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Perspectivas

Armamento da Ucrânia por EUA/OTAN para ofensiva militar contra Rússia é escalada significativa e perigosa

Publicado originalmente em 10 de abril de 2022

O caráter imperialista da guerra dos EUA/OTAN contra a Rússia na Ucrânia está emergindo cada vez mais claramente. O governo ucraniano, armado até os dentes com equipamentos militares fornecidos pelos Estados Unidos e seus aliados europeus, teve sucessos táticos iniciais nas primeiras seis semanas da guerra. As potências americana e da OTAN estão agora pressionando a ofensiva, com o objetivo de derrotar a Rússia militarmente, instigar uma crise política maciça e implementar uma mudança de regime em Moscou.

“A decisão da Eslováquia de fornecer à Ucrânia uma unidade de defesa aérea S-300 da era soviética, um movimento feito com a aprovação dos Estados Unidos, representa uma nova fase na guerra”, escreveu o New York Times no sábado. A “unidade de defesa” é, na realidade, um sistema terra-ar que será supostamente usado para abater aeronaves russas.

O Reino Unido também se comprometeu durante o fim de semana a enviar 120 veículos blindados juntamente com um sistema de mísseis anti-navio para a Ucrânia, além dos US$ 130 milhões em armas adicionais prometidos pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson na sexta-feira. As armas anti-navio permitirão que os militares ucranianos mirem diretamente os navios de guerra russos ao largo da costa da Ucrânia no Mar Negro. O anúncio veio quando Johnson fez uma viagem não anunciada a Kiev no sábado para prometer apoio ilimitado ao governo ucraniano.

Um militar ucraniano caminha sobre um veículo de combate russo destruído em Bucha, Ucrânia, quinta-feira, 7 de abril de 2022. (AP Photo/Vadim Ghirda)

O armamento adicional da Ucrânia tornará possível ataques diretos em solo russo. “Até agora, o governo Biden não esteve disposto a fornecer armas que permitam à Ucrânia realizar ataques profundos à Rússia”, escreveu o Times, “apesar de alguns especialistas dizerem que danificar os aeródromos militares russos melhoraria as chances da Ucrânia de resistir a uma nova ofensiva”.

O jornal citou o tenente-coronel aposentado Alexander Vindman, um dos principais oficiais dos EUA, pressionando por uma ação mais agressiva contra a Rússia, dizendo que “a capacidade de atingir alvos mais profundos” – ou seja, alvos dentro da Rússia – é uma “lacuna crítica” que deve ser superada.

A guerra na Ucrânia foi instigada pelas potências imperialistas através da expansão implacável da OTAN na Europa Oriental, da transformação da Ucrânia em um arsenal e base para ataques à Rússia pela OTAN, e da recusa em negociar as exigências da Rússia por garantias de segurança.

Os EUA e a OTAN querem que a guerra continue. O objetivo – como Biden disse em seu discurso de Varsóvia – é a mudança de regime na Rússia. Os contratempos iniciais sofridos pelos militares russos levaram o governo Biden a acreditar que a OTAN pode infligir uma grande derrota militar que desestabilizará fatalmente o regime de Putin e levará à sua substituição através de um golpe de Estado dirigido por forças pró-OTAN entre setores da oligarquia russa.

Caso as coisas assim sucedam, o resultado político seria colocar a Rússia sob uma forma tutela dos EUA, abrindo caminho para sua repartição territorial e a disponibilização de sua vasta extensão geográfica ao controle e exploração irrestritos pelos Estados Unidos e outras potências da OTAN.

O avanço dos objetivos estratégicos da OTAN aumenta enormemente a probabilidade de um confronto militar aberto entre suas forças e a Rússia. O processo de escalada militar tem uma lógica própria. Não é difícil prever uma série de cenários em que uma guerra terceirizada se transforme em um confronto em escala total, mesmo ao ponto de ataques nucleares.

Por exemplo, se a Ucrânia utilizar equipamentos militares avançados fornecidos pela OTAN para infligir perdas severas às tropas russas e até mesmo lançar mísseis contra o território russo, é altamente provável que a Rússia faça uma retaliação direcionada aos países da OTAN que estão fornecendo ou facilitando o transporte das armas letais.

A disposição do governo Biden a arriscar uma guerra nuclear é um gesto de imprudência monumentalmente criminoso. Mas é uma imprudência movida por imperativos econômicos e políticos que ele não pode controlar. Mais uma vez, a classe capitalista – para usar uma frase empregada por Leon Trotsky em 1938, na véspera da Segunda Guerra Mundial – está escorregando de olhos fechados para o desastre.

