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Trabalhadores da CSN rejeitam nova proposta de acordo e conflito com sindicato se intensifica

No último dia 27, os trabalhadores da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) de Volta Redonda recusaram massivamente uma nova proposta negociada entre o sindicato e a empresa. Foram apenas 262 votos a favor, 6 brancos ou nulos e 6.396 contrários.

Trabalhadores da CSN em greve no interior da unidade de Volta Redonda. (Crédito: Sindicato Metabase Inconfidentes)

A nova proposta – apresentada após uma rebelião dos trabalhadores contra as negociações – era de 11% de reajuste, significando um acréscimo de míseros R$ 180 para os trabalhadores que atualmente recebem R$ 1.640. Além disso, o contrato não incluía a readmissão dos cerca de 400 grevistas que já foram demitidos.

A decisão foi por voto secreto e precisou ser acompanhada de perto pela base, que denuncia um histórico de fraudes do sindicato em anos anteriores. Nas redes sociais, trabalhadores relataram uma presença ostensiva de policiais à paisana e de seguranças do sindicato. Ao tentar se dirigir à base, os sindicalistas foram vaiados.

Na última semana, o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, dirigido pela Força Sindical, declarou abertamente sua hostilidade aos trabalhadores ao mover uma ação judicial contra um operário da base que é membro da oposição sindical e integra a Comissão de Trabalhadores formada durante a greve selvagem na usina Presidente Vargas, em Volta Redonda.

Edimar é o único entre os dez líderes da Comissão de Trabalhadores que não foi demitido, por ser também integrante da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), que garante estabilidade de emprego aos seus membros. Apesar de não ter sido demitido, Edimar foi acusado judicialmente pela CSN de “atos de vandalismo e ameaças”. A empresa pediu à Justiça medidas para que ele não impedisse a entrada e saída de outros trabalhadores na empresa. Simultaneamente, Edimar foi processado pelo sindicato, que exigiu da Justiça uma determinação para que ele se mantivesse cerca de 100 metros distante das urnas de votação.

Essa ação coordenada entre sindicato e empresa expõe o caráter apodrecido dos sindicatos na época atual, que não servem mais como instrumento de defesa das condições de trabalho e dos salários, mas sim como agentes dos empregadores capitalistas e da classe dominante como um todo.

O que os mafiosos da Força Sindical fazem hoje com os trabalhadores da CSN de Volta Redonda não se trata de uma exceção, mas sim da regra. As particularidades dessa central sindical – que desde o seu surgimento na década de 1990 pregava um discurso a favor do mercado, das privatizações e do pragmatismo nas relações entre capital e trabalho – não devem ofuscar seu conteúdo essencial e comum a todas as demais.

No próprio Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, a Força Sindical é apoiada pela CUT, a maior central sindical do país, dirigida pelo Partido dos Trabalhadores (PT). O odiado presidente do sindicato, Silvio Campos, recebeu o apoio dos sindicalistas petistas na última eleição do sindicato ocorrida em 2018.

Em suas próprias bases, como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Paulo, a CUT aplica uma política de acordos entre sindicato e empresa que também cede mais a cada ano – para não falar de seu papel em derrotas históricas, como o fechamento da fábrica da Ford em 2019. Isso já levou a um rebaixamento geral dos salários na região historicamente industrial e a uma redução significativa dos empregos: em 2010, o sindicato tinha uma base de cerca de 100 mil operários, e hoje tem menos de 70 mil.

A CUT arrasta atrás de si, sob a mesma política, outras centrais como a CTB, dirigida pelos maoístas do PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Assim como seus semelhantes, a CTB coleciona derrotas para a classe trabalhadora, entre elas a demissão massiva no fechamento de uma fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia.

Em Volta Redonda, a CTB se apresenta como oposição ao lado da CSP-Conlutas, dirigida pelos morenistas do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado). Esta última está há mais de 15 anos no controle do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, em São Paulo, num centro industrial importante que inclui fábricas como Embraer e General Motors.

Apesar do tom vermelho e do discurso aparentemente radical, o fato é que o sindicato vem costurando acordos rebaixados a cada ano.

Desde 2010, dois terços dos 12 mil trabalhadores da GM foram demitidos. Em 2012 e 2015, o sindicato defendeu os programas de layoff propostos pela empresa como conquistas dos trabalhadores, que protegeriam seus empregos. Esses mesmos trabalhadores “protegidos” foram demitidos na sequência. Como se não fosse suficiente, em 2019 e 2020, o sindicato defendeu a redução dos salários e benefícios dos trabalhadores.

É também a CSP-Conlutas que dirige o Sindicato Metabase Inconfidentes em Minas Gerais, onde o atual movimento da CSN teve início com uma adesão ampla dos trabalhadores às paralisações e manifestações. A CSP-Conlutas, no entanto, se apoiou nos elementos mais atrasados da base que não aderiram à movimentação e encerrou o movimento. Como é de praxe em suas atuações, agora ela culpa os próprios trabalhadores por não se movimentarem, depois de ter se esforçado para desencorajá-los.

Como oposição à Força Sindical em Volta Redonda, a CSP-Conlutas e a CTB deram aos grevistas um apoio material com carros de som, marmitas e advogados. Mas, na realidade, visando conquistar mais um aparato, eles preparam uma derrota política para o movimento operário que se levantou contra o sindicato.

É significativo que em nenhum dos boletins da oposição haja uma defesa de manutenção da greve. A oposição também não defende um avanço na organização independente dos trabalhadores, enquanto o sindicato dirigido pela Força Sindical volta a tomar o controle das negociações com a empresa.

A dita oposição não levará a luta contra o sindicato e a empresa até as últimas consequências pois isso coloca em risco tanto o controle sobre suas próprias bases em outros sindicatos quanto seus planos em Volta Redonda. A única política que ela aponta claramente é a “mudança” através das próximas eleições para o sindicato, que, cedo ou tarde, levará os trabalhadores a um beco sem saída.

Os operários da CSN não precisam pagar para ver a política da chapa CSP-Conlutas/CTB, uma vez que já há uma vasta experiência e conhecimento acumulados pela classe trabalhadora que aponta o caminho a seguir.

A luta na maior siderúrgica do país exige uma direção que se apoie nos elementos mais avançados em cada empresa assim como em cada país; uma direção decidida que não confunda os trabalhadores com meias-verdades e falsas políticas de esquerda; uma direção socialista que defenda a independência total da classe trabalhadora em relação à classe dominante e seus agentes do aparato sindical.

O movimento dos trabalhadores da CSN é uma expressão aguda da explosão mundial da luta de classes contra as condições intoleráveis impostas pelo capitalismo à classe trabalhadora em todos os países. A pandemia de COVID-19, a inflação e os níveis de desemprego explosivos, a ameaça da guerra mundial e de ditaduras autoritárias estão provocando greves e protestos de massas ao redor do planeta: das greves contra os preços dos combustíveis no Peru ao levante insurrecional dos trabalhadores do Sri Lanka.

O Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) é a única força política que dá expressão consciente aos interesses da classe trabalhadora mundial e luta para construir novas formas de organização proletária à altura das atuais tarefas colocadas pela luta de classes. Apelamos aos trabalhadores da CSN que se juntem ao CIQI e à Aliança Operária Internacional de Comitês de Base, que há um ano está sendo construída por meio de comitês formados em locais de trabalho em todo o mundo.

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