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Governo Lula adere a campanha pró-imperialista contra Roger Waters

A campanha caluniosa contra Roger Waters, impulsionada pelas potências imperialistas, ganhou um novo palco no Brasil, onde o músico passará com sua turnê This is Not a Drill a partir de outubro.

Roger Waters em apresentação na Crypto.com Arena, 27 de setembro de 2022, em Los Angeles. [AP Photo/Chris Pizzello] [AP Photo/Chris Pizzello]

No final de semana passado, foi reportado que o ministro da Justiça do governo do Partido dos Trabalhadores (PT), Flávio Dino, garantiu a um membro do Supremo Tribunal Federal (STF) que Waters “será preso” se “vestir uniforme nazista em show no Brasil”.

A conversa foi relatada ao jornal O Globo pelo jurista do STF, Luiz Fux, que contatou Dino para pressioná-lo a responder uma petição pelo impedimento da entrada do músico no Brasil, assinada pelo vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (CONIB), Ary Bergher. A ação exige que, caso Waters ingresse no país, seus shows sejam monitorados por agentes da polícia Federal e Civil prontos para detê-lo. Segundo O Globo, isso é “aparentemente o que será feito”.

A motivação fraudulenta dessa petição reacionária, que representa um ataque virulento à liberdade de expressão, foi esclarecida por seu autor numa entrevista à Folha de São Paulo, em que Bergher afirmou que “[Waters] é um nazista que deve ser contido e preso”.

Como em todos os países em que está sendo promovida, a perseguição a Roger Waters no Brasil se baseia numa tentativa maliciosa de virar a realidade do avesso.

Ao longo de sua extensa carreira, o fundador de 79 anos da banda Pink Floyd consolidou sua reputação não apenas como músico brilhante, mas também um dedicado combatente da injustiça social, guerra e fascismo. A utilização de um “uniforme nazista” em sua apresentação – que também foi pretexto para a abertura de uma investigação policial abusiva em Berlim, no final de maio – é parte da performance da música “In the Flesh” do álbum e filme The Wall, de 1982. Sua encenação de um ditador insano trajando tal figurino vem sendo feita há quarenta anos, sem que jamais fossem levantadas dúvidas sobre seu caráter de crítica mordaz a toda forma de fascismo, intolerância e opressão.

A alegação que Waters é “antissemita” é também uma mentira, baseada unicamente em suas críticas ao governo de Israel pela opressão e violência contra a população palestina.

Waters está sendo covardemente atacado porque ele despertou a fúria das elites imperialistas ao expor a falsidade da narrativa oficial dos EUA-OTAN sobre sua guerra contra a Rússia na Ucrânia, e ao transformar sua popular turnê mundial em uma forma de protesto contra a guerra.

Essa campanha difamatória, oficialmente apoiada pelo governo imperialista de Washington, foi intensificada concomitantemente à escalada da guerra pela OTAN através de sua “contraofensiva ucraniana” longamente planejada. O esforço para demonizar Waters é parte de uma tentativa desesperada de calar qualquer voz de oposição a essa guerra altamente impopular.

O desenvolvimento da campanha de difamação contra Waters em solo brasileiro revela ainda mais as contradições dessa ofensiva autoritária para reprimir qualquer oposição à guerra.

A última turnê de Waters pelo Brasil, em 2018, em meio às eleições presidenciais no país, tornou-se um evento político marcante. Suas apresentações despertaram polêmicas, mas jamais por serem associadas ao “nazismo”. Muito pelo contrário.

Parte do público massivo de seus shows nas grandes capitais brasileiras vaiou Waters quando ele caracterizou o futuro presidente, Jair Bolsonaro, como um neofascista e exibiu o slogan “#EleNão”, entoado por apoiadores do candidato do PT, Fernando Haddad.

