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Perspectivas

Administração Biden defende genocídio como política de Estado ao vetar resolução por cessar-fogo em Gaza

Publicado originalmente em 11 de dezembro de 2023

Representante substituto dos EUA na ONU, embaixador dos EUA Robert Wood, votando em oposição a uma resolução da ONU por cessar-fogo em Gaza em 8 de dezembro de 2023. [Photo: United Nations]

Na sexta-feira, os Estados Unidos vetaram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo em Gaza, votando contra todos os outros membros do conselho, exceto o Reino Unido, que se absteve.

Esse voto deixa claro que os Estados Unidos não são meros espectadores do genocídio de Israel, mas um participante ativo. O presidente dos EUA, Joe Biden, e o secretário de Estado, Antony Blinken, não são menos responsáveis do que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Os Estados Unidos, tendo sido completamente informados dos planos de Israel de matar uma parte significativa da população palestina e levar o restante para o deserto do Sinai, apoiam e endossam completamente esses planos. Os EUA estão possibilitando o genocídio com o fornecimento de bilhões de dólares em armas, incluindo o anúncio na sexta-feira de que enviaria mais de US$ 100 milhões em munições de tanques, ignorando o parecer do congresso.

Os Estados Unidos cometeram terríveis crimes, desde o massacre de My Lai, no Vietnã, até a tortura de presos na masmorra de Abu Ghraib durante a ocupação do Iraque. Porém, a sua participação aberta no assassinato sistemático e em massa de mulheres e crianças indefesas, noticiado aos olhos do mundo inteiro, marca um novo e flagrantemente criminoso estágio na política externa dos EUA.

O governo Biden apoia o banho de sangue em Gaza porque vê o Estado de Israel como um importante componente do impulso do imperialismo americano para manter sua dominação global por meio da guerra mundial. As frentes de batalha nessa guerra já podem ser identificadas: na Ucrânia contra a Rússia; no Oriente Médio contra o Irã e seus aliados, incluindo o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza; e na vasta região do Indo-Pacífico contra a China.

A grande maioria dos trabalhadores e jovens do mundo, que ficaram horrorizados com o genocídio de Israel contra a população de Gaza, apoiam um cessar-fogo. Milhões de pessoas de todas as etnias, religiões e nacionalidades, inclusive judeus de todo o mundo, participaram de manifestações globais massivas contra o genocídio.

Nos últimos dois meses, Israel matou 17.997 habitantes de Gaza, e outras 7.760 pessoas estão desaparecidas. Isso significa que, segundo uma contagem realista, o número de mortos já se aproxima de 25 mil: sendo a grande maioria mulheres e crianças.

A votação ocorreu após o secretário geral da ONU, António Guterres, ter invocado emergencialmente o Artigo 99. Guterres explicou que todo o sistema de saúde em Gaza está quebrado e que a população enfrenta fome em massa, desidratação e doenças fora de controle.

Guterres alertou que “não existe proteção efetiva dos civis” pelos militares israelenses, acrescentando que “os hospitais se transformaram em campos de batalha”. Ele acrescentou: “Nenhum lugar é seguro em Gaza”.

Ele alertou: “Em meio ao bombardeio constante das Forças de Defesa de Israel e sem abrigo ou itens essenciais para sobreviver, até mesmo a limitada assistência humanitária” irá se tornar “impossível”.

Guterres acrescentou: “Simplesmente não temos condições de alcançar os necessitados em Gaza. (...) Estamos enfrentando um grave risco de colapso do sistema humanitário”.

Ele concluiu: “Isso é urgente. A população civil deve ser poupada de maiores danos. Com um cessar-fogo humanitário, os meios de sobrevivência podem ser restaurados e a assistência humanitária pode ser fornecida de maneira segura e oportuna em toda a Faixa de Gaza”.

Explicando o voto dos Estados Unidos, o embaixador americano Robert Wood disse que qualquer “cessar-fogo” sem o total esmagamento da resistência palestina é inaceitável para os Estados Unidos.

