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A luta contra a guerra é uma luta contra o governo do Partido Trabalhista na Austrália

Estamos publicando o discurso de Cheryl Crisp no Ato Internacional Online de Primeiro de Maio de 2023. Crisp é secretária nacional do Partido Socialista pela Igualdade, a seção australiana do Comitê Internacional da Quarta Internacional. Todos os discursos do ato podem ser assistidos clicandoaqui, com as legendas em português podendo ser ativadas nas configurações do vídeo.

Em nome do Partido Socialista pela Igualdade na Austrália, envio minhas saudações revolucionárias a todos neste ato de Primeiro de Maio.

Meus camaradas de todo o mundo neste ato advertiram sobre o perigo crescente de guerra mundial, o resultado da guerra por procuração dos EUA e da OTAN contra a Rússia na Ucrânia. A descida imprudente dos EUA e dos aliados da OTAN em uma guerra direta com a Rússia, um país com armas nucleares, resultaria no uso dessas armas, ameaçando a própria existência da humanidade.

Ato Internacional Online de Primeiro de Maio de 2023

Mas o principal alvo do imperialismo americano é a China. Na Austrália, o governo Albanese, que está prestes a completar um ano no poder, está atuando como ponta de lança para os planos americanos de guerra contra a China.

O Partido Trabalhista governa com sua chamada fração de “esquerda” que detém quase metade da bancada parlamentar trabalhista e quase todas as principais pastas, como a de primeiro-ministro, relações exteriores, saúde, finanças, habitação, infraestrutura e meio ambiente. Mas ele está sendo um dos governos mais direitistas em décadas. Suas políticas se baseiam nas exigências da classe dominante australiana, nos interesses financeiros globais, e nos preparativos para a guerra imperialista.

O primeiro ato do primeiro-ministro Albanese, horas após a eleição de maio passado e antes mesmo de o resultado ser anunciado, foi correr para a reunião da aliança Quad no Japão para consolidar o lugar de seu governo na linha de frente contra a China. Essa viagem foi seguida de visitas da Ministra das Relações Exteriores Wong para agora todas as 30 nações insulares do Pacífico com o objetivo de forçá-las a se alinharem com a Austrália e os EUA contra a China. Ela se gaba que no final do primeiro ano de governo no cargo ela terá visitado todos os países asiáticos, exceto Myanmar.

No mês passado, Albanese anunciou, junto com o presidente americano Biden e o primeiro-ministro britânico Sunak, que o governo australiano reservaria $368 bilhões para comprar submarinos movidos a energia nuclear. Isso se soma aos $537 bilhões em gastos militares que já haviam sido anunciados para a próxima década. Com uma dívida histórica do governo de quase $1 trilhão - um dinheiro que não existe - esse gasto militar será pago através de cortes no orçamento dos serviços sociais e do aumento da exploração dos trabalhadores.

O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, à direita, com o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, na base naval de Point Loma, em San Diego, nos EUA, em 13 de março de 2023. [AP Photo/Stefan Rousseau]

Foi dito por outros que a guerra no exterior significa guerra contra a classe trabalhadora em casa. É isto que o governo está empreendendo aqui na Austrália. Pagar pela guerra contra a Rússia e a China exige um ataque aos salários, às condições de trabalho e aos direitos sociais da classe trabalhadora.

Embora os salários tenham permanecido estagnados por décadas, níveis de inflação de quase 7%, juntamente com 10 aumentos consecutivos das taxas de juros, têm criado condições sociais não vistas há mais de três décadas.

O endividamento das famílias na Austrália é o segundo maior do mundo, depois da Suíça, o resultado do aumento do preço dos imóveis. Com o preço médio de uma casa em Sydney agora em $1,2 milhão, os pagamentos de empréstimos hipotecários são os mais altos da história. Os aumentos das taxas de juros impactam os lares australianos mais do que qualquer outro país devido ao fato de a maioria das hipotecas estarem em taxas variáveis. Os aluguéis aumentaram em 24% em Sydney em um ano. Surpreendentemente, 1 em cada 200 australianos está agora sem teto.

Nada reforça mais a política de lucro do governo trabalhista do que suas ações em relação à pandemia de COVID-19. Desde as eleições de maio de 2022, houve um aumento de 50% nas mortes por COVID-19 em relação aos 2,5 anos anteriores. As mortes oficiais por COVID agora ultrapassam 20.000, com o excesso de mortes somente em 2022 estimado em mais de 25.000 - a taxa mais alta desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Esse número não é uma anomalia, mas o resultado da eliminação deliberada, por parte do governo trabalhista, de todas as medidas remanescentes para conter as infecções e mortes por COVID. Até mesmo a obrigatoriedade de máscaras para visitantes e trabalhadores da saúde em hospitais acabou.

Enquanto os capitalistas e políticos responsáveis por este desastre estão impunes, cientistas e médicos de princípio como David Berger foram perseguidos por se pronunciarem contra as políticas homicidas da pandemia.

Com o colapso da base de apoio do outro principal partido do regime capitalista neste país - o Partido Liberal - a classe capitalista está confiando nos trabalhistas para governar em seu nome. Agora os trabalhistas governam em todos os estados do continente e em nível federal. No entanto, os trabalhistas também têm um apoio historicamente baixo, obtendo menos de 33% dos votos na eleição de maio passado. O papel da burocracia sindical na supressão das lutas dos trabalhadores é, portanto, crítico.

A recente ameaça do governo trabalhista da Austrália Ocidental e a Comissão de Relações Industriais do Estado em multar o sindicato dos enfermeiros do estado em $36 milhões por ter desafiado a decisão da comissão que proibiu uma greve de um dia é um alerta para a classe trabalhadora como um todo. Isso é um golpe contra todos os trabalhadores. Qualquer luta para recuperar salários perdidos, reverter condições intoleráveis de trabalho e em defesa de locais de trabalho seguros será respondida com toda a força do Estado. Isto é o que os governos farão com os enfermeiros, “nossos heróis da linha de frente”. Então o que eles estão planejando contra a classe trabalhadora como um todo?

Enfermeiros em greve na Austrália Ocidental em 25 de novembro de 2022. [Photo: Australian Nursing Federation - WA]

E qual tem sido a resposta dos dirigentes dos sindicatos de enfermeiros? Eles se comprometeram a nunca mais permitir que seus membros desafiem tais decisões e entrem em greve de forma ilegal. Praticamente todas as greves na Austrália são ilegais a menos que sejam aprovadas pelas comissões de relações industriais. Estas leis antigreve foram impostas pelos trabalhistas a partir do final dos anos 80 e são usadas pelos dirigentes sindicais para suprimir a luta de classes.

Há uma lição muito importante que os trabalhadores devem tirar. Qualquer luta da classe trabalhadora significa uma luta contra o Estado capitalista. Essa luta não pode ser travada com os dirigentes do sindicato que estão amarrando os trabalhadores a esse mesmo Estado. A formação de comitês independentes de base é um meio essencial para liberar os trabalhadores dessas amarras e permitir a unificação de suas lutas na Austrália e internacionalmente. Afinal, os trabalhadores de todos os países enfrentam os mesmos problemas.

Sobre essa base foi formada a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base, que deve ser construída, juntamente com a campanha da Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social (JEIIS) por um movimento internacional antiguerra para impedir a Terceira Guerra Mundial. Obrigado.

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