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Perspectivas

A classe trabalhadora, a luta contra a barbárie capitalista e a construção do Partido Mundial da Revolução Socialista (parte dois)

Publicada originalmente em 4 de janeiro de 2024, esta é a segunda parte da Declaração de Ano Novo do WSWS. A primeira parte foi publicada em 3 de janeiro.

A pandemia de COVID-19 e a normalização da morte e do sofrimento em massa

1. Com o início do novo ano, a pandemia da COVID-19 continua a causar um imenso impacto na vida e na saúde da população mundial. Atualmente, o mundo está enfrentando mais uma onda de infecção, debilitação e morte em massa, alimentada pela JN.1, variante com muitas mutações, altamente infecciosa e imuno-resistente, que rapidamente se tornou dominante em todo o mundo em dezembro. As mentiras de todos os governos capitalistas e da mídia corporativa, sintetizadas pela declaração de Joe Biden, em setembro de 2022, de que “a pandemia acabou”, foram expostas como nada além de propaganda.

2. De acordo com os dados mais recentes sobre os níveis de SARS-CoV-2 no esgoto divulgados pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) – agora a única métrica confiável para rastrear a propagação do vírus devido ao desmantelamento de todos os sistemas de monitoramento da pandemia – em 23 de dezembro, os EUA já haviam atingido o segundo nível mais alto de transmissão viral de toda a pandemia. Isso foi antes de um recorde de 115 milhões de americanos viajarem longas distâncias para visitar familiares durante as festas de fim de ano, espalhando inadvertidamente o vírus para seus entes queridos.

3. Os cientistas projetam que essa onda logo atingirá o pico de cerca de 2 milhões de infecções por dia e que quase um terço da população americana, cerca de 100 milhões de pessoas, provavelmente será infectada pela COVID-19 durante esta onda. Em todos os países em que os níveis de SARS-CoV-2 no esgoto ainda são monitorados, níveis de transmissão semelhantes, quase recordes ou até mesmo recordes, foram registrados no último mês, à medida que a JN.1 se tornava dominante em todo o mundo.

4. Cada indicador divulgado com atraso – hospitalizações, mortes e sofrimento devido à COVID longa – piorará constantemente em nível mundial nas próximas semanas e meses. As hospitalizações já estão aumentando nas regiões mais atingidas do nordeste e do centro-oeste dos EUA, forçando várias cadeias hospitalares a reimplementarem a obrigatoriedade do uso de máscaras em um esforço desesperado para se manterem funcionando adequadamente enquanto estão cheios de pacientes. Os hospitais de Roma e de outras partes da Itália, bem como de outros países, estão sendo inundados por pacientes que sofrem de doenças respiratórias. As mortes oficiais por COVID-19 nos EUA ultrapassaram 1.000 por semana nos últimos três meses e continuarão a aumentar. Usando a estimativa conservadora da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que 10% das infecções levam à COVID longa, pelo menos mais 10 milhões de americanos sofrerão com essa terrível doença nos próximos meses.

Alguns dos sintomas mais comuns da COVID longa.

5. Todos os fatos e dados acerca do estado atual da pandemia são ocultados da população mundial, que tem sido submetida a mentiras intermináveis, manipulações e propaganda, agora encobertas em um véu de silêncio. Há um acobertamento sistemático da verdadeira gravidade da crise, imposto pelo governo, pelas corporações, pela mídia e pelas burocracias sindicais. A política oficial se transformou em simplesmente ignorar, negar e falsificar a realidade da pandemia, independentemente das consequências, enquanto milhões de pessoas ficam doentes e milhares morrem em todo o mundo todos os dias.

6. A classe capitalista escolheu a política de rendição abjeta da “COVID para sempre”, permitindo que o vírus circule livremente e infecte bilhões de pessoas todos os anos, debilitando e matando milhões, e criando condições ideais para a evolução viral descontrolada. Cientistas com princípios continuam a alertar que não há nada que impeça a COVID-19 de se tornar muito mais patogênica e mortal, e a eliminação de todas as mitigações apenas aumenta a probabilidade de que tal variante possa evoluir.

7. Assim como as elites dominantes normalizaram o genocídio e a guerra nuclear, a morte e o sofrimento humano em massa também foram normalizados com a propagação desimpedida da COVID-19. A mesma indiferença pela vida humana agora permeia os corredores do poder, sobretudo nos centros imperialistas que estão liderando a descida do século XXI à barbárie capitalista.

