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Sindicatos comemoram fim da greve na GM do Brasil

Dezessete dias após o anúncio de mais de 1.200 demissões em três plantas da General Motors no estado de São Paulo, os sindicatos anunciaram nesta quarta-feira o fim da greve que mobilizava 11.500 trabalhadores. Após declararem “vitória” dos trabalhadores, os burocratas sindicais estão se preparando para impor os cortes exigidos pela empresa.

Cumprindo uma decisão judicial, a GM declarou que dará início aos “trâmites internos” para reintegrar os trabalhadores demitidos. Esse suposto giro de 180 graus da empresa, após uma campanha desde setembro para forçar as demissões, foi visto com enorme desconfiança pelos trabalhadores. No dia 6, eles votaram pela continuação da greve até que seus empregos estejam assegurados.

Trabalhadores da GM em greve reunidos em assembleia na fábrica de São Caetano [Photo: Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano]

A burocracia sindical foi capaz de suprimir a greve utilizando uma combinação de mentiras, conluio com o Estado e esforços para manter o movimento isolado. Porém, os trabalhadores continuam sendo empurrados para um confronto direto com a GM e, consequentemente, com os sindicatos e tribunais.

A tensão nas plantas brasileiras continua alta, com a administração empresarial tendo deixado claro na última semana que não aceitará um retorno às condições anteriores à greve e, muito menos, a permanência dos trabalhadores readmitidos por muito tempo.

Na terça-feira, um dia antes do fim da greve, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, Aparecido da Silva (Cidão), admitiu que “a empresa continua intransigente em sua posição quanto ao pagamento dos dias parados, e também no que se refere a outras questões pertinentes ao dia a dia”. E concluiu: “Não podemos voltar de mãos vazias, sem que haja um acordo assinado pela empresa”.

Entre as “outras questões” apontadas por Cidão que continuam até hoje em aberto está a garantia dos empregos cortados. Durante a assembleia de quarta-feira, o sindicato de São Caetano do Sul incluiu absurdamente entre as justificativas para encerrar a greve uma decisão judicial sobre a estabilidade no emprego que sequer fora tomada. Em uma nota no site da organização, foi publicado: “A estabilidade no emprego na unidade em São Caetano do Sul está dependendo de julgamento pela justiça em relação ao lay-off que são demandas específicas dos trabalhadores de São José dos Campos e Mogi das Cruzes”. Outros pontos como o pagamento dos dias paralisados estão sendo destacados para acobertar a questão fundamental dos empregos.

Na realidade, o acordo com a GM coloca a decisão sobre os empregos nas mãos dos tribunais enquanto os trabalhadores permanecem sem qualquer garantia de proteção contra uma nova rodada de cortes, que podem acontecer em breve.

A CSP-Conlutas, controlada pelos morenistas do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), que dirige o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SMSJC), desempenhou um papel central no desvio e supressão da oposição dos trabalhadores.

Assim como os burocratas abertamente de direita do sindicato de São Caetano, controlado pela Força Sindical, os sindicalistas pseudoesquerdistas do PSTU celebraram efusivamente as decisões judiciais que temporariamente congelaram as demissões para desorientar os trabalhadores. “A retomada dos empregos é uma vitória histórica, fruto da forte luta dos trabalhadores das 3 cidades”, declarou o líder do SMSJC, Valmir Mariano.

Após enterrarem o movimento grevista, o Opinião Socialista, jornal do PSTU, publicou como manchete: “Com empregos e dias parados garantidos, metalúrgicos da General Motors suspendem greve”.

Ao longo da greve, os morenistas buscaram se apresentar fraudulentamente como defensores de uma luta unificada dos trabalhadores da GM não somente no Brasil, mas também internacionalmente. Em uma passeata em São José dos Campos, Vera Lúcia, ex-candidata a presidente pelo PSTU, mencionou a greve dos trabalhadores automotivos nos Estados Unidos, afirmando: “Nós teremos essa luta unificada internacionalmente porque a luta dos companheiros nos EUA é a mesma luta dos companheiros aqui”.

O que os morenistas não mencionaram é que, assim como no Brasil, os trabalhadores automotivos nos Estados Unidos estão travando uma batalha em duas frentes; contra a GM e as demais montadoras, de um lado, e contra a burocracia sindical corrupta do United Auto Workers (UAW), que trabalha em unidade com o governo do democrata Joe Biden para minar o movimento explosivo dos trabalhadores.

