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Governantes latino-americanos alinham-se a Biden e Trump na eleição americana de 2024

No que será um dos mais importantes eventos políticos de 2024, a eleição presidencial americana deste ano já está enviando ondas de choque por todo o mundo. Aqueles que estão emergindo como os candidatos escolhidos do sistema bipartidário capitalista procurarão promover ainda mais a guerra e a reação política, tanto nos EUA quanto no exterior.

Os desenvolvimentos políticos nos EUA terão um impacto particularmente avassalador na América Latina, a região historicamente considerada pelo imperialismo americano como o seu “quintal”.

Nas últimas semanas, governantes latino-americanos começaram a expressar o seu apoio e a se alinhar ao democrata Joe Biden ou com o republicano Donald Trump.

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, com o presidente argentino, Javier Milei, na CPAC [Photo: Argentine Presidency]

A Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), realizada no final de fevereiro, marcou uma nova etapa na aliança entre a base republicana cada vez mais fascistoide de Trump e a extrema direita latino-americana. Depois da presença do ex-presidente Jair Bolsonaro no ano passado, que liderou uma tentativa de golpe em Brasília em 8 de janeiro de 2023 que se espelhou na insurreição fascista de Trump em 6 de janeiro de 2021, neste ano a conferência contou com a presença dos presidentes fascistoides da Argentina, Javier Milei, e de El Salvador, Nayib Bukele.

Em seu discurso, Milei disse que era um “lindo dia para fazer a esquerda tremer” e defendeu suas medidas de “terapia de choque” na economia argentina que estão levando a uma inflação e pobreza recordes no país. Num rápido encontro com Trump em que Milei declarou pessoalmente apoio a sua candidatura, o ex-presidente americano disse para Milei “Tornar a Argentina Grande de Novo”.

Vociferando contra o “globalismo” – uma referência a um conjunto que agrupa o socialismo, a política de identidade, a defesa do meio ambiente e a alegada elevação de “instituições globais” e ONGs acima dos Estados nacionais –, Bukele declarou: “Estou aqui para lhe dizer que em El Salvador ele já está morto”. Afirmando que as atuais condições nos EUA se assemelham às que levaram à sangrenta guerra de contra-insurgência apoiada pelos EUA que começou na década de 1970 e matou mais de 100.000 pessoas em El Salvador, ele advertiu que se Trump for eleito não pode repetir o “mesmo erro que cometemos” em relação a grupos de esquerda e tratar imediatamente qualquer forma de oposição com a mesma brutal repressão que ele está lançando em El Salvador.

Bolsonaro, impedido de participar da conferência por ter seu passaporte apreendido por causa das investigações da tentativa de golpe, foi substituído pelo seu filho, Eduardo, que denunciou uma alegada perseguição política e abusos do sistema judiciário brasileiro a seu pai e aliados. Porta-voz da extrema direita brasileira, Eduardo é o representante latino-americano do “The Movement” de Steve Bannon e do Foro de Madrid, criado em 2021 para reunir a extrema direita latino-americana, portuguesa e espanhola e se opor às organizações de pseudoesquerda e nacionalistas burguesas reunidas no Foro de São Paulo.

Em contraposição, o presidente brasileiro Lula, uma das principais figuras da Maré Rosa de governos nacionalistas burgueses latino-americanos e um dos criadores do Foro de São Paulo junto com o falecido Fidel Castro, foi o primeiro a defender a reeleição do “Genocida Joe” Biden, como o presidente americano tem sido chamado em muitos protestos pró-Palestina pelo mundo. Em entrevista ao programa É Notícia, na semana passada, Lula fez um balanço das boas relações entre uma série de presidentes brasileiros e americanos, concluindo: “eu tenho uma boa relação com o Biden. E eu espero que o Biden ganhe as eleições”.

Os presidentes Lula e Joe Biden [Photo: Ricardo Stuckert/PR]

Desde que chegou ao poder, em janeiro do ano passado, o governo Lula tem avançado a alegação de que é necessário reformar os organismos multilaterais da geopolítica mundial e avançar blocos do assim chamado Sul Global, como o BRICS, como parte da construção de um “mundo multipolar”. Isso não implica, no entanto, qualquer confronto com as potências imperialistas, mas uma tentativa de recolocar o Brasil num melhor lugar no xadrez da geopolítica mundial aproveitando particularmente os recursos e o potencial do país para a chamada “economia verde” e a transição energética.

Retribuindo o governo Biden pelo rápido reconhecimento de sua vitória eleitoral, desafiada pelas alegações de “fraude eleitoral” de Bolsonaro, Lula escolheu Washington como um dos primeiros destinos das suas viagens internacionais como presidente. Na sua visita aos EUA em fevereiro de 2023, além de concluir acordos sobre meio ambiente e outras questões, Lula defendeu uma “aliança democrática” com Biden, encobrindo as políticas belicistas e de direita do governo dos EUA com alegações fraudulentas de que o presidente democrata é um ator global pela paz e um defensor dos direitos trabalhistas.

