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Pseudoesquerdista PCO denuncia WSWS por expor tentativa de golpe fascista no Brasil

Os nacionalistas pequeno-burgueses do Partido da Causa Operária (PCO) lançaram um novo ataque contra o World Socialist Web Site e a luta do Grupo Socialista pela Igualdade (GSI) para estabelecer a independência política da classe trabalhadora no Brasil. 

Em resposta à análise do WSWS, “Um ano da insurreição fascista de 8 janeiro no Brasil”, o Causa Operária publicou um artigo calunioso intitulado “A esquerda que não entende de golpes de Estado os auxilia”.

Apoiadores de Bolsonaro enfrentam tropas em Brasília em 8 de janeiro de 2023 [Photo: Joedson Alves/Agencia Brasil]

O artigo consiste em uma tentativa miserável de negar o fato estabelecido de que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o alto escalão militar brasileiro prepararam ativamente um golpe de Estado fascista e, ao mesmo tempo, de blindar o atual governo do Partido dos Trabalhadores (PT) de toda crítica à esquerda.

Na narrativa fabricada pelo PCO, a conspiração sistemática de Bolsonaro e os generais para instaurar um regime ditatorial, culminando na insurreição fascista de 8 de janeiro em Brasília, não passa de um “golpe fictício” que “só existe na cabeça da esquerda pequeno-burguesa”.

Por outro lado, eles acusam o WSWS de estar fomentando um “verdadeiro” golpe de Estado no Brasil ao “atacar o governo da frente ampla” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, particularmente ao denunciar sua acomodação aos militares e forças fascistoides que continuam a preparar um golpe violento contra classe trabalhadora

Mas que fraude! 

Diferente do que o PCO quer fazer crer, seus ataques reacionários contra o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) não emergiram repentinamente do conflito com seus posicionamentos sobre os eventos de 8 de janeiro e o governo Lula.

Em julho de 2023, o WSWS publicou uma exposição devastadora do PCO que celebrou a reeleição do presidente de direita da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, como uma “derrota” do imperialismo. Como escrevemos na ocasião: “Apesar de terem sua atividade completamente voltada para a esfera política nacional, é na escolha de seus aliados internacionais que organizações como o PCO expõem de forma mais aberta seu caráter reacionário”.

Encurralado, o PCO respondeu com ataques chauvinistas histéricos contra o CIQI, acusando fraudulentamente o GSI brasileiro de ser um “grupo gringo” e “pró-imperialista”. Essa investida falhou miseravelmente. Ela só expôs mais à fundo a política nacionalista falida do PCO. 

As calúnias do PCO contra o CIQI e suas grotescas falsificações do trotskismo foram extensivamente desmascaradas pelo GSI em uma análise publicada em dezembro. Em sua covardia política, o PCO calou-se e recuou aos bastidores para preparar uma nova etapa de sua campanha difamatória contra o CIQI.

Em seu artigo mais recente, o PCO buscou reapresentar suas calúnias toscas contra o WSWS de forma ainda mais desleal. Após apresentar o WSWS como uma organização “que tem um braço nos EUA”, eles concluem seu texto com um grito: “Fora as ONGs imperialistas que estão por detrás de diversos setores golpistas”. 

Essa denúncia obscura de “ONGs imperialistas”, jogada sem explicação, busca semear desconfiança infundada sobre o histórico político imaculado do CIQI. Ela ressoa inconfundivelmente as teorias da conspiração “antiglobalistas” de ideólogos fascistas como Steve Bannon, que o PCO admitiu se assemelharem a suas visões sobre “anti-imperialismo” (como reportamos aqui).

Os métodos politicamente criminosos empregados pelo PCO – insinuações, mentiras, encobrimento dos fatos, apelo a preconceitos nacionalistas reacionários – são a marca de um partido pequeno-burguês apavorado diante de seus interesses de classe ameaçados. 

O PCO reconhece a influência política crescente do CIQI no Brasil, que luta pelo rompimento da classe trabalhadora brasileira com a burguesia nacional e para que assuma uma orientação internacionalista revolucionária. Isso representa um desafio intolerável ao acordo político sagrado entre as organizações da pseudoesquerda que disputam espaço no PT, nos sindicatos burocratizados e no aparato do Estado.

Por que o PCO nega que houve uma tentativa de golpe no Brasil?

