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Pseudoesquerdista PCO defende seu apoio a Erdoğan em ataque contra o WSWS

Um artigo do World Socialist Web Site expondo o apoio servil do Partido da Causa Operária (PCO) ao governo capitalista reacionário Recep Tayyip Erdoğan na Turquia e sua política nacionalista provocou uma reação colérica dessa organização nacionalista da pseudoesquerda brasileira.

Agência de notícias Anadolu Ajansı, controlada pelo Estado turco, publicou um artigo elogioso sobre o apoio do PCO à reeleição de Erdoğan.

Incapaz de contestar as denúncias principistas publicadas pelo WSWS, o PCO escreveu uma declaração sórdida com a intenção de difamar o Grupo Socialista pela Igualdade brasileiro (GSI) e o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), que acusou de ser um “grupo gringo pró-imperialista”.

Esse ataque chauvinista pequeno-burguês estendeu-se em uma calúnia pessoal contra o artigo do WSWS, Eduardo Parati, uma liderança do GSI e da Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social (JEIIS) no Brasil. O PCO declarou que Parati, “apesar de ser brasileiro, demonstra ter a mentalidade de um norte-americano e, com isso, uma total incompreensão do que é a política em um país como o Brasil e em países atrasados em geral”.

Os ataques do PCO representam uma ameaça contra a construção do movimento trotskista no Brasil. Sua intenção é poluir o ambiente político com uma histeria chauvinista que identifique os socialistas internacionalistas como “agentes externos” e legitime a perseguição ao GSI e seus membros. Essa ameaça é especialmente grave uma vez que o PCO se orienta abertamente à unidade de ação com organizações fascistas com base em seu programa nacionalista comum.

A resposta virulenta do PCO reforça a caracterização feita pelo WSWS dessa organização como uma tendência nacionalista pequeno-burguesa categoricamente hostil à classe trabalhadora e ao socialismo.

O CIQI defende a independência política da classe trabalhadora na Turquia e Brasil

O PCO acusa o WSWS de falsificar sua posição em relação ao governo Erdoğan. Como Parati explicou: “[É] na sua escolha de aliados internacionais que organizações como o PCO demonstram seu caráter reacionário. A vitória recente de Recep Tayyip Erdoğan foi celebrada com entusiasmo pelo PCO, que tentou apresentá-lo como um líder anti-imperialista”. Citando esse trecho do artigo do WSWS, o PCO escreve:

Trata-se de uma falsificação. Assim como a afirmação, mais adiante, de que o PCO estaria procurando “desviar uma luta real contra o imperialismo para canalizá-la para os canais reacionários do nacionalismo”.

O fato é que nós nunca consideramos que o nacionalismo seria uma alternativa ao imperialismo.(...) A posição do PCO é a posição do marxismo: o nacionalismo burguês é incapaz de derrotar o imperialismo. A única classe social capaz de fazê-lo é a classe operária mundial.

E mais adiante:

A afirmação supõe uma ingenuidade criminosa da nossa parte. É óbvio que ninguém acredita que o recém-eleito presidente da Turquia, representante de sua burguesia, age com base em um suposto interesse em defender a população vítima das guerras do imperialismo.

De que forma o WSWS falsificou as posições do PCO nas eleições turcas? Simplesmente citando as próprias declarações do PCO.

Em 28 de maio, logo após a reeleição de Erdoğan ser anunciada, o PCO declarou em sua conta oficial no Twitter:

“O PCO apoia os trabalhadores turcos em sua luta contra o imperialismo. Os brasileiros também estão lutando. A vitória de Erdogan foi uma derrota para o imperialismo. Portanto, foi uma vitória para todos os povos do mundo.”

A projeção alcançada por esse tuíte foi celebrada num artigo de 31 de maio em seu site Causa Operária, intitulado “PCO viraliza nas redes ao defender posição anti-imperialista”. Ele vangloriou-se pelo tuíte ter sido visualizado “por mais de 290 mil pessoas” e pelos comentários elogiosos de apoiadores de Erdoğan na Turquia. O tuíte também recebeu cobertura positiva da Anadolu Ajansı, a agência de notícias estatal turca.

Os leitores do PCO teriam sérias dificuldades em concluir a partir dessas linhas que “o nacionalismo burguês é incapaz de derrotar o imperialismo” e que a “única classe social capaz de fazê-lo é a classe operária mundial”, já que eles defendem justamente o contrário.

