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Perspectivas

Os sindicatos dos EUA e os parasitas que os controlam

Publicado originalmente em 12 de agosto de 2022

Para a classe trabalhadora americana, a vida é definida cada vez mais pela exploração intensa e desenfreada por parte das empresas, cujos lucros aumentam à medida que os salários caem e as famílias lutam cada vez mais para acompanhar a inflação e o aumento do custo de vida. Os salários dos trabalhadores que pertencem a um sindicato aumentaram em 2021 muito menos (3,3%) do que a taxa de inflação (oficialmente 9%) e o aumento para os trabalhadores não sindicalizados (5,3%).

Antes, o nível de exploração nos locais de trabalho era de certa forma limitado pelos sindicatos, que os trabalhadores tinham construído como organizações defensivas através de greves poderosas e amargas lutas envolvendo milhões de trabalhadores. Hoje, os sindicatos representam apenas 6% dos trabalhadores empregados na indústria no setor privado. Mesmo onde existem sindicatos, quase não há restrições no nível de exploração que os trabalhadores enfrentam no trabalho ou na sociedade em geral.

Um novo relatório publicado pela Radish Research, “Labor’s Fortress of Finance”, traz dados sobre as finanças dos sindicatos que revelam tanto o caráter antioperário dessas organizações como o papel parasitário desempenhado pelas dezenas de milhares de seus dirigentes.

Os dados deixam claro que os sindicatos não são organizações da classe trabalhadora. Eles foram transformados em organizações que roubam dos trabalhadores bilhões de dólares através das contribuições sindicais, a fim de enriquecer os burocratas que vivem uma vida confortável entre os 10% mais ricos da sociedade americana. Eles reprimem a luta de classes e formam uma parte importante do Partido Democrata e do Estado imperialista.

Ativos, receitas, gastos e filiação dos sindicatos [Photo: Radish Research]

De acordo com os dados dos registros federais de 14.000 sindicatos municipais, estaduais e nacionais, os sindicatos americanos possuíam 35,8 bilhões de dólares em ativos em 2020, maior do que o produto interno bruto de mais da metade dos países do mundo. Somente em 2020, enquanto centenas de milhares de trabalhadores morriam de COVID-19, os sindicatos aumentaram seus ativos em 2,7 bilhões de dólares após descontarem os custos operacionais, quase igual ao lucro anual de 2020 da Airbnb.

Oitenta e cinco porcento da receita dos sindicatos vem do dinheiro das contribuições (15,5 bilhões de dólares somente em 2020), um valor que representa uma transferência anual maciça de riqueza da classe trabalhadora para a classe média alta. Além disso, os sindicatos geram outros bilhões através de outras operações parasitárias, incluindo juros sobre investimentos (509 milhões de dólares em 2020), aluguel (262 milhões de dólares), e royalties e doações (2 bilhões de dólares).

Balanço de rendimento total dos sindicatos americanos [Photo: Radish Research]

O aumento de ativos em 2020 “não foi um caso isolado, mas um padrão consistente a longo prazo”, explica o relatório. “Desde 2010, a mão de obra organizada tem gerado grandes excedentes, totalizando mais de 18,5 bilhões de dólares nos últimos onze anos, ou uma média de 1,7 bilhão de dólares por ano”. De 2010 a 2020, os sindicatos perderam 465.000 membros, enquanto as receitas totais aumentaram 28%, passando de 14,3 bilhões de dólares para 18,3 bilhões de dólares. Ainda segundo o relatório, “O aumento da receita foi impulsionado pelo aumento das contribuições dos filiados, passando de US$ 818 por filiado em 2010 para 1.091 de dólares em 2020. Além disso, aumentos significativos de investimento (+46%), aluguel (+47%) e renda diversa (+24%) contribuíram para o aumento geral das receitas.”

Os sindicatos gastam dezenas de bilhões de dólares, não para melhorar as condições dos trabalhadores que representam, mas em um aparato de funcionários de quem os trabalhadores nunca veem nem ouvem falar. Os sindicatos gastaram 15,6 bilhões de dólares em 2020, na sua esmagadora maioria em salários e benefícios para dezenas de milhares de funcionários do sindicato. Na maioria dos casos, estes funcionários são ligados ao Partido Democrata, cujo trabalho de campanha para os políticos democratas é essencialmente subsidiado involuntariamente pela classe trabalhadora.

O relatório explica que “a remuneração média anual [dos funcionários sindicais] aumentou 37% desde 2010” e que “os cargos administrativos aumentaram 28%, passando de 7.360 para 9.390 funcionários”.

De acordo com dados de 2020, “mais de 10.000 dirigentes e funcionários receberam um salário bruto superior a 125.000 dólares, colocando-os entre os 10% com maior renda nos EUA (isso não inclui os generosos benefícios de saúde, pensão e outros benefícios tipicamente fornecidos pelos sindicatos)”.

