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Em meio a greves em universidades de São Paulo, trabalhadores do Metrô, CPTM e Sabesp realizam paralisação contra privatizações

Na terça-feira passada, 3 de outubro, trabalhadores de cinco linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), de cinco linhas do Metrô e da Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) realizaram um dia de greve contra o amplo plano de privatização do governador de extrema direita de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Assembleia que aprovou a greve de estudantes da USP em 18 de setembro [Photo: Adusp]

Essa paralisação aconteceu em meio a uma série de greves que têm estourado nas últimas semanas em São Paulo, o maior e mais rico estado brasileiro. Na maior delas, estudantes da Universidade de São Paulo (USP), a maior universidade da América Latina com quase 100 mil alunos, estão em greve desde o dia 18 de setembro contra a falta de professores e por políticas de permanência na universidade.

Em 27 de setembro, os professores da USP também entraram em greve, enquanto os funcionários da universidade participaram da paralisação do dia 3 de outubro.

Na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), os funcionários estão em greve desde o final de agosto por aumento salarial e contra a instalação do ponto eletrônico. Os estudantes da UNICAMP realizaram uma paralisação em solidariedade às greves na USP e na própria universidade na terça-feira passada, quando decidiram entrar em greve contra a precarização da educação e a falta de professores e infraestrutura adequada.

Embora as lideranças de pseudoesquerda dos sindicatos e das organizações estudantis estejam concentrando sua oposição contra o atual governador de São Paulo, os ataques que os trabalhadores e estudantes estão agora enfrentando foram sistematicamente promovidos durante anos por todas as frações políticas da classe dominante.

Até recentemente, as políticas de privatização e destruição dos serviços sociais foram presididas no estado de São Paulo pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), especialmente pelo ex-governador Geraldo Alckmin, que permaneceu no cargo por 12 anos.

Durante anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) e seus apoiadores da pseudoesquerda, como o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), desviaram a classe trabalhadora da luta aberta contra o capitalismo, atribuindo todos os problemas sociais ao “projeto neoliberal” do PSDB. Mas nas recentes eleições brasileiras, o PT escolheu Alckmin como o mais adequado para ser vice-presidente do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu aliado político na luta contra o “bolsonarismo”.

Hoje, o governo Tarcísio está aprofundando os ataques capitalistas contra a classe trabalhadora em meio a uma aguda crise econômica e social no Brasil e internacionalmente impulsionada pela pandemia de COVID-19 e pela guerra na Ucrânia. Ex-ministro do governo Jair Bolsonaro e um aliado fiel do ex-presidente fascistoide, ele foi eleito governador no ano passado e está implementando uma combinação de políticas de lei e ordem, dando sinal verde para a Polícia Militar de São Paulo matar sem impedimento, e duros ataques aos trabalhadores e juventude de São Paulo.

Tarcísio atacou as greves de terça-feira passada, dizendo que o movimento era “político, ilegal e abusivo”. A justiça de São Paulo, trabalhando em estreito contato com o governador, tinha determinado antes da greve a operação de 100% dos serviços de trens e metrôs nos horários de pico e 80% nos demais horários, com uma multa de 500 mil reais caso a determinação judicial fosse descumprida. Porém, os trabalhadores do Metrô e da CPTM desafiaram essa decisão.

O governo Tarcísio pretende levar adiante um amplo programa de privatização, que além da Sabesp e linhas do Metrô e da CPTM, inclui a privatização de 100 unidades da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA). Dessas empresas públicas, o projeto de privatização mais avançado é o da Sabesp, uma das maiores empresas de saneamento do mundo, que atende mais de 28 milhões de pessoas de São Paulo. A Sabesp é uma empresa de economia mista que possui ações nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York, e em 2022 teve um lucro de 3,21 milhões de reais.

Os resultados desastrosos da privatização dos serviços públicos em São Paulo já estão sendo sentidos nas linhas do Metrô e da CPTM geridas por empresas privadas, que apresentam a maior parte das falhas do sistema de trens do estado. A perspectiva de serviços piores e mais caros, como tem acontecido em todo o mundo, fez com que a privatização da Sabesp seja rejeitada pela maioria da população de São Paulo.