8. A medida mais precisa do verdadeiro nível de mortalidade causada pela pandemia é o excesso de mortes acima dos níveis pré-pandemia. Em 2020, de acordo com o rastreador da The Economist, houve 5.460.000 mortes atribuíveis à pandemia. Em 2021, o ano mais mortal da pandemia, no qual a variante Delta matou milhões de pessoas somente na Índia, registrou-se um número espantoso de 12.540.000 mortes em excesso. Em 2022, ocorreram mais 6.900.000 mortes em excesso. No ano passado, houve mais de 2.500.000 mortes em excesso até 18 de novembro, a última data em que The Economist atualizou seu rastreador. No total, existem agora 27,4 milhões de mortes em excesso acumuladas, quatro vezes o número oficial de 7 milhões.

9. A esmagadora maioria dessas mortes é diretamente atribuível à COVID-19, seja durante a fase aguda da infecção ou devido aos inúmeros impactos negativos que o vírus pode causar no corpo. Conforme registrado em milhares de estudos desde 2020, uma infecção por COVID-19 aumenta o risco de ataque cardíaco, derrame, doença renal, diabetes, desregulação imunológica, vários distúrbios neurológicos e muito mais.

10. Além desse imenso nível de mortes evitáveis, a pandemia também produziu a maior escala de debilitação da história da humanidade. Centenas de milhões de pessoas em todo o mundo agora sofrem de sintomas prolongados conhecidos como COVID longa, que pode afetar praticamente todos os órgãos do corpo. Diversos estudos demonstraram que o risco de desenvolver a COVID longa aumenta a cada reinfecção. Um estudo publicado no Statistics Canada no mês passado descobriu que a porcentagem de canadenses que desenvolveram a COVID longa aumentou de 14,6% após a primeira infecção por COVID-19 para 38% após a terceira.

A evolução da política de “COVID para sempre”

11. No primeiro ano da pandemia, surgiram três estratégias alternativas em diferentes países e em diferentes seções da classe dominante de cada país: eliminação, mitigação e “imunidade de rebanho”. Esta última política, de simplesmente permitir que o vírus se espalhe sem nenhuma medida de saúde pública, foi implementada pela primeira vez na Suécia, Reino Unido, Brasil, partes dos EUA e outros países. Essa política rapidamente assumiu a forma de uma guerra contra as populações e foi criminosa no sentido mais amplo da palavra.

12. O cálculo bruto da exploração capitalista ditou as decisões políticas desses países: é melhor que um milhão de pessoas morram do que um bilhão de dólares sejam perdidos nos mercados de ações. Assim que a Lei CARES e outros resgates foram garantidos nas capitais financeiras do mundo em março-abril de 2020, a atitude da classe dominante se transformou imediatamente numa hostilidade cada vez maior à saúde pública e na indiferença à morte em massa e à debilitação com a COVID longa. O então primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, resumiu essa perspectiva homicida quando declarou que a COVID-19 era “apenas a maneira da natureza de lidar com os idosos”, conforme revelado na recente investigação sobre a pandemia no Reino Unido.

O primeiro-ministro Boris Johnson (à esquerda) em uma coletiva de imprensa sobre a COVID-19 com o chanceler do Tesouro, Rishi Sunak, em 10 de outubro de 2020. [Photo by Pippa Fowler/No 10 Downing Street / CC BY 2.0]

13. Nos EUA, o colunista do New York Times, Thomas Friedman, abraçou a política temerária da Suécia, cunhando a frase “a cura não pode ser pior do que a doença”, que logo se tornou o mantra de Donald Trump para sua propaganda de volta ao trabalho e anti-lockdown. Na introdução de COVID, Capitalism and Class War: A Social and Political Chronology of the Pandemic, o WSWS observou:

Em essência, essa frase expressou os interesses de classe da oligarquia financeira, que depois de menos de duas semanas já não toleraria mais lockdowns ou outras medidas essenciais de saúde pública que retardassem a transmissão viral, mas privaria as corporações da força de trabalho necessária para a exploração do trabalho e a geração de lucros

14. Em outros países, lockdowns mais rigorosos foram impostos em 2020, assim como o uso de máscaras, como parte de uma estratégia de mitigação. Com o lançamento das vacinas em 2021, generalizou-se a perspectiva de que, por meio da vacinação, do uso de máscaras e de outras medidas limitadas de mitigação, a pandemia gradualmente chegaria ao fim. Isto provou ser uma fantasia delirante, que explodiu com a evolução de uma variante mais patogênica, Delta, em maio de 2021 e, especialmente, da variante altamente infecciosa, Ômicron, em novembro de 2021.

