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Pela readmissão dos grevistas demitidos na CSN! Unificar as lutas da classe trabalhadora!

Após uma semana de um movimento crescente dos trabalhadores independente do sindicato, a CSN (Companhia Nacional Siderúrgica) faz uma demissão massiva para tentar pôr fim ao levante na Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro.

Até agora, cerca de 120 trabalhadores já receberam cartas de demissões. Elas estão sendo enviadas sem assinatura das chefias, o que aumenta a desconfiança de uma demissão ilegal.

Atacando o direito de greve e em uma intenção clara de cortar pela raiz o movimento de Volta Redonda, a empresa executou as primeiras demissões justamente contra a comissão eleita pela base e que representava os trabalhadores nas negociações. Em comunicados à imprensa, a CSN afirmou que só pode negociar com o Sindicato dos Metalúrgicos (filiado à Força Sindical) e que não reconhece a “legitimidade de movimentos paralelos que ocorrem durante a negociação sindical”.

Membros da comissão de base falam na Praça Juarez Antunes, em Volta Redonda, Rio de Janeiro. (Crédito: Facebook)

“A gente está só com a força dos peões mesmo. Organizamos a comissão com dez pessoas, mas é como uma guerra, e eles derrubaram os generais”, disse ao World Socialist Web Site um operário da empresa que preferiu ser identificado apenas como Peão Anônimo.

O WSWS e o Grupo Socialista pela Igualdade do Brasil exigem a readmissão imediata dos membros da comissão de base e todos os trabalhadores demitidos e convoca os trabalhadores de todo o país e internacionalmente a uma campanha de solidariedade aos operários em greve na CSN. Esta luta é um dos principais bastiões de uma rebelião operária crescente que se estende pelo Brasil e por todo o mundo, do Sri Lanka à Espanha, Turquia, Iraque e Peru, assim como nos Estados Unidos e Europa, em resposta à destruição universal dos padrões de vida da classe trabalhadora pelo capitalismo.

Além das demissões, a CSN está punindo os trabalhadores com suspensões, bloqueando crachás para impedir o uso do refeitório, divulgando comunicados internos com ataques ao movimento e colocando os chefes de setor para pressionar diretamente os trabalhadores. Apesar de todo esse esforço, a comissão e outros trabalhadores demitidos permanecem no movimento.

“Eles continuam na Praça Juarez Antunes, que é o nosso marco de 1988”, contou o Peão Anônimo. Na praça, há um monumento em homenagem a três operários que foram mortos pelo Exército ao participarem de uma greve com ocupação na CSN em 1988. Em um vídeo publicado na internet, um dos trabalhadores da comissão diz: “Estamos aqui de frente para a praça [que homenageia] os três trabalhadores [que] foram mortos, para edificar nossa força com vocês. Fomos acabados de mandar embora (...) A gente está com uma causa trabalhista. E a CSN tentou calar a boca mais uma vez do trabalhador. Eles estão apavorados.”

O motivo de a empresa exigir o sindicato como negociador é óbvio. Segundo o Peão Anônimo, a paralisação foi deflagrada após uma tentativa de acordo feita pelas costas dos trabalhadores. O sindicato estava há dois anos sem dar qualquer satisfação aos trabalhadores e “apareceu uma negociação do nada, fizeram sem a gente saber. (...) Isso gerou mais revolta ainda.”

A última vez que os trabalhadores da CSN tiveram notícia do sindicato foi há dois anos, quando ele garantiu à empresa um contrato rebaixado de longo prazo. “Fizeram uma pauta para um acordo de dois anos. E todo mundo que a gente conversava falava que não estava satisfeito. Mas, de repente, [no resultado da votação] aparece o ‘sim’ para a proposta da empresa”, afirmou o operário entrevistado.

Ele prosseguiu: “O que dá para entender do acordo que fizeram dois anos atrás é que teve corrupção. O sindicato nos abandonou, não representa a gente. Aquilo é uma máfia. Até o presidente está sendo investigado, porque os bens dele não correspondem ao que ele ganha.”

Esse acordo foi responsável pelo congelamento dos salários, que, com a inflação do período, já sofreu uma perda real de 30%. Há mais de dois anos, o salário médio dos trabalhadores da CSN é de R$ 1.635.

O trabalhador ainda criticou o apagão na imprensa sobre o altamente significativo movimento de greve. “O movimento que está acontecendo é muito grande. É para ser exposto no Jornal Nacional, mas a mídia é totalmente omissa. O que está acontecendo vai em questão de direitos humanos. E o pessoal está fechando os olhos.”

A luta contra a exploração na CSN e pela readmissão dos demitidos só pode ser garantida com a ampliação da greve, com adesão de todos os setores da usina de Volta Redonda e nas outras unidades da CSN. A independência da organização dos trabalhadores em relação aos sindicatos é crucial para que esse movimento se amplie.

Nas unidades da CSN em Minas Gerais, o sindicato dirigido pela CSP-Conlutas encerrou a greve, isolando os trabalhadores de Volta Redonda. No Porto de Itaguaí, os trabalhadores também se rebelaram do sindicato, fazendo paralisações independentemente. Em todos os casos, é urgente a necessidade de criar comitês de base permanentes que sirvam não apenas para os trabalhadores controlarem e decidirem a luta em cada local de trabalho – como iniciou a fazer a comissão de Volta Redonda – mas também para coordenar nacionalmente a greve em um movimento intransigente em defesa dos interesses dos trabalhadores.

No ano passado, o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) lançou a Aliança Operária Internacional de Comitês Base (AOI-CB). O CIQI escreveu: “A AOI-CB irá trabalhar para desenvolver a estrutura para novas formas de organizações de base independentes, democráticas e militantes de trabalhadores em fábricas, escolas e locais de trabalho em escala internacional. A classe trabalhadora está pronta para lutar. Mas está acorrentada por organizações burocráticas reacionárias que reprimem toda a expressão de resistência.”

Para libertar o movimento operário das lideranças mafiosas dos sindicatos e das corrompidas oposições, é necessário tirar as lições da experiência dos últimos 30 anos de traições dos sindicatos. Para romper o isolamento imposto pelos sindicatos pró-empresariais e unir suas lutas com trabalhadores pelo Brasil e outros setores da classe trabalhadora internacional, é preciso formar organizações democráticas dos trabalhadores de base,

Ao lembrar a histórica greve de 1988, o Peão Anônimo apontou:

“Meu pai estava lá [na ocupação da usina], ficou no telhado, porque se descesse seria pego pelo Exército. (...) Aquela greve revolucionou, mudou para melhor para todos. O problema é que o que a greve ganhou, o sindicato agora fez a gente perder, de pouquinho em pouquinho. Na greve de 1988, a custo de sangue, porque morreram três operários lá, a gente ganhou o turno de 6 horas. Para chegar em 2017 e o sindicato aprovar a proposta de turno de 8 horas. Vendeu a morte dos companheiros por 4 mil reais. Foi o sangue dos operários em troca de um bônus de 4 mil reais.”

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