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Casos de COVID-19 explodem nas escolas brasileiras

O início da quarta onda da pandemia de COVID-19 no Brasil tem sido marcado pelo enorme aumento de casos entre professores, alunos e funcionários de escolas. Refutando a alegação da elite dominante brasileira e mundial de que escolas são seguras, nas últimas semanas, inúmeras escolas de todo o país suspenderam as aulas presenciais e algumas cidades voltaram a obrigar o uso de máscaras em salas de aula.

Depois de uma onda explosiva da Ômicron no início do ano, o número de casos de COVID-19 voltou a crescer no Brasil ao longo de maio. Na quarta-feira, foram registradas uma média móvel de 36.629 casos e 122 mortes – um aumento de, respectivamente, 112% e 13% em relação a duas semanas atrás. Esses números, no entanto, são enormemente subestimados. Além da enorme subnotificação, muitos estados brasileiros nas últimas semanas não informaram os dados da pandemia devido a supostos problemas técnicos.

“Nunca navegamos tão às escuras”, declarou à Folha de S. Paulo o infectologista Fernando Spilki. “Testa-se e registra-se muito pouco. Além disso, com a possibilidade [recente] de autoteste... vários casos acabam não sendo registrados”, ele explicou.

No que chamou de “receita para o desastre”, o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis alertou no Twitter em 26 de maio: “Este é um dos momentos de maior risco da pandemia, basicamente porque todas as medidas de contenção da transmissão do vírus foram eliminadas, a janela de imunidade criada pelas vacinas está fechando, novas variantes estão circulando sem barreiras.”

De fato, hoje no Brasil predomina a subvariante mais infecciosa e resistente à vacina BA.2 da Ômicron, mas também já foram identificados casos das subvariante BA.4 e BA.5, responsáveis pelo aumento de casos na África do Sul e Europa. Apesar de permanecer obrigatório no transporte público e hospitais, o uso de máscaras nas salas de aula e em outros lugares fechados foi abolido no início de abril em todos os estados brasileiros. A vacinação está estagnada, com 77,4% dos brasileiros com as duas doses e apenas 44% da população com a dose de reforço. Essa situação fez a taxa de transmissão crescer desde meados de abril, atingindo 1,48 em 1˚ de junho.

É nessas condições que o novo coronavírus tem se espalhado como rastilho de pólvora nas escolas brasileiras. Longe de serem uma surpresa, surtos em escolas são mais uma confirmação clara do papel delas na propagação da COVID-19. E, como também aconteceu antes, a manutenção de escolas abertas está impulsionando esta quarta onda da pandemia no Brasil.

No entanto, mesmo com a perspectiva de um agravamento da pandemia nas próximas semanas, os governos municipais e estaduais no Brasil estão fazendo de tudo para acostumarem a população a “viver” com a COVID-19. Poucas cidades voltaram a obrigar o uso de máscaras em salas de aula, mesmo que inúmeros estudos científicos apontem que uma medida simples como essa pode conter até 80% da transmissão do vírus.

Isso é particularmente verdadeiro em São Paulo, o estado mais rico e centro financeiro do Brasil. Segundo dados do próprio governo do estado, houve um aumento de 370% nos casos de COVID-19 nas escolas estaduais desde o início de maio. Mesmo prevendo que as internações tripliquem esta semana depois de um aumento de 120% ao longo do mês passado, na quarta-feira passada o suposto Comitê Científico de combate à pandemia no estado voltou a apenas recomendar o uso de máscaras em lugares fechados.

Em vários grupos no Facebook, milhares de professores de São Paulo se manifestaram nos últimos dias, comentando os surtos recentes e defendendo o fechamento de escolas. Uma professora escreveu no comentário de uma postagem: “7 professores pegaram Covid na escola que trabalho, inclusive eu... Os familiares dos professores também se infectaram, inclusive minha mãe de 82 anos... Eu acho que quando é necessário, deve-se sim fechar para evitar um surto... Esta doença não é brincadeira não, perdi meu irmão há um ano... Além do mais, é sabido que ela causa sequelas.”

Na escola de outra professora, onde “várias turmas com atividades presenciais [foram] suspensas, tivemos 3 bebês internados por SRAG. SME [Secretaria Municipal de Educação] age com negacionismo, não atualizando o protocolo e [não] exigindo o uso de máscaras... A realidade está aí, 4a onda, escolas fechadas [pela doença] e não temos sequer um olhar ou cuidado para a primeira infância, que ainda não foi imunizada.”

De fato, particularmente preocupante é o aumento de casos e internações devido à COVID-19 em crianças nesta nova onda. No Ceará, um dos quatro estados brasileiros governados pelo Partido dos Trabalhadores (PT), mais da metade dos casos de COVID-19 do mês passado aconteceram em crianças de até 9 anos de idade. Em 1˚ de junho, apenas três dos 226 leitos pediátricos de UTI no estado não estavam ocupados. No Distrito Federal, onde inúmeras escolas foram obrigadas a suspender as aulas presenciais nas últimas semanas, 100% dos leitos pediátricos de UTI estavam ocupados no início deste mês. Os estados de Pernambuco, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina estão passando por situações parecidas.

