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Perspectivas

Um chamado para a juventude em todo o mundo: Construir um movimento de massas para deter a guerra na Ucrânia!

Publicado originalmente em 4 de novembro de 2022

A Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social irá realizar uma reunião internacional online no sábado, 10 de dezembro, para construir um movimento global contra a guerra. Inscreva-se aqui.

A Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social – o movimento estudantil e de juventude dos Partidos Socialistas pela Igualdade, as seções nacionais do Comitê Internacional da Quarta Internacional – está fazendo um chamado para a construção de um movimento global de massa da juventude para acabar com a escalada imprudente em direção à Terceira Guerra Mundial.

Soldados americanos fazem fila durante a visita do Secretário-Geral da OTAN Jens Stoltenberg e do Presidente romeno Klaus Iohannis à base aérea Mihail Kogalniceanu, perto da cidade portuária do Mar Negro de Constanta, no leste da Romênia, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022. (AP Photo/Andreea Alexandru) [AP Photo/Andreea Alexandru]

A guerra deve ser detida antes que resulte em uma catástrofe global. A interação do militarismo imperialista da OTAN – perseguindo imprudentemente sua agenda geopolítica global, quaisquer que sejam as consequências – e o crescente desespero do regime capitalista oligárquico da Rússia ameaçam se transformar em um conflito nuclear.

A esperança de que a “razão irá prevalecer” e a guerra em breve acabe através de uma negociação é uma ilusão politicamente paralisante e perigosa. A OTAN não quer “paz”. Ela quer guerra. Tendo provocado deliberadamente o conflito através de décadas de expansão da OTAN em direção às fronteiras da Rússia e armando maciçamente seu corrupto regime satélite em Kiev, as potências imperialistas estão determinadas a explorar ao máximo a invasão mal calculada, politicamente reacionária e desastrosa do Kremlin da Ucrânia.

Acreditando que uma vitória militar sobre a Rússia é possível, a OTAN está passando por cima de todas as “linhas vermelhas” russas. Durante a maior parte do período após a Segunda Guerra Mundial – e particularmente após o desenvolvimento das bombas de hidrogênio na década de 1950 – a percepção de que a guerra nuclear ameaçava a extinção da civilização humana levou à conclusão política de que as armas nucleares nunca seriam usadas porque nenhum lado sairia vencedor em tal conflito. A doutrina da “Destruição Mutuamente Assegurada” – com a sigla em inglês autoexplicativa MAD – era um princípio militar operacional.

Mas o princípio de que uma guerra nuclear não pode ser vencida e só pode ser iniciada por loucos foi abandonado. Apesar da probabilidade de que a guerra nuclear resulte em aniquilação da sociedade, a MAD foi substituído pela doutrina criminalmente insana de “E DAÍ!”. Quando os EUA e as potências da OTAN divulgam publicamente que não serão “intimidadas” pela possibilidade de uma guerra nuclear, isso significa que suas políticas e ações não serão restringidas nem mesmo pelo perigo de uma catástrofe nuclear.

As lições da história

Para entender a escala do perigo presente, as experiências do passado devem ser lembradas. Não há nenhuma barbárie que a classe dominante, em busca de poder global, lucros corporativos e riqueza pessoal, não seja plenamente capaz de realizar.

O imperialismo surgiu no início do século XX com o desenvolvimento de grandes corporações industriais e o crescimento gigantesco dos bancos internacionais e do capital financeiro. África, Oriente Médio, Ásia e América Latina foram submetidos à tirania do colonialismo. As grandes potências disputavam uma posição dominante na luta pelo controle dos mercados, das matérias-primas e do trabalho. O resultado dessa luta foi uma guerra global em uma escala, e com um nível de violência, sem precedentes na história da humanidade.

Soldados franceses na trincheira em Verdun

A Primeira Guerra Mundial, que eclodiu em 1914, resultou na morte de mais de 20 milhões de pessoas. O imperialismo apresentou ao mundo os horrores da guerra de trincheiras, uma série de gases tóxicos e as inovações técnicas assassinas de bombardeios aéreos, submarinos armados com torpedos e tanques.

