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Perspectivas

Biden admite que Israel está executando “bombardeio indiscriminado”: Uma confissão de cumplicidade em crimes de guerra

Porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, fala durante coletiva de imprensa na Casa Branca em Washington, 13 de dezembro de 2023. Após Biden admitir que Israel está executando o “bombardeio indiscriminado”, Kirby disse que “Nós iremos continuar apoiando” Israel e que “eles têm todo o direito de se defenderem” (AP Photo/Andrew Harnik) [AP Photo/Andrew Harnik]

Publicado originalmente em 14 de dezembro de 2023

Na terça-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez uma série de admissões em relação ao atual genocídio em Gaza que deixam claro que os Estados Unidos estão conscientemente auxiliando e incentivando o que sabem ser crimes de guerra por parte do governo israelense.

Em um evento de sua campanha, Biden declarou que Israel está realizando “bombardeios indiscriminados” contra a população civil de Gaza. Posteriormente, ele acrescentou que o ministro da Segurança Nacional de Israel “Ben-Gvir e companhia e o pessoal novo, eles... Eles não querem apenas se vingar, o que devem fazer pelo que os palestinos – Hamas – fizeram, mas contra todos os palestinos”.

Em outras palavras, Biden admitiu que Israel não está se esforçando para limitar as mortes de civis, e o motivo é que o ministro da Segurança Nacional está deliberadamente buscando vingança, ou seja, uma punição coletiva, contra todos os civis palestinos, inclusive mulheres e crianças desarmadas.

Assim, o presidente americano admitiu estar armando, financiando e apoiando politicamente o assassinato intencional de membros civis de um grupo étnico alvo, ou seja, genocídio. Significativamente, mesmo à luz dessas admissões, Biden reiterou que os Estados Unidos continuariam a financiar e armar incondicionalmente os militares israelenses, declarando que “nesse meio tempo, nada disso irá afastar o fornecimento para Israel do que eles precisam para se defender e terminar a tarefa”.

Os ataques indiscriminados são proibidos pelo Protocolo Adicional I das convenções de Genebra de 1977. Eles constituem um crime de guerra de acordo com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, e seus autores podem ser processados e responsabilizados em tribunais internacionais e nacionais.

Significativamente, em várias ocasiões, o governo Biden deixou claro que os Estados Unidos não estabeleceram limites para a extensão a que Israel pode atingir civis. Em 7 de novembro, questionado se “ainda é o caso” de que o governo “não possui linhas vermelhas” em relação a mortes de civis, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, respondeu: “Ainda é o caso”.

As declarações de Biden na terça-feira serão a prova número um em qualquer julgamento de crimes de guerra, constituindo efetivamente uma admissão de que os Estados Unidos estão conscientemente auxiliando e incentivando crimes de guerra de Israel.

Em uma coletiva de imprensa na quarta-feira, Kirby e o porta-voz do departamento de Estado, Matthew Miller, entraram em modo de controle de danos, tentando voltar atrás nas declarações do presidente, com Miller declarando efetivamente que a admissão de Biden não representava a posição formal do governo dos EUA. “Não fizemos uma determinação formal para essa pergunta”, disse Miller.

Um repórter perguntou: “O presidente acredita, com base nesses comentários, que a conduta de Israel nessa guerra até agora está de acordo com o direito internacional?” Kirby disse o contrário da declaração de Biden de que Israel está realizando “bombardeios indiscriminados”. Ele afirmou que “sabemos que eles declararam sua intenção de reduzir as mortes de civis. E eles agiram de acordo com isso (...) publicando um mapa online”.

Outro repórter perguntou: “Biden disse ontem, é claro, ocorreram ataques indiscriminados, o que para o resto do mundo é um crime de guerra”.

Kirby respondeu: “Existe uma intenção clara dos israelenses e uma tentativa que eles admitiram publicamente de fazer tudo o que puderem para reduzir o número de vítimas civis”.

Kirby acrescentou: “Continuaremos a apoiá-los... Eles têm todo o direito de se defender”.

A definição oficial de genocídio da ONU observa que existem dois elementos para o crime de genocídio, “um elemento mental” e “um elemento físico”, sendo que o elemento físico é “matar membros do grupo” ou “causar sérios danos físicos ou mentais a membros do grupo”. Israel matou pelo menos 10 mil crianças palestinas e feriu dezenas de milhares de outras.

No entanto, a ONU observa que “a intenção é o elemento mais difícil de determinar”. A organização acrescenta: “Para constituir genocídio, deve existir uma intenção comprovada por parte dos perpetradores de destruir fisicamente um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”.

