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Perspectivas

China faz todos os esforços para deter propagação da subvariante Ômicron BA.2

Publicado originalmente em 15 de março de 2022

Na última semana, os contágios por COVID-19 atingiram níveis recordes na China devido à penetração da subvariante Ômicron BA.2, altamente infecciosa e resistente à imunidade, que evoluiu como resultado da recusa de quase todos os governos em deter a pandemia. Com o apoio popular à política de “Covid Zero dinâmica” que visa manter continuamente as infecções COVID-19 a zero, o governo chinês está mobilizando vastos recursos para acabar com o surto e salvar vidas.

A Comissão Nacional de Saúde da China relatou 5.154 novos casos de COVID-19 na segunda-feira, dos quais 1.647 foram assintomáticos. De 1 a 14 de março, mais de 15.000 casos de transmissão local foram identificados, afetando 28 províncias. O surto de infecções começou no início de março em várias províncias. Está centralizada na província de Jilin, na região nordeste, onde mais de 90% de todos os casos do atual surto foram identificados.

Em 6 de março, um dia em que 526 novos casos foram relatados, as autoridades consideraram a situação “grave” e demandaram cautela dos residentes. Na segunda-feira, quando Jilin relatou 4.067 novos casos, as autoridades locais advertiram que a situação continuava “severa e complicada” e estimaram parar a transmissão dentro de uma semana, se possível.

Mapa mostrando a localização de cada caso conhecido na China (esquerda) e locais no centro de Beijing recentemente visitados por pessoas infectadas (direita) (Crédito: Baidu Maps app)

A China está implementando quase todas as medidas de saúde pública disponíveis, incluindo testes em massa, rastreamento de contatos, isolamento seguro de todos os pacientes infectados e quarentena daqueles que entraram em contato com pacientes infectados. Mais de 88% da população do país recebeu duas doses de vacina, a sexta maior taxa do mundo, e o governo tem amplas reservas de anticorpos monoclonais e outros tratamentos.

Como ocorreu em janeiro de 2020 em resposta ao surto inicial de COVID-19 em Wuhan, China, dentro de dias após o surto deste mês foram construídos cinco hospitais improvisados em Changchun e Jilin, com uma capacidade combinada de 22.880 leitos. Um centro de isolamento com 6.000 leitos será construído até o final desta semana. Além disso, cinco províncias, regiões autônomas e municípios enviaram equipes e recursos médicos para Jilin.

Centenas de milhões de testes COVID-19 serão administrados em todo o país nas próximas semanas. Na metrópole sudeste de Shenzhen, cada um dos 17,6 milhões de residentes será testado três vezes esta semana. Em Jilin, 12 milhões de testes rápidos domésticos de antígenos estão sendo distribuídos aos residentes, que também receberão múltiplos testes PCR.

Pessoas fazem fila para testes de COVID em Pequim, 14 de março de 2022. (AP Photo/Ng Han Guan)

Cada paciente COVID-19 sintomático receberá atendimento hospitalar, enquanto aqueles com infecções assintomáticas permanecerão em centros de isolamento seguros. Todos os contatos próximos ficarão em quarentena e se testarão diariamente em casa por cinco dias, além de fazerem testes PCR regulares.

Mais importante, o governo implementou lockdowns parciais ou completos em cada cidade onde as infecções são maiores, incluindo todas as províncias de Jilin, bem como as metrópoles de Shenzhen, Langfang, Dongguan, Shanghai, Xian e outras cidades de pequeno e médio porte. Estima-se que mais de 50 milhões de pessoas estão sob rigorosas ordens de permanecer em casa e quase 40 milhões estão sob lockdown parcial.

Estes bloqueios, denegridos pela mídia corporativa porque interrompem a produção de lucros, implicam no fechamento temporário de locais de trabalho não essenciais e escolas para conter a transmissão viral o mais rápido possível. Em Jilin e outras cidades, somente os locais de trabalho essenciais permanecem abertos, incluindo supermercados, farmácias, empresas de água, gás, saneamento e comunicações, e fornecedores de bens essenciais.

A maioria da população chinesa apoia estas medidas de saúde pública necessárias para deter a propagação da COVID-19. Os lockdowns iniciais de janeiro-março de 2020 foram altamente caóticos devido à novidade da situação, mas quase dois anos após o fim do lockdown de Wuhan, o processo se tornou mais ágil e amplamente aceito.

Um modelo de previsão executado pela Universidade de Lanzhou no noroeste da China prevê que se todas estas medidas forem mantidas, o surto será totalmente contido até o início de abril, após um número estimado de 35.000 pessoas terem testado positivo para COVID-19. Até agora, ninguém morreu no surto mais recente. A China registrou apenas duas mortes por COVID-19 desde 16 de maio de 2020, em comparação com quase 20 milhões de mortes em excesso atribuíveis à pandemia fora da China nos últimos dois anos.

