Publicado originalmente em 2 de fevereiro de 2021
Está se desenrolando neste momento em Chicago uma luta crucial, de imensa importância para os trabalhadores dos Estados Unidos e de todo o mundo. Os professores estão determinados a impedir a reabertura assassina das escolas na cidade com o terceiro maior sistema escolar dos EUA, colocando-se em confronto direto com o Partido Democrata e o Sindicato dos Professores de Chicago (CTU), que estão negociando para que a reabertura comece o mais rápido possível.
Em países de todo o mundo que foram devastados pela pandemia da COVID-19, as elites governantes estão tentando reabrir escolas para obrigar os pais a voltarem ao trabalho. Na segunda-feira, escolas em São Paulo, Brasil, começaram a reabrir, mandando potencialmente mais de dois milhões de alunos de volta às salas de aula, apesar de novas variantes virulentas do coronavírus estarem se espalhando pelo país. Políticas homicidas similares estão sendo implementadas na Alemanha, Grã-Bretanha e em toda a Europa, e dezenas de outros países em todo o mundo.
Dado o caráter global dessa campanha de reabertura, a classe trabalhadora internacional deve se mobilizar para unir-se aos educadores de Chicago e travar a mais ampla luta possível em defesa das vidas e da segurança da classe trabalhadora.
Na segunda-feira à noite, Janice Jackson, CEO do Escolas Públicas de Chicago (CPS), e a prefeita Lori Lightfoot, do Partido Democrata, anunciaram um período de "apaziguamento" de 48 horas para evitar uma greve de professores. Tendo chegado a um compromisso com o Sindicato dos Professores de Chicago (CTU) em torno de um ponto não especificado do seu plano de reabrir as escolas, Lightfoot e Jackson declararam que "como um gesto de boa fé, por enquanto, permitiremos que os professores continuem com acesso ao Google Suite" – isto é, que o governo não fará um locaute para impedi-los de lecionar online.
Nada irá mudar nos próximos dias entre o CPS e o CTU, que já estão essencialmente em acordo de que as escolas devem reabrir na pior fase da pandemia. A única mudança significativa nesse período será que mais de 300.000 pessoas serão infectadas e pelo menos mais 6.000 pessoas morrerão de COVID-19 nos EUA.
Com o total de mortos pela COVID-19 nos EUA tendo chegado a 454.213, após 97.917 pessoas morrerem em janeiro, com variantes mais contagiosas do vírus silenciosamente se espalhando por todo o país, e com um número crescente de crianças sendo hospitalizadas e morrendo em decorrência do vírus, o Partido Democrata está tentando com todas as suas forças reabrir as escolas em nome dos interesses de Wall Street.
O CPS e o CTU estão se comunicando regularmente com o governo Biden, cuja proposta política central é reabrir a maioria das escolas até o final de abril. Eles estão todos bem cientes de que a revolta dos educadores ameaça fugir de controle e desencadear uma onda de resistência entre os trabalhadores dos EUA e de todo o mundo. Por esta razão, a diretoria de educação e o sindicato estão ganhando tempo e isolando os professores de Chicago até que sintam ser possível chegar a um acordo para reabrir as escolas.
O próprio fato de Lightfoot ter feito uma ameaça de "tomar uma ação" contra os professores deve ser interpretado como um sério alerta. Os democratas de Chicago, em coordenação com a Casa Branca, estão se preparando para reprimir brutalmente os professores de Chicago através de locautes, cortes salariais, demissões em massa e outras ações punitivas se não conseguirem chegar imediatamente a um acordo com o sindicato.
A ameaça de Lightfoot e a resposta do CTU evocam os eventos de 1981, quando um ataque semelhante foi promovido pelo Estado e ficou sem resposta por parte dos sindicatos. O ano de 2021 marca 40 anos desde que Ronald Reagan esmagou a greve de 13.000 trabalhadores da Organização dos Controladores Aéreos Profissionais (PATCO), que exigiam uma semana de trabalho mais curta, salários mais altos e mais pessoal para reduzir o estresse extremo de seus empregos.
A luta dos trabalhadores da PATCO foi isolada e traída pela burocracia da central sindical americana AFL-CIO, que se recusou a mobilizar seus milhões de membros em uma luta mais ampla, apesar dos apelos persistentes entre os trabalhadores por uma greve geral.