Essa guinada ao desastre é o resultado da combinação entre processos históricos fundamentais e as crises socioeconômicas atuais. Determinados e desesperados a manter sua posição dominante na economia mundial, os Estados Unidos veem a eliminação do obstáculo territorial e geopolítico representado pela Rússia como uma preparação essencial para o inevitável confronto com a China. Na nova divisão do mundo idealizada pelo imperialismo americano, os vastos recursos da massa terrestre eurasiática devem estar sob seu controle.

A busca dessa ambição quase lunática de dominação mundial foi acelerada pela extrema crise interna dos Estados Unidos. A classe dominante americana convenceu-se de que a guerra providenciará as amarras para manter unida uma sociedade dilacerada por contradições sociais, econômicas e políticas para as quais não tem soluções racionais.

Quanto à Rússia, a desastrosa decisão de lançar a guerra, caindo assim na armadilha colocada pelos Estados Unidos e pela OTAN, foi um erro de cálculo enraizado na dissolução stalinista da União Soviética há 30 anos, que colocou as massas trabalhadoras da Rússia à mercê de uma oligarquia corrupta cuja ganância só é igualada por sua miopia estratégica e falência política.

Putin se iludiu ao acreditar que poderia pressionar a OTAN a fornecer garantias de segurança à Rússia que permitissem ao Kremlin continuar se beneficiando de um domínio oligárquico sem intervenção excessiva do Ocidente. Mas Putin, o adversário raivoso do marxismo e da Revolução de Outubro de 1917, demonstrou com isso uma total incompreensão das forças motrizes do sistema imperialista mundial.

Tendo iniciado a guerra, o regime de Putin se vê cada vez mais arrastado para um conflito existencial.

O World Socialist Web Site se opôs à invasão russa da Ucrânia não porque negamos o fato de que a Rússia enfrenta um cerco imperialista e a perspectiva de ser posta sob grilhões neocoloniais, mas porque é impossível enfrentar o imperialismo através dos métodos reacionários da oligarquia russa de aventureirismo militar e chauvinismo nacionalista.

A classe operária russa e internacional só pode parar a guerra e derrotar o imperialismo através do avanço da luta de classes, com o objetivo de tomar o poder, expropriar as elites capitalistas, abolir o sistema de Estados-nação e criar uma federação socialista mundial.

O Primeiro de Maio de 2022 deste ano, daqui a apenas três semanas, deve ser dedicado ao chamado para uma luta internacional contra a agressão imperialista e a guerra baseada na perspectiva e no programa da revolução socialista mundial.

Os trabalhadores dos Estados Unidos e dos países da OTAN devem denunciar a guerra por terceirização e exigir que a fomentação do conflito pela OTAN e a entrega de armas a seus agentes ucranianos seja imediatamente interrompida.

A classe trabalhadora russa deve repudiar enfaticamente a invasão do Kremlin. A oposição ao imperialismo da OTAN depende do renascimento dentro da Rússia e em toda a ex-URSS dos princípios do internacionalismo socialista-leninista-trotskista que inspiraram a Revolução de Outubro.

A crise do capitalismo mundial produziu todas as condições objetivas necessárias para um movimento da classe trabalhadora internacional contra a guerra imperialista. Dois anos de morte em massa e deslocamento social produzidos pela resposta da classe dominante à pandemia da COVID-19 são agora seguidos pelo impacto direto da guerra no rápido aumento do custo de vida.

O corte das exportações de alimentos e fertilizantes da Ucrânia e da Rússia já está criando condições catastróficas em todo o Oriente Médio, África e Ásia. Ela está alimentando o crescente movimento de greves na Europa e nos Estados Unidos, onde os trabalhadores enfrentam níveis de inflação não vistos em quatro décadas.

Essa oposição, entretanto, precisa se desenvolver como um movimento político consciente pelo socialismo. Isso significa a construção do Comitê Internacional da Quarta Internacional e seus Partidos Socialistas pela Igualdade em todos os países.

É com base nessa perspectiva que o Comitê Internacional da Quarta Internacional realizará seu ato de Primeiro de Maio online. Convidamos todos os nossos leitores e os trabalhadores do mundo inteiro a se inscreverem e comparecerem a esse comício e assumirem a luta pelo socialismo e construção de um movimento mundial contra o imperialismo e a guerra.

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