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Comitê de Base pela Educação Segura reuniu educadores e pais do Brasil em evento online marcante

Na última terça-feira, 2 de novembro, o Comitê de Base pela Educação Segura no Brasil (CBES-BR) realizou a reunião online “A necessidade de fechamento das escolas e os meios para acabar com a pandemia”. Participaram educadores e pais de São Paulo, Rio de Janeiro e do Distrito Federal, e mensagens de apoio foram enviadas por membros de comitês de base de educadores nos Estados Unidos e Reino Unido.

O evento apresentou uma análise abrangente da situação da pandemia e da luta de classes no Brasil e no mundo. As apresentações e falas defenderam consistentemente uma estratégia de erradicação global da pandemia de COVID-19 e a mobilização de uma luta independente da classe trabalhadora unificada internacionalmente.

Banner do evento.

O encontro foi conduzido por Guilherme Ferreira, professor da rede estadual de São Paulo e membro do Grupo Socialista pela Igualdade (GSI). Em sua introdução, ele declarou: “Esta reunião acontece três meses depois da maior reabertura de escolas no Brasil desde o início da pandemia. A partir de 3 de novembro, a presença dos alunos em escolas inseguras passará a ser obrigatória em 19 estados brasileiros, que estão também eliminando o distanciamento social nas salas de aula”.

Ele prosseguiu fazendo uma exposição da real situação da pandemia no Brasil e no mundo. “Apesar de a elite dominante e a mídia tentarem vender a ideia de que a pandemia se aproxima do fim, o Brasil ainda tem uma média de quase 320 mortes por dia, apenas 110 a menos do que há um ano”, afirmou. “A última estimativa de subnotificação é de quase 25%, o que aumentaria as mortes diárias para 400. Em relação aos casos, especialistas apontam que podem ser até dez vezes mais do que o oficialmente reportado”.

Respondendo à questão “O que impede que se coloque um fim na pandemia?”, Guilherme expôs as estratégias corrompidas adotadas pela classe capitalista mundial em resposta à COVID-19. No Brasil, enquanto “o presidente fascistoide Bolsonaro representa de maneira mais clara a perspectiva cruel da ‘imunidade de rebanho’ ... os governadores do PT no nordeste, assim como João Doria do PSDB em São Paulo, buscaram ‘negociar com o vírus’, que quebra qualquer acordo à medida que evolui para variantes mais contagiosas. Hoje, porém, todas essas forças estão abraçando a imunidade de rebanho”.

Guilherme concluiu com um panorama das lutas dos trabalhadores pelo mundo, que “responderam agressivamente, com greves e protestos, aos impactos sanitários, econômicos e sociais da pandemia mortal”. É a essa força social e ao programa científico da eliminação global do coronavírus, ele defendeu, que o Comitê de Base pela Educação Segura no Brasil deve se orientar.

A apresentação seguinte foi de Miguel Andrade, também membro do GSI, que resumiu as principais exposições feitas pelos cientistas no webinário de 24 de outubro, “Como acabar com a pandemia”, realizado pelo World Socialist Web Site e a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB). Ao expor pela primeira vez em português esse conteúdo crítico, Miguel afirmou: “Uma das principais questões para a classe trabalhadora é realmente entender o que é a COVID, para que tome as ações coerentes com o problema”.

Ele, então, deu explicações detalhadas sobre a evolução do coronavírus e a natureza das variantes mais infecciosas; como vacinas e medidas de saúde pública interferem na disseminação do vírus pela sociedade, e como a combinação dessas medidas pode levar à eliminação da COVID-19; como o vírus se transmite através de aerossóis; e os efeitos terríveis da COVID longa em crianças e adolescentes.

Miguel foi sucedido por Tomas Castanheira, membro do GSI e professor da rede pública municipal de São Paulo. Tomas retomou o histórico sórdido de atuação dos sindicatos e partidos da pseudoesquerda brasileiros ao longo da pandemia de COVID-19.

“O PT deixou claro que seguirá como defensor inabalável dos interesses da classe capitalista, não importa quantas mortes de trabalhadores, idosos e crianças isso custar”, ele declarou. “E assim como esse partido tem ‘trabalhadores’ apenas no nome, as centrais sindicais e sindicatos – controlados pelo PT e seus aliados, ou partidos ainda mais à direita – são ‘sindicatos’ apenas no nome”.

“Na Educação, os sindicatos cumpriram um papel particularmente nefasto”, continuou. “A Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) atacou medidas de controle da pandemia, incluindo o fechamento de escolas, e espalhou a mentira de que crianças não são significativamente afetadas pela COVID. A CNTE fez de tudo para manter isoladas as greves de professores que estouraram em todo Brasil, enquanto os sindicatos locais sabotavam essas lutas. As greves dos professores estaduais e municipais de São Paulo foram ambas enterradas por golpes antidemocráticos dos sindicatos, apoiados pelos partidos da pseudoesquerda.”