Na recente entrevista ao É Notícia, Lula justificou seu apoio a Biden afirmando: “Eu, obviamente, acho que Biden é mais garantia para a sobrevivência do regime democrático no mundo e nos EUA”. Reforçando sua afirmação cínica de que Biden luta pelos interesses dos trabalhadores, Lula acrescentou: “Eu tenho visto o Biden na porta de fábrica. Os discursos do Biden desde a posse até agora em defesa do mundo do trabalho, o acordo que ele fez conosco de tentar estabelecer uma política de trabalho decente, é tudo o que eu quero para os EUA, para o Brasil e para o mundo.”

Lula estava se referindo à “Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores”, lançada pelos governos brasileiro e americano durante a Assembleia Geral da ONU em setembro do ano passado, que representou mais um passo na subordinação de Lula aos interesses do imperialismo americano. O acordo procura estabelecer um novo quadro para a exploração capitalista e a subordinação da classe trabalhadora ao Estado burguês, encoberto pela alegação de que “os trabalhadores desempenham [um papel importante] num mundo sustentável, democrático, equitativo e pacífico”. Reforçando o papel da burocracia sindical corporativista nesta parceria pró-capitalista, o acordo defende que a “colaboração ... com os nossos parceiros sindicais” é crucial “para fazer avançar ... questões urgentes”.

As referências de Lula ao genocídio em Gaza durante a entrevista também expuseram a sua tentativa criminosa de encobrir o protagonismo do “Genocida Joe” e de seu governo no massacre em massa de palestinos por Israel. Respondendo à questão de se o fim da guerra não passa pelo fim do apoio dos EUA a Netanyahu, Lula disse: “Eu não sei se o Biden tem hoje a força que os EUA já tiveram com relação a Israel... Quando um passarinho nasce, ele depende do pai colocar comida na boca. Quando ele aprende a bater asas e voar, nem sempre ele obedece.”

Ignorando o papel objetivo de Israel como um enclave imperialista no Oriente Médio, armado ao máximo por Washington, Lula tem atribuído o conflito em Gaza e outras guerras no mundo à falta de “governança mundial”. Para ele, a solução a esse e outros problemas, como a crise climática, seria recuperar o papel da ONU após o fim da Segunda Guerra Mundial, fazendo com que ela volte a ser “um ponto de equilíbrio da paz mundial”, como declarou na entrevista ao É Notícia. A alteração do poder de veto no Conselho de Segurança da ONU e a inclusão do Brasil como membro permanente fazem parte das propostas de Lula para a criação de um “mundo multipolar” harmônico com o imperialismo.

Como o WSWS analisou extensivamente em sua declaração de Ano Novo, as múltiplas crises que o mundo está vivendo, como o colapso das formas democráticas de governo, a ameaça de guerra nuclear, uma pandemia ainda em curso e os eventos climáticos extremos, são manifestações das contradições objetivas da economia capitalista baseada no lucro privado.

Esse processo tem consequências brutais na América Latina, uma das regiões mais desiguais do mundo. Com uma longa história de ditaduras apoiadas por presidentes democratas e republicanos, o imperialismo dos EUA, seja sob Biden ou Trump, continuará apoiando a crescente supressão dos direitos democráticos e a repressão das lutas da classe trabalhadora e da juventude na região. Apesar das diferenças táticas nas prioridades geopolíticas, o conflito objetivo entre os interesses do capitalismo americano e a crescente influência da China na América Latina está inexoravelmente transformando a região num campo de batalha de uma nova guerra mundial em desenvolvimento.

Essas questões de vida ou morte para a classe trabalhadora global não encontram resposta progressista na arena da política burguesa, seja nos Estados Unidos ou no chamado Sul Global. Elas exigem o desenvolvimento de uma perspectiva que una as lutas dos trabalhadores internacionalmente para derrubar o capitalismo e implementar o socialismo global tal como é defendido pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI).

Lutando por essa perspectiva, o Partido Socialista pela Igualdade (SEP) nos Estados Unidos lançou a candidatura de Joseph Kishore e Jerry White para a eleição de 2024 nos EUA.

No vídeo de lançamento da campanha, o candidato a presidente, Kishore, explicou: “Os dois prováveis candidatos dos democratas e dos republicanos, o Presidente Biden e o ex-Presidente Trump, representam duas frações da oligarquia financeiro-corporativa capitalista”. Se Trump “está se candidatando nem tanto para presidente, mas para ditador”, o programa central de Biden “é a guerra em expansão”.

O candidato a vice-presidente, White, acrescentou: “A nossa campanha eleitoral ... será travada na arena internacional, será travada na história e será travada pelo trotskismo – isto é, pelo socialismo genuíno.”

O programa apresentado pelos candidatos do SEP representa o caminho a seguir para os trabalhadores não só nos EUA, mas em todo o mundo. Esta campanha luta para construir a ponte necessária para um movimento unificado de trabalhadores na América Latina e dos seus irmãos e irmãs de classe no Norte. Fazemos um chamado aos trabalhadores e aos jovens no Brasil e em toda a região para que se envolvam ativamente na campanha presidencial do SEP e ajudem a construir o movimento socialista internacional.

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