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OMS classifica JN.1 da Ômicron como “variante de interesse” por sua rápida propagação global

Publicado originalmente em 21 de dezembro de 2023

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou em 19 de dezembro a subvariante JN.1 da Ômicron como uma “variante de interesse” devido à sua rápida propagação global. Embora a OMS tenha reconhecido que a JN.1 (uma descendente da subvariante BA.2.86, apelidada de “Pirola”) é mais resistente às vacinas e infecciosa do que qualquer outra variante, ela alegou de maneira infundada que a JN.1 não parece representar um risco maior para a população do que a recente série de variantes que se espalharam globalmente.

Essa alegação deve ser tomada com um elevado grau de cautela e colocada em seu contexto sociopolítico adequado. A decisão da OMS de declarar o fim da emergência de saúde pública pela COVID-19 em maio levou ao desmantelamento de praticamente todos os sistemas de monitoramento da pandemia na maioria dos países, tornando muito mais difícil para os cientistas e especialistas em saúde pública determinar a verdadeira gravidade de uma determinada variante.

Com base nos limitados dados disponíveis, está claro que a JN.1 está impulsionando significativas ondas em todo o mundo, com milhares de mortes em excesso globalmente a cada dia e massas incalculáveis sofrendo atualmente com a COVID longa.

Nos EUA, de acordo com os dados mais recentes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a JN.1 está se tornando dominante nacionalmente nesta semana, coincidindo com a temporada de viagens de Natal. Os dados mais recentes da Biobot Analytics, divulgados em 18 de dezembro, mostram que os níveis de SARS-CoV-2 no esgoto continuam aumentando. Ainda faltam algumas semanas para o pico da onda, que será impulsionada drasticamente pela JN.1 e pelos milhões de viajantes visitando a família nas festas de fim de ano sem máscaras ou quaisquer medidas de mitigação.

O analista de dados Dr. Mike Hoerger observou: “Estamos caminhando para o segundo maior surto de COVID de todos os tempos nos EUA. Se os níveis de SARS-CoV-2 no esgoto seguirem as tendências históricas, chegaremos a dois milhões de infecções por dia no pico do surto, com 4,2% da população ativamente infectada em 10 de janeiro.” De acordo com seu modelo, o pico será entre 3 e 17 de janeiro, com uma estimativa de 1,7 a 2,2 milhões de infecções por dia.

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As internações por COVID-19 aumentaram mais de 50% nos EUA em menos de seis semanas e chegaram a 23.432 na semana que terminou em 9 de dezembro.

Em seu relatório, a OMS afirmou que a região do Pacífico Ocidental está observando o maior salto nos casos pela JN.1 com base no sequenciamento das variantes em circulação. Em Cingapura, onde as taxas de vacinação estão entre as mais altas do mundo, os níveis de SARS-CoV-2 no esgoto e as internações estão aumentando rapidamente. Embora os casos semanais oficiais estivessem oscilando em torno de 15.000 nos últimos 2-3 meses, em 9 de dezembro eles subiram para 56.043, o maior número registrado no ano. As internações quase triplicaram nas últimas semanas, de 136 no final de novembro para 350 em meados de dezembro.

Em resposta a essa onda, o Ministério da Saúde de Cingapura divulgou recentemente uma declaração “incentivando fortemente” as pessoas a voltarem a usar máscaras. O ministério acrescentou: “Para preservar nossa capacidade de atendimento médico, o Ministério da Saúde tem trabalhado com hospitais públicos para o planejamento de contingência, incluindo a garantia de mão de obra adequada e o adiamento de cirurgias eletivas não urgentes para maximizar a capacidade de leitos para casos urgentes que precisem de cuidados graves”.

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Vários países da Europa, incluindo Dinamarca, Espanha, Bélgica, França e Holanda, observaram um aumento exponencial nos níveis de SARS-CoV-2 no esgoto e um pico de internações.

Na Alemanha, o nível de SARS-CoV-2 no esgoto está atualmente atingindo o maior já registrado. Os médicos estão relatando um grande número de pessoas com infecções respiratórias superiores, metade das quais são COVID. Com aproximadamente 10% do país sofrendo atualmente de infecções respiratórias, os serviços de saúde pública e os consultórios médicos estão tendo dificuldades para acompanhar o ritmo de internações.