Tomas concluiu fazendo um chamado para que os participantes tomassem as conclusões necessárias dessas experiências políticas e levassem a luta pela construção de comitês de base a suas escolas e outros locais de trabalho.

Durante a discussão, os participantes relataram seus embates diante do iminente retorno obrigatório das aulas presenciais. Priscila, uma mãe do Rio de Janeiro, capital, declarou: “Muitos pais estão preocupados. Ficamos com medo de mandar nossos filhos no dia 3, pois não temos segurança. A minha filha tem dez anos. Só na turma dela tem 36 alunos e a sala não tem janela.”

Ela prosseguiu: “A Secretaria Municipal está ameaçando os pais de perder vaga, ter os filhos reprovados. Escutamos vários relatos dizendo que diretoras entram em contato com os pais já ameaçando, ‘o conselho tutelar vai na sua casa, vocês vão perder o Bolsa Família’. A gente está firme, apesar de ficarmos com medo. Estamos tentando fazer uma mobilização aqui no Rio de Janeiro, um ato. Inclusive, vamos ter um tuitaço contra esse retorno das aulas que é muito perigoso”.

Karla, uma mãe do Distrito Federal, falou: “A situação aqui de Brasília é praticamente como a Priscila falou. Amanhã vão abrir escolas e também deixar de usar máscaras. Vai ser a tirania geral. ... Dentro da Constituição brasileira está dizendo que a vida vem em primeiro lugar e é nisso que eu estou me baseando. Então, não vamos enviar os pequenos e não vamos aceitar as ameaças das escolas, secretaria e do governo. Vamos sofrer punição? Sim, mas vamos aderir a isso”.

Luiz Henrique, professor da rede pública de Resende, Rio de Janeiro, fez um relato detalhado das políticas criminosas e anticientíficas adotadas pelos governos locais em seu estado, e denunciou os sindicatos que auxiliaram nas reaberturas escolares. Ele declarou: “As burocracias dos sindicatos, com destaque à burocracia do SEPE-RJ, o maior sindicato de profissionais da educação do estado, buscaram conscientemente sabotar a organização, por professores e estudantes, de uma greve verdadeira, utilizando-se de diversos meios burocráticos”.

Luiz concluiu com um forte chamado: “É preciso que batalhemos nos locais de estudo e trabalho para construir a organização dos trabalhadores e estudantes com o programa correto de enfrentamento a pandemia, cujo objetivo não deve ser outro se não a erradicação global do vírus”.

As contribuições internacionais, de membros dos comitês de base nos EUA e Reino Unido, dialogaram profundamente com os desafios enfrentados pelos trabalhadores brasileiros e as questões diretamente levantadas pelos participantes da reunião.

Evan Blake, que auxilia o trabalho de comitês de base de educadores em todos os Estados Unidos, declarou: “A formação do Comitê de Base pela Educação Segura no Brasil é um grande avanço para educadores e demais trabalhadores no Brasil e no mundo”.

Evan descreveu a situação terrível da pandemia nos EUA. “Mais de 2.000 educadores e 584 crianças morreram de COVID-19, a maioria, sem dúvida, como resultado de seu retorno às escolas”. E afirmou: “Como no Brasil e no mundo, os sindicatos de professores têm sido os maiores defensores das reaberturas escolares. Eles estão totalmente integrados ao Estado e servem às grandes empresas, que exigem que as crianças voltem à escola para mandar seus pais de volta ao trabalho.”

Tania Kent, professora e membro do Comitê de Base de Educadores do Reino Unido saudou a reunião do CBES-BR como uma “iniciativa crucial”. Ela contou que, assim como relataram as mães brasileiras, os pais no Reino Unido estão enfrentando ameaças de multa, perda da vaga escolar e mesmo da guarda de seus filhos caso não os enviem para as escolas inseguras. “A luta para proteger seu filho de uma doença mortal é configurada como abuso infantil e não há oposição a essa situação verdadeiramente orwelliana”.

Ela então narrou a experiência dos pais britânicos que encabeçaram as recentes greves escolares após terem buscado, sem sucesso, pressionar os partidos burgueses e os sindicatos. “Eles começaram a entender que se era necessário organizar uma luta para proteger vidas, ela devia partir da classe trabalhadora e de iniciativas independentes que entram em conflito com a ordem política existente”.

A reunião do CBES-BR foi um marco no desenvolvimento da luta de classes no Brasil. Ela apresentou uma perspectiva política absolutamente singular – baseada nas determinações da ciência, no internacionalismo e na independência política da classe trabalhadora – que está claramente interagindo com o avanço da situação e da consciência de milhões de trabalhadores brasileiros.

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