Mas os horrores desse conflito global foram apenas um prelúdio para a barbárie da Segunda Guerra Mundial, que começou em 1939, apenas 21 anos após o fim da Primeira Guerra Mundial. A Segunda Guerra Mundial testemunhou, através de uma política oficial e deliberada, o extermínio em massa de populações civis. Isso incluiu o genocídio do Holocausto e o bombardeio de grandes cidades (Dresden e Hamburgo na Alemanha, Tóquio no Japão), e culminou no lançamento de bombas atômicas pelos Estados Unidos em Hiroshima e Nagasaki. A escala da morte praticamente desafiou a compreensão humana. O número de mortos é estimado em até 85 milhões de pessoas, incluindo 6 milhões de judeus, cerca de 27 milhões de cidadãos da União Soviética e 20 milhões de chineses.

Judeus alemães sendo forçados a apagar slogans antijudaicos feitos por tropas de assalto nazistas

Agora, na terceira década do século XXI, há um impulso louco em direção a um terceiro conflito global, envolvendo o uso de armas nucleares, que levaria à morte não de dezenas de milhões, mas de centenas de milhões, e possivelmente até bilhões de pessoas. O presidente dos Estados Unidos, mesmo reconhecendo que a guerra poderia resultar no “Armagedom”, tem continuado e intensificado a escalada do conflito.

Com a guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia, o imperialismo está avisando que um conflito ainda maior está sendo preparado. Em documentos publicados em outubro de 2022, descrevendo os objetivos estratégicos do imperialismo dos EUA, o governo Biden reconheceu sem rodeios que o conflito na Ucrânia é apenas um prelúdio para um confronto com a China.

Em agosto passado, quando Biden anunciou a retirada das tropas americanas do Afeganistão, ele disse que era o fim da “guerra para sempre”. Agora, os EUA estão envolvidos em uma guerra que pode acabar com a vida para sempre.

Qualquer um que acredite que a classe dominante não está preparada para sacrificar dezenas de milhões de vidas em busca de seus interesses geopolíticos precisa apenas considerar a experiência dos últimos dois anos e meio. Em resposta à pandemia de COVID-19, a oligarquia corporativa e financeira rejeitou as medidas mais básicas de saúde pública necessárias para conter a propagação do vírus porque afetavam os lucros. Mais de 20 milhões de pessoas morreram como resultado, mais de 1 milhão delas nos Estados Unidos.

Todas as justificativas dadas pelos governos imperialistas que realizam esta guerra cheiram a mentiras e hipocrisia.

As causas e os interesses que levaram à eclosão da guerra na Ucrânia não podem ser compreendidos se o conflito for visto como um episódio isolado, desvinculado de eventos que antecederam a data da invasão russa e fora de um contexto histórico mais amplo. A responsabilidade pela guerra não pode ser determinada identificando quem “disparou o primeiro tiro”. Ainda mais absurdas são as tentativas de explicar a guerra como o resultado das ações de indivíduos isolados. Todas as guerras travadas pelos Estados Unidos nas últimas três décadas foram justificadas como cruzadas morais contra um ou outro “monstro”: Saddam Hussein no Iraque, Slobodan Milosevic na Sérvia, Bashar al-Assad na Síria, Muammar Gaddafi na Líbia, etc. O atual “monstro” é Vladimir Putin, e novos demônios irão aparecer em função da necessidade geopolítica. A demonização de Xi Jinping da China já está em andamento.

Os Estados Unidos e seus aliados da OTAN estão travando uma guerra imperialista

As campanhas de propaganda contra um ou outro líder político individual não explicam as origens das guerras travadas pelo imperialismo, muito menos a causa do atual conflito na Ucrânia.

A guerra por procuração que está sendo travada pelos Estados Unidos e seus aliados da OTAN é, em sua essência econômica e geopolítica, imperialista. Os Estados Unidos e a OTAN não se importam com a democracia na Ucrânia ou com o destino do povo ucraniano, que está sendo usado como bucha de canhão. Como aconteceu na Primeira Guerra Mundial e na Segunda Guerra Mundial, o objetivo fundamental da guerra é reorganizar o globo e redistribuir seus recursos entre as potências imperialistas.