A cobertura realista do WSWS sobre a conspiração ditatorial de Bolsonaro e os militares tornou-se alvo dos ataques do PCO precisamente porque expõe, sem contemporizações, o estágio avançado da crise do capitalismo e do Estado burguês brasileiro.

Condenando o artigo deste autor (citado erroneamente como “Thais Castanheira”) porque “expõe sem meias-palavras” que houve uma “tentativa de golpe fascista” no Brasil, o PCO escreve:

Um golpe muito peculiar, sem manifestantes armados, sem milícias fascistas e sem mobilização de tropas. É o golpe de Estado pacífico que só existe na cabeça da esquerda pequeno-burguesa.

E complementa:

O texto segue demonstrando a incompreensão de como funciona um golpe de Estado. Ele cita que os comandantes militares discutiram a possibilidade de um golpe. Esse fato por si só mostra que não era um golpe de Estado, mas sim uma mera manifestação.

O completo absurdo dessas alegações foi ainda mais explicitado pelos acontecimentos políticos que se seguiram. Em 8 de fevereiro, menos de um mês após o PCO publicar seu artigo, a Polícia Federal brasileira deflagrou uma operação contra Bolsonaro e uma série de oficiais que revelou novos detalhes sobre os planos golpistas discutidos e ativamente perseguidos pelo ex-presidente e o comando militar. 

Entre as revelações significativas da investigação, foram publicadas mensagens do ex-ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, orientando ataques contra os então comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e da Força Aérea, Brigadeiro Carlos Baptista Júnior, para pressiona-los a aderir ao plano de golpe.   

Ex-presidente Jair Bolsonaro e comandantes das Forças Armadas, almirante Almir Garnier Santos, general Paulo Sérgio Nogueira, e brigadeiro Carlos Baptista Júnior [Photo: Marcos Corrês/PR]

A operação da PF também apontou ao papel central, até então desconhecido do público, do ex-chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter) do Exército, general Stevan Theóphilo Gaspar de Oliveira. Segundo a PF, o general Theóphilo reuniu-se individualmente com Bolsonaro e ofereceu suas tropas para assegurar uma tomada do poder.

No final de fevereiro e no início de março, os ex-comandantes Baptista Júnior e Freire Gomes prestaram depoimentos à PF confirmando ter participado de várias reuniões com o ex-presidente que discutiram planos concretos de um golpe de Estado e a instauração de um regime ditatorial. 

No depoimento de Baptista Júnior, divulgado na íntegra em 15 de março, o ex-comandante atestou que “em uma das reuniões com os Comandantes das Forças, após o segundo turno das eleições presidenciais... o então Comandante da Marinha, Almirante Almir Garnier Santos, afirmou que colocaria suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro” para consumar o golpe. 

Em uma reunião subsequente, em 14 de dezembro de 2022, duas semanas antes da posse de Lula, o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira, apresentou aos comandantes uma versão do documento que ficou conhecido como “minuta do golpe”. Baptista Júnior afirma que, antes de abandonar a sala recusando-se a ler o documento, “questionou o Ministro da seguinte forma: ‘Esse documento prevê a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito?’; que Paulo Sergio de Oliveira ficou calado; que o depoente entendeu que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito”.

A resposta do PCO a essas novas revelações deixa claro que seu acobertamento das conspirações fascistas no Estado brasileiro não é fruto de um mal-entendido, mas uma decisão política consciente.

Em 12 de fevereiro, o PCO publicou um editorial intitulado “A história mal contada do golpe de Estado de Bolsonaro” (do qual nunca recuaram). Assumindo o papel de advogados do ex-presidente fascista, eles questionam: “se ele não conseguiu realizar o golpe quando estava no poder, por que tentaria fazê-lo depois de perder as eleições?”.

O PCO continua:

É crucial ressaltar que 8 de janeiro não foi um golpe de estado, ponto que precisa ser absolutamente claro. Há um desacordo da esquerda pequeno-burguesa em relação a esta análise. Entretanto, é preciso examinar os fatos de forma imparcial, evitando qualquer manipulação para atender a objetivos políticos.

(...) Isso é relevante porque, na política, é crucial manter a clareza para os cidadãos, ativistas e militantes. A confusão apenas prejudica. Se é preciso denunciar um golpe de Estado, então é necessário precisão, pois o uso indiscriminado dessa história pode obscurecer eventos genuinamente preocupantes.

