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Brasil em voo às cegas durante surto de Ômicron enquanto Bolsonaro ataca vacinas para crianças

Publicado originalmente em 20 de dezembro de 2021

Diante da disseminação global da variante Ômicron, o governo do presidente fascistoide do Brasil, Jair Bolsonaro, está lutando contra quaisquer medidas que possam afetar os lucros corporativos e promovendo abertamente a “imunidade de rebanho” através da infecção em massa.

As agências de saúde no mundo inteiro estão alertando para o verdadeiro impacto da nova variante, com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarando: “Estamos preocupados que as pessoas estejam descartando a Ômicron como sendo amena”. Ele explicou: “Mesmo que a Ômicron cause doenças menos graves, o grande número de casos pode mais uma vez sobrecarregar os sistemas de saúde despreparados”.

Esses alertas já estão sendo confirmados pelo número recorde de casos no Reino Unido, onde quase 70% da população está vacinada com duas doses.

Após a devastadora onda da variante Gama no Brasil entre abril e julho, milhares de vidas continuaram a ser perdidas para a pandemia toda semana, e o número de mortes por semana nunca diminuiu abaixo de mil.

Bolsonaro e seu ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em maio de 2021 (Wikimedia Commons)

Hoje, diante da ameaça de surtos mortais com o rápido espalhamento da variante Ômicron, com casos ativos registrados em toda a América Latina e transmissão comunitária confirmada em São Paulo, o Ministério da Saúde de Bolsonaro anunciou apenas insuficientes restrições de viagem para voos internacionais, em que os aeroportos exigiriam certificados de vacinação, chamados de “passaportes da vacina”, ou uma quarentena de cinco dias para aqueles que não possuem o comprovante.

Essas medidas são incapazes de impedir a entrada de indivíduos infectados, dado que as infecções de pessoas vacinadas com a variante Delta são amplamente documentadas e um estudo recente na África do Sul descobriu que a vacinação com duas doses de Pfizer era apenas 33% eficaz contra infecções sintomáticas da Ômicron e oferecia apenas 70% de proteção contra hospitalização. Além disso, muitos indivíduos testam positivo apenas após 14 dias de infecção, tornando inútil uma quarentena de cinco dias. Finalmente, as quarentenas não serão regulamentadas por nenhuma autoridade, mas deverão ser autoimpostas, sem nenhuma forma de acompanhar aqueles que entram no país e não possuem condições financeiras ou se recusam a fazer o isolamento.

Porém, mesmo tais medidas inadequadas foram atacadas imediatamente por Bolsonaro, que respondeu à Ômicron com uma nova ofensiva contra as vacinas e quaisquer medidas para controlar a pandemia.

Reagindo às exigências de que o governo adotasse a exigência de certificados de vacinação, Bolsonaro disse: “Quer melhor vacina, comprovada cientificamente, do que a própria contaminação? Quem foi contaminado é dezenas de vezes mais imune do que quem tomou a vacina apenas”. Isso em si é uma mentira dado que, mesmo para as pessoas que sobreviveram à doença sem sequelas, as vacinas são comprovadamente muito mais eficazes do que a imunidade natural. Na quinta-feira, Bolsonaro postou um vídeo no Twitter no qual um homem alega que as vacinas não fornecem nenhuma proteção, resultando em pessoas vacinadas sendo as infectadas e transmitindo a doença enquanto pessoas não vacinadas estavam sendo falsamente diagnosticadas.

Usando o fato de que a Ômicron infecta e transmite mais facilmente, inclusive entre as pessoas vacinadas, Bolsonaro pediu que apenas testes RT-PCR fossem implementados nos aeroportos, afirmando: “É mais efetivo que a vacina, porque a vacina não impede que se contamine e transmita o vírus”. Essa é outra mentira descarada, pois a pequena capacidade de testagem oferecida pelo governo permite que a doença se espalhe livremente por indivíduos que testam apenas uma vez no período em que já estão infectados mas não apresentam exame positivo.

Na semana passada, durante um evento no palácio presidencial, Bolsonaro também atacou o uso de máscaras, dizendo ao público que “ninguém está autorizado a usar máscaras aqui”.