Imagem da OTAN mostrando o “flanco oriental” da aliança militar. [Foto: OTAN] [Photo: NATO]

A guerra dos EUA e da OTAN na Ucrânia representa a continuidade e a escalada para um nível novo e mais perigoso das guerras instigadas pelos Estados Unidos nas últimas três décadas. Buscando reverter o declínio econômico de longo prazo do capitalismo americano e suprimir as crescentes tensões internas, a classe dominante dos EUA vê a guerra e a conquista da hegemonia global como a única solução para seus problemas. Sua fúria militarista está confirmando a análise profética de Leon Trotsky às vésperas da Segunda Guerra Mundial sobre a trajetória histórica do imperialismo americano:

O mundo está dividido? Deve ser redividido. Para a Alemanha, tratava-se de “organizar a Europa”. Os Estados Unidos devem “organizar” o mundo. A história está colocando a humanidade cara a cara com a erupção vulcânica do imperialismo americano.

Desde a dissolução da União Soviética em 1991, os Estados Unidos têm visto a incorporação da Ucrânia na esfera de influência da OTAN como um elemento essencial de seus objetivos de longo prazo para desmantelar a Rússia, ganhando acesso irrestrito ao vasto suprimento de recursos estratégicos do país, obtendo o controle decisivo sobre a massa de terra da Eurásia e, com base nisso, acabar destruindo a capacidade da China de desafiar a hegemonia global do imperialismo americano. Existem inúmeros documentos do governo dos EUA e análises estratégicas de think tanks imperialistas, disponíveis online, nos quais esses objetivos criminosos são declarados abertamente.

Os EUA e as potências da OTAN provocaram a invasão pelo maciço armamento militar da Ucrânia, que se transformou em um virtual protetorado dos EUA, um membro da OTAN ainda que não oficialmente. Isso faz parte de uma expansão de décadas da aliança militar da OTAN na Europa Oriental, até as fronteiras da Rússia.

Ao denunciar a Rússia, os EUA e a OTAN emitem muitas declarações solenes sobre a santidade das fronteiras dos Estados nacionais, a carta das Nações Unidas e o direito da Ucrânia à “autodeterminação”. Nenhuma dessas preocupações foi levantada quando as potências dos EUA e da Europa desmembraram a Iugoslávia na década de 1990, culminando na guerra contra a Sérvia em 1999. Os Estados Unidos são o maior violador do princípio da “autodeterminação”, intervindo, bombardeando e invadindo países em função de seus interesses geopolíticos e econômicos.

Um prédio do governo pega fogo durante o bombardeio pesado de Bagdá, Iraque, por forças lideradas pelos EUA na noite de 21 de março de 2003. [AP Photo/Jerome Delay]

Em 2003, os militares dos EUA foram pioneiros no uso do termo “choque e pavor” para descrever a segunda guerra contra o Iraque, lançada com base em mentiras, que matou centenas de milhares de pessoas e destruiu toda uma sociedade.

Nas guerras do imperialismo americano – incluindo Afeganistão (2001), Líbia (2011) e Síria (2011), além da Iugoslávia e do Iraque – mais de 1 milhão de pessoas foram mortas e dezenas de milhões tornaram-se refugiados. Como parte da “guerra ao terror”, termos como “interrogatório aprimorado”, “Abu Ghraib”, “rendição extraordinária”, “afogamento simulado”, “Baía de Guantánamo”, “assassinato por drone” e “Terças do Terror” entraram no léxico global. Como senador dos EUA, o atual ocupante da Casa Branca, Biden, defendeu a participação americana em todas essas guerras.

A suposta preocupação de Washington com a “democracia” não é menos hipócrita e enganosa. O governo em Kiev foi instalado por uma operação de mudança de regime apoiada pelos EUA em 2014 e representa uma oligarquia ucraniana que está atropelando os direitos da classe trabalhadora. É aliado e promove organizações de extrema direita e fascistas, incluindo o Batalhão Azov, que tem suas origens no assassino em massa Stepan Bandera e nos colaboradores nazistas na Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial.

Apoiadores de partidos de extrema-direita carregam tochas e uma faixa com um retrato de Stepan Bandera durante um ato em Kiev, Ucrânia, em 1o. de janeiro de 2019. Na faixa pode-se ler: "Nada pode parar uma ideia que pertence ao futuro." [AP Photo/Efrem Lukatsky]

E enquanto o governo Biden justifica suas guerras no exterior invocando uma luta global pela “democracia” contra a ditadura, uma guerra contra a democracia está sendo travada pela classe dominante dos EUA em casa. O sistema democrático nos Estados Unidos está à beira do colapso. O próprio Biden alertou publicamente que é possível que o sistema constitucional existente não sobreviva até o final da década. O fascismo infectou a política americana. Faz pouco menos de dois anos que a tentativa de Trump, em 6 de janeiro de 2021, de estabelecer uma ditadura presidencial chegou muito perto de ser bem-sucedida.

