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Morenistas espanhóis da CRT denunciam estratégia de “COVID Zero” da China

O artigo abaixo foi publicado originalmente em 13 de abril de 2022, quando a China começava as medidas contra o surto da variante Omicron do novo coronavírus na cidade de Xangai. Sua significância é renovada diante do triunfo da estratégia de eliminação do vírus na cidade, que mais uma vez expôs organizações pequeno-burguesas como a CRT e seus afiliados que publicam o site Esquerda Diário no Brasil como peões da ofensiva imperialista contra a China, e corresponsáveis pelas milhões de vítimas do coronavírus na Europa, EUA e América Latina.

Os pseudoesquerdistas morenistas da Corrente Revolucionária de Trabalhadores da Espanha (CRT) continuam sua campanha para demonizar a política de “COVID Zero” da China e pedir o fim de todas as restrições necessárias para conter a pandemia em escala global.

Em um artigo de 28 de março em seu site Izquierda Diario intitulado “China bloqueia metade da megacidade de Xangai como resultado do aumento dos casos de coronavírus”, a CRT inadvertidamente revela as razões de sua oposição a uma estratégia de eliminação do vírus. O fechamento de Xangai, escreve, é “o maior confinamento de uma população em um centro urbano desde o início da pandemia”. A organização manifesta preocupação que, como a cidade é “o centro financeiro e importante centro logístico”, possa haver “fortes repercussões não só na economia chinesa, mas no mundo.”

Profissional de saúde diante de paciente de COVID-19 no Hospital Universitário de Torrejon, em Torrejon de Ardoz, Espanha, terça-feira, 6 de outubro de 2020 [Crédito: AP Photo/Manu Fernandez]

A CRT então cita sem críticas os comentários de “especialistas” anti-lockdown atuando na China, que expressam preocupações sobre o impacto de um bloqueio nos lucros empresariais. A CRT afirma: “Apenas um dia antes do anúncio do confinamento em uma zona da cidade, especialistas que lideram os esforços de prevenção contra a pandemia na cidade declararam que Xangai ‘não poderia se fechar por causa de sua importante função na economia e no desenvolvimento da China e de seu impacto global.’”

A CRT está muito mais preocupada com as consequências de um confinamento para os saldos bancários das grandes empresas do que com a saúde e a vida dos trabalhadores na China e internacionalmente. Durante toda a pandemia, ela tem agitado consistentemente contra medidas de restrição e alinhado-se com a política do governo de coalizão entre Partido Socialista (PSOE) e Podemos, que se recusou a seguir uma política cientificamente orientada para eliminar o vírus, e ao invés disso deu prioridade aos interesses dos bancos e das grandes empresas da Espanha.

O resultado desta política foi a morte e o contágio em massa, com mais de 100.000 pessoas morrendo do vírus somente na Espanha, com quase 12 milhões de infecções registradas – cerca de um quarto dos habitantes da Espanha. Na China, pelo contrário, uma sociedade de massa com uma população de mais de 1,4 bilhão de pessoas, menos de 5.000 pessoas morreram.

Apresentando falsamente as recentes medidas de isolamento do governo chinês na cidade de Xangai como uma violação autoritária das liberdades sociais, a CRT se expõe mais uma vez como proponente da política anti-científica e assassina de “imunidade de rebanho” adotada por todos os principais governos capitalistas. Ela afirma:

“A política de ‘COVID Zero’ promovida pelo governo chinês envolveu desde o início um aumento das políticas repressivas e liberticidas contra a população em geral [ênfase nossa]”. E continua: “Entretanto, até este ponto, não foi capaz de combater o aumento significativo de infecções em algumas das principais cidades como ocorreu no mês passado, e em meio a uma situação econômica complicada... da qual eles pensavam que começariam a sair neste ano.”

Embora a política de saúde seguida pelo governo chinês não seja “liberticida”, a promovida pelos morenistas é francamente homicida. Se o governo chinês abandonasse os esforços para eliminar o vírus ou mesmo para limitar seu impacto, milhões de pessoas morreriam.

De acordo com um relatório do Centro Chinês para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) que modelou diferentes cenários para a pandemia na província de Guangdong, a sudeste do país, haveria 500 mortes somente em Guangdong ao longo de 2022, caso uma estratégia de “mitigação” fosse adotada em lugar da atual política de “eliminação.” Em uma extrapolação para toda a China, 600.000 pessoas seriam infectadas e mais de 5.500 provavelmente pereceriam este ano.

