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Com greves selvagens na CSN, trabalhadores atropelam sindicatos

Trabalhadores da CSN em greve no interior da unidade de Volta Redonda. (Crédito: Sindicato Metabase Inconfidentes)

Em meio à intensificação de um movimento de greves no Brasil e internacionalmente, os trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) iniciaram uma série de paralisações e manifestações em diferentes unidades do país exigindo aumento dos salários e benefícios.

A greve teve início no dia 31 de março na mina Casa de Pedra, localizada na cidade de Congonhas, interior de Minas Gerais. Segundo o site da CSN, é a “mineração de ferro mais antiga em operação no Brasil” e “possui atualmente uma capacidade de produção de 30 milhões de toneladas por ano”. O movimento também teve adesão na Mina de Pires, que está na cidade vizinha Ouro Preto.

Em ambas as unidades, o movimento é conduzido pelo Sindicato Metabase Inconfidentes, filiado à central sindical CSP-Conlutas e controlado pelos morenistas do PSTU. Apesar da demonstração de luta dos trabalhadores ao longo da semana, desafiando a empresa com uma adesão efetiva à greve e às manifestações, o boletim do sindicato no dia 7 de abril informava:

“Afinal, estamos de greve? Não, companheiros (as)! Estamos num processo de mobilização conforme deliberação da assembleia ocorrida no dia 01/04/2022, em que 77,11% da categoria decidiu rejeitar a proposta da empresa.”

O boletim ainda tentava explicar a recusa do sindicato de propor uma greve por tempo indeterminado: “Em nosso entendimento inicial é precipitado essa medida [a greve] e pode derrotar o movimento(...)”.

A traição da pseudoesquerda no sindicato de Minas Gerais ficou ainda mais evidente depois que o movimento se espalhou, indo além das suas bases. Trabalhadores se levantaram independentemente dos seus sindicatos no Porto de Itaguaí – um dos principais polos de exportação de minério de ferro – e na Usina Presidente Vargas, a maior usina de aço da América Latina, em Volta Redonda, ambos no estado do Rio de Janeiro.

De acordo com uma reportagem do site Foco Regional, a paralisação na Usina Presidente Vargas na manhã do último dia 5 foi feita por um grupo de trabalhadores do setor de manutenção “numa manifestação que reforça a falta de credibilidade da atual direção do Sindicato dos Metalúrgicos e até mesmo daqueles que se dizem líderes de oposição” (grifos nossos). Enquanto o sindicato em Volta Redonda é liderado pela Força Sindical, a oposição oficial é feita pelos morenistas do PSTU, os mesmos que se recusaram a decretar a greve nas unidades de Minas Gerais. Ainda segundo a reportagem, “o ato teria sido espontâneo e reuniu entre 40 e 50 trabalhadores do turno que se encerrou às 15 horas”.

Seguindo o exemplo do levante selvagem em Volta Redonda, os trabalhadores da CSN em Porto de Itaguaí também paralisaram o trabalho. Conforme relata o Jornal Atual, “O movimento de Itaguaí na verdade é um reflexo do que ocorre em Volta Redonda”. Em entrevista ao jornal, o próprio vice-presidente do sindicato confirma que o movimento “partiu dos próprios funcionários e não tem organização da entidade”.

O Foco Regional reportouum aumento substancial do movimento em Volta Redonda no dia seguinte, com uma nova paralisação e uma assembleia cheia dentro da usina. “Ou melhora [a proposta] ou para tudo”, disse um operário da empresa em um vídeo publicado na internet, sendo aplaudido pela assembleia.

O terceiro dia de paralisação na usina foi ainda mais forte, com uma assembleia lotando seu pátio. Em um vídeo compartilhado nas redes sociais, os operários são chamados a fazer o “nosso grito de guerra” e respondem massivamente: “Peão unido jamais será vencido!”.