A educação superior pública paulista está passando por um processo semelhante, que combina cortes no orçamento, avanço de medidas pró-mercado nas universidades estaduais e terceirização de serviços. Desde 2014, a USP perdeu mais de 1.000 professores, o que tem feito com que muitas disciplinas não sejam oferecidas e os alunos de alguns cursos tenham que adiar sua formatura. Essa situação insustentável fez com que todos os 28 cursos nos campi da USP na cidade de São Paulo aderissem a uma das maiores greves da história da universidade.

Os trabalhadores Metrô, da CPTM e da Sabesp, assim como os estudantes da USP e da UNICAMP em greve, estão enfrentando uma luta em duas frentes, tanto contra os partidos capitalistas quanto contra as burocracias dos sindicatos e das organizações estudantis. Cada uma à sua maneira, as organizações de pseudoesquerda estão trabalhando para isolar suas lutas e desviá-las para pressionar de maneira estéril o governo Lula e o próprio governo Tarcísio.

A presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e membro da tendência morenista Resistência do PSOL, Camila Lisboa, escreveu no X/Twitter que a luta contra a privatização pode ser avançada pressionando o governo Tarcísio a realizar um “plebiscito oficial para que a população possa democraticamente decidir”. O caráter fraudulento dessa demanda foi exposto durante a própria greve do dia 3 de outubro, quando o governador dobrou suas intenções de privatizar as empresas públicas.

A Resistência é uma das organizações de pseudoesquerda que mais tem defendido que a luta contra a extrema direita em São Paulo e no Brasil deve ser realizada através de uma “frente ampla” que envolve movimentos sociais e partidos burgueses como o PT. Para isso, ela tem ignorado os ataques do governo Lula à educação e seu amplo projeto de Parcerias Público Privadas lançado recentemente, o que foi expresso antes da greve por Lisboa em entrevista à Carta Capital: “adoraríamos receber o presidente Lula nos nossos piquetes ... para derrotar o projeto bolsonarista do governador Tarcísio de privatizar as empresas públicas de São Paulo”.

O morenista Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) e seu movimento de juventude, Faísca Revolucionária, que publicam o Esquerda Diário, estão avançando uma retórica mais radical que inclui propostas formais como assembleias e comandos de greve unificados sem nenhum conteúdo político definido e totalmente subordinados à burocracia sindical. O MRT saudou as greves de 3 de outubro como um exemplo da “aliança operário-estudantil”, defendendo que “As centrais [sindicais], como CUT e CTB [controladas, respectivamente, pelo PT e o maoísta Partido Comunista do Brasil], e sindicatos devem construir essa luta unificada em todas as categorias já!”

Já o lambertista Partido da Causa Operária (PCO) denunciou o fato de a “‘direção’ do movimento grevista [na USP] ... estar nas mãos de setores golpistas da esquerda pequeno burguesa”, como o PSOL, MRT e partidos maoístas e stalinistas, lamentando que o PT está se mantendo “às margens daquilo que acontece na maior universidade do País”.

Tentando dar uma fachada de esquerda à subordinação do movimento estudantil ao Estado capitalista, o PCO defendeu que a greve na USP “evolua para uma greve política que ultrapasse as demandas do sindicalismo estudantil” e as “grandes questões nacionais” sejam debatidas. Em outras palavras, o PCO quer que a greve “evolua” para pressionar o governo do PT a implementar um programa nacionalista burguês falido.

Os trabalhadores de São Paulo lutando contra as privatizações e os estudantes das universidades devem rejeitar essas perspectivas nacionalistas e de subordinação ao governo Lula e aos sindicatos controlados pelo PT e seus satélites da pseudoesquerda.

Eles devem se orientar para o movimento crescente da classe trabalhadora internacional e adotar uma estratégia socialista e internacionalista, defendendo a expropriação da riqueza da elite dominante para garantir um amplo investimento público em educação, no transporte e no sistema de água e saneamento básico.

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