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Perspectivas

Expandir a greve nas montadoras nos EUA! Por uma paralisação de todo o setor automotivo!

Publicado originalmente em 20 de setembro de 2023

Quase uma semana após o fim do contrato de 150.000 trabalhadores da General Motors, Ford e Stellantis nos EUA, está cada vez mais claro que a “stand up strike” [greve limitada a apenas três fábricas dessas montadoras] convocada pela burocracia do Sindicatos dos Trabalhadores da Indústria Automotiva (UAW) é uma tática para enfraquecer, dividir e isolar os trabalhadores de base e forçar concessões maciças.

Com 97% dos trabalhadores da indústria automotiva votando a favor da greve, eles decidiram cruzar os braços, interromper a produção e impedir que as corporações obtenham lucros. Após décadas de concessões impostas por métodos corporativos para dividir os trabalhadores, eles votaram juntos pela greve nas três maiores montadoras dos EUA, refletindo uma consciência crescente de que a força da classe trabalhadora deriva de sua unidade.

No entanto, a “estratégia” elaborada pelo presidente Shawn Fain e o aparato do UAW é, essencialmente, uma ordem de “volta ao trabalho” disfarçada de “greve”. Ela está sendo realizada em apenas três fábricas que foram selecionadas para causar um impacto mínimo nas cadeias de suprimentos e nos lucros das corporações. Enquanto alguns milhares de trabalhadores das fábricas em greve lutarão para sobreviver com US$ 500 por semana de salário de greve, as empresas continuarão a enviar veículos estocados para as concessionárias, essencialmente sem impacto sobre os lucros.

O aparato burocrático dos sindicatos dos EUA e do Canadá está fazendo de tudo para bloquear uma ação unificada e minar a solidariedade de classe.

No Canadá, os contratos que cobriam quase 20.000 trabalhadores e que iriam vencer na noite de segunda-feira foram prorrogados unilateralmente pela direção do sindicato Unifor, provocando uma onda de raiva entre os trabalhadores. O Unifor anunciou então, na terça-feira, que um acordo provisório havia sido alcançado com a Ford. Em uma clara indicação do caráter traidor do acordo, o Unifor declarou que os detalhes não serão divulgados até as reuniões de ratificação, não dando aos trabalhadores tempo para estudar seriamente o conteúdo do contrato que está tentando aprovar.

O Unifor está trabalhando em coordenação com o UAW, bem como com os governos Joe Biden nos EUA e Justin Trudeau no Canadá. Existe a preocupação de que mesmo uma ação limitada no Canadá incentive demandas dos trabalhadores americanos por uma greve generalizada.

O jornal Automotive News escreveu na terça-feira que uma greve no Canadá “teria sérias repercussões na cadeia de suprimentos mais ampla das montadoras na América do Norte, particularmente na produção das picapes mais vendidas da Ford”. Apesar do fato de que os trabalhadores canadenses e americanos obviamente se fortaleceriam se entrassem em greve juntos, o Unifor e o UAW estão agindo como se as lutas fossem separadas para isolar e dividir os trabalhadores.

No momento, cerca de 134.000 trabalhadores nos EUA estão trabalhando sem contrato. A cada minuto que passa, os trabalhadores estão essencialmente sendo obrigados a se autossabotar, estocando mercadorias, muitas vezes fazendo horas extras forçadas, que as empresas usarão como reserva caso também entrem em greve. Trabalhando sem um contrato, os trabalhadores também estão vulneráveis à perseguição, como evidenciado pelos relatos de que a Stellantis afastou 10 trabalhadores do trabalho de sua fábrica de Warren Truck sob pretextos falsos na semana passada.

A greve limitada já está começando a forçar layoffs na GM, Ford e Stellantis e em outras empresas, e esse é outro elemento fundamental da estratégia da burocracia do UAW para enfraquecer a greve. A Ford dispensou 600 trabalhadores da fábrica de Michigan depois que os trabalhadores dos setores de pintura e montagem foram convocados para a greve, e a GM informou que é provável que haja dispensas na fábrica de Fairfax em Kansas City, Kansas.

O UAW anunciou que os trabalhadores dispensados das fábricas que não estão em greve receberão o salário de greve, mas não anunciou nenhum plano para fazer piquetes nessas instalações.

A estratégia do UAW também tem como objetivo isolar os trabalhadores da GM, Ford e Stellantis dos trabalhadores do setor de autopeças, que são seus aliados fundamentais. Não parece que o salário de greve será oferecido aos trabalhadores do setor de autopeças, mesmo aqueles que também são filiados ao UAW.