O grito dos operários hoje remete a lutas históricas da classe trabalhadora na América Latina, e particularmente no Brasil às lutas contra a ditadura militar, iniciada com um golpe apoiado pelos EUA em 1964 e encerrada oficialmente em 1985 em consequência de um levante semi-insurrecional da classe trabalhadora.

Em 1988, trabalhadores da CSN colocaram o novo regime “democrático” à prova fazendo uma greve com ocupação de fábrica e foram barbaramente reprimidos pelo Exército. Três metalúrgicos foram mortos e centenas ficaram feridos no que ficou conhecido como o “massacre de Volta Redonda”. A greve tinha um forte apoio da população e o velório dos operários foi celebrado com uma passeata massiva, reunida sob o grito “o povo unido jamais será vencido!”.

Passadas mais de três décadas, os trabalhadores da CSN enfrentam hoje condições alteradas, tanto em relação aos sindicatos quanto em relação à empresa.

Em 1988, a CSN ainda era uma empresa estatal e com menor capacidade. Hoje tem instalações em 18 estados brasileiros e em dois outros países – Alemanha e Portugal. Estabelecida como uma empresa transnacional, a CSN teve um lucro líquido de R$ 13,6 bilhões em 2021, o que significou um aumento de 217% em relação a 2020. Mas continua pagando baixos salários aos seus cerca de 30 mil trabalhadores no país, com grande parte não chegando nem a R$ 2.000 (US$ 430) por mês.

A CUT, que dirigiu a greve de 1988, cumpriu o papel sistemático de canalizar o movimento de greves e manifestações que marcou a crise do regime militar no sentido de uma domesticação da classe trabalhadora e adaptação às relações capitalistas de produção, bem como ao Estado burguês, culminando com a chegada do PT à presidência.

Tendo cumprido o papel de amortizador entre a classe dominante e os trabalhadores por mais de 30 anos, esses sindicatos se cristalizaram como agentes capitalistas, e hoje enfrentam uma rejeição consistente da classe trabalhadora. Esse sentimento de rejeição tem se manifestado cada vez mais à medida que o custo de vida aumenta, com o preço dos alimentos subindo mais de 10% nos últimos 12 meses.

O movimento dos trabalhadores da CSN é parte integrante e representa um avanço qualitativo da onda de greves de diferentes categorias por todo o Brasil. No Rio de Janeiro, garis realizaram uma greve de dez dias por aumento salarial apesar de todos os esforços de desmobilização do sindicato filiado à central sindical UGT. Trabalhadores da Educação e do Transporte também estão em greve em pelo menos cinco estados, reivindicando melhores salários. No estado de São Paulo, metalúrgicos da Avibras fazem uma greve contra a demissão de mais de 400 trabalhadores, enquanto os metalúrgicos da Toyota ameaçam começar uma greve contra a decisão da empresa de fechar sua tradicional fábrica em São Bernardo do Campo.

Diante da intensificação da crise econômica e política no Brasil e em todo o mundo, com a classe dominante arrastando milhões para a fome e submetendo a humanidade a uma política de mortes em massa com uma pandemia descontrolada e a ameaça de uma guerra nuclear, a única força social progressista é a classe trabalhadora.

Sua força tem sido demonstrada na maior onda de protestos sociais desde o surgimento da pandemia da COVID-19: na Grécia, os trabalhadores fizeram uma greve geral de 24 horas no último dia 5; no Sri Lanka, manifestações massivas exigem a renúncia do presidente diante da pior crise econômica em décadas; no Peru, protestos de massa contra o aumento do custo de vida enfrentam a repressão violenta do presidente pseudoesquerdista Pedro Castillo, que já matou cinco pessoas na última semana.

A necessidade de coordenar essas lutas internacionalmente é defendida somente pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) com sua luta pela Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB). Convocamos os trabalhadores em luta por todo o Brasil a estudar o manifesto da AOI-CB, formar comitês de base e se integrar a essa iniciativa internacional decisiva.

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