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Após enterrarem greve, sindicatos sancionam cortes na GM Brasil

No início de dezembro, menos de um mês após enterrarem uma greve contra 1,2 mil demissões em três plantas da General Motors no estado de São Paulo, as burocracias sindicais começaram a imposição de um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV). A mesma proposta, com pequenas modificações, já fora recusada pelos trabalhadores em setembro. Em resposta, a GM decretou as demissões sumárias que desencadearam a greve.

Assembleia na fábrica da GM de São José dos Campos [Photo: Roosevelt Cássio/sindmetalsjc]

Em um artigo de 14 de novembro denunciando o encerramento precipitado da greve pelos sindicatos corporativistas, o WSWS alertou: “Após declararem ‘vitória’ dos trabalhadores, os burocratas sindicais estão se preparando para impor os cortes exigidos pela empresa”. Isso é exatamente o que está acontecendo hoje.

Para promover o “novo” PDV, os sindicatos exaltaram a melhoria das compensações oferecidas pela empresa. Um artigo reproduzido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, controlado pela CUT, anunciava: “PDV da GM, aprovado também em [São Caetano do Sul], oferece até um [veículo] Onix”. Isso não passa de um suborno, utilizado pela empresa em combinação com a ameaça de demissões sumárias, para dividir os trabalhadores e quebrar sua resistência.

A hostilidade dos burocratas sindicais ao movimento dos trabalhadores foi demonstrada nos pontos negociados com a GM especificamente em relação à greve. Eles acordaram que a empresa pagará por apenas 50% dos dias parados, “de acordo com a necessidade de produção”, até junho de 2024. O pagamento dos dias parados foi um dos principais motivos apresentados pelos dirigentes sindicais para pôr fim à greve.

Porém, o principal componente do acordo do PDV é a absurda “estabilidade no emprego até 3 maio de 2024”, que significa que os trabalhadores que se recusarem a abandonar seus empregos e padrões de vida imediatamente, arriscam perde-los de todo modo em apenas cinco meses e sem compensação nenhuma.

O plano mostra o verdadeiro significado da “reversão das demissões” celebrada pelos sindicatos para enterrar a greve.

Em 22 de outubro, funcionários das plantas de São José dos Campos, Mogi das Cruzes e São Caetano do Sul receberam cartas de demissão sumária. O conjunto dos trabalhadores das três fábricas responderam aprovando imediatamente uma greve tendo como demanda central a reversão imediata das demissões e a garantia dos empregos.

No primeiro dia de greve, Valmir Mariano, líder do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SMSJC), dirigido pelo pseudoesquerdista Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), afirmou: “Não vamos produzir um parafuso sequer enquanto as demissões não forem canceladas”. Enquanto faziam declarações retóricas a favor dos empregos, os burocratas trabalhavam para manter a luta dos trabalhadores sob o controle seguro dos Tribunais do Trabalho e desviar suas demandas para apelos ao governo estadual do ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, e ao governo federal de Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT).

Após decisões judiciais entre os dias 2 e 3 de novembro pela “suspensão” das demissões, que ainda permitiam à GM executar os cortes em um momento posterior, os sindicatos maliciosamente anunciaram uma “vitória” e convocaram os trabalhadores aos pátios das fábricas para votar o fim da greve.

Em 4 de novembro, ainda em meio a declarações da GM de que resistiria à decisão judicial, Valmir Mariano do SMSJC afirmou: “A retomada dos empregos é uma vitória histórica, fruto da forte luta dos trabalhadores das 3 cidades”. Após enterrarem o movimento grevista, o Opinião Socialista, jornal do PSTU, publicou como manchete: “Com empregos e dias parados garantidos, metalúrgicos da General Motors suspendem greve”.

Ao contrário das declarações retóricas das direções sindicais no início da greve de outubro chamando “pela reversão das demissões” e “pela garantia dos empregos”, a realidade é que os próprios sindicatos trataram as demissões como um fato consumado. O secretário-geral da CSP-Conlutas, a central sindical dirigida pelos morenistas do PSTU, afirmou em 1º de dezembro em São José dos Campos: “O sindicato é contra qualquer fechamento de postos de trabalho, mas o PDV já era uma pauta nossa como alternativa às demissões arbitrárias que chegaram a ser feitas pela GM”.

O problema enfrentado pelos burocratas no controle do aparato sindical é que suas manobras sujas, que se repetem ano após ano, têm se mostrado cada vez mais incapazes de ofuscar a ameaçadora perspectiva de desemprego e empobrecimento para milhares de trabalhadores.

Os morenistas à frente da CSP-Conlutas e do SMJSC cumpriram um papel central no desvio da enorme oposição dos trabalhadores da GM que permaneceram em greve por 17 dias. Tendo supervisionado há anos a implementação dos cortes na planta de São José, a CSP-Conlutas busca se apresentar falsamente como alternativa de “esquerda” aos desacreditados aparatos burocráticos da Força Sindical e da CUT, ligado ao PT.

O programa antioperário da burocracia morenista foi flagrantemente exposto na sua defesa do reacionário United Auto Workers (UAW) dos Estados Unidos. Semanas antes de estourar a greve na GM do Brasil, os burocratas da CSP-Conlutas visitaram os EUA para apoiar a sabotagem sistemática do UAW à greve de 150 mil trabalhadores automotivos. Além dos morenistas brasileiros, o UAW recebeu nos piquetes o presidente Joe Biden, que via a supressão do movimento nas montadoras como crucial para o avanço de sua política febril de guerra imperialista mundial.

Logo após os anúncios de demissões nas plantas de São Paulo, o líder da CSP-Conlutas, Mariano, anunciou: “Vimos nos Estados Unidos a força dos trabalhadores da GM e de outras montadoras.... Com as demissões no Brasil, certamente haverá um impacto mútuo da situação entre os dois países. A solidariedade internacional será muito importante nesse momento”.

A única forma de “solidariedade internacional” defendida pelos morenistas é a solidariedade das burocracias sindicais corporativistas contra a oposição crescente que enfrentam da classe trabalhadora mundialmente. A CSP-Conlutas escondeu deliberadamente dos operários brasileiros a crescente oposição organizada dos trabalhadores automotivos nos EUA em comitês de base independentes da burocracia do UAW. Ao invés disso, apresentaram a direção ilegítima deste sindicato corrupto e chauvinista como sendo “combativa” e internacionalista.

Aliados ao UAW, os morenistas promoveram sistematicamente o isolamento da greve na GM brasileira do movimento dos trabalhadores nos EUA. Defendendo as decisões dos Tribunais do Trabalho e a pressão sobre o governo Lula como os meios necessários para assegurar os empregos, eles buscaram os trabalhadores brasileiros ao falido Estado nacional capitalista.

Os trabalhadores precisam urgentemente arrancar o controle de seu movimento das mãos da burocracia sindical. Se essas organizações falidas e reacionárias puderem se manter no controle, todas as manifestações de oposição serão suprimidas em benefício dos interesses empresariais, o que irá inevitavelmente significar mais cortes de salários e empregos.

Acima de tudo, os trabalhadores precisam entender que, para derrotar os planos de cortes globais das empresas automotivas, sua luta precisa assumir um caráter conscientemente internacional. A única alternativa aos trabalhadores está na organização independente dos sindicatos e governos capitalistas e em unidade com os trabalhadores de outros países através da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB).

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