A transformação do Partido Republicano em uma organização semifascista está ligada a um crescimento global da extrema direita, do governo liderado por Giorgia Meloni, admiradora de Mussolini, na Itália, passando pelo Rassemblement National de Marine Le Pen na França até o partido de Jair Bolsonaro no Brasil.

Junto com o colapso da democracia e o ressurgimento do fascismo, há uma glorificação aberta do militarismo e da guerra. Trilhões de dólares estão sendo investidos em programas de rearmamento. A classe dominante alemã, que invadiu a Ucrânia duas vezes no século XX e assassinou milhões de seus cidadãos, agora explora a guerra na Ucrânia como pretexto para triplicar seu orçamento militar. O mesmo desvio de recursos das necessidades sociais para a guerra está varrendo todos os países imperialistas.

O Reino Unido, a França e todas as potências da OTAN inundaram a Ucrânia com armas. O governo canadense, cuja vice-primeira-ministra, Chrystia Freeland, tem laços familiares diretos com a extrema direita ucraniana, está encabeçando a demanda para que a Ucrânia seja formalmente admitida na Otan. A Austrália, que apoia totalmente a guerra contra a Rússia, está se preparando para estar na linha de frente de qualquer conflito com a China.

Através da agressão e da intriga, as potências imperialistas procuram dominar e subordinar os Estados de todo o mundo às suas ofensivas estratégicas contra a Rússia e a China. No processo, eles estão incitando e inflamando inúmeros conflitos regionais que ameaçam se tornar gatilhos para uma guerra mundial. O esforço de Washington para transformar a Índia em um país na linha de frente contra a China, para dar apenas um exemplo, fez com que o conflito indo-paquistanês se tornasse indissociável do conflito entre os EUA e a China, acrescentando uma nova carga explosiva a ambos.

A intervenção reacionária da Rússia na Ucrânia

O caráter claramente imperialista da guerra por procuração dos EUA e da OTAN não legitima de forma alguma a invasão russa da Ucrânia, que a JEIIS se opõe e condena. Mas essa oposição é a da classe trabalhadora e da esquerda socialista, não da direita pró-imperialista. Há motivos suficientes, baseados em princípios socialistas, para condenar a invasão sem capitular à narrativa reacionária e enganosa inventada pela OTAN e pela mídia corporativa ocidental.

Fila de alimentos na URSS, 1991

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia é mais uma consequência desastrosa da traição stalinista à revolução socialista de Outubro de 1917, que culminou com a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (União Soviética) em 1991, a restauração do capitalismo e a criação de um regime oligárquico de ex-burocratas corruptos que se enriqueceram roubando bens que antes pertenciam ao Estado soviético. Putin é o representante dessa máfia capitalista reacionária.

Quando a burocracia stalinista dissolveu a URSS, os trabalhadores e a juventude da Rússia e da Europa Oriental foram informados de que isso daria início a um novo período de prosperidade e paz. Nada disso ocorreu. Não só o saque dos bens do Estado pelos apparatchiks transformados em oligarcas levou a um declínio maciço nos padrões de vida e na expectativa de vida, mas a Rússia agora se encontra cercada pelo imperialismo. A invasão da Ucrânia foi um esforço desesperado e desastrosamente mal calculado para pressionar os Estados Unidos a fazer concessões aos “interesses de segurança” da Rússia – isto é, ao direito dos oligarcas de saquear os vastos recursos do país sem interferência excessiva das potências imperialistas.

Não há dúvida de que a Rússia enfrenta uma ameaça existencial dos EUA e da OTAN. Mas foi a dissolução da União Soviética e a restauração do capitalismo que colocaram a Rússia na mira imperialista. Putin procura combater essa ameaça invocando o nacionalismo reacionário e místico da “Santa Rússia” czarista. Em vão. A política e a diplomacia inspiradas na Rússia czarista, derrubada em 1917, dificilmente servirão de modelo para a política externa em 2022.