O objetivo do presidente fascistoide é interromper quaisquer medidas que restrinjam a propagação do vírus e redobrar os esforços por uma “imunidade de rebanho”, independentemente das conseqüências para as milhões de vítimas. O ataque de Bolsonaro às restrições de viagem e às vacinas são um componente decisivo da sua campanha para defender conviver com o vírus em um “período pós-pandemia”, como ele descreveu o presente para uma audiência de policiais.

Outro aspecto da sua campanha é realizar mais um apagão de dados sobre a COVID-19, permitindo a ele minimizar fraudulentamente a gravidade da pandemia.

Em agosto, o Ministério da Saúde começou a exigir que a identificação de lotes específicos de produção para cada teste de antígeno de COVID-19 fossem enviados ao banco de dados do governo, sabotando na prática a notificação de casos leves durante meses. O governo declara fraudulentamente que testes positivos estão sendo falsificados, e que mais informações seriam necessárias. Na verdade, especialistas de saúde já expuseram que os trabalhadores de farmácias, que realizam a maioria dos testes de antígenos, acabam sobrecarregados com as novas exigências, resultando na grande subcontagem de testes positivos.

O infectologista da agência de saúde Fiocruz, Júlio Croda, declarou que “Essa mudança repentina do Ministério da Saúde de exigência do lote e fabricante fez com que muitos serviços de saúde parassem de reportar os exames de antígeno tanto com resultado negativo, mas especialmente o positivo”. Ele acrescentou que a subnotificação tornará impossível prever futuros surtos. Croda acrescentou: “É provável que o país seja surpreendido com um aumento súbito de hospitalizações, o que pode ser muito tarde para propor medidas de planejamento como abertura de leitos”.

Mais recentemente, em 10 de dezembro, um dia antes da introdução dos passaportes da vacina e quarentenas, a plataforma online da COVID-19 do governo foi hackeada, impedindo muitos estados de registrar novos casos, óbitos e vacinações e, ao mesmo tempo, derrubando o sistema de certificados de vacinação.

Após o ataque, vários estados pararam de informar os dados sobre a COVID-19, resultando em uma queda. O número de casos caiu quase pela metade, com 24.164 registros ao longo da semana passada em comparação com duas semanas atrás, quando foram 49.932 casos reportados.

Segundo o Metrópoles, a média móvel de 7 dias de óbitos caiu 34,9% na semana desde a invasão. Essa diminuição artificial, que continua há onze dias, proporciona uma base fraudulenta para afirmar que a pandemia está sob controle.

O ataque também afetou os dados de outros sistemas, com a Fiocruz declarando que não pode acessar os casos de gripe dos meses anteriores e que eles são essenciais para “manter a população informada sobre o cenário epidemiológico atual”. A propagação global da variante Ômicron está coincidindo com uma epidemia sazonal de gripe no país, ameaçando sobrecarregar rapidamente o sistema de saúde.

Os hackers foram identificados como um pequeno grupo não profissional, que foi capaz de invadir o site do governo porque havia fraquezas na segurança da plataforma. Apenas dois dias antes da invasão, o governo federal havia aberto uma licitação para reforçar a segurança em seus servidores, apontando que eles eram incapazes de monitorar ameaças em tempo real.

Quaisquer que sejam os motivos para a invasão, que aconteceu em um momento conveniente para Bolsonaro, a distorção e subcontagem dos casos e mortes resultantes são uma boa notícia para todas as seções da classe dominante.

Desde que o primeiro caso da Ômicron foi reconhecido na África do Sul, a idéia de uma variante “amena” da Ômicron tem sido promovida na mídia corporativa. Enquanto o Brasil voa às cegas durante uma mortal onda mundial, essa afirmação tem como objetivo manter as fábricas, locais de trabalho e escolas abertas para garantir os lucros das grandes corporações conforme o vírus se espalha na população.

Em meio ao cancelamento dos eventos de Ano Novo em todo o país, também se busca justificar manter os preparativos para as festas de Carnaval do próximo ano e a propagação descontrolada da doença em meio a expectativa da entrada em massa de turistas.