15. À medida que a Ômicron infectava rapidamente bilhões e matava milhões de pessoas em todo o mundo, a resposta capitalista universal à pandemia se transformou em um enfraquecimento e repúdio aberto de todos os esforços para mitigar a propagação da COVID-19. Foi iniciada uma campanha de propaganda implacável para retratar a Ômicron e todos os seus descendentes como “leves”, “endêmicos” e comparáveis à gripe sazonal. Ao longo de 2022, a obrigatoriedade do uso de máscaras foi retirada nas escolas e outros locais públicos, os locais de teste PCR gratuitos foram desmontados e a notificação de dados sobre casos, hospitalizações e mortes foi gradualmente corroída.

16. Essa campanha só se aprofundou no decorrer de 2023. Em maio passado, a OMS, o governo Biden e outras agências nacionais de saúde encerraram formalmente suas declarações de emergência de saúde pública pela COVID-19, codificando em lei o que já havia sido o abandono de fato de todas as respostas oficiais à maior crise de saúde pública em mais de um século. Como resultado, grande parte da população mundial ficou desarmada e sem conhecimento dos perigos da pandemia ainda em andamento.

17. Ao mesmo tempo, o fim da emergência facilitou o desmantelamento de todo o monitoramento da pandemia, inclusive a notificação de casos e mortes, bem como a realização de testes em hospitais, tornando as estatísticas oficiais totalmente imprecisas. Essa mudança de política também finalizou a privatização de todos os testes, vacinas e tratamentos. A Pfizer e a Moderna agora cobram dos pacientes e das companhias de seguro mais de US$ 100 por suas vacinas, e a Pfizer pretende cobrar US$ 1.390 por seu tratamento que salva vidas, o Paxlovid, quando os suprimentos do governo acabarem, provavelmente no próximo ano. Mais de 13,4 milhões de americanos foram retirados do Medicaid em 2023, com outros milhões programados para perder esse seguro de saúde vital em 2024. Hospitais de todo o país retiraram a obrigatoriedade do uso de máscaras, necessária para proteger as populações de maior risco, causando um grande aumento nas infecções hospitalares por COVID-19 e mortes no ano passado. Processos semelhantes ocorreram em toda a Europa, enquanto em grande parte do mundo reforços de vacinas atualizadas e tratamentos como o Paxlovid nem sequer estão disponíveis para a grande maioria da população.

18. A adoção universal da “COVID para sempre” exigiu um renascimento das concepções eugenistas em todas as seções da classe dominante. Para justificar ondas perpétuas de infecção, debilitação e morte em massa, foi necessária a desvalorização da vida dos idosos e dos mais vulneráveis pela sociedade oficial.

19. As formulações mais explícitas dessa ideologia fascista foram expressas pelas duas principais autoridades de saúde pública dos EUA durante o governo Biden, Dra. Rochelle Walensky e Dr. Anthony Fauci. Em 7 de janeiro de 2022, apenas algumas semanas após o surgimento da variante Ômicron e sob condições de aumento de hospitalizações e mortes por COVID-19, Walensky declarou em uma entrevista à ABC que era uma “notícia encorajadora” que o “número esmagador de mortes” ocorresse em “pessoas que não estão bem em primeiro lugar”. Quase dois anos depois, em 28 de agosto de 2023, Fauci disse à BBC que “os vulneráveis ficarão pelo caminho, serão infectados, hospitalizados e alguns morrerão”.

Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas. [AP Photo/Sarah Silbiger]

20. Os ataques à ciência atingiram seu pico durante o quarto ano da pandemia, que viu uma escalada acentuada da campanha para desencorajar e se opor ao uso de máscaras, com base na adoção universal da afirmação absolutamente falsa de que “a pandemia acabou”. Essa campanha sistemática de desinformação, propagada por todos os governos e meios de comunicação corporativos em todo o mundo, não tem qualquer base científica.

21. No final, poderosos interesses financeiros e econômicos promoveram intencionalmente o abandono das mitigações como parte de um esforço deliberado para reduzir a expectativa de vida. Essa política eugenista foi aplicada pelas principais autoridades de saúde pública no governo Biden. O próprio Biden, que foi eleito em parte devido à sua promessa de campanha de “seguir a ciência” e acabar com a pandemia, supervisionou a morte de mais de 700.000 americanos por COVID-19. Em janeiro de 2023, ele admitiu que “parou de pensar” nessa taxa de mortalidade.