Apesar das frases marxistas formalmente regurgitadas pelo PCO, os objetivos reais da sua intervenção são inequívocos: submeter a classe trabalhadora turca e brasileira às classes dominantes de seus próprios países, dissolver os interesses de classe específicos dos trabalhadores nos “interesses gerais da nação” e confundir a oposição de massas ao imperialismo com a defesa do Estado nacional burguês.

Essa intervenção adquiriu um caráter particularmente sinistro por se apresentar fraudulentamente ao público turco como o posicionamento de “trotskistas brasileiros”. Esse fato alarmou o Sosyalist Eşitlik Grubu (Grupo Socialista pela Igualdade, SEG), seção turca do CIQI, que viu o trotskismo ser falsamente identificado com apoio a Erdoğan.

Como representante legítimo do movimento trotskista internacional, o SEG foi a única organização durante as eleições presidenciais na Turquia a travar uma campanha em defesa da independência política da classe trabalhadora.

Em seu manifesto sobre as eleições, o SEG rejeitou “veementemente a afirmação de que as massas de trabalhadores e jovens precisam escolher entre as duas alianças burguesas de direita”, explicando: “A luta contra a guerra imperialista, a atual pandemia de COVID-19, o aumento do custo de vida e da desigualdade social e as formas autoritárias de governo exigem a mobilização revolucionária internacional da classe trabalhadora contra o capitalismo com base em um programa socialista e a tomada do poder”.

O artigo do WSWS que expôs a política do PCO é um exemplo da prática internacionalista e orientação política do movimento trotskista. A decisão de escrever esse artigo foi tomada após uma discussão entre os dois grupos, que partiu de um alerta do SEG a seus camaradas brasileiros.

Em 29 de maio, um camarada do SEG nos escreveu: “Esse tuíte teve alguma influência aqui. Muitas respostas vieram da Turquia, basicamente dizendo: ‘Os trotskistas brasileiros apoiam Erdogan’. Então, se os trotskistas genuínos do Brasil expuserem esses reacionários, acho que seria importante para a Turquia, Brasil e internacionalmente”.

Essa forma de trabalho político é absolutamente estranha a uma organização nacionalista pequeno-burguesa como o PCO. Suas relações internacionais são um reflexo da diplomacia estatal burguesa: consumadas as eleições burguesas, eles enviam cumprimentos aos “trabalhadores turcos” por seu resultado, tentam tranquilizá-los de que “os brasileiros também estão lutando” e, em troca, recebem “mensagens de agradecimento dos apoiadores de Erdogan”.

PCO falsifica Trotsky e a Revolução Permanente

Intimidados por ter seu programa falido baseado na burguesia nacional exposto pelo WSWS, o PCO busca se justificar através de uma grotesca falsificação de Trotsky sobre a luta anti-imperialista nos países oprimidos.

Após alegar que jamais propôs que Erdogan “age com base em um suposto interesse em defender a população vítima das guerras do imperialismo”, o PCO continua:

No entanto, é evidente que os interesses econômicos da Turquia e de outros países atrasados o levam a se colocar contra a política dos norte-americanos e europeus. Isso ocorre porque a política neoliberal de devastação nacional promovida pelos banqueiros e mercado financeiro em seus países, prejudica os interesses da burguesia média, que costuma apoiar candidatos nacionalistas como Erdogan e Putin. O fato do agrupamento norte-americano não compreender isso demonstra sua total incompreensão da situação política dos países atrasados.

Em outras palavras, independentemente da sua vontade, a burguesia turca e de outros países semicoloniais é levada a confrontar o imperialismo e assegurar seus interesses nacionais. Segundo o PCO, ao contrariar esse princípio básico, “o articulista do WSWS, apesar de se reivindicar trotskista, assume uma posição totalmente anti-trotskista”. Justificando essa afirmação, o PCO escreve:

Trótski sempre defendeu que, no caso de um conflito entre um governo nacionalista, seja lá qual for a característica de sua política interna, e o imperialismo, deve-se ficar sempre ao lado do governo nacionalista.

Uma famosa citação a esse respeito é a posição defendida por Trótski na hipótese de um conflito entre o governo brasileiro (à época, sob a ditadura fascista de Vargas) e o governo “democrático” britânico: “Existe atualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto, que, amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que lado do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil “fascista” contra a Inglaterra “democrática”. Por quê? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas”.