Desde meados de setembro, o sindicato nos EUA sabotou sistematicamente a greve aprovada por 97% dos trabalhadores da GM, Ford e Stellantis. Ao invés de uma greve efetiva, o novo presidente do UAW, Shawn Fain, promoveu um novo modelo de “stand up strike”, em que apenas algumas unidades são paralisadas e a grande maioria dos trabalhadores continua a produzir carros e gerar lucros às empresas bilionárias.

Recentemente, os trabalhadores da GM e da Ford nos EUA rejeitaram em múltiplas fábricas o contrato promovido por Fain como uma “vitória histórica”. Na realidade, assim como o acordo fechado pelos sindicatos no Brasil, o contrato defendido pelo UAW abre o caminho para que as empresas imponham os cortes massivos de empregos contidos em seu projeto de transição para a produção de veículos elétricos.

A realidade dos ataques impostos pela GM com o auxílio do UAW nos Estados Unidos foi descrita por um trabalhador entrevistado esta semana pelo WSWS: “Eles estão tentando vender [essa proposta] para os trabalhadores temporários, mas existem tantos buracos no contrato que a empresa irá demiti-los antes que sejam efetivados”.

A omissão do PSTU sobre a traição histórica sendo promovida pelo UAW, que atua conscientemente como um defensor dos interesses da burguesia imperialista dos EUA, não foi acidental. Ao contrário, eles participaram ativamente desse complô contra os trabalhadores brasileiros e norte-americanos.

Em meados de outubro, nas vésperas do início da greve na GM do Brasil, dirigentes da CSP-Conlutas fizeram um tour pelos EUA a convite do UAW, que enfrentavam um momento particularmente crítico. A rebelião dos trabalhadores de base contra a burocracia atingia um ponto de inflexão, logo após os trabalhadores da Volvo-Mack Trucks, organizados no Mack Workers Rank-and-File Committee (Comitê de Base dos Trabalhadores da Mack), recusarem uma proposta de contrato traidora do sindicato.

Auxiliando Fain e o UAW a reprimir o movimento oposicionista de base, a comitiva da Conlutas, reunindo o antes citado Valmir Mariano e outros dois dirigentes do SMSJC, visitou “mais de 15 piquetes e ressaltou aos trabalhadores estadunidenses a importância do apoio dos metalúrgicos de São José e região ao movimento”. Retornando ao Brasil, eles asseguraram os trabalhadores de São José dos Campos: “O sindicato UAW está sob comando de uma nova direção, que tem uma perspectiva mais combativa”.

Reproduzindo os esforços do UAW para subordinar os trabalhadores americanos ao governo Biden, o PSTU atuou desde o princípio para subordinar a greve contra as demissões na GM ao governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e ao Estado brasileiro, apresentando-os como defensores dos trabalhadores e antagonistas dos interesses da corporação transnacional.

O nacionalismo falido do sindicato morenista foi mostrado claramente em uma campanha da CSP-Conlutas para identificar os interesses dos trabalhadores da empresa de armamentos Avibras com a “defesa nacional” e conectar sua luta aos chamados do PSTU para armar as forças ucranianas na guerra dos EUA e da OTAN na Ucrânia contra a Rússia, e que já significou centenas de milhares de mortos e ameaça escalar para um confronto direto entre potências nucleares.

Vera Lúcia expôs o programa reacionário do seu partido ao orientar os trabalhadores da GM a apelarem aos governos burgueses: “O governo estadual e o governo federal tem responsabilidade direta para reverter as demissões de todos os trabalhadores, e garantir redução do trabalho sem redução do salário”.

As autoridades sindicais da CSP-Conlutas no Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região e políticos do PSTU buscaram se apresentar falsamente nos últimos anos como um sindicato “de oposição”, mas seu verdadeiro papel foi trabalhar para manter os trabalhadores da GM isolados e garantir os interesses da empresa.

Os cortes exigidos nos últimos anos foram levados adiante com o auxílio dos sindicatos mesmo durante os piores momentos da pandemia, e continuam hoje com a justificativa da falta de peças, queda nas vendas e a necessidade de pagar pela transição para a produção de veículos elétricos. Ao mesmo tempo, o enriquecimento de uma fina camada de executivos corporativos e investidores prosseguiu sem interrupções.

Enquanto a burocracia sindical no Brasil, nos Estados Unidos e pelo mundo se aliam para manter seus privilégios garantidos pelas grandes empresas em troca de seus serviços de supressão da oposição operária, a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB) luta por uma estratégia global de combate às corporações transnacionais baseada na independência política e unidade internacional efetiva da classe trabalhadora.

No próximo período, a GM e outras montadoras irão levar adiante implacavelmente seus planos de destruição dos empregos. Os trabalhadores brasileiros precisam responder urgentemente criando comitês de base em todas as fábricas em ligação com a AOI-CB.

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