Ontem, a Dana Inc. dispensou seus trabalhadores na fábrica de Toledo Driveline, que fornece eixos para os veículos produzidos na fábrica da Stellantis Toledo, criando confusão entre os trabalhadores, que não ouviram nada do UAW sobre como sobreviverão durante a alegada “greve”.

A estratégia do aparato do UAW é motivada por vários fatores inter-relacionados. Os interesses financeiros do próprio aparato estão sendo fortemente considerados.

O UAW tem um fundo de greve de US$ 825 milhões, e os dirigentes sindicais tentaram justificar a natureza limitada da greve citando a necessidade de “proteger o fundo de greve”. O que isso realmente significa é que a burocracia quer gastar o dinheiro das contribuições sindicais dos trabalhadores em seus próprios salários, benefícios e privilégios, oferecendo o mínimo possível com o salário de greve.

US$ 825 milhões seriam suficientes para sustentar uma greve generalizada por três meses. Mas essa é apenas uma pequena parte dos recursos que a burocracia do UAW poderia colocar à disposição da greve. O UAW tem US$ 750 milhões em investimentos em ações e US$ 218 milhões em títulos do Tesouro dos EUA, de acordo com um relatório do UAW Internacional de 2022.

A burocracia paga US$ 75 milhões em salários a seus dirigentes a cada ano, o que acrescentaria US$ 1,5 milhão ao fundo de greve a cada semana e cobriria o pagamento da greve de apenas 3.000 trabalhadores. O UAW poderia usar seus US$ 112 milhões em ativos fixos (incluindo os prédios do UAW e o resort Black Lake) para alavancar um empréstimo maciço para estender a greve por mais meses. Isso poderia ser feito mesmo aumentando substancialmente o salário de greve para 70% ou 100% dos salários.

Além disso, as burocracias sindicais dos EUA têm recursos enormes para colocar à disposição da greve no setor automotivo. Em 2020, os trabalhadores dos EUA pagaram US$ 15,5 bilhões em contribuições sindicais, mas os sindicatos ofereceram menos salários de greve em relação aos ativos do que em qualquer ano anterior registrado.

Os interesses financeiros do aparato estão ligados ao seu papel como instrumento de gestão corporativa e do Estado. O governo Biden tem conversado diariamente com Fain e a burocracia do UAW. Ele está profundamente preocupado com o fato de que, se a luta dos trabalhadores de base se libertar do controle do aparato, ela derrubará a estratégia de guerra da classe dominante americana e incentivará um movimento muito mais amplo de toda a classe trabalhadora.

A alegada estratégia de greve de Fain deve ser repudiada e uma greve de verdade deve ser iniciada!

Mesmo que se aceite a falsa alegação de Fain de que uma greve isolada poderia obrigar as empresas a atender as demandas dos trabalhadores, quanto mais poderia ser conquistado com uma paralisação em todo o setor? Essa seria mais uma razão para mobilizar os trabalhadores em uma greve generalizada agora e exercer sua força máxima o mais rápido possível.

Essa iniciativa, no entanto, deve vir dos trabalhadores de base organizados em comitês independentes em cada local de trabalho.

Os trabalhadores devem convocar reuniões de emergência em seus locais de trabalho, discutir um plano de ação comum e aprovar resoluções exigindo uma paralisação na GM, Ford e Stallantis, além de outras empresas. Devem ser estabelecidas redes de comunicação para coordenar as lutas nas empresas espalhadas pelos EUA. No Canadá, os trabalhadores devem fazer campanha para rejeitar o acordo traidor anunciado pelo Unifor e preparar uma ação unificada com os trabalhadores americanos.

Uma luta determinada ganhará enorme apoio da classe trabalhadora como um todo. Há uma profunda solidariedade entre os trabalhadores de todo o setor automotivo e industrial, além de uma solidariedade internacional para avançar uma luta comum contra as corporações.

Neste mês, 98% dos 85 mil trabalhadores do setor de saúde votaram a favor de uma greve contra a Kaiser Permanente. Dezenas de milhares de trabalhadores do setor de hotelaria estão votando a favor da greve contra os cassinos de Las Vegas e Atlantic City. As greves de trabalhadores filiados ao UAW continuam na empresa de planos de saúde Blue Cross Blue Shield de Michigan e na Dometic, que fabrica produtos especializados para trailers e barcos, na Pensilvânia. Uma greve de dezenas de milhares de atores e roteiristas continua contra os gigantescos conglomerados de entretenimento. Os contratos estão vencendo para dezenas de milhares de trabalhadores do setor automotivo e membros do UAW nas próximas semanas.

Os trabalhadores de base têm um enorme poder latente. Para liberá-lo, os trabalhadores devem se organizar em todos os locais de trabalho para uma greve generalizada.

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