Esse trecho é emblemático do charlatanismo político praticado pelo PCO. De forma totalmente artificial, ele combina a citação de Trotsky, afirmando a necessidade de defender um país oprimido em guerra contra um país imperialista, independentemente do caráter de seus regimes, com a sua própria máxima nacionalista pequeno-burguesa: “deve-se ficar sempre ao lado do governo nacionalista”, inclusive nas eleições burguesas.

Buscando apagar a defesa intransigente de Trotsky da completa independência política do proletariado, o PCO retira o trecho de sua entrevista de qualquer contexto histórico e político. O cenário hipotético de um conflito entre Brasil e Inglaterra foi levantado pelo líder da Quarta Internacional conforme ele combatia especificamente as confusões criadas pela política stalinista da Frente Popular, que subordinava a classe trabalhadora internacional aos aliados imperialistas “democráticos” de Moscou.

Contudo, o apoio hipotético de Trotsky ao Brasil semicolonial numa guerra contra a Inglaterra imperialista não implicava nenhum apoio ao governo semifascista brasileiro, como o PCO fraudulentamente busca apresentar. Ao contrário, tal política só poderia se desenvolver em conformidade com o Programa de Transição, que define da seguinte forma a atitude da Quarta Internacional em relação a uma guerra entre um país imperialista e um país colonial ou a URSS.

Ao mesmo tempo em que apoia um país colonial ou a URSS na guerra, o proletariado não deve se solidarizar, no que quer que seja, com o governo burguês do país colonial nem com a burocracia termidoriana da URSS. Ao contrário, deve manter sua completa independência política em relação a ambos. Ajudando uma guerra justa e progressiva, o proletariado revolucionário conquista a simpatia dos trabalhadores das colônias e da URSS e, desse modo, consolida nesses países a autoridade e a influência da IV Internacional, podendo colaborar melhor para a derrubada do governo burguês no país colonial e da burocracia reacionária na URSS. [Nossa ênfase]

Além disso, a concepção de que a luta contra o imperialismo conduz a classe trabalhadora e seu partido para o “lado do governo nacionalista” é, na realidade, o completo oposto da Teoria da Revolução Permanente e suas determinações programáticas.

Trotsky explicou, já em 1905, que as classes capitalistas nos países atrasados se tornaram incapazes e indispostas a liderar uma luta por independência nacional ou quaisquer reformas sociais e democráticas nos moldes das revoluções burguesas nos séculos anteriores. Na época do capitalismo imperialista, somente a classe trabalhadora é capaz de resolver as tarefas nacionais e democráticas inconclusas a partir da derrubada do capitalismo e concomitante ao início da reorganização socialista da sociedade.

Esse aspecto da Teoria da Revolução Permanente, após ter sido positivamente confirmado no decorrer da Revolução Russa de 1917, teve uma série de comprovações negativas em experiências catastróficas conduzidas pelo stalinismo.

O esmagamento do movimento revolucionário chinês em 1927 é um dos mais importantes desses episódios. Os stalinistas subordinaram o Partido Comunista Chinês ao partido da burguesia nacional compradora, o Kuomintang, que apresentaram como um “bloco das quatro classes” (isto é, a burguesia nacional, a intelectualidade pequeno-burguesa, o campesinato e a classe trabalhadora). Dessa forma, permitiram que a burguesia chinesa, em aliança com o imperialismo, massacrasse o levante revolucionário da classe trabalhadora e sua direção comunista.

Combatendo a imposição catastrófica por Stalin da teoria da revolução por etapas na China, que subordinou o Partido Comunista Chinês ao partido da burguesia nacional, o Kuomintang, Trotsky escreveu em 1927:

É um erro grosseiro pensar que o imperialismo une mecanicamente todas as classes da China a partir de fora... A luta revolucionária contra o imperialismo não enfraquece, mas fortalece a diferenciação política das classes. O imperialismo é uma força extremamente poderosa nas relações internas da China. A principal fonte dessa força não são os navios de guerra nas águas do Yangtze Kiang – eles são apenas auxiliares – mas o vínculo econômico e político entre o capital estrangeiro e a burguesia nativa... A burguesia chinesa terá sempre uma sólida retaguarda no imperialismo, que sempre a apoiará com dinheiro, bens e munições contra os trabalhadores e camponeses.

