Português
Perspectivas

Como avançar a luta contra o genocídio em Gaza

Manifestantes em Washington, D.C., seguram cartazes contra o genocídio de Israel em 4 de novembro. O cartaz da frente, da International Youth and Students for Social Equality, diz “Biden e Netanyahu são criminosos de guerra!”

Publicado originalmente em 6 de novembro de 2023

Neste fim de semana, milhões de pessoas em cidades de todo o mundo participaram das maiores manifestações de massa já realizadas contra o genocídio de Israel em Gaza, levado a cabo com a cumplicidade das potências imperialistas.

Essas manifestações globais são históricas. Apesar do apoio total dos governos do eixo EUA-OTAN às ações de Israel, apesar da enxurrada de calúnias e propaganda pela mídia, apesar das ameaças e intimidação contra aqueles que se posicionaram, milhões de pessoas se levantaram contra o genocídio.

Durante o Holocausto, os nazistas foram capazes de transportar milhões de judeus para câmaras de gás sem que o mundo soubesse. Mas hoje milhões de pessoas em todo o mundo testemunham um genocídio em tempo real, através da tecnologia moderna de comunicação, e são movidas a agir.

Nos Estados Unidos, 300 mil pessoas marcharam em Washington, D.C., a cabine de comando dos planos de guerra imperialista. Dezenas de milhares participaram de protestos em Nova York, Chicago, Los Angeles e outras cidades, incluindo São Francisco, onde mais de 10 mil se manifestaram. No Canadá, 40 mil pessoas marcharam do consulado dos EUA em Toronto até a Câmara local.

Após uma manifestação de 500 mil pessoas em Londres na semana passada, sem que um ato nacional fosse convocado, cerca de 50 mil londrinos protestaram na Trafalgar Square neste fim de semana. Outras dezenas de milhares protestaram em cidades do Reino Unido, incluindo Liverpool, Manchester, Birmingham, Glasgow, Edimburgo, Cardiff e Belfast.

Apesar dos esforços do governo alemão para criminalizar a oposição ao genocídio de Israel, dezenas de milhares foram às ruas em todo o país. As maiores manifestações ocorreram em Berlim (mais de 20 mil) e em Düsseldorf (30 mil). Milhares de pessoas também protestaram em outras cidades, como Stuttgart, Munique e Frankfurt.

Trabalhadores e jovens de toda a região da Ásia-Pacífico participaram dos protestos. Na Indonésia, milhões se reuniram em Jacarta, com algumas estimativas nas redes sociais indicando a participação de 2 milhões. Dezenas de milhares participaram de protestos na Malásia, inclusive em um estádio de futebol lotado em Terengganu. Milhares marcharam em Tóquio, no Japão, e centenas se reuniram em Seul, na Coreia do Sul. Na Austrália e Nova Zelândia, dezenas de milhares participaram de marchas em todas as grandes cidades, incluindo Sydney, Melbourne, Brisbane e Auckland.

A imprensa dos EUA reagiu às manifestações que envolveram milhões de pessoas simplesmente as ignorando-as ou, ao ver que isso era impossível, mentindo sobre sua extensão. O New York Times publicou um artigo curto, rapidamente enterrado em seu site, afirmando que “dezenas de milhares” participaram de manifestações nos EUA, apesar de mostrarem uma foto do ato de quase meio milhão de pessoas em Washington. A mídia capitalista, refletindo as preocupações da classe dominante, é contrária e tem medo do sentimento da grande maioria da população mundial.

As manifestações têm, antes de tudo, uma importância objetiva. Elas são parte de um movimento crescente contra as políticas da elite dominante capitalista. É importante ressaltar o seu desenvolvimento como um movimento global, que abrange trabalhadores e jovens de todas as nacionalidades, etnias, idades e gêneros. Um número cada vez maior de manifestantes judeus denuncia a mentira, promovida por Israel e seus apoiadores imperialistas, de que o governo de Netanyahu age em seu nome.

O que todos se perguntam agora é: Qual é o passo a seguir? Como fazer avançar a luta contra o genocídio de Israel?

Primeiro, o genocídio em Gaza e o apoio que recebe de todas as potências imperialistas do eixo EUA-OTAN devem ser vistos em conexão com a escalada da guerra global, incluindo a guerra dos EUA-OTAN contra a Rússia na Ucrânia e os preparativos para a guerra contra o Irã e a China. As potências imperialistas estão envolvidas em uma guerra contra a população do mundo inteiro. O massacre dos palestinos serve como um aviso de que, na busca de seus objetivos estratégicos, elas não vão parar por nada.

