mortes divulgadas), Irã (26 mortes) e Coréia do Sul (13 mortes).

Na quinta-feira, a Alemanha e os Estados Unidos divulgaram os primeiros casos de contaminação pelo vírus sem fonte conhecida de transmissão, indicando que ele começou a se espalhar para pessoas que não viajaram para os epicentros da doença. O número de infectados no Irã, entretanto, é muito maior do que o divulgado. O vice-ministro da Saúde do país foi colocado em quarentena depois de ser diagnosticado com o novo coronavírus.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse na quinta-feira que seria um “erro fatal” para qualquer país acreditar que não será atingido. Ira Longini, consultor da OMS, disse que, sem medidas agressivas para conter o vírus, ele poderá infectar dois terços da população mundial, o que significaria centenas de milhões de mortes.

O dano econômico do vírus pode superar o impacto da crise financeira de 2008. A recessão provocada pela crise de 2008 levou a uma queda no PIB global de 0,5% e destruiu o emprego de dezenas de milhões de pessoas.

A resposta das elites dominantes e dos governos controlados por elas à crise combina incompetência com um nível criminoso de indiferença. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que nos Estados Unidos.

O presidente Trump, preocupado principalmente com o impacto do coronavírus nas fortunas da elite corporativa e financeira, tem tentado minimizar o perigo e exagerado grosseiramente o nível de preparação. “Aconteça o que acontecer”, disse ele na quarta-feira, “estamos totalmente preparados”.

Na realidade, o governo dos EUA não está totalmente preparado para um grande surto. Não existe um sistema para ao menos detectar sistematicamente o vírus. O indivíduo na Califórnia que foi identificado como o primeiro caso divulgado de origem desconhecida nos EUA não foi submetido a um teste para detectar a presença do vírus por dias após a primeira manifestação dos sintomas.

Há uma escassez severa dos mais básicos equipamentos de saúde, incluindo máscaras respiratórias necessárias para os profissionais de saúde. O governo possui apenas cerca de 30 milhões delas, enquanto estima-se que 300 milhões possam ser necessárias.

O governo Trump nomeou o vice-presidente Mike Pence, cuja inação e ideologia religiosa reacionária contribuíram para um surto de HIV no estado de Indiana quando ele era governador, como a principal pessoa do governo na resposta ao coronavírus. O principal objetivo desta nomeação é silenciar todas as autoridades cujos alertas contradizem a resposta do governo.

A classe trabalhadora deve exigir e lutar por medidas de emergência abrangentes e urgentes. A crise exige:

1. Uma mobilização global

A resposta ao novo coronavírus não pode ser coordenada a nível nacional. O vírus não respeita fronteiras ou restrições de visto e imigração. As redes globais de transporte e integração econômica transformaram o vírus em um problema global.

A solução deve ser global. É necessário permitir que cientistas de todo o mundo compartilhem suas pesquisas e tecnologias, livres dos “interesses nacionais” e dos conflitos geopolíticos que servem apenas para atrasar o desenvolvimento de contramedidas eficazes para conter, curar e erradicar o novo coronavírus. Todas as medidas de guerra comercial e sanções econômicas, como as impostas ao Irã, devem ser imediatamente suspensas. A nenhum ser humano deve ser negado tratamento médico urgentemente necessário devido às suas origens nacionais ou étnicas.

Uma atenção urgente deve ser direcionada aos milhões de pessoas que estão sendo abrigadas em campos de imigrantes e refugiados criados pelas principais potências capitalistas da Europa e dos Estados Unidos. Esses campos serão as principais áreas de perigo para a propagação do vírus. Todos os que estão atualmente em tais campos devem receber moradia segura e acesso a cuidados de saúde.

Onde as quarentenas devem ser implementadas para quem viaja ou está infectado, isso deve ser feito de maneira a respeitar os direitos democráticos e preservar a dignidade pessoal.

2. Uma alocação massiva de recursos para cuidados de saúde e tratamento

Centenas de bilhões de dólares devem ser alocados imediatamente para garantir o acesso universal aos cuidados médicos da mais alta qualidade para todos os infectados pelo vírus. Uma equipe internacional de especialistas em saúde e cientistas deve ser reunida para coordenar os cuidados sempre onde houver surtos.

O establishment político dos Estados Unidos está engajado em um “debate” sobre se US$ 2 bilhões são suficientes (a posição da Casa Branca) ou se são necessários US$ 8 bilhões (a posição dos democratas). Ambos os valores representam uma ninharia em comparação com a escala da crise global.

O governo Trump gastou cinco vezes mais em seu muro reacionário na fronteira entre os EUA e o México (US$ 11 bilhões) do que propõe alocar ao novo coronavírus. Cerca de US$ 3 bilhões são gastos todos os dias no financiamento da máquina de guerra dos EUA.

O fornecimento de assistência e tratamento de saúde não pode ser regulamentado pelas empresas de seguros, farmacêuticas e de assistência médica. O tratamento, incluindo qualquer vacina futura, deve estar disponível para todos, gratuitamente e de maneira igualitária.

As empresas gigantes de assistência à saúde devem ser transformadas em serviços de utilidade pública, controlados democraticamente para atender à necessidade social urgente apresentada pelo novo coronavírus e outras emergências de saúde.

3. Apoio financeiro direto e compensação financeira para todos aqueles afetados pelas consequências econômicas

Milhões de trabalhadores enfrentam reduções de horas de trabalho ou a perda de seus empregos devido ao impacto imediato do novo coronavírus e suas consequências econômicas mais amplas. Eles devem ser compensados integralmente por suas perdas.

Os governos e as elites capitalistas argumentarão que não há dinheiro para financiar uma resposta de emergência. Isso é uma mentira! A quantia gasta pelos governos capitalistas em gastos militares chega aos trilhões de dólares. Somente o orçamento militar anual dos Estados Unidos é de mais de um trilhão de dólares. Além disso, os principais governos capitalistas, liderados pelo Federal Reserve dos EUA, alocaram quantias virtualmente ilimitadas de dinheiro para elevar o valor de mercado das ações. Nas semanas seguintes ao crash de 2008, o governo dos EUA dobrou a dívida nacional da noite para o dia para fornecer liquidez ao mercado de ações e resgatar investidores corruptos.

Além disso, quantias surpreendentes de dinheiro são controladas por uma porcentagem infinitesimal da população do mundo. A riqueza das 500 pessoas mais ricas do mundo é de quase US$ 6 trilhões, tendo aumentado US$ 1,2 trilhão somente no ano passado. A classe trabalhadora deve exigir que os governos imponham impostos de emergência sobre as fortunas dos oligarcas na medida exigida pela emergência.

Ao exigir que os governos capitalistas implementem essas medidas emergenciais, a classe trabalhadora internacional não abandona seu objetivo fundamental: o fim do sistema capitalista. Ao invés disso, a luta por ações emergenciais aumentará a consciência da classe trabalhadora, desenvolverá sua compreensão da necessidade de solidariedade internacional de classe e aumentará sua autoconfiança política.

A crise atual demonstra novamente que o capitalismo é um sistema econômico obsoleto e uma barreira ao progresso humano. O perigo representado por essa pandemia e as implicações catastróficas do alerta global provam que o sistema capitalista deve dar lugar ao socialismo mundial.

O autor também recomenda:

The science and sociology of SARS – Part 1
[12 de maio de 2003]

The science and sociology of SARS – Part 2
[13 de maio de 2003]

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