Putin culpou explícita e repetidamente a Revolução de Outubro e o regime bolchevique liderado por Lenin e Trotsky por criar as bases de uma Ucrânia moderna independente da Rússia. O que Putin, um russo chauvinista e antissocialista, despreza é que a URSS tenha sido fundada em 1922, cinco anos depois da revolução, como uma união voluntária de repúblicas socialistas. A União Soviética, baseada no poder operário, estava profundamente comprometida com a defesa dos direitos democráticos e nacionais de todas as nacionalidades oprimidas pelo regime czarista. A degeneração burocrática da União Soviética, personificada na ascensão de Stalin ao poder, encontrou expressão particularmente aguda na violação e supressão das aspirações democráticas legítimas das minorias nacionais dentro da URSS. O chauvinismo nacional do atual governo russo está enraizado historicamente não apenas nas tradições reacionárias do czarismo, mas também nas do stalinismo.

Leon Trotsky, fundador da Quarta Internacional

A JEIIS, fiel às tradições do marxismo revolucionário e do internacionalismo socialista, rejeita todas as justificativas para a guerra baseadas no conceito obsoleto de “defesa nacional”. Nossa posição se aplica tanto à Rússia quanto à Ucrânia. Somos pela unidade dos trabalhadores russos e ucranianos contra as políticas de guerra de Putin e Zelensky. Ao nos opormos ao chauvinismo reacionário de ambos os regimes, chamamos a atenção para as palavras de Trotsky:

Se o atual Estado nacional representasse um fator progressista, teria que ser defendido independentemente de sua forma política e, claro, independentemente de quem “começou” a guerra. É absurdo confundir a questão da função histórica do Estado nacional com a questão da “culpa” de um determinado governo. Pode-se recusar salvar uma casa que pode ser utilizada para morar só porque o fogo começou por descuido ou por má intenção do proprietário? Mas aqui é precisamente o caso de uma determinada casa ser adequada não para viver, mas apenas para morrer. Para permitir que os povos vivam, a estrutura do Estado nacional deve ser destruída até seus fundamentos.

Um “socialista” que prega a defesa nacional é um reacionário pequeno-burguês a serviço do capitalismo decadente. Não se vincular ao Estado nacional em tempo de guerra, seguir não o mapa da guerra, mas o mapa da luta de classes, só é possível para aquele partido que já declarou guerra irreconciliável ao Estado nacional em tempo de paz. Somente realizando plenamente o papel objetivamente reacionário do Estado imperialista pode a vanguarda proletária tornar-se invulnerável a todos os tipos de social-patriotismo. Isso significa que uma ruptura real com a ideologia e a política de “defesa nacional” só é possível do ponto de vista da revolução proletária internacional. [A guerra e a Quarta Internacional, 1934]

A juventude deve lutar pelo futuro!

A juventude encarna e representa a esperança e a promessa do futuro. Mas na busca imprudente de objetivos econômicos e geopolíticos, o capitalismo está colocando em risco a própria sobrevivência da humanidade. Quatrocentos anos atrás, o Hamlet de Shakespeare colocou a questão existencial fundamental: “Ser ou não ser?” No mundo atual, essa questão é levantada não como uma questão de especulação filosófica, mas sim como o supremo desafio político que a humanidade enfrenta. Além do perigo de uma guerra nuclear, as mudanças climáticas e as futuras pandemias ameaçam a vida de centenas de milhões de pessoas nas próximas décadas. A classe trabalhadora deve acabar com o capitalismo antes que o capitalismo acabe com o mundo.

A Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social defende os seguintes princípios estratégicos como base para a construção de um movimento poderoso contra a guerra na Ucrânia e sua escalada em direção a uma Terceira Guerra Mundial nuclear.

A guerra será interrompida não por apelos e protestos dirigidos à classe dominante e seus governos, mas pela mobilização política da classe trabalhadora internacional. A classe trabalhadora, cuja exploração é a fonte de todo lucro, constitui a grande maioria da população mundial. Ela não tem interesse na guerra. São os trabalhadores, e particularmente os trabalhadores jovens, que servirão como bucha de canhão em uma nova guerra mundial.

A guerra já produziu um declínio maciço nos padrões de vida dos trabalhadores em todo o mundo, contribuindo para o aumento da inflação, que está deixando os trabalhadores incapazes de pagar pelas necessidades básicas. A crise criada pelo colapso nos padrões de vida levou a uma onda global da luta de classes – nos EUA, Europa, América Latina, Oriente Médio e África.