Ele declarou: “Não apoiamos o chamado dessa resolução por um cessar-fogo insustentável que apenas irá plantar as sementes para a próxima guerra”. Ele acrescentou: “Qualquer cessar-fogo que deixe o Hamas no controle de Gaza” é inaceitável para os Estados Unidos.

Essas são declarações extraordinárias. Quando o primeiro-ministro israelense fascista Netanyahu fala sobre o “Hamas”, ele não está se referindo a uma organização política, mas a qualquer intenção de resistência por parte da população palestina. Por essa lógica, a única maneira de pôr fim à guerra é através do massacre ou da limpeza étnica de toda a população de Gaza, que é mantida ilegalmente aprisionada em terras ilegalmente ocupadas por Israel.

Ao defender o veto dos EUA à resolução, Wood criticou o texto do projeto, que “não reconheceu que Israel possui o direito de se defender contra o terrorismo, de acordo com a lei internacional. Todos os Estados possuem esse direito”.

A resolução realmente não declarava esse “direito”, porque ele não existe. Conforme Francesca Albanese, relatora especial da ONU de Direitos Humanos nos territórios palestinos ocupados, explicou no mês passado: “O direito à autodefesa pode ser invocado quando o Estado é ameaçado por outro Estado, o que não é o caso”.

Ela continuou: “Ele não pode reivindicar o direito de autodefesa contra uma ameaça que emana de um território que ele ocupa, de um território mantido sob ocupação beligerante”.

Ao declarar o “direito” de Israel de “se defender” contra uma população aprisionada, os EUA estão defendendo não apenas a ocupação israelense ilegal de Gaza e da Cisjordânia, mas o “direito” de Israel de punir coletivamente a população civil por meio do assassinato em massa e limpeza étnica em resposta a qualquer ato de resistência a essa ocupação.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse à ABC no domingo: “Quando se trata de um cessar-fogo neste momento, com o Hamas ainda vivo, ainda intacto e, novamente, com a intenção explícita de repetir o dia 7 de outubro de novo e de novo e de novo, isso simplesmente perpetuaria o problema”.

O senador Bernie Sanders ecoou a esse ponto, afirmando: “Não sei como é possível existir um cessar-fogo permanente com o Hamas, que disse antes do 7 de outubro e depois do 7 de outubro que deseja destruir Israel, que quer uma guerra permanente. Não sei como é possível manter um cessar-fogo permanente com uma atitude como essa”.

Essas declarações, tanto de Sanders quanto de Blinken, atestam a mentalidade genocida que se instalou na classe dominante dos EUA. Na medida em que os palestinos fazem oposição à existência do Estado de Israel, essas pessoas podem ser massacradas por direito.

Mas onde chega essa doutrina? Se existem pessoas que se opõem à existência de Estados capitalistas, será que esses Estados, com sua existência ameaçada, possuem o direito de simplesmente matar todos os seus oponentes? O governo Biden, consciente e deliberadamente, está defendendo o assassinato em massa como política de Estado e criando o precedente para crimes ainda maiores – no exterior e domesticamente.

O genocídio em Gaza marca um novo estágio na criminalização da política externa imperialista. Confrontadas com uma crise social, econômica e política para a qual não possuem solução, as classes dominantes capitalistas estão abandonando quaisquer restrições, adotando abertamente o genocídio como política de Estado.

Milhões de pessoas participaram de manifestações contra a guerra de Israel contra a população de Gaza. Porém, os Estados Unidos e seus parceiros imperialistas deixaram claro que são completamente indiferentes aos sentimentos de sua própria população. Por isso, a luta para pôr fim ao genocídio de Israel em Gaza deve ser travada como uma luta contra os governos imperialistas do mundo, que estão armando e permitindo isso.

Como Gaza é apenas uma frente em uma explosão global do militarismo imperialista, a luta deve ser internacional, unindo os trabalhadores de todos os continentes em uma luta comum contra a guerra imperialista e o sistema capitalista que dá origem a ela. Isso significa uma luta pela transformação socialista da sociedade por meio da construção de um movimento revolucionário de massa da classe trabalhadora.

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