Segundo, não existe oposição dentro do establishment político à redivisão imperialista do mundo. Os gritos dos manifestantes em Washington de “Joe Genocida” e “Biden Biden, você não pode se esconder, nós o acusamos de genocídio” mostram o reconhecimento geral de que o governo de Netanyahu não poderia fazer o que está fazendo sem o apoio ativo de Washington e a coordenação de Israel com o governo Biden.

Não é apenas Biden como indivíduo que está sendo exposto, mas o Partido Democrata como um instrumento da burguesia imperialista americana. Muitos jovens que participaram das manifestações nos EUA apoiaram, em algum momento, a candidatura de Bernie Sanders, o senador de Vermont que posa como sendo de esquerda e até mesmo “socialista”.

No entanto, em uma demonstração aberta de desprezo pelas manifestações de massas, Sanders apareceu no programa de entrevistas “State of the Union” da CNN para proclamar sua oposição a um cessar-fogo. “Não sei como um cessar-fogo é possível com uma organização como o Hamas, que se dedica ao tumulto e ao caos”, disse Sanders, acrescentando: “o Hamas precisa sair”. Ao apoiar as ações de Israel, Sanders assume a liderança de uma tendência política que deveria ser conhecida como “Socialistas Democráticos pelo Genocídio”.

De diferentes formas, o genocídio em Gaza está expondo a pseudoesquerda apoiadora do capitalismo e do imperialismo em todos os países, que representam setores privilegiados da classe média alta.

Terceiro, a base social para combater os crimes de guerra de Israel e a guerra imperialista mais ampla na qual eles estão inseridos é a classe trabalhadora, a grande maioria da população mundial. Não é por meio de apelos aos Estados capitalistas e aos partidos da classe dominante que o genocídio será interrompido, mas por meio da mobilização da força social que produz toda a riqueza da sociedade.

O apelo dos sindicatos palestinos por uma ação nos locais de trabalho para impedir o envio de armas para Israel começou a ser implementados pelos trabalhadores, incluindo trabalhadores na Bélgica e estivadores da costa oeste dos EUA. Esse movimento precisa se ampliar por todo o mundo. Ele precisa se ligar à mobilização dos trabalhadores em uma greve geral política para interromper a produção e exigir a suspensão imediata do cerco a Gaza, a retirada das forças israelenses e ajuda humanitária urgente para as massas de pessoas passando fome e sendo massacradas.

Quarto, o desenvolvimento de um movimento de massas da classe trabalhadora precisa tomar a forma de um movimento internacional contra o capitalismo e pelo socialismo. A fome sistemática, os bombardeios e a expulsão de uma população de mais de 2,3 milhões de pessoas em Gaza são produto não apenas da criminalidade monstruosa do regime de Netanyahu e de seus apoiadores no eixo EUA-OTAN, mas, mais fundamentalmente, do sistema capitalista como um todo.

Em quinto lugar, e mais importante, está a questão da direção revolucionária. Em sua declaração do início de 2020, “Começa a década da revolução socialista”, o World Socialist Web Site chamou atenção à intensificação da crise capitalista e o enorme crescimento da oposição social na década anterior. Observamos que “as massas, acumulando experiência no curso da luta, estão passando por uma profunda mudança em sua orientação social e política. É no contexto desse processo revolucionário que a luta pela consciência socialista se desenvolverá.”

Desde que essa declaração foi escrita, o mundo passou por uma pandemia global que matou mais de 20 milhões de pessoas devido à subordinação da vida humana ao lucro; a tentativa de um golpe fascista nos Estados Unidos e outros países, como o Brasil; a eclosão da guerra dos EUA e a OTAN contra a Rússia, que ameaça se transformar em uma guerra nuclear mundial; e agora o genocídio em Gaza. Todos esses fenômenos expressam o aprofundamento da crise do sistema capitalista.

Os protestos de massas em todo o mundo expressam o choque em curso entre as elites dominantes capitalistas e a classe trabalhadora internacional. A transformação desse processo objetivo em um movimento consciente pelo socialismo exige a construção de uma direção política que tenha como objetivo a conquista do poder pela classe trabalhadora, a derrubada do capitalismo e do imperialismo e o estabelecimento do socialismo em escala mundial.

Essa é a perspectiva defendida pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional e seus Partidos Socialistas pela Igualdade afiliados em todo o mundo.

Loading