Publicado originalmente em inglês em 15 de dezembro de 2025
O imperialismo americano está novamente em pé de guerra, desta vez ameaçando a Venezuela como parte de uma campanha sistemática para subjugar toda a América Latina. O presidente Donald Trump disse ao Politico na semana passada que os “dias do presidente venezuelano Nicolás Maduro estão contados” e declarou em 12 de dezembro que ataques terrestres começariam “muito em breve”.
O conselho editorial do Wall Street Journal caracterizou suas ações como uma garantia de que irá realizar a mudança de regime, escrevendo que Trump é agora “obrigado a cumprir” seu compromisso de derrubar Maduro.
As ameaças de Trump foram apoiadas pelo maior destacamento militar dos EUA ao Caribe desde a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962. O Pentágono enviou mais de 15 mil tropas, mais de uma dezena de navios de guerra, incluindo o porta-aviões Gerald R. Ford, e dezenas de aeronaves para uma área próxima à Venezuela.
Desde setembro, as forças americanas lançaram mais de 22 ataques com drones e mísseis contra barcos no sul do Caribe e no leste do Pacífico, matando pelo menos 87 pessoas.
A alegação da Casa Branca de que essas operações têm como objetivo combater o tráfico de drogas é uma fraude descarada. Os verdadeiros objetivos da intervenção dos EUA na Venezuela ficaram claros em 10 dezembro, quando o governo apreendeu um petroleiro venezuelano que transportava 1,1 milhão de barris de petróleo bruto no valor aproximado de US$ 78 milhões.
Questionado no dia seguinte sobre o que aconteceria com o petróleo apreendido, Trump respondeu como um gângster: “Bem, vamos ficar com ele, eu acho”. O petroleiro chegou agora sob escolta militar dos EUA em Galveston, no estado do Texas, um centro da indústria petrolífera dos EUA.
Os objetivos predatórios da campanha contra a Venezuela e a intervenção mais ampla na América Latina foram descritos na Estratégia de Segurança Nacional publicada pela Casa Branca no mês passado. O documento anunciou um “Corolário Trump à Doutrina Monroe”, estabelecendo explicitamente a meta de restaurar “a preeminência americana no Hemisfério Ocidental” e negar à China “a capacidade de... possuir ou controlar ativos estrategicamente vitais em nosso hemisfério”. Ele orientou o governo a “identificar oportunidades estratégicas de aquisição e investimento para empresas americanas na região”.
Esse documento afirmou efetivamente o direito dos EUA sobre todo o continente Americano, apresentado como “nosso hemisfério”. Os EUA irão “possuir” e “controlar” os recursos da América Latina, porque planejam tomá-los à força para usá-los como base de poder para o confronto com a Rússia e a China.
A Venezuela possui as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo — mais de 300 bilhões de barris. Além do petróleo, a América Latina possui vastas reservas de lítio e cobre — materiais essenciais para motores, semicondutores e baterias. O Chile é o maior produtor mundial de cobre e possui as maiores reservas de lítio.
O plano dos EUA para se apropriar do petróleo e dos recursos naturais da Venezuela possui como alvos tanto a Rússia quanto a China. A China é o maior credor da Venezuela, tendo concedido mais de US$ 62 bilhões em empréstimos desde 2005, em grande parte reembolsados por meio de vendas garantidas de petróleo, e compra atualmente 80% das exportações da Venezuela. A Rússia investiu bilhões na infraestrutura de energia venezuelana.
Em sua campanha contra a Venezuela, o governo Trump dispensou até mesmo as mais frágeis pretensões de legalidade. Na invasão do Iraque em 2003, que foi em si criminosa, o governo Bush pelo menos tentou construir alguma justificativa legal — por mais fraudulenta que fosse — para suas ações. Nenhum esforço desse tipo foi feito hoje. O governo simplesmente declarou seu direito de assassinar pessoas em alto mar, confiscar propriedades de nações estrangeiras e derrubar governos à vontade. Não existe diferença significativa entre a política que os Estados Unidos estão adotando hoje em relação à Venezuela e as invasões de Hitler aos países vizinhos no final da década de 1930.
Os Estados Unidos possuem uma longa história de intervenções na Venezuela. Em 1908, os EUA apoiaram um golpe que colocou Juan Vicente Gómez no poder, que governou como brutal ditador pelos 27 anos seguintes, abrindo as riquezas petrolíferas da Venezuela às empresas americanas.
Esse foi apenas um capítulo de uma longa e sangrenta história de operações americanas de mudança de regime em toda a América Latina — seja por meio de intervenção militar direta ou golpes da CIA. Os Estados Unidos derrubaram governos na Guatemala (1954), no Brasil (1964) e no Chile (1973); armaram esquadrões da morte em El Salvador na década de 1980; invadiram o Panamá em 1989; e, nos últimos anos, apoiaram os governos de extrema direita de Jair Bolsonaro no Brasil e Javier Milei na Argentina.
O objetivo do governo Trump é derrubar os governos da Venezuela, Colômbia e Cuba e instalar ditaduras sangrentas que saquearão os recursos naturais desses países e reprimirão brutalmente a classe trabalhadora.
