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Primeiro de Maio de 2022: O papel da Turquia na escalada de guerra dos EUA-OTAN contra a Rússia em meio à crescente luta de classes

Publicado originalmente em 8 de maio de 2022

Este é o relatório de Ulaş Ateşçi para o Ato Internacional de Primeiro de Maio. Ateşçi é um líder do Sosyalist Isitlik Grubu, o Grupo Socialista pela Igualdade na Turquia. Para assistir a todos os discursos, visite a página especial.

Saudações revolucionárias do Grupo Socialista pela Igualdade (GSI), a organização turca em solidariedade com o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI).

A classe trabalhadora internacional saúda o Primeiro de Maio de 2022 em meio à guerra em curso na Ucrânia entre as potências dos EUA/OTAN e Rússia, que ameaça uma guerra mundial nuclear. Esse perigo iminente é acompanhado pela pandemia COVID-19 em curso, que matou quase 20 milhões no mundo como resultado da política oficial de infecção e morte em massa.

Na Turquia, onde quase todas as medidas contra a propagação da COVID-19 foram suspensas, o governo Erdoğan praticamente acabou com a obrigação de máscaras em locais fechados.

As mortes por COVID-19 na Turquia se aproximam de 100 mil, por causa dessa política criminosa que atende os interesses de lucro da classe dominante, como em toda parte. Ela é implementada com o apoio direto ou indireto dos partidos burgueses de oposição, sindicatos e a pseudoesquerda. Na verdade, o GSI é a única tendência política na Turquia que chama os trabalhadores a lutar pela COVID Zero mundial para acabar com a pandemia e as mortes.

Apesar das afirmações anticientíficas de que a pandemia acabou, só este ano, cerca de 17 mil morreram desta doença evitável. Nos cálculos de Güçlü Yaman do Grupo de Trabalho da Pandemia da Associação Médica Turca, as mortes em excesso na Turquia durante a pandemia excedem 281 mil.

Além disso, a Turquia está na região do Mar Negro, ao lado da Ucrânia e Rússia. Ela está no centro da guerra por seus laços estratégico-militares e sua localização geográfica. Como membro da OTAN, a Turquia apoia a Ucrânia política e militarmente, mas também tem importantes laços econômicos e militares com a Rússia. Ancara é empurrada a mediar entre Kiev e Moscou apesar da escalada liderada pelos EUA contra a Rússia. Mas a Turquia continua a funcionar como posto avançado do imperialismo da OTAN na região.

Apesar de seus conflitos internos, a burguesia turca foi cúmplice nas intervenções e guerras por mudança de regime do imperialismo americano e seus aliados nos Bálcãs, Oriente Médio e Norte da África desde a dissolução stalinista da União Soviética, em 1991. A guerra na Ucrânia é um produto desses 30 anos de guerra imperialista e do avanço implacável da OTAN para o Leste. Segundo uma pesquisa, quase 80% da população se opõe à guerra na Ucrânia e diz que a Turquia deve permanecer neutra na guerra.

Essas guerras imperialistas de saqueio, gerando milhões de mortes e dezenas de milhões de refugiados, foram marcados por numerosos crimes de guerra documentados em detalhes pelo World Socialist Web Site. Desde a Iugoslávia até o Iraque, do Afeganistão à Líbia, Síria e Iêmen, receberam apoio direto ou indireto do Estado turco.

A esses crimes se soma a contínua perseguição de Israel ao povo palestino. Ancara condena Israel hipocritamente, dependendo do momento diplomático, mas continua a pressão antidemocrática contra o povo curdo e seus políticos eleitos.

Condenando a reacionária invasão russa, que favorece o imperialismo dos EUA-OTAN e divide a classe trabalhadora russa e ucraniana, o governo Erdoğan faz invasões militares ilegais na Síria e Iraque e mantém presença militar permanente nesses países. Essa política tem apoio dos partidos de oposição burgueses turcos pró-OTAN.

A última operação militar lançada pela Turquia em abril contra as forças do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) no território do Governo Regional do Curdistão iraquiano tem dois objetivos básicos: Primeiro, abrir caminho ao transporte de gás iraquiano para a Europa via Turquia, como parte dos planos dos EUA para acabar com a dependência energética europeia da Rússia. Segundo, usar a guerra para reprimir e externalizar as tensões de classe que ficaram incontroláveis no país.