22. A luta contra a pandemia foi minada por um ataque implacável à comunidade científica, incluindo ameaças físicas contra a vida de cientistas como Peter Hotez, uma campanha à qual o Partido Democrata se adaptou. Ao mesmo tempo, a educação pública encontra-se em um estado de queda livre após décadas de cortes orçamentários, que agora estão sendo agravados com o esgotamento de todos os fundos adicionais para a pandemia. Todos os avanços progressivos desde o Iluminismo, inclusive todos os princípios fundamentais da saúde pública, estão sendo revertidos por uma classe dominante que caminha rumo ao fascismo e à guerra nuclear.

A luta pela eliminação global em 2024

23. A terceira estratégia para a pandemia, a eliminação, provou ser possível desde o início por meio da experiência na China e em outros países, o que demonstrou que havia uma alternativa à política e ao programa de morte em massa. Através da aplicação correta dos métodos de saúde pública, desenvolvidos ao longo de séculos e bem conhecidos pelos especialistas da área, a transmissão da COVID-19 poderia ser interrompida e vidas poderiam ser salvas.

24. Após a má gestão inicial da pandemia ter provocado uma oposição crescente na população, o Partido Comunista da China (PCCh) mudou rapidamente de rumo em janeiro de 2020 e impôs os lockdowns necessários, além de testes em massa, o rastreamento rigoroso de contatos e o isolamento seguro de todos os pacientes infectados, com o objetivo de cortar todas as cadeias de transmissão viral. Após 76 dias, a população saiu dos lockdowns e voltou às condições pré-pandêmicas relativamente normais. A ameaça de entrada do vírus pelas fronteiras da China foi monitorada de perto e cada surto foi eliminado. Nova Zelândia, Vietnã, Austrália e outros países seguiram o modelo da China e conseguiram manter a COVID zero durante longos períodos de tempo.

25. Durante o primeiro ano da pandemia, enquanto milhões de pessoas morreram internacionalmente, apenas 4.634 vidas foram perdidas no surto inicial na China, seguido por apenas quatro mortes no ano seguinte. Entretanto, a viabilidade a longo prazo dessa estratégia de eliminação dependia de sua aplicação internacional. A mesma contradição fundamental na estratégia econômica da China, todo o desenvolvimento do país sobre bases nacionalistas, manifestou-se tragicamente no decurso da pandemia.

26. Durante os próximos dois anos e meio, as potências imperialistas usaram a pandemia como arma contra a China, como parte de seus preparativos de longa data para a guerra. Os eixos centrais dessa propaganda anti-China foram a “Mentira do Laboratório de Wuhan” – uma teoria da conspiração inventada pelo conselheiro fascista de Trump, Steve Bannon, em janeiro de 2020, para desviar toda a culpa da pandemia para a China – e a agitação interminável contra a política de COVID zero que salvou vidas. Isso culminou em ameaças explícitas da Apple, da Nike e de outras grandes corporações ocidentais de transferirem suas instalações de produção para fora da China no outono de 2022, em resposta aos lockdowns temporários que impediram a propagação da variante Ômicron. Com efeito, o imperialismo extorquiu a vida e a saúde da população chinesa em troca de mão de obra barata garantida.

27. Finalmente capitulando a essas pressões, o governo chinês tomou a decisão absolutamente brutal e reacionária de abandonar rapidamente todas as medidas de COVID zero entre novembro e dezembro de 2022. Para a população chinesa, os resultados foram nada menos que catastróficos. Vários estudos científicos estimam que 1 a 2 milhões de chineses foram mortos pela COVID-19 no inverno passado como resultado dessa mudança de política. Desde então, a China foi integrada à política global de “COVID para sempre”. Após várias ondas de infecção e morte no ano passado, mais de 100 milhões de chineses, dos 1,4 bilhão de habitantes do país, provavelmente estão sofrendo com a COVID longa.

A emergência de um hospital na China, em 3 de janeiro de 2023. [AP Photo/Andy Wong]

28. O sucesso duradouro da política COVID zero na China provou a viabilidade de uma estratégia de eliminação da COVID-19, mesmo em países menos desenvolvidos e mais populosos. Ao mesmo tempo, seu fim definitivo reafirmou a inviabilidade de qualquer programa de base nacional na época do imperialismo. O que se mostrou inviável foi a estrutura nacional, não a política em si. A eliminação continua sendo viável e necessária, mas agora só pode ser alcançada por meio da construção de um movimento de massa que lute pelos seguintes princípios:

  • A luta contra a pandemia é uma questão política e revolucionária que exige uma solução socialista.
  • A organização da saúde pública deve basear-se na necessidade social e não no lucro corporativo.
  • A motivação do lucro deve ser totalmente removida de todas as empresas de saúde, farmacêuticas e de seguros.

