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Luta dos professores de Chicago é parte da crescente batalha de classes contra a política mortal em resposta à pandemia

Publicado originalmente em 7 de janeiro de 2022

Nos Estados Unidos e ao redor do mundo, está aumentando a resistência da classe trabalhadora contra a política da classe dominante de permitir que milhões de trabalhadores e jovens sejam infectados pela COVID-19 em suas escolas, locais de trabalho e comunidades.

Até o momento, a oposição tem se centrado nas escolas, onde educadores estão lutando para parar o ensino presencial em edifícios superlotados e mal ventilados, que têm sido consistentemente a fonte dos maiores surtos de COVID-19.

Em Chicago, os professores do terceiro maior sistema escolar dos EUA estão desafiando as exigências da prefeita Lori Lightfoot do Partido Democrata a que eles retornem às salas de aula num momento em que quase um a cada quatro habitantes da cidade está testando positivo para a COVID-19, com crianças de até 17 anos enfrentando as taxas de hospitalização mais altas. Lightfoot, que ameaçara descontar salários dos professores por fazerem uma “greve ilegal”, teve de cancelar as aulas para 330.000 alunos pelo terceiro dia consecutivo após, na terça-feira à noite, os educadores votarem 73% a favor de aulas exclusivamente virtuais.

Em São Francisco, Califórnia, os professores realizaram greves selvagens na quinta-feira para exigir a suspensão das aulas presenciais, licenças médicas paga para COVID-19 e distribuição de máscaras N95 depois de ao menos 600 professores faltarem ao trabalho em protesto na terça-feira. Em uma ação desesperada, que não obteve apoio, a superintendência escolar convocou pais a trabalharem como “professores” substitutos.

Em Oakland, do outro lado da Baía de São Francisco, os professores planejam sair em greve hoje depois de 1.000 funcionários escolares e alunos testarem positivo. Os superintendentes locais denunciaram os professores por realizarem “absenteísmo ilegal” não sancionado pela Associação de Educação de Oakland.

Em Boston, os superintendentes escolares estão se esforçando para manter os edifícios abertos após 1.100 funcionários de escolas públicas faltarem esta semana, no que foi provavelmente uma combinação entre adoecimento em massa e a decisão deliberada dos educadores de ficarem em casa. O mesmo acontece em San Antonio, Texas, onde 1.000 trabalhadores não voltaram das férias de inverno, e no Havaí, onde 800 educadores estão em licença. Na Filadélfia, 92 escolas entraram no ensino virtual após mais de 1.100 professores e quase 2.000 de seus familiares relatarem casos positivos de COVID-9 desde 23 de dezembro.

Infecções em massa, a falta de professores e o descontentamento generalizado forçaram vários outros distritos a mudar temporariamente para o ensino virtual, inclusive em Atlanta, Newark, Milwaukee, Cleveland, Detroit e do outro lado da fronteira em Ontário, Canadá.

Um professor de história do ensino médio em New Haven, Connecticut tuitou: “Meu distrito escolar está contatando professores que estão com COVID, não para ver como eles estão se sentindo, nem para rastreamento de contatos. Eles estão ligando para dizer que sua quarentena de 5 dias terminou e que devem voltar ao trabalho. Pessoas que estão doentes e sintomáticas estão recebendo estas ligações”.

Em Nova York, o maior distrito escolar do país, pais estão engajados, na prática, num boicote às escolas para proteger seus filhos, com pelo menos um terço dos alunos sendo mantidos fora das unidades escolares. Os pais e educadores estão furiosos com a mentira de que “as escolas são o lugar mais seguro para as crianças”, que o novo prefeito da cidade, o democrata Eric Adams, repetiu incansavelmente.

Em uma entrevista à CNN, o prefeito Adams foi mais honesto, dizendo: “Temos que reabrir para alimentar nosso ecossistema financeiro”. Ou seja, reabrir as escolas para o ensino presencial é necessário para manter os trabalhadores no serviço produzindo lucros, o que é necessário para manter a enorme bolha financeira em Wall Street.