Embora gaste trilhões de dólares todos os anos em equipamentos de guerra, a classe dominante alega que não há dinheiro disponível para financiar programas sociais críticos para a classe trabalhadora, incluindo educação pública, ou pagar salários decentes e fornecer assistência médica. A escalada da guerra é inevitavelmente acompanhada pelo empobrecimento de camadas cada vez mais amplas da classe trabalhadora.

A JEIIS denuncia todas as organizações que fraudulentamente alegam ser socialistas enquanto servem como os mais inflexíveis apoiadores do imperialismo dos EUA e da OTAN, dos Socialistas Democráticos da América (DSA) nos EUA, passando pelo partidos Verde e A Esquerda na Alemanha até o Syriza na Grécia e o Podemos na Espanha.

Sob o slogan falso e reacionário de defender a “soberania ucraniana”, esses grupos criticaram as potências dos EUA e da OTAN não por armarem a Ucrânia até os dentes e travarem uma guerra por procuração contra a Rússia, mas por não fornecerem armas suficientes. Durante décadas, as organizações da pseudoesquerda promoveram a política de divisão racial e de gênero, particularmente nos campi, para dividir a classe trabalhadora enquanto ajudavam as camadas sociais de classe média alta pelas quais falam em sua luta para garantir posições e riqueza. Agora eles estão se expondo como defensores abertos do imperialismo.

Quanto às burocracias sindicais, o chamado “movimento sindical”, composto por milhares de dirigentes de classe média alta, seu apoio à guerra é o outro lado de sua hostilidade à classe trabalhadora e seu papel como instrumentos de gestão corporativa.

A JEIIS rejeita o programa reacionário de “defesa nacional” por duas razões fundamentais.

Em primeiro lugar, o Estado nacional é um anacronismo histórico, incompatível com o desenvolvimento de uma economia global integrada e interdependente. Coloca uma camisa de força no desenvolvimento das forças produtivas e sua utilização pacífica e produtiva por toda a humanidade.

Em segundo lugar, os apelos à “unidade nacional” baseiam-se na negação de que todos os Estados nacionais são marcados pelo conflito de classes, com todo o poder nas mãos das elites capitalistas que controlam os governos e utilizam o poder do Estado para promover seus interesses econômicos. A política externa perseguida pelos Estados imperialistas – a busca implacável e violenta pelo controle dos recursos do mundo – é a extensão em escala global da busca por lucros e riqueza dos capitalistas dentro de “seus próprios” países.

A oposição da classe trabalhadora ao chauvinismo nacional e às guerras travadas sob a bandeira do “interesse nacional” e outros slogans hipócritas (como “democracia” e “direitos humanos”) não se baseia apenas em considerações morais. Em vez disso, as massas de trabalhadores compõem uma classe internacional, cujos interesses comuns transcendem os Estados nacionais. No sentido histórico e econômico mais profundo, a classe trabalhadora não tem pátria.

Protestantes se reúnem nas ruas no caminho da residência presidencial oficial em Colombo, Sri Lanka em 9 de julho de 2022 [AP Photo/Amitha Thennakoon]

A globalização da produção levou a um rápido crescimento da classe trabalhadora em todo o mundo, incluindo não apenas as centenas de milhões de novos trabalhadores na Ásia, América Latina e África, mas também amplas camadas da população, incluindo a juventude, que foram proletarizados nos principais países capitalistas. Ao mesmo tempo, os extraordinários avanços nas telecomunicações nas últimas três décadas permitiram que os trabalhadores e a juventude se comunicassem através das fronteiras nacionais e organizassem suas lutas com base em um programa comum e um plano de ação comum.

Em reconhecimento a essa realidade global, a Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social luta para unir a juventude e os estudantes de todo o mundo em uma luta comum para se voltar para a classe trabalhadora e construir um movimento para abolir o capitalismo.

Não à guerra! Construir a Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social!

Três décadas atrás, após a dissolução da União Soviética, os ideólogos da classe dominante proclamaram “O Fim da História”. O significado desse slogan era que a suposta “vitória” do imperialismo na Guerra Fria provou que não poderia haver alternativa ao capitalismo. O sistema de Estados nacionais, a propriedade privada dos meios de produção, o sistema de lucro e a democracia burguesa marcaram o estágio mais alto e final do desenvolvimento social.

