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Perspectivas

Protestos massivos se espalham mundialmente conforme preços de alimentos e combustíveis sobem

Publicado originalmente em 15 de abril de 2022

Os aumentos intoleráveis do custo de vida desencadeados pela guerra dos EUA e OTAN contra a Rússia na Ucrânia estão produzindo uma onda massiva de protestos da classe trabalhadora em todo o mundo. Após dois anos de pandemia, que já levou a 20 milhões de mortes e continua se propagando, a revolta social acumulada em torno das mesas de jantar e nas fábricas está hoje se espalhando para as ruas. Milhões de pessoas de todas as origens raciais, étnicas e lingüísticas estão chegando à mesma conclusão: a vida não pode continuar da forma antiga.

Após 50 dias da invasão da Ucrânia pela Rússia, protestos estão hoje ocorrendo em todos os continentes. Os manifestantes desafiam os estados de emergência e respondem à repressão policial com mobilizações de tamanho e intensidade crescentes. Os protestos iniciais no Peru, Sudão e Sri Lanka não apenas continuam, mas estão agora se espalhando para países mais populosos e urbanizados. Nas grandes potências imperialistas, os mesmos governos que planejaram a atual crise de guerra enfrentam crescentes greves que as burocracias sindicais estão tentando desesperadamente conter.

Estudante universitário chama por saída do presidente Ghotabaya Rajapakse durante protesto contra o governo próximo ao parlamento em Colombo, Sri Lanka em 8 de abril de 2022 (AP Photo/Eranga Jayawardena)

Nos últimos dias, servidores públicos, petroleiros, trabalhadores de telecomunicações e professores no Irã têm realizado paralisações para exigir massivos aumentos salariais e da aposentadoria. O economista, Ibrahim Razzaqi, disse ao jornal Shara que “a cada dia a sociedade está se tornando menos tolerante com todos os seus problemas”, e que o Irã estava vivendo “um surto popular por críticas condições de vida”.

Na Indonésia, o país com a quarta maior população no mundo, grandes manifestações estudantis começaram na semana passada por conta do aumento do preço do óleo de cozinha e o recente anúncio do presidente, Joko Widodo, de que pretende permanecer no cargo por mais um mandato. Manifestantes em Jacarta, Sulawesi do Sul, Java Ocidental e outras regiões enfrentaram brutal repressão policial, com um manifestante sofrendo graves ferimentos.

No Paquistão, as preocupações da classe dominante com os protestos contra o aumento dos preços estão no centro da recente remoção pelo parlamento do primeiro-ministro, Imran Khan. Na quinta-feira, o The Diplomat escreveu que os preços dos alimentos aumentaram 15% no último ano, e que, assim como no Sri Lanka e no Peru, “o Paquistão é a última vítima da instabilidade política”. O pânico nos mercados financeiros e de commodities; uma espiral inflacionária global, o aumento nos preços dos alimentos e o aumento dos protestos, especialmente nos mercados emergentes, mostra que esxe processo não irá se limitar apenas ao Paquistão ou ao Sri Lanka”.

Na América Latina, uma região considerada anteriormente relativamente protegida do declínio das exportações russas e ucranianas, uma manifestação massiva ocorreu na semana passada em Buenos Aires, na Argentina, com uma greve de caminhoneiros interrompendo as exportações de grãos do país. Na quinta-feira, o El País observou que “o conflito nas ruas está crescendo junto com a perda do poder de compra da moeda local”, dado que a inflação subiu 6,7% entre março e abril, com a inflação acumulada em 12 meses subindo para 55%.

Uma greve de caminhoneiros, taxistas e motoristas de ônibus parou Honduras na semana passada, e o governo de Xiomara Castro respondeu aumentando o custo das passagens de ônibus para a classe trabalhadora.