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Jay Weiland, um cientista de dados que trabalha com modelos de propagação da COVID-19, escreveu em 16 de dezembro: “Testemunhar alguns desses níveis recordes de SARS-CoV-2 no esgoto em MUITOS países europeus após o domínio da Pirola é de abrir os olhos. Temos que nos preparar para, pelo menos, a possibilidade de vermos um pico muito grande nos EUA nas próximas semanas.” Ele também observou que, quando a JN.1 se tornou dominante na França, as internações começaram a subir rapidamente.

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O especialista em monitoramento de variantes Ryan Hisner observou em 4 de dezembro: “Se uma nova variante for causar um aumento nas infecções ou internações, geralmente não vemos nenhuma indicação disso até que tenha ultrapassado 50% dos casos. Com a JN.1, alguns países europeus estão quase lá. Mas o Reino Unido, a Suécia, os EUA e a Ásia estão semanas atrás.”

Hisner levantou essa questão com a variante Alfa em Londres no início de dezembro de 2020. Quando ela ultrapassou os 50% das variantes sequenciadas, as infecções por COVID começaram a aumentar drasticamente e, com isso, as internações e mortes.

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A rápida propagação global da JN.1 está acontecendo com a pandemia de COVID-19 entrando em seu quinto ano. Já foram registradas mais de 27 milhões de mortes em excesso por COVID e, potencialmente, centenas de milhões de pessoas estão sofrendo os efeitos da COVID longa em todo o mundo.

Estudos recentes publicados no The Lancet e no Statistics Canada reforçam os imensos perigos que o vírus continua representando para a sociedade global e que, mesmo que a maioria das pessoas desenvolva pouco ou nenhum sintoma durante a fase aguda de uma infecção por COVID, o impacto em seus órgãos e o potencial para desenvolver COVID longa continuam consideráveis.

Nos EUA, o excesso de mortes para 2023 permaneceu ainda elevado (160.000), afetando desproporcionalmente a juventude trabalhadora. Como os relatórios atuariais observaram, as causas de muitas dessas mortes mostraram maior mortalidade por doenças hepáticas, renais e cardiovasculares, bem como diabetes, todas comprovadamente associadas à infecção por COVID.

No Reino Unido, o excesso de mortes aumentou 7,2% em 2022 e 8,6% em 2023 em comparação com a média de cinco anos antes de 2020. Em um relatório publicado recentemente sobre o Reino Unido na Lancet Regional Health, os autores escreveram:

no período entre a semana que terminou em 3 de junho de 2022 e 30 de junho de 2023, o excesso de mortes por todas as causas foi relativamente maior para a faixa etária de 50 a 64 anos (15% acima do esperado), em comparação com o aumento de 11% para 25 a 49 anos e para os menores de 25 anos, e cerca de 9% para o grupo com mais de 65 anos.

Em particular, para adultos de meia-idade, as mortes por doenças cardiovasculares, derrames, infecções respiratórias e diabetes foram consideravelmente maiores.

A evolução da JN.1 ressalta a capacidade contínua de mutação do SARS-CoV-2 em variantes potencialmente mais perigosas. Ela deixa bem claro o caráter fraudulento das decisões da OMS, do governo Biden e de praticamente todos os governos do mundo de declarar que a pandemia não é mais uma emergência de saúde pública global.

A situação atual da pandemia, que agora é enfrentada com indiferença coletiva pelo capitalismo mundial, resume a total incapacidade desse sistema social de atender às necessidades mais urgentes da humanidade. Um vírus altamente prejudicial e perigoso está sendo simplesmente ignorado e se propagando entre bilhões de pessoas, para grande prejuízo de toda a população mundial.

Os trabalhadores e a juventude devem continuar atentos aos riscos apresentados pela COVID-19 e fazer tudo o que puderem para se proteger da infecção, mas, fundamentalmente, é necessário tirar conclusões políticas da experiência dos últimos quatro anos de pandemia. O capitalismo está apodrecendo e é incapaz de atender às necessidades mais básicas da sociedade, incluindo o direito à saúde e a um ambiente seguro. Ele deve ser substituído por uma economia mundial planejada, cuja característica central será um programa de saúde pública coordenado globalmente e dotado de amplos recursos, capaz de eliminar a COVID-19 e todas as outras doenças infecciosas possíveis.

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