Resumindo o sentimento dos educadores, James, um professor na Virgínia, disse ao WSWS: “Milhões de vidas de trabalhadores foram sacrificadas para preservar um status quo global que não serve à classe trabalhadora, incluindo professores, estudantes e suas famílias. Devemos exigir o fechamento de nossas escolas agora. Estamos preparados para ensinar online e provamos nossa eficácia ao fazê-lo. O ‘funcionamento normal’ deve ser abandonado até que a pandemia tenha terminado e a COVID-19 se tornado inócua como doença mortal”.

Na Universidade de Michigan, Ann Arbor, mais de 1.520 professores, estudantes e funcionários assinaram uma carta exigindo a postergação de duas semanas do reinício das aulas presenciais, uma vez que a reabertura após as reuniões familiares de final de ano “é uma receita para um grande surto de COVID na primeira ou segunda semana de aulas”. Na terça-feira, os estudantes de pós-graduação que participam do programa de trabalho para a universidade – que em setembro de 2020 fizeram greve por nove dias para exigir proteção contra a COVID-19 – votaram 95% a favor de mudança para o aprendizado virtual.

Em Buffalo, Nova York, os trabalhadores da Starbucks fizeram greve na quarta e quinta-feira contra as condições de trabalho inseguras depois de mais de 15.000 moradores do Condado de Erie testarem positivo na semana passada, um recorde desde o início da pandemia. Os trabalhadores, que recentemente votaram a favor da sindicalização, estão exigindo o fechamento temporário da loja depois que cerca de um terço da força de trabalho foi contaminada.

Milhares de voos foram cancelados durante as festas devido ao adoecimento generalizado e à recusa das tripulações exaustas e infectadas de continuar trabalhando, mesmo com o triplo do pagamento lhes tendo sido oferecido.

Com um em cada cinco hospitais dos EUA já com 95% de capacidade, os trabalhadores da área de saúde, que estavam combatendo a falta crônica de pessoal antes da pandemia, estão sendo instruídos a voltar ao trabalho sem qualquer tipo de quarentena, após uma mudança nas diretrizes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

A propagação de infecções nos frigoríficos é tão ruim ou pior que no primeiro ano da pandemia, quando os trabalhadores do frigoríficos realizaram greves selvagens em Iowa, Dakota do Sul, Colorado e outros estados.

Nas montadoras de automóveis, a COVID-19 está se espalhando descontroladamente e há um sentimento crescente pela realização de uma ação coletiva contra a ameaça de infecção e as horas extras inesgotáveis impostas aos trabalhadores, particularmente aos funcionários temporários com jornada reduzida (TPT – sigla para temporary part-time), para substituir seus colegas doentes. Em março de 2020, uma onda de greves selvagens em montadoras de automóveis em Michigan, Indiana e Ohio levou ao fechamento da indústria automobilística norte-americana.

Um operário veterano da Montadora de Caminhões Stellantis (Chrysler) de Warren (WTAP), no subúrbio de Detroit, disse ao WSWS: “A COVID está ficando pior nas fábricas. É apenas uma questão de tempo até que os trabalhadores cruzem os braços, especialmente com a forma como eles estão nos empurrando cada vez mais horas. No ano passado, além da COVID, eles tiveram a escassez de microchips. Parece que agora eles têm os chips, e estão dizendo: ‘dane-se a segurança, vamos soltar o maior número possível de caminhões’.

“Depois das festas de fim de ano, deveríamos estar com três turnos de oito horas. Agora eles estão forçando os TPTs a trabalhar 12 horas. Eu nunca vi um turno de 12 horas em mais de 20 anos na Chrysler. Metade do turno permanece na linha enquanto entra o outro turno, e todos ficam aglomerados uns em cima dos outros. Eles estão fazendo isso no meio de uma pandemia mortal, e o UAW [sindicato dos automotivos] está sentado com a empresa e fechando os olhos para tudo isso”.

Os TPTs são forçados a pagar as contribuições sindicais, mas não têm direitos ou estabilidade no trabalho. Os trabalhadores começaram a circular uma petição que se opõe ao turno de 12 horas e exige que eles sejam tratados com “decência e respeito”. Ela declara: “SOMOS HUMANOS, NÃO MÁQUINAS!”.