O PCO reproduz toda a essência reacionária do programa stalinista que levou ao esmagamento da classe trabalhadora revolucionária chinesa. Contudo, o faz sob condições históricas objetivas que tornam ele ainda mais destrutivo e politicamente criminoso.

Enquanto Stalin promoveu o Kuomintang com base no argumento (já refutado pela Revolução Russa) de que, frente à população predominantemente rural e camponesa da China, o proletariado não estaria suficientemente maduro para lutar pelo poder político, o PCO tenta impor essa política ao Brasil e Turquia contemporâneos. Isto é, a países com as maiores concentrações urbanas da América do Sul e da Europa e Oriente Médio; com classes trabalhadoras massivas que operam setores-chave da indústria global; e em que as burguesias nacionais têm vínculos profundos e uma longa história de colaboração contrarrevolucionária com o imperialismo.

O artigo do WSWS atacado pelo PCO enfatizou particularmente a colaboração do regime Erdoğan com as guerras imperialistas da OTAN ao longo das últimas décadas. Parati explicou que Erdoğan continua sendo “plenamente capaz de promover os interesses imperialistas” em meio à escalada da guerra dos EUA-OTAN contra a Rússia.

Respondendo aos argumentos de Parati, o PCO escreveu:

No caso de Erdogan, o que [Parati] acusa ser uma demonstração de que ele é um governo imperialista seria a declaração favorável à entrada da Suécia e da Ucrânia na OTAN. Mas o autor ignora que Erdogan simplesmente está tentando barganhando [sic] com o imperialismo, usando isso como moeda de troca para a entrada da Turquia na União Europeia. Voltando a Vargas, o que foi o envio de tropas para a Segunda Guerra senão uma política de barganha com o imperialismo? Vargas não deixou de ser um governo nacionalista por causa disso.

O WSWS jamais caracterizou a Turquia como um “governo imperialista”. Contudo, o verdadeiro alvo do ataque do PCO é a concepção marxista, baseada na Teoria da Revolução Permanente, de que a burguesia turca e brasileira são essencialmente instrumentos do imperialismo. Trotsky não deixou dúvidas de que esse era o caráter do “governo nacionalista” de Getúlio Vargas. Em uma discussão com membros da Quarta Internacional, também em 1938, ele explicou: “Se a burguesia nacional é forçada a abandonar a luta contra os capitalistas estrangeiros e a trabalhar sob a tutela direta dos capitalistas estrangeiros, então temos um regime semifascista, como no Brasil, por exemplo”.

Tendo começado a justificar sua defesa do governo Erdoğan com base no seu suposto conflito com o imperialismo, o PCO termina declarando seu apoio ao nacionalismo burguês independentemente de qualquer condição. A colaboração do regime turco com as guerras imperialistas da OTAN e suas “barganhas” para submeter o país ao jugo imperialista da União Europeia são desavergonhadamente apoiados pelo PCO, porque Erdoğan “não deixa de ser um governo nacionalista por causa disso”!

No beco sem saída do nacionalismo, a pseudoesquerda abraça o fascismo

O WSWS identificou precisamente as implicações políticas globais da defesa do PCO de Erdoğan e outros regimes nacionalistas burgueses. Parati escreveu:

Segundo essa visão, o processo em curso por trás da guerra atual, que começou na Ucrânia contra a Rússia e que avança contra a China, não é uma redivisão do mundo entre as potências imperialistas. Grupos como o PCO assumem que esse conflito abre o caminho para as chamadas “economias em ascensão” para que finalmente rompam as amarras do imperialismo e superem seus status de nações oprimidas.

Tendo celebrado a invasão russa da Ucrânia com um artigo intitulado “Um brinde a Vladimir Putin!” – no qual declarou: “Ver alguém enfrentando nossos inimigos é sempre animador. Mas Putin foi muito mais além” – o PCO ficou furioso com a exposição feita por Parati.

Sua reação foi uma tentativa desesperada de desqualificar os argumentos do WSWS virando-os do avesso. Eles alegaram que, ao caracterizar a guerra atual como “imperialista” e seus objetivos sendo a “redivisão do mundo”, Parati está “demonstrando que sua análise é de que a China e a Rússia seriam ‘forças imperialistas’”. Isso não passa de um jogo de palavras, o método político do pequeno-burguês desonesto e desmoralizado.