Em uma entrevista durante sua visita ao Brasil, Waters explicou sua posição sobre as eleições brasileiras, dizendo: “Sei que não é da minha conta, mas eu sou contra o ressurgimento do fascismo por todo o mundo... Eu preferiria não viver sob as regras de alguém que acredita que a ditadura militar é uma coisa boa. Eu lembro dos dias ruins na América do Sul, e das ditaduras, e foi feio”.

É altamente revelador da natureza do movimento contra Waters que o protagonista da petição para impedir seu retorno ao Brasil seja um apoiador feroz do ex-presidente fascistoide. Em 2018, Bergher foi acusado de quebrar o estatuto da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj), da qual era presidente, por declarar apoio a Bolsonaro em nome da entidade. Ele também foi acusado de ter, na sequência, agredido uma integrante de 88 anos da Federação que criticou sua conduta política.

Ainda mais marcante é o fato de o governo Lula servir como instrumento fundamental ao avanço dessa campanha reacionária. A declaração de Dino sobre a potencial prisão de Waters causou espanto a muitos apoiadores do PT, que tinham ilusões no caráter de “esquerda” desse partido.

Pressionado a prestar esclarecimentos, o ministro da Justiça de Lula declarou no Twitter que ainda não recebera a “petição sobre apologia a nazismo que aconteceria em show musical”. Dino afirmou que, assim que a receber, irá analisá-la a partir das seguintes premissas: que “autoridade administrativa não pode fazer censura PRÉVIA” e que “no Brasil é crime” sujeito a “reclusão de dois a cinco anos” a utilização de símbolos “para fins de divulgação do nazismo”. Ele concluiu afirmando que “essas normas valem para TODOS” e que determinar o que é “‘divulgação do nazismo’... OBVIAMENTE exige análise caso a caso”.

A declaração evasiva de Dino, de fato, somente reforça o conteúdo ameaçador da conversa com Fux reportada anteriormente pelo Globo. Ele está basicamente anunciando que, se Waters realizar sua conhecida e aclamada performance de “In The Flesh” no Brasil, ele está seriamente ameaçado de ser retirado do palco e levado direto para a cadeia.

Muitos seguidores de Dino no Twitter, sem poder acreditar em sua resposta, tentaram explicar ao ex-membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e atual representante do Partido Socialista Brasileiro (PSB) que Waters não era nenhum fascista. Austero, Dino tuitou novamente: “sei quem é e conheço a obra de Roger Waters, há algumas décadas. No mais, sugiro que leiam o tuíte anterior... ao meu ver bastante claro sobre uma postura séria”.

Qualquer figura política com o mínimo senso democrático viria a público esclarecer que as acusações contra Waters são totalmente despropositadas e que a liberdade de expressão é um direito assegurado em seu país. Mas esse não é o caso de Dino, ou do governo Lula, sem falar dos partidos da pseudoesquerda brasileira, que se calaram totalmente sobre o episódio.

Esse episódio revela a base completamente fraudulenta da alegada oposição dessas forças políticas à guerra e ao fascismo. Lula posa como defensor da paz entre Ucrânia e Rússia, e um crítico das potências da OTAN que fomentam a continuidade da guerra. Sua real posição covarde, no entanto, é desmascarada pela adesão de seu governo à campanha suja dessas mesmas potências para demonizar e perseguir Waters, um destacado ativista internacional contra a guerra, indo um passo além ao ameaçar prendê-lo por suas apresentações no Brasil.

O Grupo Socialista pela Igualdade (GSI) convoca os jovens e trabalhadores brasileiros a tomarem a defesa de Roger Waters. Essa luta é central para a defesa dos direitos democráticos da classe trabalhadora, sob ataque no Brasil e no mundo, e para o avanço de um movimento internacional contra a guerra imperialista.

Como a Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social (JEIIS) declarou em seu evento antiguerra de 20 de maço em São Paulo, esse movimento só pode ser construído numa base internacional, independente dos partidos burgueses como o PT, e orientado para a classe trabalhadora e à derrubada do capitalismo mundialmente.

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