A implementação agressiva da política de COVID Zero na China continental é influenciada pela resposta desastrosa do governo local em Hong Kong, uma cidade e região administrativa especial da China, que se recusou a implementar lockdowns desde que a BA.2 causou um grande surto de infecções e hospitalizações em meados de fevereiro. As taxas diárias de mortalidade dispararam e atualmente atingem o recorde mundial de 37,68 por milhão de pessoas, em grande parte devido às baixas taxas de vacinação entre os idosos. Enquanto a população idosa da China está ligeiramente mais vacinada, cerca da metade das pessoas acima de 80 anos de idade não estão vacinadas.

Resta saber se a China conseguirá eliminar o vírus mais uma vez, mas a resposta rápida e abrangente indica que isso provavelmente acontecerá apesar das características excepcionalmente perigosas da subvariante BA.2. Se for bem-sucedida, provará novamente que a disseminação massiva da doença e das mortes além das fronteiras da China não é inevitável.

O próprio fato de que a China teve que eliminar repetidas vezes o vírus e enfrenta a ameaça constante da reintrodução da COVID-19 do exterior atesta o caráter criminoso da resposta à pandemia nos países capitalistas avançados, sobretudo nos Estados Unidos e na União Europeia.

Ao se recusarem a implementar a estratégia de eliminação adotada de forma pioneira na China e replicada por muitos outros países da Ásia-Pacífico em 2020, as elites capitalistas e seus representantes políticos são responsáveis pela mutação do SARS-CoV-2 em variantes cada vez mais infecciosas e imunologicamente evoluídas, da Alfa à Ômicron e o que vier a seguir. Sua promoção do nacionalismo das vacinas e a defesa dos direitos de propriedade intelectual deixaram 86% das pessoas em países de baixa renda totalmente não vacinadas.

Desde o início do surto da Ômicron no final de novembro, quase todos os países fora da China se renderam à pandemia e aboliram todas as medidas de mitigação para retardar a propagação do vírus. Testes, rastreamento de contatos, coleta de dados e relatórios, diretrizes de isolamento e até mesmo os protocolos mais básicos de uso de máscaras foram todos flexibilizados. Alegando falsamente que a COVID-19 é agora “endêmica”, as elites dominantes estão impondo um brutal “novo normal” de contaminações em massa, problemas de saúde crônicos e mortes sem fim.

Como resultado, os casos estão aumentando exponencialmente em toda a Europa, inclusive na Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Áustria, Suíça e outros países, com o número de hospitalizações novamente aumentando no Reino Unido.

Nos Estados Unidos, a BNO News reportou 52.694 novos casos oficiais e 1.478 novas mortes na segunda-feira, quase metade dos casos acumulados da China e um terço das mortes acumuladas da China desde o início da pandemia. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) observou discretamente que o BA.2 agora é responsável por 23,1% de todas as infecções sequenciadas, uma porcentagem que quase dobra a cada semana. A vigilância dos esgotos de 24 de fevereiro a 10 de março mostrou que 37% dos municípios declarantes tiveram um aumento de 100% ou mais na presença de RNA viral em seus esgotos, enquanto 15% de todos os locais declararam um aumento de mais de 1.000%.

O limite fundamental da política Zero-COVID da China é seu caráter nacional. Enquanto a COVID-19 continuar se espalhando globalmente, segue sendo possível a evolução de novas variantes mais infecciosas, imuno-resistentes e virulentas. Sem uma estratégia internacional, a política de COVID Zero será continuamente minada.

Parafraseando o grande revolucionário marxista Leon Trotsky, a eliminação da COVID-19 dentro dos limites nacionais é impensável. A eliminação da pandemia começa na arena nacional, desdobra-se na arena internacional, e se completa na arena mundial.

A crise profunda da pandemia se cruza com uma crise geopolítica crescente desencadeada com a invasão russa da Ucrânia. Essa resposta desesperada do regime de Putin à expansão de décadas da OTAN e do imperialismo americano com o objetivo manter sua hegemonia através do cercamento da Rússia e da China desestabilizou profundamente uma ordem mundial já fraturada. Ambas as crises, a guerra e a pandemia, estão alimentando o aumento da inflação e a instabilidade econômica, que por sua vez estão provocando o crescimento da luta de classes a nível internacional.

O único caminho para resolver a crise do capitalismo mundial é a revolução socialista. A classe trabalhadora internacional deve unificar-se além das fronteiras nacionais e montar uma poderosa luta global para deter a guinada à Terceira Guerra Mundial, eliminar a COVID-19 globalmente e reconstruir a sociedade sobre bases socialistas.

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