O trecho distorcido pelo PCO se refere claramente às potências imperialistas da OTAN e a guerra que estão travando contra a Rússia e preparando contra a China. Apesar de hoje estarem travando uma ofensiva unificada sob a direção de Washington, cada uma das potências imperialistas rivais reunidas na OTAN busca obstinadamente garantir a maior parcela dos espólios de guerra e reconstruir seu poderio militar e influência global. O ressurgimento de conflitos interimperialistas abertos, como nas duas guerras mundiais anteriores, é um resultado inevitável e já está em desenvolvimento.

A atribuição feita pelo PCO da teoria do “imperialismo russo/chinês” ao WSWS é uma mentira que contradiz o sólido histórico político do Comitê Internacional da Quarta Internacional. Parte significativa dos mais de mil artigos publicados pelo WSWS sobre a guerra na Ucrânia foi dedicada a desmascarar as justificativas da pseudoesquerda aos objetivos imperialistas dos EUA-OTAN, particularmente a teoria antimarxista do “imperialismo russo”.

Utilizando a teoria do “imperialismo russo/chinês” como um espantalho político, o PCO convenientemente se livra da tarefa de responder à caracterização da sua concepção sobre a guerra dos EUA-OTAN feita pelo artigo de Parati. Eles fogem das críticas com afirmações retóricas sobre já terem esclarecido suas discordâncias com os “analistas que afirmam que estaríamos diante do surgimento de um mundo ‘multipolar’”. Contudo, essa suposta visão alternativa ao “mundo multipolar” jamais é apresentada de forma coerente.

A variante do “multipolarismo” adotada pelo PCO veio à tona com especial clareza nas palavras do líder nacional de longa data do partido, Rui Costa Pimenta, em uma discussão sobre “A guerra na Ucrânia e o Brasil” promovida pelo portal petista Brasil 247 em março de 2022. Pimenta interpretou o conflito internacional como parte de um processo de “colapso da globalização”, apontando às suas consequências políticas:

O que eu acho que pode acontecer, do ponto de vista imediato, é que várias economias acabem se retraindo, recuando da política de internacionalização. O Brasil, por exemplo, tem sofrido horrores com essa política de globalização. Podem adotar uma política protecionista como medida defensiva e isso certamente aceleraria a recuperação política da classe operária mundial.

Essa tendência está presente em todos os lugares. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Trump é uma manifestação dessa tendência.

(...) A extrema-direita mundial – essa extrema-direita tipo Trump, não essa miliciana que a gente viu lá na Ucrânia – um dos grandes pontos do discurso é contra o globalismo. A gente discutiu com gente de direita, eles tendem a identificar, quando a gente fala imperialismo, o globalismo. Num certo sentido, há uma relação, apesar de não ser exatamente a mesma coisa.

A perspectiva apresentada pelo líder do PCO é o absoluto oposto do marxismo. A contradição fundamental do sistema capitalista, entre o caráter integrado atingido pela economia global e as barreiras excruciantes impostas pelos Estados nacionais, não deverá ser resolvido pela classe trabalhadora levando adiante a revolução socialista internacional. Para Pimenta, só um grande retrocesso histórico, que passa pela retração das economias mundiais e pelas medidas reacionárias das elites capitalistas nacionais contra a “internacionalização”, pode despertar a “recuperação política da classe trabalhadora operária mundial”.

O aspecto mais sinistro dessa orientação política ultrarreacionária se expressa na banalidade com que o líder do PCO assume a confluência de seus objetivos com os da extrema-direita.

A identificação feita por Pimenta entre o suposto “anti-imperialismo” defendido por seu partido e o “antiglobalismo” fascista é um ponto crítico. Em nosso artigo anterior, acusamos o PCO de buscar desviar a oposição ao imperialismo para os canais reacionários do nacionalismo. Um adendo é necessário: eles estão tentando desviá-la, mais especificamente, para os braços do fascismo.

No último período, o PCO conformou uma aliança sórdida com a Nova Resistência (NR), seguidores brasileiros do ideólogo fascista russo Alexander Dugin. Em clássica linguagem fascista, a NR declara que seu “objetivo é erguer um Novo Mundo e uma Nova Pátria, através de uma Nova Ordem, construída por um Novo Homem” e “forjar um projeto politicamente sólido e consistente com aquilo que o Brasil é em sua essência: um Império”.