O GSI defende a retirada de todas as forças da OTAN, incluindo a Turquia, da África, Oriente Médio e Ásia Central. Os direitos democráticos básicos do povo curdo devem ser reconhecidos, e prisioneiros políticos libertados.

A inflação nos preços de alimentos e combustíveis, um fenômeno global, atingia níveis recordes na Turquia mesmo antes da guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia. Essa situação, produto das décadas de políticas econômicas em benefício do capital financeiro, e dos choques causados pela pandemia nas cadeias de abastecimento tornou a vida intolerável para milhões de famílias trabalhadoras. No mesmo período, o governo turco transferiu riquezas sem precedentes da classe trabalhadora para a classe capitalista.

Enquanto a inflação anual oficial atingiu 61% em março, a taxa real de inflação subiu para 142%, segundo um relatório do Grupo independente de Pesquisa da Inflação. Com a Turquia importando cerca de 80% de seu trigo da Ucrânia e Rússia, a guerra e as sanções fizeram da Turquia um epicentro da crise alimentar mundial.

Enquanto o Norte da África e Oriente Médio são os mais atingidos pela crise de alimentos e combustíveis, protestos e greves massivos se espalham do Sudão ao Quênia, do Irã à Grécia. A onda de greves selvagens que varreu a Turquia em janeiro e fevereiro de 2022 prenunciou o movimento emergente da classe trabalhadora internacional.

Segundo dados compilados pelo Grupo de Estudos Trabalhistas, ocorreram ao menos 106 greves selvagens só nos primeiros 2 meses de 2022. A média anual de greves selvagens nos 5 anos anteriores foi de apenas 97. Isso sinaliza um movimento cada vez mais intenso e combativo da classe trabalhadora. Profissionais da saúde fizeram várias greves nacionais nos últimos meses, e se preparam para uma greve mais ampla em maio.

Mais importante, este movimento operário, como em todo o mundo, ocorre em boa parte independentemente e contra os sindicatos. Alguns sindicatos, como o DİSK, são diretamente controlados pela pseudoesquerda. Os sindicatos trabalham em estreita parceria com a classe dominante para estrangular o crescente movimento da classe trabalhadora. Em sua oposição, o GSI chama à formação de comitês base independentes dos sindicatos como parte da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base.

Uma das ferramentas reacionárias utilizadas pela burguesia para reprimir a luta de classes e dividir os trabalhadores é a campanha anti-refugiados. Refugiados vulneráveis, forçados a deixar seus países pelas guerras imperialistas, especialmente na Síria, têm se tornado cada vez mais o alvo de todo o establishment político.

O GSI rejeita veementemente os apelos para “mandar os refugiados a seus países” feitos pela oposição burguesa apoiada pela pseudoesquerda. Os trabalhadores não podem se unir e lutar contra a burguesia sem defender os refugiados e se opor ao chauvinismo nacional. Todos refugiados e imigrantes devem poder viver e trabalhar no país que quiserem, incluindo a Turquia, com plenos direitos de cidadania.

A perseguição estatal aos réus no caso do Parque Gezi também tem o objetivo de intimidar a crescente oposição social dos trabalhadores. Os protestos do Parque Gezi contra a desigualdade e as políticas autoritárias, em que milhões participaram em 2013, sacudiu o governo Erdoğan. Erdoğan processou dezenas de figuras públicas envolvidas nos protestos. Após sua absolvição em 2020, ele retomou o processo. Duras sentenças foram impostas contra os réus na última segunda-feira.

Hoje, todo o establishment político, incluindo a pseudoesquerda, se une para impedir que a crescente revolta e oposição operária irrompa em um movimento revolucionário de massas. Enquanto o odiado governo Erdoğan tenta sobreviver através de políticas de guerra e repressão, a oposição burguesa tenta canalizar a crescente oposição social para as próximas eleições.

O GSI insiste que os partidos da burguesia turca, profundamente ligada ao imperialismo, são organicamente incapazes de resolver os problemas das massas trabalhadoras e oprimidas.

A luta contra a política pandêmica assassina, a guerra imperialista, a ditadura e a desigualdade social significa lutar pelo poder dos trabalhadores e pelo socialismo internacional, e contra o capitalismo e o domínio burguês. Chamamos todos os ouvintes a construírem o CIQI e seus Partidos Socialistas pela Igualdade, a única tendência política que defende este programa no mundo.

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