O descontentamento social também está crescendo nos centros do imperialismo mundial. Nos Estados Unidos, onde a inflação subiu a uma taxa anual de 8%, 30 mil porteiros em apartamentos de luxo na cidade de Nova York autorizaram uma greve na quinta-feira. Esse poderoso sinal de oposição ocorre enquanto os contratos de centenas de milhares de trabalhadores em setores industriais críticos se aproximam do vencimento nas próximas semanas.

No Reino Unido, o Guardian advertiu em um editorial na semana passada que o país “está deslizando para uma crise social e econômica que sua população não vê há décadas. As contas do combustível por família estão projetadas para ultrapassar £2.400 até o final do ano, enquanto o preço dos produtos no supermercado está disparando”. A inflação no Reino Unido atingiu 7% no mês passado, a maior taxa desde 1992.

O Guardian observou: “Em uma projeção, um em cada três britânicos ‒ 23,5 milhões de pessoas ‒ não poderá arcar com o custo de vida neste ano”.

Em todos os países, grevistas e manifestantes estão lutando por questões de vida ou morte. Os preços globais dos alimentos subiram 34% desde o ano passado. A invasão russa da Ucrânia é brutal e imprudente, mas quem pode acreditar nas lágrimas de crocodilo dos governos da OTAN e de seus propagandistas na mídia corporativa dado que é o prolongamento da guerra que está forçando bilhões de pessoas a enfrentar a fome em diferentes níveis de urgência?

Na empobrecida África Ocidental e Oriental, dezenas de milhões de pessoas enfrentam a fome. No Oriente Médio e na África do Norte, as reservas de alimentos, que já estão baixas, vão acabar em questão de semanas. Todas essas regiões estão devastadas pelo impacto das guerras dos EUA dos últimos 30 anos. À medida que a guerra na Ucrânia se prolongar até a colheita no quarto trimestre, as safras que alimentariam bilhões de pessoas não serão plantadas. Nos próximos meses, os cortes das exportações de fertilizantes da Rússia e da Belarus irão reduzir o rendimento global dos produtos básicos de cultivo em até a metade.

Na semana passada, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um grave alerta sobre o aumento dos protestos da classe trabalhadora global. O documento, intitulado “Impacto global da guerra na Ucrânia sobre os sistemas alimentares, energéticos e financeiros”, afirma que “a guerra na Ucrânia, em todas as suas dimensões, está produzindo efeitos alarmantes em cascata para uma economia mundial já impactada pela COVID-19 e pelas mudanças climáticas, com impactos particularmente dramáticos nos países em desenvolvimento”.

A ONU advertiu que 60% dos governos dos países em desenvolvimento estão endividados com os bancos e corporações no mundo a ponto de que serão incapazes de fornecer subsídios aos afetados pelo aumento dos preços. A ONU reconheceu que outro fator decisivo na explosão dos recentes protestos é o impacto devastador da pandemia de coronavírus sobre a classe trabalhadora, que produziu “grandes cicatrizes sociais e econômicas”.

Segundo a ONU, o que está surgindo agora é uma “tempestade perfeita” de descontentamento social: “Em um ambiente de níveis já altos de estresse socioeconômico devido aos impactos da COVID-19, o aumento nos preços dos alimentos ameaça efeitos colaterais de agitação social”.

Essas declarações feitas com nervosismo pelas principais instituições da ordem capitalista mostram que os governos imperialistas falharam em seu esforço para usar a guerra para desviar as crescentes tensões domésticas. Pelo contrário, a escalada da marcha para a guerra mundial está produzindo explosões sociais.

A erupção espontânea de protestos em todo o mundo é um processo objetivo, produzido pela enorme crise do sistema capitalista mundial. A transformação desse processo objetivo em um movimento consciente pelo socialismo é uma questão de construção da liderança revolucionária, o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI).

O CIQI, seus Partidos Socialistas pela Igualdade afiliados, a Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social e a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base farão um ato online no dia 1º de maio, o dia da solidariedade internacional da classe trabalhadora.

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