A complacência da mídia corporativa com as ações criminosas de Bolsonaro foi demonstrada por seu foco na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, tornando obrigatório o passaporte da vacina para quem entra no país, como se tivesse “derrotado” as políticas de Bolsonaro. Nem sequer está garantida a implementação dessa exigência, insuficiente em grande medida. Apenas cinco dias após a decisão de Barroso, o ministro Nunes Marques, a quem Bolsonaro freqüentemente chama de “meus 10% no STF”, conseguiu impedir uma decisão final sobre o passaporte da vacina, adiando-a para depois do recesso em fevereiro. Isso permitirá que Bolsonaro continue sua campanha contra o passaporte da vacina em meio ao apagão de dados sobre a COVID-19 e várias semanas adentro da fase Ômicron da pandemia.

Enquanto isso, os governadores estaduais no Brasil, promovendo a insuficiente estratégia “somente vacina”, tornaram obrigatório o ensino presencial em todo o país em novembro, resultando na infecção de milhares de crianças e arriscando novos surtos de COVID-19.

Muitos cientistas explicaram durante toda a pandemia que as vacinas são um componente poderoso na luta contra a COVID-19, mas elas são capazes de proteger realmente a população somente se forem implementadas em conjunto com outras medidas críticas de saúde pública, incluindo testes e rastreamento de contatos em massa, lockdowns temporários, restrições de viagem e máscaras de alta qualidade.

Hoje, com a variante Ômicron expondo a falsidade da idéia de que as vacinas seriam capazes sozinhas de controlar a propagação do coronavírus, a estratégia “somente vacina” permitiu a figuras fascistoides como Bolsonaro atacar não apenas esse componente decisivo na luta contra o vírus, mas também todas as medidas de mitigação.

Deixando claro que a resposta do governo à Ômicron será permitir uma catástrofe, Bolsonaro reagiu com raiva ao anúncio na semana passada de que as vacinas da Pfizer foram aprovadas para crianças de 5 a 11 anos e ameaçou o que seria na prática tornar alvos os técnicos da Anvisa, a agência nacional responsável pela aprovação.

Apelando a elementos fascistoides em sua base social, Bolsonaro declarou que “Nós queremos publicar os nomes dessas pessoas... você tem direito de saber o nome das pessoas que aprovaram aqui a vacina a partir de cinco anos para seu filho”. Tais declarações ocorrem em meio a relatos de cientistas sendo perseguidos por terem publicado dados da pandemia e exposto a política do governo.

No domingo, o presidente tornou público o seu plano para distribuir doses para crianças somente com a autorização dos pais e com uma prescrição médica.

Enquanto a nova variante já está mostrando a sua gravidade em crianças, a política de Bolsonaro significa deixar milhares de crianças serem hospitalizadas, tendo que lidar com os efeitos a longo prazo ainda desconhecidos da COVID-19, ou mesmo morrerem. Atualmente, apenas 66% da população está vacinada com duas doses, e as crianças permanecem não vacinadas.

A exigência de prescrições médicas específicas para a vacinação das crianças deixará dezenas de milhões vulneráveis, já que os pais de classe trabalhadora mal possuem acesso aos médicos do dilapidado sistema de saúde do país.

Essa é exatamente a intenção de Bolsonaro. Durante toda a pandemia, Bolsonaro apresentou a sua campanha contra medidas para conter o vírus como uma luta pela “liberdade”. Hoje, a sua nova ofensiva em meio à propagação da Ômicron promove o mesmo tema, atacando o passaporte da vacina como uma “coleira que querem colocar no povo” enquanto seu ministro da Saúde ecoa suas palavras de que “Melhor perder a vida do que a liberdade”.

Conforme os trabalhadores internacionalmente entram em uma ofensiva em defesa de seu padrão de vida e de suas próprias vidas, Bolsonaro representa uma seção da classe dominante preparada para suprimir a oposição por meio da violência e da ditadura.

Os trabalhadores não devem permitir outro surto catastrófico de casos e mortes. A campanha de infecção em massa de Bolsonaro só pode ser derrotada por um movimento de massas da classe trabalhadora no Brasil e internacionalmente. Os trabalhadores devem organizar comitês de base para implementar a estratégia de COVID zero em coordenação com especialistas em saúde e cientistas, implementando lockdowns temporários com renda integral para os trabalhadores fazendo isolamento, ao mesmo tempo em que fornecem os melhores equipamentos de segurança e protocolos rigorosos para proteger os trabalhadores essenciais.

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