A mídia americana tem funcionado como braço propagandístico dessa operação. No fim de semana, o canal CBS News transmitiu uma entrevista bajuladora com a figura da oposição venezuelana María Corina Machado, que defendeu abertamente a intervenção militar dos EUA. A razão pela qual Machado e a oposição venezuelana exigem uma invasão dos EUA é simples: eles não possuem apoio popular dentro da própria Venezuela. Após anos de esforços de desestabilização apoiados pelos EUA, a oposição não conseguiu derrubar Maduro por meios internos porque a população venezuelana não deseja ser governada por fantoches de Washington.
Dentro do establishment político dos EUA, não existiu oposição à escalada do governo Trump contra a Venezuela. O líder do Partido Democrata no Senado, Chuck Schumer, questionado em 10 de dezembro se rejeita a mudança de regime na Venezuela, respondeu: “Sabe, obviamente, se Maduro simplesmente fugisse por conta própria, todos gostariam disso”.
O senador Mark Warner, do estado da Virgínia, democrata de destaque no Comitê de Inteligência do Senado, apareceu no programa “This Week” da ABC no domingo. Quando a apresentadora Martha Raddatz perguntou a Warner se ele “concordava” com o “esforço de Trump para destituir o ditador” Maduro, Warner respondeu: “Concordo que o povo venezuelano quer que Maduro saia”.
Na semana passada, a liderança democrata no Congresso se uniu aos republicanos para aprovar o maior orçamento militar da história dos Estados Unidos. A Lei de Autorização de Defesa Nacional, no valor de US$ 901 bilhões — que ultrapassa US$ 1 trilhão quando combinada com financiamento suplementar — foi aprovada com os votos do líderes democratas na Câmara, Hakeem Jeffries, Katherine Clark e Pete Aguilar.
O New York Times, que fala por setores dominantes do Partido Democrata, publicou uma série de editoriais sob o título “Superado: Por que as Forças Armadas dos EUA devem se reinventar”. Argumentando que o Pentágono não está se preparando suficientemente para uma nova guerra mundial, o Times reconheceu que “no curto prazo, a transformação das Forças Armadas americanas pode exigir gastos adicionais”. Se a cúpula do Partido Democrata tem uma diferença com Trump, isso acontece porque ela acreditam que o presidente não está suficientemente comprometido com o confronto militar com a Rússia.
Alexandria Ocasio-Cortez e Bernie Sanders permaneceram em silêncio em meio ao fortalecimento do poderio militar. O prefeito eleito de Nova York, Zohran Mamdani, encontrou-se com Trump para uma sessão de fotos sorridente na Casa Branca, onde elogiou os esforços de Trump para promover a “acessibilidade” – enquanto as forças de Trump estavam matando civis desarmados na costa da Venezuela.
O governo Trump está acendendo o pavio de um barril de pólvora – não apenas na Venezuela, mas em toda a América Latina e dentro dos próprios Estados Unidos. Uma guerra para conquistar e ocupar a Venezuela encontraria enorme resistência da classe trabalhadora venezuelana e dos trabalhadores de todo o continente. A América Latina já é uma região de crescente luta de classes, e uma invasão dos EUA intensificaria enormemente essa oposição e aceleraria as revoltas revolucionárias em todo o hemisfério.
Os trabalhadores dos Estados Unidos possuem um profundo interesse em se opor à subjugação imperialista de seus irmãos e irmãs de classe na América Latina. O governo Trump enfrenta uma oposição crescente às suas batidas de imigração ao estilo da Gestapo, que provocaram protestos e greves em cidades de todo o país. A raiva também está aumentando devido às demissões em massa, a queda dos salários reais, a destruição da educação pública e da saúde e o orçamento militar que financia o aumento das forças no Caribe, que será pago com cortes nos programas de alimentação, do Medicaid, Medicare e da Previdência Social.
A guerra no exterior está sendo usada para intensificar a repressão no país. O mesmo governo que reivindica o direito de assassinar pessoas em águas internacionais sem provas ou devido processo legal está preparando o terreno para criminalizar a oposição dentro dos Estados Unidos. O governo Trump justificou seus assassinatos na costa da Venezuela alegando, sem apresentar nenhuma prova, que as pessoas que matou eram “terroristas”. Esse precedente, estabelecido no exterior, será importado para os Estados Unidos, onde o governo Trump usou a mesma palavra — “terroristas” — para descrever os americanos que se opõem ao fascismo.
Quando os EUA se preparavam para uma guerra em grande escala na América Central na década de 1980, visando particularmente a Nicarágua, o governo Reagan elaborou planos para prender 300 mil prováveis oponentes de guerra. Os preparativos para a repressão em massa estão muito mais avançados 40 anos depois, com uma camarilha fascista na Casa Branca.
A luta contra o ataque imperialista à Venezuela deve, portanto, ser entendida como parte de uma luta mais ampla da classe trabalhadora internacional contra a guerra, a ditadura e a contrarrevolução social.
A oposição à guerra deve ser unificada com a luta contra as batidas contra imigrantes, a austeridade e a destruição dos direitos sociais. Isso requer uma ruptura consciente com os dois partidos capitalistas e a construção de um movimento socialista internacional independente da classe trabalhadora. Somente com base nisso será possível impedir a descida para a guerra e a ditadura e reorganizar a sociedade para atender às necessidades humanas, em vez dos lucros e o poder de uma minúscula oligarquia financeira.