29. A única maneira de acabar com a pandemia é por meio de uma estratégia de eliminação coordenada em nível mundial, na qual toda a população mundial atue de forma solidária e com determinação coletiva para aplicar um amplo programa de saúde pública. Essa estratégia deve centrar-se em testes em massa, no rastreamento de contatos, no isolamento e tratamento seguros de todos os pacientes infectados, no uso universal de máscaras de alta qualidade e na renovação de todos os prédios públicos para fornecer ar limpo em ambientes fechados por meio de filtros HEPA e da implementação segura de dispositivos Far-UVC.

30. Após quatro anos de pandemia, está muito claro que essa estratégia global nunca surgirá sob o capitalismo mundial, que subordina todos os gastos com saúde pública aos insaciáveis interesses de lucro de uma oligarquia financeira louca por dinheiro. A própria ideia de que uma doença deve ser eliminada ou erradicada, um conceito central na saúde pública, foi abandonada. Somente por meio de uma revolução socialista mundial será possível acabar com a pandemia, bem como impedir a descida à barbárie capitalista e à Terceira Guerra Mundial.

31. Tudo o que foi dito sobre a pandemia se aplica com ainda mais força à crescente ameaça existencial das mudanças climáticas, cujo impacto se percebe cada vez mais intensamente em vastas áreas do mundo. O ano passado testemunhou a quebra quase diária de recordes de temperatura e inúmeros eventos climáticos extremos em todo o mundo. Grandes incêndios florestais, ondas de calor e a poluição do ar difundiram-se em todos os continentes, enquanto o derretimento global das calotas polares e das geleiras está apenas se acelerando. Vários estudos demonstraram que a desestabilização dos ecossistemas da Terra através das mudanças climáticas e da urbanização não planejada está expulsando milhares de espécies de seus habitats nativos, aumentando assim a probabilidade de eventos de spillover –salto de um vírus de uma espécie animal para o ser humano– e futuras pandemias.

A fumaça do incêndio florestal em Quebec, no Canadá, cobrindo Nova Jersey e a cidade de Nova York, em 7 de junho de 2023. [Photo by Anthony Quintano]

32. O desenvolvimento da ciência e a mobilização dos recursos da sociedade para atender a essas necessidades sociais urgentes só podem ser realizados em uma sociedade socialista mundial. Não menos do que a luta contra a guerra, a luta contra a pandemia e as mudanças climáticas exige a construção de um movimento socialista internacional. O Comitê Internacional da Quarta Internacional é o único movimento socialista genuíno no mundo que luta por essas políticas.

33. É impressionante que não haja cobertura nem remotamente igual à do World Socialist Web Site sobre o tema da pandemia. A única campanha sistemática e unificada contra a pandemia tem sido conduzida pelo CIQI, seus Partidos Socialistas pela Igualdade afiliados e o WSWS em todo o mundo. As diversas tendências pseudoesquerdistas da classe média ignoraram a pandemia ou abraçaram abertamente a “COVID para sempre”. As burocracias sindicais têm servido continuamente aos interesses da classe dominante. Diante das imensas preocupações levantadas pelos trabalhadores de base em todos os setores – sobretudo entre os profissionais de saúde e educadores forçados a trabalhar sem proteção nas condições mais perigosas –, os burocratas sindicais funcionam como mestres de tarefas, sacrificando os trabalhadores à infecção em massa, à debilitação e à morte.

34. A luta contra a pandemia é uma questão totalmente revolucionária. O CIQI é a única organização política que compreendeu isso desde o início, lutou por isso e realizou uma campanha sistemática de educação e esclarecimento dentro da classe trabalhadora. Mais de 6.000 artigos sobre a pandemia foram publicados no WSWS. Além de revistas científicas especializadas e boletins informativos, nenhuma outra publicação de notícias no mundo, seja da imprensa burguesa ou da pseudoesquerda, continua a cobrir de forma consciente e sistemática o desenvolvimento da pandemia.

35. A luta contra a pandemia deve ser colocada no centro das lutas da classe trabalhadora no próximo ano, que não se limitarão a questões contratuais. Questões sociais profundas permanecem no centro dessa batalha, incluindo os direitos mais básicos à vida e à saúde, e a luta de mais de um século pela saúde pública. Somente o CIQI, que expressa os interesses históricos da classe trabalhadora, lutou e continuará a lutar por esses princípios em escala mundial.

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