A NR defende o “multipolarismo” e o “antiglobalismo”, enquanto dirige seus ataques contra a “esquerda globalista” e o que identifica como “ralé anarco-trotskista”. Assim como o PCO, fazem culto a Getúlio Vargas, que chamam de o “César brasileiro”. Eles enaltecem especificamente os fatos de que Vargas “governou com integralistas [os camisas marrons brasileiros]”, “colaborou com a Alemanha nazista, apoiou o bando nacionalista na Guerra Civil Espanhola, deportou corretamente a criminosa Olga Benário [a militante do Partido Comunista Alemão/Brasileiro assassinada num campo de concentração nazista].”

Em um vídeo amplamente difundido pelo PCO, Pimenta promoveu sua colaboração criminosa com esta organização fascista: “Diferentemente da esquerda que já quer rotular o pessoal [a NR] como fascista ou coisa do gênero, nós olhamos como um grupo que está procurando definir uma posição política”. Isso é puro cinismo. A NR possui uma ideologia perfeitamente definida, que é justamente o que atrai o PCO. “Na medida em que eles têm uma posição nacionalista”, Pimenta prossegue, “eu acho que dá para ter uma atividade em comum”.

A defesa programática de uma aliança com o fascismo levou o PCO a reagir furiosamente contra a exposição feita pelo CIQI da manifestação reacionária Rage Against the War Machine realizada em Washington, EUA, em fevereiro. Convocada por figuras pseudoesquerdistas e libertárias desmoralizadas junto com fascistas desavergonhados, seu objetivo era promover a ideia politicamente criminosa de que a ala fascista da classe dominante americana, ligada a Donald Trump, é contra a guerra.

Em um artigo atacando a oposição principista do Partido Socialista pela Igualdade dos EUA a esse movimento profundamente reacionário, o PCO declarou que um movimento antiguerra nos Estados Unidos deve naturalmente incluir apoiadores de Trump, uma vez que “Trump é um entrave para a política do imperialismo”. Essa posição grotesca se baseia numa rejeição absoluta do caráter revolucionário da classe trabalhadora dos EUA, cujos interesses estão objetivamente ligados aos dos trabalhadores dos países atrasados, e que tem um papel determinante na luta pela derrubada do imperialismo e do capitalismo mundial.

Por trás dos ataques ao Grupo Socialista pela Igualdade brasileiro como sendo um “grupo gringo pró-imperialista” com uma “mentalidade norte-americana” está a profunda hostilidade do PCO à afirmação da independência política e unidade revolucionária da classe trabalhadora nos EUA, Brasil e internacionalmente, representada pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional. Esta reação feroz contra o internacionalismo socialista é, por sua vez, a manifestação mais concreta da aliança chauvinista do PCO com os fascistas da Nova Resistência.

O abraço do PCO ao fascismo é o resultado deplorável de uma trajetória política marcada pelo oportunismo nacional. O PCO tem suas origens nas operações políticas oportunistas do renegado pablista Pierre Lambert na América Latina após romper com o CIQI e o trotskismo.

A Causa Operária (CO) surgiu de um rompimento sem-princípios com a Organização Socialista Internacionalista (OSI), vinculada a Lambert no Brasil, em 1979. Ao longo das décadas seguintes, ela manteve-se estritamente subordinada ao Partido dos Trabalhadores (PT) e à burocracia da Central Única dos Trabalhadores (CUT), exatamente como seus ex-parceiros da OSI. Mesmo após ser expulsa do PT e fundar o PCO em 1995, manteve-se firmemente orientada ao PT, à CUT e ao Estado brasileiro.

As condições políticas que deram base à atividade nacional oportunista do PCO e outras organizações pablistas estão hoje colapsando sob o impacto da crise capitalista e o avanço da guerra global. O golpe fascista tramado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e os militares, e a guinada brusca à direita do Partido dos Trabalhadores são demonstrações da incapacidade do Estado burguês de ocultar sua essência como um instrumento de contrarrevolução social.

A pseudoesquerda, com seus programas nacionalistas, se encontra em um beco sem saída. Seu desenvolvimento político só pode dar luz a monstros como a aliança com o fascismo promovida pelo PCO. Mas a mesma virada histórica que leva à degeneração política do pablismo e toda pseudoesquerda está gerando as condições para a construção dos partidos trotskistas afiliados ao CIQI como direção política da classe trabalhadora no Brasil e internacionalmente.

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