Sob o cenário de “coexistência” do CDC, comparável à política de “imunidade de rebanho” que está sendo seguida na Espanha, Europa, EUA e em outros lugares, cerca de 1,35 milhão de pessoas morreriam de COVID-19 na China antes do final do ano.

O artigo da CRT vem em um momento em que países de todo o mundo acabaram com todas ou quase todas as suas medidas de mitigação de pandemia, mesmo enquanto os casos de coronavírus permanecem elevados ou começam a subir novamente. Na Espanha, cerca de 10.000 pessoas estão sendo infectadas pelo vírus todos os dias, números que são sabidamente uma subestimação significativa, dado o fim dos testes sistemáticos e do rastreamento de contatos por parte do governo espanhol.

No mês passado, o governo da coalizão PSOE-Podemos suspendeu a exigência de testes para todos os casos suspeitos de coronavírus. Desde 28 de março, os testes só são recomendados para pessoas vulneráveis, em casos graves ou em instalações de saúde e assistência social, e não é mais obrigatório o isolamento dos infectados com o vírus.

Em um outro artigo publicado em 11 de abril, a CRT continua suas denúncias de que a estratégia de eliminação da China é “repressiva”. Ele se concentra nos relatos de que trabalhadores fabris foram obrigados a viver no local de trabalho a fim de mantê-los operacionais e que outros trabalhadores essenciais estão trabalhando em condições difíceis. Começa assim:

A política de “COVID Zero” do governo chinês, que inclui o fechamento total de cidades e maior repressão, está gerando descontentamento em centros como Xangai. Enquanto milhões estão confinados em seus prédios e apartamentos, trabalhadores industriais vivem em suas fábricas para continuar produzindo, trabalhadores de entregas dormem na rua e trabalham o dia todo e o pessoal médico morre por excesso de trabalho.

Ao invés de criticar como uma concessão reacionária às grandes empresas o fato de que os trabalhadores em fábricas não essenciais são forçados a continuar trabalhando em condições perigosas, a CRT a denuncia como parte de seu ataque mais amplo às medidas de saúde pública. Ela não exige que esses trabalhadores possam permanecer em casa até que seja seguro voltar ao trabalho. Em vez disso, implica que as políticas de isolamento doméstico devem ser suspensas, permitindo que todos os trabalhadores sejam arrastados de volta às fábricas e outros locais de trabalho para serem infectados pelo vírus potencialmente letal.

Quanto aos trabalhadores da saúde, a CRT não declara qual seria o impacto sobre esta seção da força de trabalho se as medidas de bloqueio fossem suspensas, o que permitiria que o vírus se espalhasse sem restrição pela vasta população da China, causando uma contaminação generalizada e sobrecarregando os hospitais.

Embora tenha escrito dois artigos nas últimas duas semanas condenando a China por implementar uma estratégia cientificamente orientada para combater a COVID-19, a CRT praticamente ignorou a pandemia na Espanha, na Europa e no resto do mundo. Nisto, eles não estão sozinhos: a imprensa burguesa espanhola praticamente interrompeu os relatos sobre o impacto do vírus, ao mesmo tempo em que publica coluna atrás coluna condenando a estratégia de “COVID Zero” da China.

Artigos recentes na imprensa corporativa incluem “Protestos e lutas revelam o cansaço do povo chinês com a política de COVID Zero,” em La Voz de Galicia. O El País, alinhado ao PSOE, por sua vez, publicou em 30 de março a manchete: “O descontentamento se instala na população de Xangai quanto ao fechamento de ferro contra a COVID”. E um artigo do direitista El Mundo do mesmo dia proclama: “A onda da Omicron na China intensifica as medidas anti-COVID: sensores na porta da casa para evitar a evasão de quarentena”.

O momento da agitação da CRT contra a China também é significativo. Ela vem em meio a esforços incansáveis da classe dominante nos países imperialistas para provocar uma histeria de guerra anti-Rússia a fim de promover uma escalada militar maciça cujo alvo final é a China, bem como a Rússia. Ao apoiar a campanha reacionária da elite dominante contra a política de “COVID Zero” da China, a CRT não só está demonstrando seu desprezo pela vida e pela saúde dos trabalhadores, mas também se alinhando com o belicismo anti-China das potências imperialistas.

A guerra que deve ser travada não é contra a Rússia ou a China, mas contra a COVID-19. Tal luta exige que os trabalhadores rompam de forma decisiva com o governo PSOE-Podemos e seus apoiadores, como a CRT.

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