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Perspectivas

Tirem as mãos dos monumentos a Washington, Jefferson, Lincoln e Grant!

Publicado originalmente em 22 de junho de 2020

Nas últimas semanas, os participantes de manifestações contra a violência policial nos Estados Unidos exigiram a remoção de monumentos aos líderes confederados que coordenaram uma insurreição para defender a escravidão durante a Guerra Civil americana de 1861-1865.

Mas a compreensível demanda pela remoção de monumentos a esses defensores da desigualdade racial tem sido injustamente acompanhada por ataques a monumentos àqueles que lideraram a Guerra Civil, que pôs fim à escravidão, e a Revolução Americana, que, ao defender o princípio da igualdade, colocou em dúvida a instituição da escravidão pela primeira vez.

No domingo passado, uma estátua de Thomas Jefferson, autor da Declaração da Independência, foi derrubada em Portland, Oregon. Quatro dias depois, uma estátua de George Washington, líder das forças que derrotaram os britânicos durante a Revolução Americana, foi derrubada.

Na sexta-feira, manifestantes em São Francisco derrubaram uma estátua de Ulysses S. Grant, que foi comandante da União trazendo a vitória na Guerra Civil e suprimiu o Ku Klux Klan durante a Reconstrução.

Estátua de Thomas Jefferson derrubada em Portland, no estado de Oregon (crédito: usuário do Twitter @BonnieSilkman)

Recentemente, foi lançada uma campanha nas redes sociais pela remoção da famosa estátua do Memorial da Emancipação em Washington, D.C., que retrata Abraham Lincoln de pé diante de um escravo ajoelhado que foi libertado. A estátua, erguida em 1876, foi de fato paga por escravos libertados. Frederick Douglass fez um discurso em sua homenagem.

Ninguém deve se opôr à remoção de monumentos aos líderes da Confederação, que dedicaram suas vidas à rejeição da tese de que 'todos os homens são criados iguais'. Nas palavras de Lincoln em seu segundo discurso de posse, tais figuras buscavam 'retirar seu pão do suor do rosto de outros homens'.

Os monumentos aos dirigentes dos estados que se separaram foram erguidos num período de reação política após o fim da Reconstrução, com o objetivo de legitimar a Confederação como parte da escola de historiografia da 'causa perdida', que negava o caráter revolucionário da Guerra Civil americana.

Porém, a remoção de monumentos aos líderes das guerras revolucionária e civil americanas não tem nenhuma justificativa. Esses homens lideraram grandes lutas sociais contra as próprias forças da reação, que justificavam a opressão racial como a encarnação de uma desigualdade fundamental do ser humano.

É inteiramente possível que aqueles que participaram do ataque a monumentos aos líderes das duas revoluções americanas não estivessem conscientes do que estavam fazendo. Se isso for verdade, então a culpa deve ser atribuída àqueles que incitaram essas ações.

Nos meses que antecederam esses eventos, o New York Times, falando em nome dos setores dominantes do establishment político democrata, lançou um esforço para desacreditar tanto a Revolução Americana quanto a Guerra Civil.

No Projeto 1619 do New York Times, a Revolução Americana foi apresentada como uma guerra para defender a escravidão, e Abraham Lincoln foi apresentado como um racista.

O esclarecimento histórico de algumas das principais figuras históricas envolvidas é necessário.

Thomas Jefferson foi o autor daquela que é certamente a frase revolucionária mais famosa da história mundial: 'Consideramos estas verdades auto-evidentes, que todos os homens são criados iguais.' Essa declaração está inscrita na bandeira de todas as lutas pela igualdade desde 1776. Quando Jefferson a formulou, ele estava consolidando uma nova forma de pensar baseada no princípio da igualdade humana natural. O restante do preâmbulo da Declaração de Independência explicita em poderosa linguagem o direito natural das pessoas à revolução.

A Revolução Americana forneceu um poderoso impulso nessa direção, que levou à Revolução Francesa de 1789 e à maior revolta de escravos da história, a Revolução Haitiana de 1791, na qual os escravos se libertaram e expulsaram a dominação colonial francesa.

George Washington foi o comandante do Exército Continental na Revolução Americana (1775-1783), na qual as 13 colônias afirmaram a sua independência de seus senhores coloniais britânicos. Washington, em uma decisão que surpreendeu o mundo, abandonou seu posto militar e voltou à vida privada, ajudando a instituir na prática a separação do poder civil do poder militar na república.

Abraham Lincoln está entre as maiores figuras da história moderna. O líder do Norte, ou da União, na Guerra Civil, seu propósito histórico foi revelado ao longo dessa guerra como o de destruir o que os seus contemporâneos chamavam de 'Poder Escravo'. Lincoln deu continuidade a essa luta até a vitória em abril de 1865, apenas dias antes de se tornar mártir da causa da liberdade humana. O mundo se entristeceu com sua morte. Isso aconteceu tanto no Norte quanto no Sul, e principalmente entre os escravos libertados. 'O mundo só o descobriu como herói depois que ele havia caído como mártir', escreveu Marx.

Ulysses S. Grant foi um herói da Guerra Civil, cuja importância só não supera aquela de Lincoln. Antes de sua ascensão como líder de todo o esforço militar em 1864, a causa da União era obstruída por generais que se opunham ao impulso emancipatório da Guerra Civil.

Grant e seu fiel amigo General William Tecumseh Sherman reconheceram que para derrotar o Sul era necessária uma guerra pela destruição da escravidão, da base até o topo. 'Não posso poupar este homem. Ele luta', disse Lincoln sobre Grant. Na Casa Branca, Grant foi surpreendido pela força do capitalismo desencadeada pela Guerra Civil, mas defendeu os escravos libertados e reprimiu o Ku Klux Klan. Depois de se aposentar da presidência, em 1877, Grant percorreu a Europa, onde multidões de trabalhadores assistiram aos seus eventos e discursos públicos.

Os ataques aos monumentos a esses homens foram antecedidos pelo esforço cada vez mais frenético do Partido Democrata e do New York Times para a racialização da história dos EUA, criando uma narrativa na qual a história da humanidade se reduz à história da luta racial. Essa campanha produziu uma poluição da consciência democrática, que se alinha inteiramente com os interesses políticos reacionários que a impulsionam.

Vale ressaltar que a única instituição aparentemente imune a esse expurgo é o Partido Democrata, que serviu como ala política da Confederação e, posteriormente, do KKK.

Esse sujo legado histórico é comparável apenas ao passado contemporâneo do Partido Democrata de apoio às guerras que, de fato, visavam principalmente os pessoas que não são brancas. Os democratas apoiaram a invasão do Iraque e do Afeganistão e, sob Obama, destruíram a Líbia e a Síria. O New York Times foi um dos principais defensores e propagandistas de todas essas guerras.

O New York Times e o Partido Democrata procuram confundir e desorientar os sentimentos democráticos das massas populares que estão entrando na luta política contra o sistema capitalista e suas forças repressivas dentro do Estado. Eles sabem que o crescente movimento multirracial, multinacional e multiétnico da classe trabalhadora irá tomar lugar em oposição direta à sua política.

Há muitas pessoas envolvidas na derrubada dessas estátuas que não entendem as implicações políticas do que estão fazendo. Entretanto, a ignorância não é uma desculpa. As ações têm um significado objetivo. Aqueles que atacam a Revolução Americana ajudam a reação contemporânea.

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