Nada poderia expor melhor o papel politicamente criminoso cumprido por este partido. Eles exigem que os trabalhadores e a juventude brasileira, diante da visão do coturno de ferro dos militares erguido sobre suas cabeças, assumam uma atitude “imparcial”!

A política do PCO é a manifestação mais extrema de uma complacência criminosa que é comum à toda a pseudoesquerda. Os morenistas do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), que publica o Esquerda Diário, apesar de conflitarem constantemente com o PCO em suas disputas cotidianas mesquinhas, concordam fundamentalmente com sua conclusão de que as conspirações fascistas no Estado brasileiro não representam “eventos genuinamente preocupantes”.

Mesmo admitindo que as informações reveladas pela PF “indicam ser comprobatórias que de fato uma parte das Forças Armadas atuou com intenções golpistas”, os morenistas tranquilizaram sua audiência: “Apesar dessas intenções... nós sempre analisamos que não havia uma correlação de forças que permitisse a realização de um golpe.” O resultado dessas ações atrapalhadas, segundo eles, foi o “isolamento e debilitamento do bolsonarismo mais duro”, de um lado, e o ganho de “estabilidade política” pela “coalizão de forças que compõem a Frente Ampla” liderada por Lula.

Os morenistas são incapazes de explicar por que, sob tal “correlação de forças” categoricamente desfavorável, forças fascistoides como Bolsonaro e sua cúpula militar golpista estão emergindo no centro da política oficial burguesa não apenas no Brasil, mas através da América Latina e em todo o mundo.

Obstinados em sua subordinação ao Estado burguês e eternamente fingindo “pressionar à esquerda” partidos como o PT e sua burocracia sindical corrompida, os grupos da pseudoesquerda são os defensores mais convictos do mito da estabilidade inabalável do sistema capitalista.

As lições da história e as tarefas políticas no Brasil

Para blindar politicamente a “Frente Ampla” da burguesia brasileira apodrecida brasileira liderada por Lula, o PCO reconhece ser essencial falsificar as experiências históricas revolucionárias da classe trabalhadora e impedir a assimilação das lições de suas vitórias e derrotas. 

Tentando justificar sua apresentação caluniosa da política do GSI como “golpismo de esquerda”, o PCO cinicamente evoca a Frente Única contra o fascismo defendida por Trotsky na Alemanha:

Se a organização autoproclamada trotskista de fato quer combater o golpismo dos militares do Brasil, precisa seguir o que Trótski e os demais bolcheviques ensinaram. A luta contra o fascismo passa por uma frente única da esquerda, onde o partido revolucionário não abdica de sua política própria. Atacar o governo de esquerda quando a extrema direita também o está atacando só pode ter apenas um resultado: tornar-se um auxiliar do golpe de Estado.

O PCO não se dá ao trabalho de esclarecer, antes de tudo, por que uma luta contra o fascismo é necessária quando faz de tudo para provar que a ameaça fascista no Brasil não passa de um delírio. Sua única preocupação com essa referência histórica é tentar associar fraudulentamente o legado revolucionário de Trotsky ao apoio reacionário do PCO ao governo burguês do PT.

Em todos os aspectos, a “frente única da esquerda” advogada pelo PCO é o extremo oposto dos métodos políticos defendidos por Trotsky. 

Ao defender uma frente única dos comunistas e social-democratas, os dois partidos de massas da classe operária alemã,  contra o fascismo, Trotsky não buscava de forma nenhuma proteger a Social-Democracia no governo. O objetivo político da tática da frente única era precisamente “separar os operários de seus líderes”, expondo no curso da luta a prostração da direção social-democrata diante do capitalismo e da reação fascista, auxiliando, assim, sua base operária a fazer uma ponte consciente ao partido revolucionário. 

Trotsky declarava explicitamente que “essa frente de luta direta contra o fascismo, comum a todo o proletariado, deve-se utilizar para um combate de flanco, mas ainda mais eficaz, contra a social-democracia.”[ Carta ao operário comunista alemão do PCA, 1931] 

A exigência do PCO a que as críticas ao “governo de esquerda” sejam suspensas, porque fazer o contrário é supostamente “tornar-se um auxiliar do golpe de Estado”, é precisamente o que Trotsky rejeita como uma capitulação política criminosa. 