“Os trabalhadores querem fechar [a empresa] novamente”, declarou um jovem trabalhador da WTAP. “Há muitos trabalhadores doentes, e a empresa acaba de exigir que os TPTs trabalhem 12 horas por dia. Muitos desses trabalhadores são pais jovens e não têm uma babá para seus filhos que ficam em casa depois da escola. Não podemos continuar trabalhando com o vírus assim tão ruim. Mas desta vez não tem auxílio, não tem seguro-desemprego extra, não tem estímulo. É como, ou você morre da doença ou de pobreza”.

Após a decisão do CDC de reduzir o tempo de quarentena de 10 dias para cinco – uma ação tomada após o lobby da indústria da aviação – o Walmart, o maior empregador privado dos EUA, com 1,6 milhões de trabalhadores, reduziu as licenças remuneradas para trabalhadores infectados ou expostos de duas semanas para uma, em um movimento que certamente será seguido por outros grandes empregadores.

Dentro do establishment empresarial e político há uma frente única contra a crescente resistência da classe trabalhadora à política homicida de “imunidade do rebanho”.

O governo Biden, que já permitiu que o Crédito Fiscal Infantil expirasse, cortando os 300 dólares mensais por criança para 30 milhões de famílias, está usando a ameaça da miséria para vencer a resistência da classe trabalhadora.

Questionado se haveria algum alívio adicional para os trabalhadores afetados pela COVID-19, um “funcionário sênior do governo Biden”, disse à CNN: “Não. Mas a economia está em alta, há milhões de empregos abertos e não acreditamos que as pessoas devam ficar sentadas em casa se estiverem vacinadas e com a dose de reforço, como a maioria dos adultos”. O funcionário acrescentou: “Portanto, não vamos dar dinheiro para incentivar as pessoas a ficarem em casa...”.

A resposta à luta dos professores de Chicago não foi menos nefasta. A prefeita de Chicago, Lori Lightfoot – a encarnação da política identitária do Partido Democrata – está ameaçando multar professores por protegerem suas vidas e as de seus alunos.

Por sua vez, Trump respondeu à ação corajosa dos professores de Chicago apelando para o corte de orçamento das “escolas governamentais fracassadas”. O governador republicano do Arizona, Doug Ducey, acaba de anunciar que pagaria US$ 7.000 em vales aos pais para tirar seus filhos das escolas públicas caso elas sejam fechadas mesmo que só por um dia.

A luta por uma resposta racional e orientada pela ciência à pandemia é uma questão de classe. O fechamento de escolas e empresas não essenciais, o fornecimento de renda aos trabalhadores e pequenas empresas afetadas pelo fechamento temporário e uma campanha sanitária massiva com testes universais, rastreamento de contatos, quarentenas e vacinação global só podem ser implementados através de um movimento de massas da classe trabalhadora guiado pelo princípio de que a vida humana deve ter precedência sobre o lucro empresarial.

A experiência dos últimos dois anos está levando os trabalhadores a tirarem estas conclusões. “Eu esperava que haveria uma mudança na forma como Biden lidaria com a pandemia”, disse um trabalhador veterano da Chrysler em Detroit. “Mas ele tem a mesma política de Trump. O governo está deixando tudo aberto, apesar de os casos nos hospitais e nas escolas estarem subindo. O CDC diz aquilo que as grandes empresas lhes dizem.

“Os republicanos e democratas são duas faces da mesma moeda. Eles são ambos a favor das instituições financeiras, dos bancos e das grandes empresas. Eles usam raça para nos manter lutando uns contra os outros. Mas não é raça, são as elites contra a classe trabalhadora. É por isso que eles querem nos manter divididos. Aqueles que estão no controle não se importam com sexo ou raça, eles se importam com economia. O 1%, os Bezos, eles querem nos manter lutando uns contra os outros nos EUA e ao redor do mundo. O que os professores de Chicago estão fazendo é certo, e todos nós devemos nos juntar a eles”.

O World Socialist Web Site convoca os educadores, trabalhadores automotivos, trabalhadores de serviços, trabalhadores da saúde e toda a classe trabalhadora a formar comitês de base pela segurança para preparar e iniciar ações para fechar escolas e produção não essencial, como parte de uma política destinada a eliminar o vírus que causa a COVID-19 e acabar de uma vez por todas com a pandemia.

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