Como com o atual conflito em Chicago e a onda de greves de professores desde 2018, a greve da PATCO marcou uma grande virada na história da classe trabalhadora americana e sinalizou um confronto direto entre a classe trabalhadora e o Estado capitalista. O fato de hoje os educadores e os trabalhadores em geral enfrentarem o Partido Democrata em vez dos republicanos, ressalta a compreensão básica marxista de que ambos os partidos servem aos interesses da classe capitalista.
A derrota da greve da PATCO foi o princípio de uma mudança de orientação de todos os sindicatos dos EUA, dando início a décadas de traições sem fim e à supressão da luta de classes. Foi um choque profundo para os trabalhadores nos EUA e internacionalmente, abrindo caminho para a dessindicalização e as derrotas das grandes greves na Phelps Dodge, Greyhound, Hormel, Caterpillar e muitos outros locais de trabalho.
O programa dos sindicatos, baseado no nacionalismo e no reformismo, foi completamente minado pela globalização e pela capacidade das corporações transnacionais de deslocar a produção para onde pudessem encontrar os salários mais baixos e os níveis de exploração mais brutal.
Ao longo desse período, todos os sindicatos de professores foram integrados ao Partido Democrata, ao ponto de o presidente da Federação Americana de Professores (AFT) Randi Weingarten ter agora um assento no Comitê Nacional Democrata (DNC) e ter relações estreitas com a Primeira Dama Jill Biden. Milhões dos professores de hoje ainda não tinham nascido na época da greve da PATCO, mas enfrentam as consequências desta traição e a urgente necessidade de construir novas organizações para lutar por seus interesses independentes.
Hoje, a classe trabalhadora mais uma vez entra em luta. Quando o Estado atacou os trabalhadores da PATCO, os sindicatos os mantiveram isolados e incapazes de se defenderem. Isso não pode ocorrer novamente! Todos os esforços devem ser feitos para construir comitês de base independentes para servir como a voz de oposição dos trabalhadores às traições que os sindicatos inevitavelmente tentarão impor.
Os sindicatos de hoje – incluindo os sindicatos locais pseudoesquerdistas como a CTU – não são mais organizações de trabalhadores em nenhum sentido do termo. Eles foram transformados em instrumentos da classe dominante para reprimir a luta de classes.
Para os educadores de todo o mundo, não há nada a negociar quando se trata de reabrir as escolas, o que representa uma ameaça existencial para suas vidas e segurança, assim como para a de seus alunos, suas famílias e toda a sociedade. Só nos EUA, pelo menos 689 educadores ativos e aposentados do ensino básico morreram de COVID-19, enquanto mais de 2,7 milhões de crianças foram infectadas com o vírus.
Apesar do bombardeio incansável de propaganda midiática afirmando que as escolas podem ser reabertas neste momento "com segurança", a ciência da pandemia prova inequivocamente que esta é uma empreitada imprudente e homicida.
A pandemia do coronavírus está agora se desenvolvendo numa imensa luta social, com professores de Chicago dando expressão inicial à crescente combatividade entre todos os trabalhadores. Cada vez mais, o confronto entre as duas grandes classes da sociedade – a classe trabalhadora e a classe capitalista – está vindo à tona.
Em 6 de janeiro, fascistas invadiram o Capitólio dos EUA em uma tentativa de estabelecer uma ditadura presidencial comandada por Trump. Hoje, uma força muito mais poderosa está em cena em Chicago.
O ataque implacável à classe trabalhadora ao longo dos últimos 40 anos veio sendo acompanhado pela promoção implacável de políticas identitárias raciais, de gênero e sexualidade. O fato de Lori Lightfoot ter se tornado a cara da campanha homicida para reabrir escolas reafirma que a questão decisiva é de classe.
A luta que se desenrola em Chicago é de importância colossal e deve se tornar a ponta de lança de um movimento mais amplo de toda a classe trabalhadora por uma greve geral política nacional, que transmitiria ondas de eletricidade por todo o mundo e provocaria lutas semelhantes internacionalmente.
O Partido Socialista pela Igualdade fará todos os esforços para conectar a luta dos educadores de Chicago à luta dos educadores e demais setores da classe trabalhadora em todos os EUA e globalmente. Lutaremos para dar a direção necessária para conduzir estas lutas a uma conclusão vitoriosa, o que, em última instância, exige a derrubada das relações de propriedade existentes através do socialismo, uma vasta redistribuição de riqueza e a reconstrução da sociedade com base nos interesses da classe trabalhadora.