Fazendo uma analogia entre os métodos de luta revolucionária que estava defendendo na Alemanha e a resistência ao levante contrarrevolucionário de Kornilov durante a Revolução da Russa de 1917, Trotsky cita Lenin sobre a atitude dos bolcheviques em relação ao governo Kerensky:

Mesmo agora, não devemos sustentar o governo Kerensky.(...) Em que consiste, pois, a nossa mudança de tática, após o motim de Kornilov? Em modificarmos a forma de nossa luta com Kerensky sem baixar de um só grau a nossa hostilidade para com ele, sem retirar uma só palavra que tenhamos pronunciado contra ele, sem renunciar a derrubá-lo, nós declaramos que é preciso ter em conta o momento; que não nos preocuparemos, na hora presente, em derrubar Kerensky; que o combatemos, agora, de uma outra maneira, patenteando ao povo (que combate Kornilov) a fraqueza e as hesitações de Kerensky.

Trotsky então conclui:

Não propomos outra coisa: independência completa da organização e da imprensa comunistas, liberdade completa da crítica comunista, também para com a social-democracia e os sindicatos.(...) Nada de atenuar nossa crítica à social-democracia, nada de esquecer do passado.

A “frente única da esquerda” defendida pelo PCO, ao mesmo tempo que choca-se diretamente contra os princípios defendidos por Trotsky, tem raízes profundas na tradição política contrarrevolucionária da Frente Popular stalinista. O objetivo do PCO com o uso calculado de formulações como “governo de esquerda”, que conscientemente encobrem o caráter de classe do governo do PT, é arrebanhar a classe trabalhadora sob o regime do inimigo burguês.

A essência reacionária da política de Frente Popular do PCO é exemplarmente demonstrada em seu ataque contra o WSWS por expor que o governo da “Frente Ampla” de Lula representa uma aliança com os próprios conspiradores fascistas que planejaram sua derrubada:

Aqui está o ponto crucial: o WSWS não entende as contradições dentro do governo Lula, não entende que [o ministro da Defesa, José] Múcio é justamente uma figura central de um possível golpe. O golpe é dado por figuras de dentro do governo, não de fora. Hoje em dia falar que Pinochet era uma figura do governo Allende é absurdo. No entanto, pela análise do WSWS ele seria colocado no mesmo bloco que o presidente chileno derrubado por um golpe militar liderado pelo próprio Pinochet! Essa incompreensão até poderia existir na cabeça de Allende, afinal ele mesmo indicou Pinochet para comandante das Forças Armadas. Mas a incompreensão não pode existir na cabeça da esquerda que se propõe a liderar a luta revolucionária dos trabalhadores. É preciso ficar muito clara a diferença entre Lula e os seus ministros direitistas de tendências golpistas.

Tirando lições da experiência catastrófica com a frente popular de Allende no Chile, o PCO conclui: “A política correta não é atacar o governo da frente ampla, é atacar a direita da frente ampla”.

O exemplo escolhido pelo PCO é absolutamente auto-incriminatório. Eles defendem uma repetição exata da traição criminosa do stalinismo e da social-democracia, auxiliados pelos renegados pablistas da Quarta Internacional, que conduziu ao esmagamento brutal da revolução proletária chilena.

A ideia de que a indicação de Pinochet ao gabinete de Allende foi fruto de uma “incompreensão”, que o curso da história poderia ter sido alterado por uma política de pressão sobre o “governo de esquerda” para se diferenciar de sua ala direita, é absolutamente falsa. A submissão de Allende aos militares golpistas foi a expressão do que Trotsky definiu como “a verdadeira essência” da Frente Popular: “um governo de capitulação à burocracia e aos oficiais”

O roteiro das traições cometidas sob a bandeira da Frente Popular stalinista nos anos 1930, a mais infame delas contra a Revolução Espanhola, foi seguido à risca pelo Partido Socialista de Allende e o Partido Comunista Chileno aliados à Democracia Cristã no governo da Unidade Popular de 1970-73. 

Enquanto argumentavam que a “revolução popular” chilena se desenvolveria por dentro das estruturas do velho Estado burguês, em harmonia com as Forças Armadas, as burocracias stalinista e social-democrata traidoras agiam febrilmente para desarmar as milícias formadas pelos trabalhadores e camponeses e devolver as empresas expropriadas pela classe operária revolucionária a seus donos capitalistas. 