A tese do “Fim da História” foi a atualização capitalista da visão aterrorizante de Dante do Inferno: “Abandone toda a esperança, você que entra aqui”. A humanidade estava presa em uma distopia capitalista da qual não havia como escapar. Desigualdade social, pobreza, exploração e perpétua degradação da cultura era o destino a que a humanidade estava condenada.

Abraçada e amplificada pela mídia e pregada por inúmeros acadêmicos, a narrativa do “Fim da História” visava semear o desânimo, a desmoralização e a apatia política. Mas era uma narrativa falsa. A história voltou com força total. Os fundamentos econômicos, políticos e sociais do capitalismo estão desmoronando. A luta de classes – a grande força motriz do progresso histórico – está rompendo todos os mecanismos institucionais de controle social.

Enquanto o desenvolvimento da guerra traz grandes perigos para a juventude e para toda a humanidade, a JEIIS baseia seu programa não no desespero, mas na confiança de que podemos lutar e vencer o futuro.

O fatalismo dos pessimistas expressa uma visão que permanece presa nos limites do que é possível dentro da ordem mundial capitalista. O otimismo surge da compreensão de que a mesma crise capitalista que produz guerra, ditadura, mudança climática e reação social também produz o crescimento da luta internacional da classe trabalhadora.

Devemos nos voltar às fábricas e locais de trabalho, onde os trabalhadores lutam contra a desigualdade e a exploração. Eles são a grande potência capaz de derrubar o capitalismo e abrir um novo caminho para a humanidade. A JEIIS não busca apenas o apoio dos trabalhadores na luta contra a guerra. Reconhecemos que a derrota do imperialismo depende do surgimento da classe trabalhadora, armada com um programa socialista, como a força revolucionária principal e decisiva na luta contra o sistema capitalista mundial.

Assim como foi a Revolução Russa, a maior intervenção da classe trabalhadora na história mundial, que pôs fim à primeira carnificina global representada pela Primeira Guerra Mundial, será a intervenção da classe trabalhadora internacional que hoje interromperá a escalada para Terceira Guerra Mundial.

Lenin discursando para uma multidão durante a Revolução Russa de 1917

A JEIIS baseia sua perspectiva na história do movimento socialista, sobretudo na história da Quarta Internacional, o movimento trotskista, que manteve a continuidade do marxismo através da luta contra o stalinismo. A juventude foi em grande parte isolada dessa história e de toda a história da luta da classe trabalhadora pelos ataques da classe dominante ao marxismo e pela promoção de todos os tipos de ideologias reacionárias e falsificações históricas.

Em seu trabalho entre os estudantes, a JEIIS se opõe a todas as formas de teorias antimarxistas, particularmente aquelas associadas à reacionária Escola de Frankfurt e ao irracionalismo duplamente reacionário do pós-modernismo, que negam o papel revolucionário da classe trabalhadora e se opõem à luta política pelo socialismo.

Além disso, a JEIIS denuncia o impulso de subordinar a ciência e os estudos ao militarismo imperialista. Ela tem se oposto consistentemente aos ataques à verdade histórica e aos direitos democráticos, resistindo a todas as tentativas de suprimir a crescente oposição ao fascismo e à guerra.

A JEIIS colocará em ação um movimento que une a juventude em uma luta comum, direcionada à classe trabalhadora, contra a guerra. Dizemos aos estudantes e à juventude de todo o mundo: se quisermos ter um futuro, devemos lutar por ele! Não podemos ficar à margem enquanto as classes dominantes planejam transformar o mundo inteiro em um inferno nuclear!

Essa campanha será lançada por meio de um webinário global em 10 de dezembro, intitulado “Deter a guerra por procuração dos EUA-OTAN na Ucrânia”, que será transmitido ao vivo às 15h, no horário de Brasília. O webinário será articulado com uma série coordenada de reuniões e outras atividades em países de todo o mundo. Essa reunião explicará as origens históricas da guerra e irá expor os reais interesses políticos e econômicos que estão impulsionando sua escalada. Acima de tudo, o webinário apresentará uma estratégia revolucionária e explicará o que deve ser feito para acabar com a guerra.

Fazemos um chamado a todos os que pretendam participar que se inscrevam no webinário e entrem em contato com a JEIIS.

Junte-se à Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social! Deter o impulso imprudente em direção à guerra nuclear! Assuma a luta por um futuro socialista sem pobreza, exploração, guerra e todas as formas de opressão!

Para obter mais informações e se juntar à JEIIS, acesse: wsws.org/iysse.

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