Centenas desses funcionários sindicais estão na folha de pagamento do Centro da Solidariedade da AFL-CIO, uma organização de fachada da CIA que promove os interesses da política externa imperialista americana em todo o mundo através da manipulação eleitoral, da desinformação e da supressão da luta de classes.

Em comparação, os sindicatos gastam quase nada com as greves, em média apenas 70 milhões de dólares por ano desde 2010, ou menos da metade de 1% da receita por ano. Para os dirigentes sindicais, um dólar gasto para aumentar o poder dos trabalhadores em greve é um dólar de seu próprio salário. Os interesses desses dirigentes não são os mesmos dos trabalhadores. Em todas as oportunidades que encontram, os sindicatos isolam os trabalhadores em greve e os forçam a aceitar condições favoráveis às empresas.

Benefícios de greve vs. ativos sindicais por ano [Photo: Radish Research]

Notavelmente, esses números subestimam significativamente os ativos dos sindicatos e de seus dirigentes. O relatório não inclui sindicatos compostos somente por funcionários públicos, pois estes sindicatos não são obrigados a apresentar relatórios federais de seus bens, receitas e despesas, embora sindicatos mistos como o SEIU (Sindicato Internacional dos Funcionários do Setor de Serviços) devam apresentar. O relatório também não inclui o valor dos fundos de pensão dos sindicatos privados e públicos, que valem cerca de 7 trilhões de dólares.

Se nada for feito para reverter estas tendências, o relatório observa que o patrimônio dos sindicatos aumentaria de 35,8 bilhões de dólares para 75,6 bilhões de dólares em 2030, mesmo quando se espera que os sindicatos percam outros 800.000 filiados. Em outras palavras, dezenas de milhares de dirigentes sindicais planejam roubar várias dezenas de bilhões de dólares a mais de trabalhadores nos próximos anos para se enriquecerem.

Para desafiar o domínio das empresas sobre todos os aspectos da vida, a classe trabalhadora pode e deve aproveitar seu enorme potencial poder econômico e libertar-se do estrangulamento que lhe é imposto pelos sindicatos.

A campanha de Will Lehman, trabalhador da Mack Trucks na Pennsylvania, para presidente do UAW (Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automotiva) é um importante passo nesta luta.

A maior parte da diretoria do UAW, incluindo dois ex-presidentes recentes, foi condenada por aceitar subornos das empresas. Mas a corrupção do UAW é apenas a expressão mais descarada da relação entre a AFL-CIO e a direção das empresas, e os trabalhadores da indústria automotiva, assim como os de outras categorias, têm enfrentado décadas de ataques aos salários e condições de vida supervisionados pelas empresas e sindicatos.

Por essa razão, Lehman explicou em uma declaração após sua nomeação na convenção do UAW que sua campanha tem como objetivo “construir um movimento de base contra todo o aparato pró-corporativo do UAW”.

Lehman tem conquistado apoio por exigir que os bens do UAW sejam tirados do aparato e colocados sob o controle democrático dos próprios trabalhadores, podendo ser usado não para enriquecer a burocracia, mas para combater as corporações e dar poder à classe trabalhadora.

Isso não significa substituir um burocrata por outro, mas construir um movimento de massa de trabalhadores internacionalmente e em todas as categorias para “lutar pelo que precisamos, não pelo que as empresas e os burocratas do UAW dizem ser possível. Tal luta não pode e não será levada adiante pelos dirigentes corporativos que recebem salários de seis dígitos na Casa da Solidariedade. O aparato burocrático que existe apenas para reprimir nossas lutas não pode ser reformado. Ele deve ser varrido.”

A campanha de Lehman enfrentará uma oposição feroz de todos aqueles dentro do aparato que podem perder seus empregos e salários quando os trabalhadores retomarem o poder. Por esse motivo, nem um único membro dos Socialistas Democráticos da América (DSA) nomeou Lehman na convenção e nem uma única publicação da pseudoesquerda escreveu sobre sua campanha. Esses indivíduos e tendências representam a mesma classe média-alta abastada à qual os próprios dirigentes sindicais pertencem.

Uma rebelião está se formando na classe trabalhadora em escala global, exacerbada pela pandemia e pelas provocações de guerra imperialista dos EUA contra a Rússia e a China. A próxima rebelião encontrará expressão política através da construção da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB), uma rede internacional de organizações democráticas e controladas pelos trabalhadores com o objetivo de quebrar o isolamento imposto pelos sindicatos nacionais. Através da AOI-CB, a classe trabalhadora pode e irá lançar uma luta global contra as corporações globais e os governos que servem seus interesses, e desencadear uma contraofensiva internacional contra décadas de contrarrevolução social.

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