Em junho de 1973, uma ala rebelde do Exército fez uma primeira tentativa de golpe militar, o Tanquetazo, frustrado pelas tropas comandadas pelos generais Carlos Prats e Augusto Pinochet. Três meses depois, as “forças leais” enaltecidas por Allende conduziram o golpe fascista que afogou a revolução em sangue.

Exatamente como Trotsky escreveu em 1936: “Então, ficou claro que o governo da Frente Popular preservara a casta militar com o dinheiro do povo, forneceu-lhes autoridade, poder e armas, deu-lhes o comando sobre os jovens trabalhadores e camponeses, facilitando assim os preparativos para um ataque esmagador contra os trabalhadores e camponeses.”

Toda a conversa do PCO sobre “entender as contradições” dentro do governo Allende ou do governo Lula é uma justificativa aos crimes históricos desses regimes burgueses contra a classe trabalhadora. Sua atitude é precisamente descrita nas palavras de Trotsky: “O medo do pequeno burguês perante o grande burguês, do pequeno burocrata perante o grande burocrata, foi encoberto por eles com discursos lacrimosos sobre a inviolabilidade da frente única (entre uma vítima e seus algozes).”

O elemento decisivo para a derrota do proletariado chileno foi, como na Revolução Espanhola, a ausência de um partido revolucionário. O principal obstáculo para a construção de tal partido na Espanha foi o centrismo do POUM, que adaptou-se à Frente Popular ao invés de mobilizar as massas em oposição a ela. No Chile, esse papel foi cumprido pelo Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR). 

Contudo, se houve um elemento de tragédia na incapacidade dos líderes do POUM de romperem com sua orientação pequeno-burguesa, no Chile, a construção de um partido revolucionário foi diretamente sabotada pelos liquidacionistas pablistas da Quarta Internacional. Às vésperas do levante operário chileno, os pablistas deliberadamente dissolveram o Partido Operário Revolucionário (POR) trotskista para amalgamá-lo a uma série de correntes pequeno-burguesas falidas, formando o MIR.

O Comitê Internacional fazia sozinho este apelo à classe trabalhadora chilena e internacional, imediatamente após o golpe de setembro de 1973: 

Defendam seus direitos democráticos não por meio de Frentes Populares e do parlamento, mas através da derrubada do Estado capitalista e com o estabelecimento do poder operário. Nenhuma confiança no stalinismo, na social-democracia, no centrismo, no revisionismo ou na burguesia liberal. Pela construção de um partido revolucionário da Quarta Internacional que tenha como programa a revolução permanente.

O GSI está comprometido a lutar por esta orientação política entre a classe trabalhadora brasileira e para impedir uma repetição das derrotas sangrentas do passado. Seus alertas para a ameaça real representada pela tentativa de golpe de Bolsonaro e os militares não se traduzem em uma perspectiva política minimamente pessimista.

Os métodos brutais do fascismo e ditadura sendo reabilitados pela burguesia mundial sinalizam seu pavor com o ressurgimento das lutas de classes em resposta ao acirramento da crise capitalista. Eles são a resposta preventiva da classe dominante às batalhas revolucionárias que pressente ser incontornáveis. 

O CIQI e o GSI levam o movimento revolucionário da classe trabalhadora tão a sério quanto a burguesia o leva. Seu foco é construir a direção política necessária para conduzir as lutas em desenvolvimento à derrubada do capitalismo e à construção do socialismo mundial. 

O potencial objetivo de realização desse programa nunca foi tão grande. A classe trabalhadora internacional é hoje a força social mais massiva e poderosa no mundo, profundamente interconectada pelo processo globalizado de produção. As velhas direções traidoras do movimento operário, que conseguiram desviar lutas revolucionárias no passado, foram completamente desmoralizadas diante das massas. 

Forças como Lula, o PT e sua burocracia sindical reacionária permanecem como um peso morto sobre a classe trabalhadora, mas já são incapazes de identificar-se com o socialismo ou as aspirações de transformação social dos trabalhadores. Para travar suas lutas mais fundamentais contra o capitalismo, a classe trabalhadora precisa estabelecer novas formas de organização, que só vão se desenvolver concomitantemente à construção de partidos revolucionários trotskistas filiados ao CIQI. 

Os ataques desesperados contra o CIQI pelo PCO, um dos herdeiros desmoralizados do pablismo, são em si mesmo indicadores de que as condições objetivas e subjetivas para a realização desta tarefa amadurecem rapidamente no Brasil.

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