Porém, conforme explicou Craig Mokhiber, ex-diretor do escritório de Nova York do alto comissariado da ONU para os Direitos Humanos, o ataque israelense a Gaza é um “caso clássico de genocídio”, justamente porque “as declarações explícitas de intenção dos líderes do governo e das forças armadas israelenses não deixam margem para dúvidas ou debates”.

Entre inúmeros exemplos, Giora Eiland, ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, pediu o alvejamento deliberado de civis palestinos e a criação de condições para a disseminação de “epidemias graves”.

No entanto, o principal financiador e negociante de armas do governo que está cometendo o genocídio declarou explicitamente que eles estão “matando membros do grupo” porque querem atingir toda a população palestina.

O documento da ONU que define o genocídio aponta: “Isso significa que o alvo da destruição deve ser o grupo, como tal, e não seus membros como indivíduos”. Quando Biden admite que o ministério da Defesa israelense está buscando “vingança (...) contra todos os palestinos”, ele está deixando claro que Israel está levando adiante exatamente esse crítico componente do genocídio.

Biden fez essas declarações no contexto de uma votação esmagadora na assembleia geral da ONU pedindo um cessar-fogo em Gaza. Os Estados Unidos estavam entre um punhado de países que votaram “não”.

Porém, assim como dezenas de resoluções não vinculantes aprovadas pela ONU ao longo de décadas, essa resolução não terá efeito direto.

O porta-voz do departamento de Estado, Matthew Miller, deixou isso perfeitamente claro em seu informe na quarta-feira, declarando: “[Não] é a primeira vez que Israel não se sai bem em uma votação na ONU; vocês viram a ONU fazer uma série de votações, muitas vezes com margens bastante dramáticas em relação a Israel, quando discordamos do resultado dessas votações. Portanto, essa não é a primeira vez que isso acontece”.

Em outras palavras, os Estados Unidos estão deixando claro que votos simbólicos na Assembleia Geral da ONU não farão nada para impedir suas atividades criminosas. Israel, por sua vez, desafiou abertamente a votação, executando uma série de atrocidades na terça-feira, incluindo a explosão de uma escola operada pela UNRWA, a agência para refugiados da ONU na Palestina, e a inundação de estruturas subterrâneas em Gaza com água do mar, potencialmente envenenando o abastecimento de água e matando a vida vegetal que sustenta a agricultura.

Ao anunciar que os EUA votariam contra um cessar-fogo em Gaza, a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse: “Qualquer cessar-fogo neste momento seria temporário na melhor das hipóteses, e perigoso na pior”. Ela acrescentou: “Israel, assim como todos os países do mundo, tem o direito e a responsabilidade de defender seu povo de atos de terrorismo”.

Os trabalhadores e os jovens devem tirar as lições desses acontecimentos. Os países imperialistas que votaram a favor do cessar-fogo – incluindo a França e a Austrália – bem como os que se abstiveram, incluindo o Reino Unido, a Itália e a Alemanha – todos endossaram o ataque de Israel contra Gaza e forneceram apoio logístico material para ele, com o Reino Unido, a França e a Austrália enviando navios de guerra para a região a fim de ameaçar o Irã para que não intervenha.

Cada um desses países tentou criminalizar as manifestações contra o genocídio, buscando equiparar a oposição ao genocídio ao antissemitismo e ao apoio ao terrorismo.

Os Estados árabes, por sua vez, permitiram durante anos a opressão de Israel e o assassinato em massa da população palestina em um esforço para buscar uma acomodação com o imperialismo americano.

Não se pode confiar em nenhum desses governos ou instituições para impedir o genocídio em Gaza. A realidade básica é que a luta contra o genocídio em Gaza é uma luta contra os governos que o estão apoiando.

Por esse motivo, para deter o genocídio em Gaza é necessária a mobilização em massa da classe trabalhadora. Os trabalhadores devem apoiar o chamado dos sindicatos palestinos para que não manuseiem material de guerra destinado a Israel. As manifestações globais de milhões de pessoas contra o genocídio devem ser ampliadas e armadas com uma perspectiva socialista.

Milhões de pessoas participaram de marchas e manifestações contra o genocídio. Mas, para que esse movimento seja bem-sucedido, é urgentemente necessário fundir o crescente movimento contra a guerra com as lutas da classe trabalhadora e armar esse movimento com a perspectiva socialista de acabar com o sistema capitalista, que é a causa principal da guerra e da barbárie imperialista.

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