O resultado dessa política de deixar o vírus se espalhar, particularmente utilizando a reabertura precoce de escolas para infectar crianças e alcançar uma suposta imunidade de rebanho por contágio, tem produzido resultados trágicos no Brasil. Em 2020 e 2021, foram registradas 2.625 mortes de crianças e jovens entre zero e 19 anos de idade, uma média de quatro óbitos por dia. Entre janeiro e maio deste ano, apenas entre a faixa etária de zero a quatro anos, foram registradas quase 300 mortes por COVID-19. Esse número é o dobro do que no mesmo período do ano passado, e desmente a alegação amplamente difundida pela mídia brasileira e mundial no início deste ano de que a Ômicron é “leve”.

Porém, essa situação não poderia ter sido alcançada sem a ajuda dos sindicatos brasileiros, que desde o primeiro momento alinharam-se aos interesses da elite dominante em manter escolas e locais de trabalho abertos durante uma pandemia fora de controle. Ignorando totalmente os riscos colocados pela COVID-19, a ação dos sindicatos em meio a esse novo surto é uma combinação de um silêncio complacente e recomendações cosméticas aos governos capitalistas.

O site da Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação (CNTE) – filiada à CUT, a central sindical controlada pelo PT – apenas no final de maio, com o aumento de casos nas escolas de São Paulo, quebrou um silêncio de três meses e voltou a reportar sobre a pandemia de COVID-19. No ano passado, um manifesto da CNTE, ignorando todo o conhecimento científico acumulado desde o início da pandemia sobre o papel de escolas e crianças na transmissão comunitária, tinha proposto que “Em situações de estabilidade ou decréscimo dos indicadores epidemiológicos ... as consequências nocivas dessas medidas [de controle da pandemia, incluindo o fechamento de escolas] superam os riscos diretos decorrentes da coronavirose.” Hoje, escolas abertas em uma suposta “situação de estabilidade” foram as responsáveis por impulsionar esta quarta onda da pandemia.

Já o maior dos sindicatos de professores do Brasil, a APEOESP, avançou a demanda “Pela volta dos protocolos sanitários nas escolas”, recomendando ainda que os professores usem máscaras. Da mesma maneira que a CNTE, ela ignora tanto o que a ciência há muito tempo estabeleceu tanto dentro quanto fora das salas de aula: em escolas com uma precária infraestrutura, os protocolos sanitários são mais do que insuficientes para controlar um vírus que se propaga predominantemente pelo ar através de aerossóis, além de a transmissão comunitária crescer exponencialmente com o aumento da mobilidade urbana devido à abertura de escolas.

Porém, de maneira mais significativa, a CNTE, a APEOESP e outros sindicatos brasileiros têm agido para desmobilizar uma raiva crescente dos professores acumulada desde o início da pandemia, agora agravada pela inflação cada vez maior. Ao longo do primeiro semestre do ano passado, antes e em meio a uma segunda onda mortal, eles sabotaram greves em “defesa da vida” que exigiam o fechamento de escolas para conter a pandemia. Mais recentemente, em março e abril, os sindicatos isolaram dezenas de greves de professores que estouraram por todo o Brasil exigindo que governos municipais e estaduais cumprissem a lei do piso salarial nacional.

Neste terceiro ano de uma pandemia que está longe de acabar, os professores e a classe trabalhadora brasileira devem assimilar as demandas fundamentais que apenas o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) tem avançado com base em uma cuidadosa análise científica da pandemia de COVID-19 e da transformação dos sindicatos em agências do capitalismo com o processo de globalização.

O CIQI tem alertado que, caso o novo coronavírus não seja eliminado, todo o sofrimento e morte causados pela pandemia continuarão anos a fio. A política de eliminação, que articula todas as medidas de mitigação, como o isolamento social, a vacinação da população e o fechamento de escolas, é a única que responde aos desafios colocados por um vírus tão infeccioso e mutável como o da COVID-19. Ela tem sido implementada com sucesso na China desde o início da pandemia, e recentemente sua política de COVID zero conseguiu praticamente zerar as transmissões em Xangai. Porém, caso não seja implementada globalmente, todos os países – incluindo a China –estarão ainda suscetíveis a novos surtos.

Em abril do ano passado o WSWS e o CIQI lançaram a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB). Partindo da consideração de que os sindicatos deixaram de defender os interesses dos trabalhadores que alegam representar e que ao longo de toda a pandemia ajudaram a implementar a política homicida da elite dominante, a AOI-CB surgiu para “desenvolver a estrutura de novas formas de organizações de base independentes, democráticas e militantes de trabalhadores em fábricas, escolas e locais de trabalho em escala internacional” e colocar um fim à pandemia de COVID-19. Como parte dessa aliança, foi criado em setembro do ano passado o Comitê de Base pela Educação Segura no Brasil.

Neste início de quarta onda no Brasil, nós fazemos um chamado a todos os professores, alunos e pais, assim como a classe trabalhadora brasileira como um todo, para romperem com os sindicatos e lutarem pela eliminação global da COVID-19. Sigam a página do Comitê no Facebook e entrem em contato conosco imediatamente para fazerem parte dessa luta.

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